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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Os exemplos de Miriã, Corá e Sansão

A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas que praticaram a rebeldia e a desobediência contra a autoridade de Deus. Não somente encontramos os nomes dos heróis espirituais, como é o caso da lista de homens e mulheres de fé citados no capítulo 11 da Epístola aos Hebreus, como também são relatadas as histórias daqueles que fracassaram porque recusaram submeter-se a Deus.

Sem dúvida, podemos aprender com os exemplos ruins deixados por tais personagens da história bíblica, os quais foram tão seres humanos quanto aqueles que alcançaram o sucesso de Deus. Foram tão humanos quanto nós, de modo que não devemos nos sentir superiores e nem inferiores a qualquer homem ou mulher citado pelas Escrituras.

Neste texto elaborado para a Escola de Missões da Igreja Evangélica Maranata, estarei me baseando nos episódios que compõem a vida de três personagens: Miriã, Corá e Sansão. As mensagens bíblicas que se referem aos dois primeiros encontram-se nos capítulos 12 e 16 do livro de Números, enquanto a história de Sansão pode ser lida nos capítulos 13 a 16 de Juízes.

Comecemos, por por Miriã. Quem foi esta mulher e o que ela fez de tão errado a ponto de ter provocado a ira de Deus a ponto de ficar leprosa por sete dias e detida fora do arraial de Israel durante este período?

A história de Miriã, irmã mais velha de Moisés, começa logo no capítulo 2 de Êxodo. Ela desempenhou uma papel fundamental no plano de Deus quando Moisés ainda era um bebê de três meses e a família não podia mais esconder a criança dos egípcios por causa de um decreto do rei do Egito que determinava a morte dos filhos dos hebreus do sexo masculino. Quando Moisés foi colocado num cesto de junco e largado nas águas do rio Nilo, Miriã protegeu a vida de seu irmão acompanhando-o até que ele fosse encontrado pela filha do faraó. Através dela, o menino pôde ser assistido por sua mãe durante o período de aleitamento materno e permanecido em companhia da família de origem até que fosse grande e então tornar-se filho da princesa egípcia.

Oitenta anos depois, quando os israelitas finalmente deixam o Egito sob a autoridade de Deus através de Moisés e atravessam o Mar Vermelho, Miriã liderou as mulheres com tamborim e danças, louvando a Deus pelo livramento dado ao seu povo (Êx 15.20-21). Em tal passagem, o texto bíblico refere-se a Miriã como sendo uma profetiza, sendo que o livro de Miqueias menciona seu nome e de Arão juntamente com o de Moisés ao falar na saída dos israelitas do Egito (Mq 6.4).

Contudo, nos difíceis dias da travessia pelo deserto, depois que os israelitas deixaram o Sinai, um episódio infeliz ocorre na trajetória da vida de Miriã, conforme encontra-se registrado no capítulo 12 de Números. De acordo com esta passagem, após Moisés ter se unido com uma mulher cuxita (etíope), Miriã e Arão, o sumo sacerdote da nação israelita, criticaram o irmão caçula, mas que também era o homem escolhido por Deus para liderar o povo até Canaã.

Atentando não apenas contra a autoridade de Moisés, mas contrariando também ao próprio Deus, os irmãos Miriã e Arão assim disseram insolentemente: “Porventura, tem falado o SENHOR somente por Moisés? Não tem falado também por Nós?” (Nm 12.2)

A atitude dos irmãos de Moisés não é compreendida como um simples protesto contra o fato de Moisés ter tomado para si uma mulher estrangeira. Tal questão parece ter sido levantada apenas como um pretexto para que Miriã e Arão manifestassem a cobiça que tinham pela posição de Moisés.

Mansamente, Moisés não tomou nenhuma atitude contra os seus irmãos. O texto diz que Deus ouviu as palavras de Miriã e Arão, dando a seguinte resposta que se encontra nos versos de 5 a 8 do capítulo 12 de Números:

“Ouvi, agora, as minhas palavras; se entre vós há profeta, ei, o SENHOR, em visão a ele, me faço conhecer ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do SENHOR; como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?”

Como se vê, o próprio Deus defendeu a honra de seu servo e, por castigo, Miriã ficou leprosa por sete dias, apesar da intercessão de Moisés para que ela fosse curada daquela praga, com o objetivo de que ela fosse envergonhada por sua conduta. Tal castigo Deus comparou a uma cusparada que uma filha recebe de seu pai, algo considerado como abominável no contexto daquela época.

Tempos depois, Moisés enfrentou mais uma sedição, desta vez vindo de Corá, um dos levitas do ramo dos coatitas.

Juntamente com Datã e Abirão, homens da tribo de Rúben, mais 250 líderes dos israelitas, Corá afrontou Moisés e Arão, dizendo as seguintes palavras que se encontram no verso 3 do capítulo 16 de Números: “Basta! Pois que toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o SENHOR está no meio deles; por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do SENHOR?”

Estas palavras de rebeldia, a exemplo do que também ocorreu no episódio anterior envolvendo Miriã e Arão, significavam uma cobiça por posições, uma inveja deliberada.

Nos capítulos 3 e 4 de Números, Deus havia dividido so levitas em três ramos com funções distintas. Os descendentes de Coate, isto é, os coatitas, tinham a nobre função de carregarem os utensílios sagrados do Tabernáculo todas as vezes quando o arraial de Israel partisse. Ou seja, depois que Arão e seus filhos cobrissem a Arca do Testemunho e os demais móveis do santuário, cabia aos coatitas transportarem aquela mobília santa sem tocarem nela para que não morressem. Aliás, não poderiam sequer ver aquelas coisas santas, conforme o próprio Deus havia ordenado (Nm 4.15-20).

Deste modo, Deus havia estabelecido limites para os ministérios dos levitas, determinando que o sacerdócio em Israel apenas poderia ser exercido por Arão e seus descendentes, os únicos que poderiam entrar no Lugar Santo, oferecer os sacrifícios, comer os pães da proposição, queimar o incenso aromático, dentre outros deveres específicos que se acham detalhadamente expostos no livro de Levítico. Contudo, Corá cobiçava a posição de sacerdote.

Sabiamente, Moisés deixou que a solução daquele conflito ficasse nas mãos de Deus. Em sua resposta, Moisés propôs que, no dia seguinte, Corá apresentasse incenso perante o SENHOR e o próprio Deus faria a sua escolha entre ambos.

Contudo, enquanto Moisés demonstrou sua confiança no comando de Deus, Corá havia se aliado com Datã e Abirão, dois homens profanos da tribo de Ruben que, ao serem chamados por Moisés, chegaram a se referir ao Egito como uma terra “que mana leite e mel” (Nm 16.13), acusando Moisés de ter trazido o povo de Israel para morrer no deserto.

Assim, no dia seguinte, Corá e seus 250 seguidores apresentaram-se portando cada um o seu incensário e vieram até a tenda da congregação, tendo se ajuntado todos os israelitas no local. Deus, porém, ao manifestar-se no meio do povo, fez com que a terra se abrisse e tragasse vivos a Corá, juntamente com seus bens. E, quanto aos 250 homens que portavam indevidamente o incensário diante da tenda da congregação, Deus mandou fogo dos céus e os consumiu, confirmando diante de toda a nação de Israel a quem o povo deveria prestar obediência.

Como se pode ver, atitude de rebeldia teve uma consequência drástica para Corá, um dos levitas que prestavam um serviço especial no Tabernáculo e que chegou a ser mencionado como um dos chefes de Israel em Êxodo capítulo 6. Sua cobiça desmedida pelas funções que Moisés e Arão exerciam acabou lhe custando não só a sua posição como a própria vida, tornando-se um exemplo de rebeldia que, na Epístola de Judas, é comparado aos falsos mestres juntamente com os exemplos de Caim e de Balaão (v. 11).

No entanto, a Bíblia não relata como exemplos de rebeldia apenas aqueles que cobiçaram funções alheias. O autor de Juízes conta-nos sobre a história de uma liderança em Israel que recusou-se a cumprir o papel que o Anjo do SENHOR havia lhe dado, rebelando-se diretamente contra Deus. Trata-se de Sansão.

A história de Sansão de passa alguns séculos depois de Moisés, quando os israelitas já se encontravam na posse da terra de Canaã. Por causa do pecado do povo, Deus havia entregue os israelitas de baixo da opressão dos filisteus durante um período de quarenta anos até que o Anjo do SENHOR visitou um casal cuja esposa era estéril, prometendo-lhes um filho que começaria a livrar Israel das mãos do adversário.

Para que Sansão pudesse cumprir a sua missão, Deus lhe dotou de uma grande força física e várias proezas foram por intermédio dele realizadas durante os vinte anos em que liderou Israel. Porém, ele deveria cumprir com o voto nazireu, o qual, segundo a Lei de Moisés, impunha que a pessoa consagrada a Deus não cortasse o cabelo, nem tocasse num cadáver ou tomasse qualquer tipo de bebida alcoólica, conforme o Anjo havia determinado à sua mãe:

“porque eis que tu conceberás e darás à luz um filho cuja cabeça não passará navalha; porquanto o menino será nazireu consagrado a Deus desde o ventre de sua mãe; e ele começará a livrar Israel do poder dos filisteus”. (Jz 13.5)

Sansão, todavia, não foi obediente a Deus e desperdiçou a sua vida. Ao invés de concluir a sua obra e derrotar de vez com os filisteus, Sansão violou seus votos e as leis de Deus em muitas ocasiões, deixando-se conduzir por seu apetite sexual. Seus dons e habilidades foram utilizados sem prudência.

Na época de seu casamento com uma filisteia, Sansão quebrou dois de seus votos que deveria guarar como nazireu. Ou seja, bebeu vinho e havia retirado um favo de mel que havia se formado no cadáver de um leão que matara dias atrás.

A pior tragédia de Sansão, entretanto, ocorre quando ele apaixona-se perdidamente por Dalila (provavelmente uma filisteia), a qual, com muita insistência, induziu-o a contar onde estaria o segredo de sua força. O texto bíblico diz que Dalila o importunava todos os dias até que, finalmente, Sansão confessou que se sua cabeça fosse raspada, sua força o deixaria de modo que ele se tornaria como qualquer outro homem (Jz 16.17).

Dalila, após receber dinheiro dos filisteus, traiçoeiramente rapou as tranças de Sansão e o entregou aos seus adversários. E, no momento em que foi avisado por Dalila sobre um novo ataque dos filisteus contra ele, Sansão ainda pensava que iria se livrar daquela situação como nas vezes anteriores, mas o próprio texto diz que “o SENHOR já tinha se retirado dele” (Jz 16.20).

Depois de capturarem Sansão e cegarem seus olhos, os filisteus levaram-no para Gaza. Ali, no país dos filisteus, Sansão passou a executar o trabalho braçal de moer grãos dentro da prisão. Contudo, os seus cabelos tornaram a crescer novamente.

Houve um dia em que os filisteus resolveram festejar a captura de Sansão oferecendo um sacrifício a Dagom, o deus deles. Para tanto, trouxeram Sansão do cárcere e começaram a se divertir com aquele episódio.

Contudo, diferente do fim que teve Corá, o qual em momento algum arrependeu-se, Sansão voltou-se para Deus e, nos últimos momentos de sua vida, experimentou o que é depender do SENHOR e não de si mesmo, fazendo esta oração:

“SENHOR Deus, peço-te que te lembres de mim, e dá-me força só desta vez, ó Deus, para que me vingue dos filisteus, ao menos por um dos meus olhos.” (Jz 16.28)

Naquele momento difícil, Sansão ainda encontrou graça diante de Deus. Pois, mesmo depois de ter quebrado todos os votos do nazireado, ele foi novamente usado por Deus para matar mais filisteus do que em todas as vezes anteriores. Diz a Bíblia que Sansão derrubou as duas colunas que sustentavam o templo de Dagom, de modo que a casa desabou sobre todos os príncipes dos filisteus e sobre o povo que ali estava, apesar de tê-lo matado também.

Assim, apesar de todos os erros de rebeldia que cometeu no passado, Sansão morreu justificado, tendo cumprido aquilo que o Anjo do SENHOR disse a seu respeito, no sentido de que iria começar a livrar Israel das mãos dos filisteus, sendo que seu nome é citado no Novo Testamento. Na epístola aos Hebreus, São aparece na lista dos homens que

“por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros” (Hb 11.33-34)

Sem dúvida que, no seu pior momento, Sansão tirou força da fraqueza como diz o texto do Novo Testamento. E, embora a sua vida pudesse ter sido muito melhor, foi com o sofrimento decorrente de sua desobediência que Sansão aprendeu a depender de Deus e não do dom que havia recebido.


CONCLUSÃO

As três histórias bíblicas servem para nós como exemplos de que a obediência a Deus é o melhor caminho a ser seguido.

A rebeldia tem sua raiz no pecado e se encontra motivada por sentimentos de inveja destrutiva. Reflete a falta de confiança em Deus, na sua soberania e justiça, de modo que o rebelde por si mesmo toma atitudes impróprias, agindo por seu próprio desejo.

Geralmente o rebelde não tem por objetivo servir as pessoas e sim controlá-las. E, da mesma maneira que Corá, o rebelde cobiça as qualidades e os dons que Deus deu às outras pessoas, desejando destruí-las de alguma maneira.

Ao se revoltarem contra Moisés, Corá e seus companheiros não estavam apenas levantando-se apenas contra homens, mas opondo-se ao próprio Deus. Pois, embora Arão e Moisés não fossem melhores do que os outros israelitas e todos na nação fossem escolhidos pelo SENHOR, Israel devia obediência tanto a Moisés quanto à Arão.

Digno de maior glória do que Moisés, Cristo é o cabeça da Igreja, da qual nós pertencemos. Como seguidores de Jesus, devemos confiar nele de modo que a nossa conduta precisa estar firmada na sua direção e nos seu poder, sendo ele o único sumo sacerdote ao qual devemos prestar contas.

No capítulo 12 da primeira epístola aos coríntios, o apóstolo Paulo nos ensina que somos do corpo de Cristo, no qual fomos batizados. Porém, exercemos funções diferentes na Igreja, as quais devem estar em harmonia para o perfeito funcionamento do corpo.

Justamente por isto, a Palavra de Deus nos diz claramente que devemos nos sujeitar “uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5.21), tendo em vista que a vida do cristão é de prestar serviços a Deus e aos outros.

Com este objetivo, a Palavra de Deus nos fala que devemos obedecer aos nossos guias em submissão pois são pessoas que velam pela nossa alma (Hb 13.17). E, na primeira epístola de Paulo aos tessalonicenses, diz que devemos ter tais pessoas em grande estima e consideração (5.12-13).

A base de tal apoio, certamente não se fundamenta na personalidade de quem exerce um ministério na Igreja, mas sim no exercício da função designada por Deus, com o objetivo de realizar a sua obra na terra.

Devemos permanecer atentos e vigilantes a respeito do comportamento que desenvolvemos na Igreja em relação aos irmãos e à obra de Deus. É importante que a todo momento nos examinemos quanto às nossas motivações internas afim de que não sejamos tomados pela inveja e pela cobiça. Precisamos nos questionar se estamos querendo satisfazer a Deus ou aos nossos interesses, tendo em vista que o cristão não tem por finalidade alcançar o poder ou ocupar cargos, mas sim ser um instrumento do Senhor Jesus na execução de sua obra na terra.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O PT não pode mais continuar no governo do país!

Embora nós eleitores friburguenses muitas das vezes nos alianamos da política nacional, vejo que as questões de Brasília têm um forte peso sobre a vida de todos nós e de pessoas em outras cidades.


Em 2002, quando Lula elegeu-se Presidente da República, eu imaginava que poderíamos ter uma social-democracia mais ousada do que na era FHC e que avançaríamos nas conquistas de muitos direitos sociais.


Entretanto, o que tenho visto, além da corrupção, é o uso do poder com finalidades erradas e um ambicioso projeto totalitário pretendido pelo PT.


O recente episódio em que o governo brasileiro resolveu conceder uma grana de 1 bilhão e meio para Cuba é uma afronta não só ao nosso apertado orçamento como também re presenta o financiamento do mais cruel regime político da América Latina que já matou muito mais gente do que todas as ditaduras militares da América do Sul juntas.


Enquanto o Irã ameaça Israel com seus mísseis e usinas de enriquecimento de urânio, Lula continua desfilando com os piores ditadores do planeta, apoiando os goernos de Venezuela, Bolívia, Equador e ainda se meteu na questão de Honduras.


Sei que a economia parece boa, mas não acho que o momento de relativa prosperidade (pequena até para o potencial do país e incapaz de por fim ao desemprego) seja motivo para o povo votar em Dilma.


Muito pelo contrário! Vejo que já passou da hora de serem cortadas as asas do PT, antes que comecem a golpear a nossa democracia tão duramente reconquistada.


Sinceramente, temo que mais um governo petista acabe servindo de justificativa para uma intervenção política das Forças Armadas ou que venhamos a sofrer consequências nocivas na nossa economia.


Sei que o colégio eleitoral de nossa cidade é incapaz de eleger um Presidente da República, mas acho fundamental termos a nossa responsabilidade com a democracia e com a Constituição do país neste importante ano eleitoral, pois é pela nossa liberdade e dos nosso filhos que devemos nos posicionar.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O que significa ter Jesus como nosso Senhor?

Embora o termo “senhor” tenha se tornado em nossa sociedade uma forma respeitosa e formal de tratamento, dispensado principalmente às pessoas mais velhas, temos nos esquecido de seu significado original.

É muito comum entre os cristãos de hoje Jesus ser chamado como senhor. E, numa época não muito distante de nós, o marido ainda referia-se com mais frequência à esposa como sua senhora. Porém, quando utilizamos hoje a palavra senhor em relação à pessoa de Jesus, nem sempre damos o significado original do termo ao que dizemos com a boca.

No Novo Testamento que foi escrito no grego comum dos séculos I e II, a termo Senhor (Қύριοζ – Kurios) significa dono, aquele que tem o domínio sobre seus servos, conforme consta em várias passagens bíblicas, as quais nos servem de exemplo ilustrativo. Contudo, neste texto, vou me deter apenas na experiência da conversão do carcereiro de Filipos, registrada no capítulo 16 de Atos dos Apóstolos.

Lucas, autor do livro de Atos, conta que, na segunda expedição evangelística, Paulo, uma visão noturna, viu um homem da Macedônia pedindo a ele que viesse para lá e ajudasse o seu povo (At 16:9). Entendendo o sentido da visão, o apóstolo e seu companheiro Silas, imediatamente, obedecem a direção dada pelo Espírito Santo e partem para o novo destino sem saber o que enfrentariam, chegando a uma cidade chamada Filipos, onde passaram a pregar o Evangelho entre as mulheres do local (At 16:13).

Dentre aquelas mulheres que frequentavam as reuniões de Paulo estava a corajosa Lídia, a primeira a se converter naquela cidade e que vem a ser batizada juntamente com sua família, passando a oferecer sua hospitalidade ao apóstolo e também sua casa para ser o quartel general do Evangelho em Filipos. Porém, como sabemos, a obra de Deus tem momentos de adversidades para os cristãos. E foi o que aconteceu com Paulo e Silas quando o apóstolo expulsou um demônio do corpo de uma jovem adivinhadora.

Na época, era comum os homens terem escravos e essa jovem atormentada por um espírito demoníaco vinha sendo usada por seus senhores com uma finalidade lucrativa. Mas com a sua libertação espiritual, cessaram as adivinhações dessa moça, o que enfureceu os seus senhores que, sem nenhum respaldo nas leis da época, conduziram Paulo e Silas às autoridades romanas daquela cidade.

Abusando do poder que tinham, as autoridades de Filipos mandaram dar uma surra em Paulo e em Silas, trancando-os num cárcere sem que existisse qualquer justificativa na lei romana para prendê-los.

No entanto, Paulo e Silas sofreram mansamente aquele castigo injusto e, por volta da meia noite, Lucas conta que esses valorosos evangelistas oravam e ainda tinham ânimo para louvarem a Deus (At 16:25).

Repentinamente ocorreu então um tremor de terra e todas as cadeias foram abertas de modo que aqueles que estavam presos foram soltos.

Interessante que, apesar do terremoto, o carcereiro da prisão estava dormindo e, ao ver que as portas das cadeias tinham sido abertas, deve ter imaginado que, pela sua própria negligência, os presos escaparam.

Na certa, aquele homem deve ter imaginado que, em razão de uma suposta fuga dos presos, sua vida agora estivesse arruinada e, por isso, resolveu que iria tirar a própria vida.

Paulo, ao ver aquela tentativa de suicídio, gritou então para que o carcereiro não se matasse e lhe diz que todos os presos estavam ali a fim de que o homem ficasse despreocupado.

Importante para a compreensão do texto e da breve pregação de Paulo que busquemos contextualizar aquele momento difícil vivido pelo carcereiro.

Paulo e Silas deveriam estar na cidade há algum tempo e, embora não pudessem pregar abertamente dentro de Filipos, as reuniões com as mulheres junto à margem do rio estavam repercutindo entre os moradores da cidade. Num lugar onde talvez existissem poucos judeus e a maioria dos habitantes fossem pagãos, a obra de Deus feita por intermédio de Paulo alcançava o coração de muita gente a começar pelas esposas, filhas e mães daqueles cidadãos.

É possível que o carcereiro também tivesse escutado uma parte das orações e dos louvores cantados por Paulo e Silas, quando nossos irmãos ainda estavam presos. Porém, até então não havia ainda esperança para a vida daquele homem, o qual sentiu-se arruinado quando acordou do seu sono e viu que as portas das prisões estavam abertas.

A atitude de Paulo em se apresentar ao carcereiro depois daquele acontecimento e ainda preocupar-se com a sua vida deve ter lhe causado um forte impacto no seu coração. Supondo que horas antes aquele homem talvez tivesse castigado a Paulo com açoites, ou presenciado o castigo injusto e talvez nem se importado com a agressão praticada contra o apóstolo de Cristo a mando das autoridades locais, seria um tanto incompreensível o amor demonstrado quando nosso irmão lhe diz para não cometer o suicídio: “Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos!” (At 16:28)

Ouvindo tais palavras, o carcereiro toma uma atitude que realmente vai mudar toda a trajetória de sua vida. Ao invés de se matar, ele resolve procurar a ajuda espiritual que a sua alma tanto necessitava para que vivesse eternamente e vai então direto ao encontro de Paulo e de Silas. Lucas como um bom médico observador entra em detalhes relatando que o carcereiro encontrava-se “trêmulo” e se humilhou diante de Paulo e de Silas. E, depois disto, leva-os para o lado de fora da prisão, perguntando-lhes o que seria necessário fazer para ser salvo (At 16:31).

Prestem a atenção que quando o carcereiro fez esta ousada pergunta, confiando no poder sobrenatural que estava sobre a vida de Paulo e de Silas, ele queria saber qual a direção para a sua vida a fim de que não caísse em desgraça. Isto porque as autoridades da cidade, provavelmente, iriam tomar alguma posição em relação à fuga de Paulo e Silas, sendo que o carcereiro, além de sobreviver daquele trabalho, precisava zelar pela sua vida e por sua família.

Nesta altura, ao que me parece, o carcereiro já deveria estar compreendendo que havia alguém mais poderoso do que as autoridades de Filipos e, ao fazer sua pergunta para Paulo e Silas, ele estava demonstrando uma verdadeira confiança em quem seria poderoso para salvá-lo.

Mas quem poderia salvar a vida daquele carcereiro? Por acaso seriam Paulo e Silas?

Sem desejarem nenhuma glória para si mesmos, Paulo e Silas respondem ao carcereiro que aceitando o senhorio de Jesus em sua vida ele seria salvo bem como a sua casa (família): “Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”. (At 16:31)

Observem que Paulo e Silas anunciaram Jesus como um Senhor, termo este que também teria um significado bem maior do que os meros pronomes de tratamento usados hoje em dia.

Paulo e Silas estavam se colocando como servos de alguém chamado Jesus, expondo desta maneira a quem pertence aquele poder que estava sobre a vida deles a ponto de livrá-los das prisões dos homens.

Na cabeça do carcereiro deve ter se passado uma outra pergunta sobre quem seria esse tal de Jesus que seria o Senhor de Paulo e de Silas. Não sabemos ao certo se aquele carcereiro já tinha ouvido algum comentário sobre Jesus. Penso eu que sim, pois o ministério de Paulo e de Silas talvez já estivesse há algum tempo atuando na cidade de Filipos. Porém, certamente, até então o carcereiro ainda não conhecia Jesus realmente.

Sem dúvida que aquela deve ter sido a noite mais feliz desse homem, o qual, juntamente com as pessoas de sua casa, ouviu a pregação da Palavra de Deus, converteu-se e foi batizado. Sua atitude passou a ser de gratidão e de grande mudança, pois ele e sua família passaram a cuidar dos ferimentos de Paulo e de Silas, dando-lhes o que comer em sua própria casa.

Podemos até dizer que aquela ceia tornou-se uma inesperada festa para a família desse carcereiro que, conforme o relato registrado por Lucas, todos estavam transbordando de alegria por terem crido em Deus (At 16:34).

A partir daquele momento, o carcereiro e a sua família estavam libertos de um cotidiano vazio e sem esperança. Estavam livres da ignorância em que viviam. Pois aceitando a Jesus como Senhor significou que agora não estavam mais debaixo da escravidão do pecado e da morte. Ou seja, tinham finalmente encontrado o Caminho da salvação de suas almas. Algo que jamais perderiam, mesmo se fossem mortos pelas mãos dos homens.

Igualmente para todos nós está disponível a mesma oportunidade de salvação e de vida eterna. É algo simples, mas que produz um grande efeito no universo a ponto de provocar uma grande festa nos céus. Basta que cada homem seja capaz de arrepender-se de seus pecados e aceitar o senhorio de Jesus sobre sua vida. Reconhecer que a partir de agora é Jesus quem deve governar a sua vida através da obediência e não mais os seus próprios desejos. A partir de então, uma maravilhosa caminhada se inicia em direção aos céus e a salvação começa a ser vivenciada cotidianamente, sendo experimentada aqui mesmo na Terra.

Penso também que não precisamos ficar perturbando as mentes das pessoas enchendo-as de doutrinas ou insistindo em levá-las para uma congregação religiosa afim de que sejam salvas, pois não é desta maneira que a salvação de Deus opera. Na passagem bíblica mencionada, Paulo fez uma das mais breves pregações (crê no senhor Jesus e serás salvo), mas que foi poderosa e decisiva para mudar as pessoas. Com sua conduta mansa e humilde, Paulo despertou naquele carcereiro o desejo de receber a salvação, sendo que é esta a postura que o Senhor Jesus que de todos aqueles que são seus discípulos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Uso de roupa social nos Tribunais: uma medida injustificável


Li uma notícia no site da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro informando que o Conselho Nacional de Justiça ratificou a decisão da OAB em liberar o uso profissional dos ternos durante o verão.

A princípio, a medida me pareceu uma grande conquista dos advogados fluminenses. Porém, não posso esconder que, ao tomar conhecimento da medida, senti-me de certa maneira tolido em minha liberdade individual por saber que, desde 09/02/2010, o meu modo de vestir estaria sendo controlado por uma norma da Presidência da OAB do Rio de Janeiro.

Ao editar o o Ato nº 39/2010, o presidente da OAB/RJ, Dr. Wadih Damous, determinou que até o dia 21/03/2010, os advogados que optarem por não utilizar paletó e gravata no exercício profissional “deverão se apresentar com calça e camisa sociais”, sendo que o parágrafo único do artigo 1º da norma considera como exercício da profissão “a prática de atos processuais em cartórios; despachos com magistrados; audiências e sustentações orais e outros afins”.

É certo que neste verão seco e quente que tem feito no Rio de Janeiro e em outras cidades do estado, as temperaturas têm ultrapassado os 40 graus durante o dia (até na região serrana tem feito um calor acima do normal), causando desconfortos e até males à saúde dos advogados. Daí surgiu a iniciativa da OAB em não somente adotar a nova decisão por prazo determinado como também provocar o CNJ para que se manifestasse ratificando ou não a medida. Tanto é que no seu requerimento a OAB assim fundamentou:

“Os prejuízos à saúde, especialmente dos profissionais de idades mais elevadas, é notório: caminhar sob o sol, com os termômetros marcando mais de 40º C (com sensação térmica chegando a 50º), com vestimentas mais adequadas ao inverno europeu, pode causar diversas enfermidades: desde desidratação, passando pela insolação, até chegar a variações extremas da pressão arterial, que podem inclusive ocasionar morte.”

Entretanto, antes da decisão da OAB, quase sempre pude exercer a profissão de advogado com trajes melhor climatizados e a meu gosto. Exceto nas audiências, em que não conhecia o juiz, ou sabia da implicância do magistrado quanto ao uso do terno, quase sempre fui a Fórum vestindo qualquer tipo de caça ou camisa. Nos cartórios, os funcionários jamais deixaram de me atender caso eu estivesse utilizando tênis, calça jeans e camiseta de maga curta, sendo que da mesma maneira como me apresentava nas serventias judiciais consegui ser recebido dentro do meu estilo por determinados juízes de cabeça aberta. Apenas nunca trabalhei de bermuda e chinelos no Fórum porque as próprias normas do Tribunal de Justiça impedem a entrada de qualquer pessoa nas dependências dos órgãos do Poder Judiciário Estadual.

Agora, porém, a situação mudou. O advogado do sexo masculino só poderá andar de terno ou de calça e camisa sociais, visto que este padrão passou a ser norma da OAB amparada por lei e decisão do CNJ (pelo menos até o final do verão). Pois, se não fosse pelo tal parágrafo único do artigo 1º do ato do presidente da OAB, os advogados poderiam continuar sendo atendidos pelos serventuários dos cartórios sem nenhum problema. Contudo, se algum colega de profissão não observar a nova norma poderá, além de não receber o atendimento, sofrer até mesmo uma representação perante a OAB por qualquer um (funcionário ou não do Poder Judiciário) que o flagrar exercendo a profissão fora dos trajes obrigatórios.

Verdade é que as normas não tornam o cidadão livre. Quanto mais normatizamos a vida em sociedade, mais nos tornamos reféns dos preceitos escritos, o que gera um sentimento desagradável de privação.

Todo este recente episódio me fez lembrar da figura de Jânio Quadros, o qual, durante seu mandato presidencial, apesar de ter proibido o desfile das modelos de biquíni, desejou implantar o uso do slack indiano no país afim de que o uso do terno viesse a ser pudesse abolido. Atentando para a tropicalidade do clima, Jânio propôs no começo dos anos 60 que, em ocasiões de protocolo menos rígido, fosse usada uma vestimenta oficial que se assemelharia a um uniforme estilo safári, a qual seria mais adequada à tropicalidade brasileira.

Creio que Jânio Quadros poderia ter tido mais sucesso em sua proposta se o uniforme por ele idealizado fosse algo mais original e, ao menos, já fosse socialmente aceito naquela época. Faltou, evidentemente, um pouco de seriedade do nosso ex-presidente quanto à sua proposta, visto que a polêmica por ele suscitada pode não ter passado de mais um de seus truques de comunicação para manter-se na “ribalda”, tal como fez proibindo as rinhas de galo, o lança-perfume nos bailes de carnaval e o biquíni nos concursos de miss.

Outra lembrança que veio à minha memória diz respeito à proibição do uso da burca nas escolas francesas. Embora considere o cúmulo do mau gosto de terminadas seitas muçulmanas radicais imporem este traje absurdo às suas seguidoras, questiono se de fato o Estado democrático pode obrigar alguém a se vestir desta ou daquela maneira. Logo, tal proibição trata-se de mais uma intromissão estatal na esfera da vida privada, o que é injustificável por mais ridículo que pareça ser o uso das burcas.

Felizmente como a norma da Presidência da OAB terá fim no dia 21/03/2010, aguardo ansiosamente o começo do outono para poder novamente usando jeans, camiseta e tênis até meados de abril, esperando que, desta vez, o debate a respeito dos trajes dos advogados não fique esquecido nos meses seguintes. Desejo ainda que o nosso honrado e batalhador presidente da OAB/RJ, Dr. Wadih Damous, inicie uma consulta pública em todas as subseções afim de que o terno e a gravata fiquem definitivamente abolidos nos Tribunais no Rio de Janeiro e não haja mais nenhuma determinação específica da OAB sobre como deve ser o traje do advogado.


Aguardando deferimento,

Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Como Zaqueu...

Cantada não só em igrejas, mas até mesmo em pagodes das festas seculares e dos botecos de esquina, a música “Como Zaqueu”, de Regis Danese, tornou-se tão popular em todo quanto algumas canções de Roberto Carlos. A melodia, sem dúvida, é envolvente e a letra muito fácil de aprender. Porém, nem todos meditam no significado das palavras da composição. Principalmente no trecho que diz “largo tudo pra te seguir”.

O Evangelho segundo Lucas, em seu capítulo 19, registra a passagem de Jesus pela cidade de Jericó, alguns dias antes de sua última Páscoa em Jerusalém. O texto conta que Zaqueu, o principal dos publicanos, em razão de sua baixa estatura, precisou subir numa árvore (um sicômoro) para poder avistar o Senhor. Jesus, atentando para aquele gesto simples de espontaneidade, ofereceu-se para hospedar na casa de Zaqueu, o que deixou muita gente da cidade perplexa.

Importante esclarecer que os publicanos eram considerados homens pecadores pelos religiosos da época. Eram os coletores de impostos do Império Romano e se enriqueciam através da extorsão e da cobrança em excesso, tal como fazem os fiscais corruptos na atualidade. Ou seja, estavam violando o oitavo mandamento que expressamente diz “não roubarás”.

Naqueles tempos, um rabino certamente apenas iria hospedar-se na casa de homens íntegros dentre os israelitas quando entrasse numa cidade para fazer suas pregações. Logo, era esperado que Jesus pernoitasse na residência do chefe da sinagoga local ou de um piedoso fariseu que fizesse constantes caridades ao povo, mas de modo algum debaixo do mesmo teto onde mora um publicano. Contudo, o convite de Jesus produziu em Zaqueu um sentimento de alegria, de maneira que ele rapidamente desceu da árvore e recebeu o Senhor.

O clímax de toda esta narrativa ocorre justamente no versículo 8 do capítulo 19 de Lucas, quando Zaqueu, chamando a Jesus de Senhor, dispôs dar aos pobres metade de seus bens e indenizar em quádruplo às pessoas que ele um dia lesou:

“Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais.”

Em seguida, declarou Jesus que, naquele dia, a salvação havia chegado à casa de Zaqueu, o que se verificou pela nova atitude assumida por aquele rico publicano, o qual, assim como os demais israelitas de Jericó, também era filho de Abraão e destinatário das mesmas promessas de perdão e de vida eterna.

A história de Zaqueu nos ensina que a conversão de alguém é evidenciada quando o convertido resolve produzir obras dignas de um arrependimento sincero. O publicano Zaqueu demonstrou que verdadeiramente estava se desapegando das riquezas e se encontrava disposto a reparar todos os erros causados quando resolveu indenizar a cada um que havia sido vítima dos seus roubos.

É verdade que, de acordo com a Lei de Moisés, a restituição em quádruplo era a pena para os crimes contra o patrimônio de alguém. Para uma ovelha furtada, o ladrão era obrigado a pagar o preço de quatro animais ao dono. Mas, no caso de Zaqueu, ele mesmo tornou o seu próprio juiz e, voluntariamente, resolveu reparar os males que causou às pessoas.

Embora não haja nenhum outro registro bíblico a respeito de Zaqueu (a tradição cristão de Eusébio de Cesareia diz que ele teria sido um dos quatro primeiros bispos de Jerusalém), fico imaginando os momentos quando aquele publicano arrependido se encontrou novamente as pessoas que um dia foram prejudicadas. Quantos relacionamentos perdidos que precisaram ser restaurados? E quanta coisa que Zaqueu não deve ter escutado?

Penso que talvez o mais difícil para um homem não seja dar metade de uma fortuna aos pobres, mas sim recuperar um relacionamento e, desta forma, lidar com uma ferida aberta na própria alma. Pedir perdão à ex-esposa pelas traições conjugais ou mesmo brigas do cotidiano que um levaram à ruína de um casamento, mesmo ciente da impossibilidade de que a situação retorne ao estado anterior, pode ser mais duro para o orgulho humano do que simplesmente assinar um cheque em benefício de um orfanato.

Todavia, a cura para muitos dramas interiores se passa pela tomada de atitudes que busquem a restauração de um relacionamento quebrado no passado. Pois, para o cristão aceitar o senhorio de Cristo sobre a sua vida significa estar disposto a obedecer seus mandamentos, mesmo tendo que enfrentar situações humilhantes ou desagradáveis, as quais depois de cumpridas, proporcionam uma sensação interna libertadora.

No romance “O caçador de pipas”, após Amir ter sido refém de sua própria covardia e ingratidão a ponto de tentar destruir o relacionamento de amizade de infância que tinha com Hassan, experimentou uma incrível mudança de caráter muitos anos depois, ao retornar para o país de origem a fim de resgatar Sohrab das garras do regime Talibã. Em sua jornada ao Afeganistão, mesmo após a morte de Hassan, Amir enfrentou perigos para salvar a vida do filho de seu amigo, o que se tornou a cura para o seu comportamento covarde nos tempos de criança.

Como Zaqueu e como o personagem Amir de Khaled Hosseini, também precisamos enfrentar certas situações traumáticas do passado afim de experimentarmos os deliciosos frutos de uma conversão pessoal a Deus. Tudo começa com uma reflexão íntima em que desejamos sinceramente mudar as nossas atitudes em relação à vida para que, daqui por diante, não só abandonemos o mau caminho como também trilhemos pelas veredas do bem. E foi isto o que o Senhor obteve de seu anfitrião, demonstrando que, verdadeiramente, o Rabino Jesus soube qual casa escolher para ficar hospedado em Jericó antes de sua entrada triunfal em Jerusalém.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O poder das mulheres sobre a História da humanidade


Desde o final de minha infância, conheço a popular frase de que “por trás de um grande homem, existe uma grande mulher”. E quem costumava me dizer isto era Diva, esposa de meu falecido avô paterno Sylvio Ancora da Luz (1917-2005) e que acabou se tornando uma segunda mãe para mim, quando fui criado na mineira cidade de Juiz de Fora a partir do ano de 1985.

Após passar por reflexões, posso concluir que tal assertiva é de fato verdadeira, demonstrando que, de fato, no decorrer da história da humanidade, através do núcleo familiar, as mulheres puderam influenciar importantes decisões que foram tomadas pelos homens nos campos da política e da economia.

O brilhante artigo de Richard Bauckham, “Uma história do ponto de vista feminino”, no qual o autor, ao fazer uma profunda análise do Livro de Rute, explica como surgiu a falsa impressão de que a História teria sido dominada pelos homens, uma vez que foram estes quem a escreveram por suas penas:

“Começamos a perceber que uma história contada do ponto de vista masculino, retratando principalmente aspectos da sociedade em que aparecia a liderança dos homens, tende a fazer co que a própria sociedade pareça ser mais dominada pelos homens do que realmente é. Somente do ponto de vista feminino podemos perceber até que ponto as mulheres eram as verdadeiras protagonistas de acontecimentos significativos”.

De fato, o Livro de Rute, canonizado na Bíblia cristã como sendo o oitavo do Antigo Testamento, mostra como que duas mulheres (Noemi e sua nora Rute) inteligentemente conseguiram sobreviver numa época em que as viúvas sem filhos ficavam praticamente sem opção de sustento. Através dos sábios conselhos de sua sogra a respeito dos costumes do povo israelita, a estrangeira Rute casou-se com o fazendeiro Boaz, com quem teve um filho, vindo a ser a bisavó do grande rei Davi.

De acordo com Gail Meyer Rolka, autora do livro “100 mulheres que mudaram a história do mundo”, não apenas rainhas e princesas influenciaram os rumos da humanidade. Sua lista inclui mulheres que, aparentemente, com menos prestígio do que as de origem nobre, promoveram grandes modificações dentro do contexto social em que viviam, dentre as quais se incluem Tarsila do Amaral, Anita Garibaldi, Cecília Meireles, Chiquinha Gonzaga, Joana d´Arc, Maria Quitéria, Maria Montessori, Rosa Luxemburgo, Marie Curie, Agatha Christie, Rachel de Queiroz, Frida Kahlo, Madre Teresa, Irmã Dulce, Evita Perón, Anne Frank, Toni Morrison e outras.

Sem dúvida, raramente as rainhas ou princesas conseguiram fazer alguma diferença quando assumiram o poder. Na Idade Média, houve mulheres que governaram feudos, mas o sistema de exploração servil não sofria alterações por causa disto uma vez que a sociedade era estamental, isto é, não havia mobilidade vertical.

Do mesmo modo, tenho pra mim que o fato de muitas mulheres conseguirem ser eleitas para cargos de destaque na chefia da Administração Pública de hoje, não significa que elas estejam de fato participando do comando do mundo. Por trás de suas eleições, muitas das vezes existem interesses de políticos inescrupulosos, os quais usam os nomes de suas esposas, filhas ou funcionárias para manterem-se no poder juntamente com o grupo mafioso que lideram. Enfim, troca-se o seis por meia dúzia.

Na atualidade, em que o trabalho feminino acabou sendo mais escravizante do que libertador, a participação real da mulher pode estar sendo até menor do que foi no passado, uma vez que, na esfera do lar, a atuação das mães acabou sendo reduzido pelo menor contato com os maridos e com os filhos. Logo, é importante que se recupere o papel feminino nas famílias através da redução da jornada de trabalho das mulheres, o que é fundamental para que as crianças de hoje possam receber de fato uma formação educacional capaz de prepará-las para a vida.


OBS: A ilustração do texto refere-se ao quadro Rute e Boaz (1828) do pintor alemão Julius Schnorr von Carolsfeld.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Sobre a marcação de consultas médicas nos postos de saúde de Nova Friburgo

Li atentamente a carta da leitora Eva Rosa Cabral, publicada no dia 04/02/2010 (hoje) no jornal A Voz da Serra, na qual a autora critica com razão o mal atendimento da Policlínica Sul (antigo Sase) em razão do horário de entrega das fichas e do fato de pacientes poderem de uma só vez pegar fichas de consultas médicas para si e sua família prejudicando outros que estão aguardando na fila já que existe um número limitado de vagas a serem preenchidas.

A meu ver, entendo que a população da cidade deveria reivindicar algo que fosse mais além do que um horário mais cedo para a marcação de consultas médicas. Hoje, com os recursos da informatização, é plenamente possível alguém conseguir marcar uma consulta médica por telefone ou pela internet, tal como nas perícias do INSS, sem que haja prejuízo do atendimento pessoal ao cidadão nas unidades de saúde.

Entendo também que não justifica manter a adoção de dias específicos para que os pacientes ou os seus familiares possam marcar uma consulta médica, pois se trata do exercício do direito de acesso aos serviços de saúde que está amparado no artigo 196 da Constituição Federal. Senso assim, compartilho a minha sugestão para que todas as unidades do SUS em Nova Friburgo com atendimento ambulatorial sejam modernizadas e reestruturadas com novos equipamentos e mais funcionários (principalmente médicos) para poderem receber um número maior de pessoas.

Enfim, eis aí uma discussão para ser amplamente debatida pelo Conselho Municipal de Saúde junto à população da cidade com a finalidade de se resolver os problemas que afligem o cotidiano do cidadão comum, gerando incompatibilidades para alguém que trabalha poder chegar a tempo no serviço e ao mesmo tempo cuidar de sua saúde.


"Sase
Gostaria de pedir a vocês que fizessem uma reportagem sobre o mal atendimento do Sase, aonde os pacientes são tratados com pouco caso, e uma pessoa pode pegar fichas para várias pessoas da familia de uma só vez. Nos outros postos, se você quiser mais de uma ficha tem que entrar na fila de novo, o que é muito justo com os outros pacientes que levantaram de madrugada.
E quanto ao horário de dar as fichas, antes era às 7h, você pegava e ia trabalhar. Agora os postos dão fichas às 8h ou 9h e o patrão não entende.
Pois chega atrasado para pegar a ficha, depois falta para ir ao médico, depois para fazer os exames, depois para pegar fichas para mostrar os exames no médico. Que patrão entende isto? Já se as fichas forem dadas às 7 horas você já chega mais cedo ao emprego.
Por favor nos ajudem !!!!"
Eva Rosa Cabral

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A importância das refeições comunitárias nas igrejas e dos relacionamentos

No livro de Atos dos Apóstolos, o quinto do Novo Testamento da Bíblia, o autor, ao descrever como era a vida comunitária da Igreja primitiva em Jerusalém, mostra que os primeiros cristãos tinham o saudável hábito de fazer suas refeições em grupo:

“Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam o pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração” (Atos 2:46)

Tal passagem do livro encontra-se no contexto que menciona como era a vida daquela primeira comunidade de convertidos que surgiu no século I, a partir do dia de Pentecostes do ano da morte e ressurreição de Jesus. Os versículos anteriores mostram que todos aqueles que creram “estavam juntos e tinham tudo em comum”, a ponto de venderem os seus bens para distribuírem com todos, conforme a necessidade dos integrantes do grupo.

Embora muitos identifiquem este momento glorioso da Igreja com o comunismo, tenho pra mim que o comportamento praticado pelos judeus convertidos em Jerusalém aproximavam-se mais das comunidades indígenas e pré-históricas. Principalmente por causa do forte sentimento de unidade, o que umas sete semanas, logo após a Ceia, antes foi expresso por Jesus durante a sua magnífica oração sacerdotal:

“Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.” (Evangelho segundo João, cap. 17, versos 21 a 23)

Ora, toda essa unidade foi construída dentro de uma atmosfera verdadeiramente espiritualizada, sem que houvesse uma obrigatoriedade na repartição de riquezas, mas prevalecendo um comportamento de reverência a Deus e de intenso amor, a ponto de todos quererem estar juntos e ter tudo em comum. E, ao que tudo indica, a Ceia era celebrada em meio aos banquetes da comunidade.

Lamentavelmente, a Igreja perdeu esta característica no decorrer dos tempos. No próprio século I, umas duas décadas depois do Pentecostes, na cidade grega de Corinto, o apóstolo Paulo criticou aquela comunidade de cristãos por se achar dividida e não unida, o que era percebido nas próprias reuniões durante a Ceia:

“Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis. Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague. Não tendes, porventura, casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto, certamente, não vos louvo.” (1ª Epístola aos Coríntios, cap. 11, versos 20 a 22)

Na atualidade, as congregações cristãs em sua maioria limitam-se à celebração da Ceia, baseando-se numa compreensão parcial da passagem bíblica acima citada e sem considerar que o pão costumava ser partido durante as refeições comunitárias. Alguns chegam a entender equivocadamente que a Igreja não seria o local para as pessoas se alimentarem apenas porque o apóstolo Paulo disse que se alguém tem fome comesse “em casa”.

Porém, o que compreendo quanto aos ensinamentos de Paulo na carta aos coríntios é que as refeições comunitárias na Igreja jamais seriam ocasiões para atitudes individualistas. Estas, por sua vez, acabavam trazendo desordem à celebração do grupo em que, aparentemente, pessoas mais ricas estariam promovendo os seus próprios banquetes separadas dos demais irmãos de condição humilde, ofendendo o Corpo de Cristo. Logo, se tais pessoas estavam afim de patrocinar suas próprias festas, era melhor que ficassem em suas casas ao invés de se reunirem para celebrar em conjunto a Ceia do Senhor.

Em vinte séculos depois praticamente, parece que a Igreja preferiu deixar de agir para não pecar contra os ensinamentos paulinos. A ingestão do pedaço de pão e da pequena porção de suco de uva nas reuniões de hoje ocorre simultaneamente apenas para que todos possam comer e beber juntos, mas ao término da celebração, cada um vai para a sua própria casa cuidar de seus interesses e se esquece de manter um contato contínuo com o irmão.

Nesses tempos de extremo individualismo, tenho visto as pessoas evitarem umas as outras, o que, infelizmente, tem acontecido até na Igreja. O homem do século XXI substituiu a linguagem polida pelas gírias e inventou maneiras excêntricas de se cumprimentar, mas ainda assim as pessoas vivem distantes nos seus relacionamentos, deixando de compartilhar as suas vidas e nem querem saber como vai o seu próximo. Por regra e etiqueta aprendemos que sempre deve-se responder que está tudo bem para que continuemos sendo socialmente aceitos.

Diante de tal quadro negativo, cabe à Igreja fazer diferença e criar um ambiente totalmente oposto do que é o mundo ao invés de se alienar nas extasiantes celebrações musicais em que o sentido das emoções parece ter sido colocado a frente da devoção a Deus. E, neste sentido, parece-me que o resgate das refeições em conjunto pode ser um bom começo para vivenciarmos princípios de uma vida comunitária.

Contudo, não basta apenas a Igreja reunir-se para um almoço, pois é necessário que cultivemos relacionamentos. Por diversas vezes já almocei e jantei em retiros espirituais, mas nem sempre o momento é suficientemente apreciado. No café da manhã, os que precisaram ser acordados para participar das primeiras atividades tomam apressadamente a refeição e se esquecem de que o culto a Deus deve ser prestado a todo instante, inclusive no momento da alimentação. No almoço e na janta, nem sempre as pessoas comem juntas como na Ceia, até mesmo porque enquanto uns estão se alimentando, outras ainda estão em pé na fila. Porém, ainda assim há alguns que permanecem no refeitório conversando quando há condições para tanto e, ao término do retiro, retornamos ao nosso empobrecido contato superficial com os irmãos.

Curiosamente, quando muitas pessoas estão com aquelas com as quais se identificam, as refeições podem durar uma infinidade. O encontro é espontâneo e as pessoas não se incomodam de ficar juntas celebrando a vida e às vezes sem a participação de Deus. Para preencher tal carência, o excesso de álcool passa a ser o combustível das reuniões de bar, após as quais já não há mais nenhum compromisso de caridade com o próximo. Distribui-se copos de cerveja, mas falta o amor.

Cultivar relacionamentos é essencial para crescermos, os quais não podem se basear em identificações do sentimento. Aceitar o próximo com as suas deficiências faz parte da missão da Igreja, de modo que precisamos nos diferenciar do mundo aprendendo a estabelecer relações com pessoas de outras classes sociais, de faixas etárias acima ou abaixo das nossas e portadoras de necessidades especiais (todos somos deficientes em alguma coisa). Não podemos nos fechar em pequenos grupos de amigos que se isolam, mas devemos aprender a compartilhar com o irmão e desenvolver a unidade construída em Cristo pelo Espírito que Ele nos dá.