É muito difícil e, às vezes, bem caro ao ser humano tentar ser um livre pensador,
sendo a incompreensão das pessoas um dos preços a se pagar por isso.
Principalmente quando se vive num ambiente dividido entre dois polos
opostos, quando faltam opções de escolha, a não ser este ou aquele lado.
Pode-se
dizer que assim teria sido o Brasil na época da Guerra Fria sendo esta
ainda a característica da Venezuela chavista. E, por pouco, o nosso país
não caiu novamente em outra equivocada bipolarização desde quando o
então presidente da Câmara dos Deputados, senhor Eduardo Cunha ,declarou
sua guerra de poder contra Dilma Rousseff querendo o impeachment da mandatária.
O
fato é que à grande maioria da população brasileira pouco interessam as
brigas existentes entre os políticos. Ainda mais quando falta, além da
ética, vagas de emprego, salários dignos, serviços de saúde adequados,
mais educação para as nossas crianças, segurança nas cidades e produtos
livres da corrosiva inflação que voltou. E aí como pode o cidadão comum
tomar partido de uma disputa que não lhe pertence a ponto de vir se
posicionar a favor de lideranças sem credibilidade que não representam
verdadeiramente os anseios da coletividade?
Assim como a população pobre e humilde não está nas ruas nem para defender o mandato da presidenta ou pedir o seu impeachment,
os livres pensadores têm um jeito próprio de ser. Não se orientam por
necessidades tão imediatas, mas procuram construir uma visão
independente da realidade, pouco se importando com o que dirão a
respeito de suas ideias.
Procurando viver a utopia da liberdade de pensamento, tenho defendido propostas como novas eleições presidenciais e a adoção de um sistema parlamentar de governo
para depois de 2018. Para muitos da esquerda defensora da Dilma, isso
seria "golpismo" ao passo que, para os interesses imediatistas de
mercado, basta a restauração da governabilidade para o cumprimento de
uma agenda econômica específica, a qual Temer aparenta saber como
conduzir.
Nesta semana que antecede a votação do Senado sobre o impeachment
(ainda não decidirão a cassação de Dilma), acredito que o Brasil
recebeu com satisfação a notícia sobre o afastamento de Cunha de seu
mandato de deputado federal pelo Supremo. Por 11 a 0, o STF manteve na
tarde de hoje a liminar concedida de manhã pelo ministro Teori Zavascki,
atendendo a um requerimento do procurador Rodrigo Janot, o que
considero muito positivo para os acontecimentos políticos não se
distanciarem do ideal de imparcialidade.
Apesar
dos fatos divulgados pelos jornais prenderem a nossa atenção como uma
telenovela, considero os assuntos dessa crise como sendo de baixo grau
de politização, sem o potencial de transformar efetivamente a sociedade
brasileira e as suas instituições. A utilidade de Cunha e Dilma saírem
seria mais por uma razão exemplar e também para desbaratar as atuais
quadrilhas instaladas há anos no poder. Mas é evidente que o impeachment,
por si só, será incapaz de eliminar as causas dos nossos principais
problemas. Estes precisam ser amplamente discutidos e enfrentados
através de uma organização autônoma das comunidades, lembrando que
ninguém consegue avançar sem encarar a realidade tirando as máscaras.
Que venham novos tempos!
OBS: Postagem publicada primeiramente no blogue da Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola, na presente data, sendo que a ilustração acima extraída de uma página do Instituto Federal Rio Grande do Norte conforme consta em http://portal.ifrn.edu.br/campus/natalzonanorte/noticias/projeto-promove-nesta-quarta-debate-sobre-a-direita-e-a-esquerda-na-politica-nacional
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