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quinta-feira, 26 de maio de 2016

O que penso sobre o feriado de Corpus Christi...




Apesar de não ser um católico romano, um dos feriados que mais aprecio é o de Corpus Christi. Não pelas festividades religiosas, obviamente, mas, sim, pela época em que ele ocorre justo no saboroso final do outono do Hemisfério Sul.

Amo o frio que faz a partir da segunda quinzena de maio. São aconchegantes dias de curta duração, o ambiente do Sudeste brasileiro não se encontra tão seco como no inverno e os nossos corpos ainda não se sentem saturados das baixas temperaturas. O sol de meio dia é suportável e, se não estiver chovendo ou ventando forte, dá até para pegar uma praia das onze da manhã às três da tarde. À noite, considero prazeroso colocar um agasalho e sair para jantar num restaurante com minha mulher. Mesmo no lar, cai muito bem tomar aquela sopinha, comer um aipim cozido, saborear um mingau temperado com canela ou beber aquele chocolate bem quente. Até nas cidades litorâneas, como aqui no meu município de Mangaratiba, o tempo se torna suave e agradável no Corpus Christi.

No tocante às festividades dos católicos, tenho minhas reservas quanto a determinados atos praticados nas solenidades deles, os quais, em alguns aspectos, não me identifico. Porém, não posso deixar de compartilhar a admiração que sinto pela ornamentação dos logradouros públicos das cidades luso-brasileiras. Acho super bacana aqueles tapetes coloridos que compõem o caminho por onde passa a procissão religiosa. Nesta data (26/05), pude encontrar parte da rua Doze de Outubro toda decorada, na qual fica localizada a Paróquia de Nossa Senhora das Graças, entre as ruas Minas Gerais e Pernambuco daqui de Muriqui.




Em relação a esse costume tradicional dos "tapetes", não tenho nenhuma objeção. Muito pelo contrário! Vejo em tal momento não só uma manifestação da arte e da cultura como também uma bela oportunidade para que haja um entrosamento comunitário, algo que tem ocorrido com menos frequência no Brasil de hoje.

Numa época em que as pessoas já não se identificam tanto umas com as outras, com a violência assustando a todos nós, por que não fazermos das ruas uma quadro vivo de alegria, de fraternismo e de convivência humana? E que tal oportunizarmos o momento da confecção dos tapetes sacros para expressarmos algumas reivindicações sobre justiça social independentemente da religião de cada um?

Penso que as igrejas evangélicas brasileiras perdem muito por não comemorarem do jeito delas este feriado! Tudo bem que o Corpus Christi é uma comemoração dos católicos, surgida na época medieval, mais precisamente no século XIII, sem que tenha uma prescrição bíblica. Sabe-se pela História que fora instituída pelo então Papa Urbano IV (1195-1264) com o objetivo de testemunhar publicamente o mistério da Eucaristia segundo a crença na trans-substancialização do corpo de Cristo na hóstia, a qual é distribuída durante as missas. Todavia, nada impede que cada congregação cristã celebre o feriado a seu modo, conforme a visão espiritual do respectivo grupo, e preservando o que há de bom nas tradições populares.

No meu ponto de vista, devemos sempre procurar atualizar as tradições herdadas dos nossos ancestrais ao invés de rompermos totalmente com elas. No século XIII, Lutero e Calvino nem tinham nascido e a Europa Ocidental era ainda católica romana em sua totalidade. Nós, os brasileiros, adotamos o catolicismo como religião oficial até à Proclamação da República (1889) e recebemos dos portugueses os costumes dos tapetes. Só nas últimas décadas é que o protestantismo e o secularismo tornaram-se de fato expressivos em nossa sociedade de maneira que ainda há na memória de todos nós as lembranças registradas das festividades paroquiais muito mais marcantes até os anos 80 do século XX.

Para concluir, esclareço que, de jeito algum, estou propondo que voltemos ao passado ou que as congregações evangélicas e espíritas submetam-se à autoridade de um pontífice pois isto, a meu ver, seria um atraso. Mas penso que a comemoração do feriado pode e deve contribuir para a unidade cristã de toda a Igreja independentemente dos seus variados segmentos. O pão e o suco tinto de uva ministrados durante a Santa Ceia, eu creio serem símbolos de uma realidade muito maior. Afinal de contas, dentro numa visão não institucionalizada, seríamos todos membros do Corpo de Cristo, o que, por sua vez, já revelaria o mistério eucarístico na qual realmente acredito.

Um ótimo feriado a todos!



OBS: Esta postagem também se encontra no blogue da Confraria Teológica Logos e Mythos, publicada na presente data de 26/05/2016, sendo que as fotos acima referem-se aos tapetes que vi hoje num trecho Rua Doze de Outubro, na qual encontra-se localizada a Igreja Nossa Senhora das Graças, em Muriqui, 4º Distrito de Mangaratiba (RJ).

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