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domingo, 22 de maio de 2016

A fé de uma simples mulher




Embora já tenha lido o livro de Rute umas trocentas vezes desde os tempos de minha infância, eis que, durante a reflexão devocional de ontem, houve algo que chamou a minha atenção. Trata-se da espontânea confissão de fé da personagem, conforme consta na resposta dada à sogra Noemi, quando esta insistiu com as noras que retornassem para as casas de suas respectivas mães enquanto voltava de Moabe para Israel, seu país de origem.

"Rute, porém, respondeu: 'Não insistas comigo que te deixe e não mais a acompanhe. Aonde fores irei, onde ficares ficarei! O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus! Onde morreres morrerei, e ali serei sepultada. Que o Senhor me castigue com todo o rigor, se outra coisa que não a morte me separar de ti!" (Rt 1:16-17; NVI)

Recordando-me de outras passagens bíblicas, considerei que a fé dessa humilde mulher estrangeira teria sobrepujado a de muitos notáveis homens quando decidiram seguir o Senhor. Inclusive em relação ao voto do patriarca Jacó, quando fugia ele de seu irmão Esaú e tivera a visão dos anjos passando por uma escada (conf. Gn 28:20-22). Pois, se meditarmos nas condições de pobreza em que Rute e Noemi se encontravam, sendo ambas viúvas e sem terem recebido qualquer promessa diretamente revelada sobre um eventual bem estar futuro em Israel, deve-se observar que se tratou de uma decisão puramente de amor. Um amor pela sogra e também pelo Deus a quem esta servia.

Em outras palavras, Rute não fez exigências condicionais de receber bens materiais na Terra Santa, nem de conseguir um marido que pudesse sustentá-la e torná-la mãe de filhos. Noemi a essa altura já seria idosa, havia se tornado uma mulher pobre e nada teria a oferecer para Rute a não ser a fé no seu Deus. Só que ainda assim ela não se importou com o que pudesse acontecer e, simplesmente, resolveu seguir em frente. Sua decisão foi dividir com a sogra a sepultura já que bênçãos visíveis não haviam.

Quem já leu esse pequeno livro da Bíblia sabe que, no final, Rute arranjou um bom marido dentre os familiares do falecido esposo de Noemi, vindo a se tornar bisavó do rei Davi. Seu nome é depois citado pelo Evangelho de Mateus na genealogia de Jesus, considerando-a umas das ancestrais de honra do Cristo ao lado de Tamar, Raabe, Bate-Seba e, obviamente, de Maria. E aí pouco importa a sua origem estrangeira e moabita (povo inimigo dos israelitas) porque para Deus não há acepção de pessoas.

Assim, aprendo com Rute que não devemos ter uma fé interesseira baseada numa relação de toma-lá-dá-cá com o Criador. Ela, no auge do sofrimento, talvez apenas soubesse que o Senhor "se lembrara do seu povo, dando-lhe pão" (1:6), sendo que a sua pertença à nação de Israel poderia ser recusada devido à inimizade existente com Moabe. Porém, a confiança no Deus de Noemi era tanta que nenhum desses detalhes influenciou na atitude tomada.

Termino esse artigo pedindo, em nome de Jesus, que seja gerada em nós uma fé honesta e desinteressada como a de Rute. Pois, nesse mundo cada vez mais difícil de se viver, fica inviável o homem querer caminhar sem Deus sendo que devemos fazer da Presença do Eterno o verdadeiro alvo a seguir. E que, na semelhança de Cristo, na rude cruz do Mestre, sejamos ali também sepultados para com ele renascermos.

Um ótimo domingo a todos!


OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro do artista inglês William Blale (1757 - 1827) que mostra Noemi tentando convencer suas duas noras, Rute e Orfa, a retornarem para as casas de suas respectivas mães, conforme extraí do acervo virtual da Wikipédia em https://en.wikipedia.org/wiki/Book_of_Ruth#/media/File:1795-William-Blake-Naomi-entreating-Ruth-Orpah.jpg

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