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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Cancelei todos os meus cartões de crédito!


Gente! Hoje fiz algo importantíssimo para a minha liberdade financeira:

Cancelei todos os meus cartões de crédito!

Cheguei à conclusão de que o cartão atrasa nossas vidas. Sempre faço o pagamento total, mas, na prática, acabo gastando mais do que planejo. E isto ocorre não apenas com quem é consumidor compulsivo! Senão vejamos.

Se vou ao mercado com o cartão na carteira e pretendo comprar uma lata de óleo, um desinfetante e um quilo de arroz, acabo levando também danoninho, chocolates, pão doce e outras guloseimas.

Se tô na rua andando com cartão, almoço em restaurante ao invés de vir pra casa, fazendo também um lanchinho aqui e outro ali.

Conclusão. Sendo titular de cartões, minha despesa passa a ter grande potencial de superar a receita e eu fechar em déficit. Isto sem falar que o cartão contribui para a concentração de riquezas nas mãos de poucos (dos banqueiros).

A cada compra que fiz com o cartão, o comerciante pagou uma taxa pra administradora que também é empresa do grupo financeiro. Ao invés do dinheiro circular mais dentro do mercado e entre empresas de menor porte, parte do capital fica nas mãos dos financistas. Assim, enquanto tive cartão, eu estava era promovendo o contrário daquilo que prego que é a distribuição de renda.

De agora em diante, se tenho dinheiro, compro. Se não, fica pra uma outra oportunidade.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Perdido no Parque da Tijuca




Conforme a imprensa andou noticiando e muitos espalharam pelas redes sociais, fiquei perdido três dias e duas noites neste último final de semana (23 a 25 de junho).

Gente! Minha imprudência foi enorme, mas mesmos os erros cometidos são cheios de significado.

Se eu disser que, nas minhas caminhadas anteriores jamais tive alguma dificuldade, estaria mentindo. Pois, desde 99, morando em Nova Friburgo, em que comecei a fazer minhas aventuras, ocorreram situações quando fiquei desorientado. Só que, quando não chegava ao meu destino, conseguia voltar por onde vim ou sair em outro lugar. O pior acontecimento teria sido em junho de 2001, quando eu e Núbia tentamos ir de Castália até Guapiaçu, em Cachoeiras de Macacu em que, tendo percorrido 2/3 da trilha, chegamos a uma antiga fazenda e não acertamos mais o caminho pois tinha várias picadas de caçadores. Aí anoiteceu e foram justamente dois caçadores que nos resgataram e nos trouxeram para a casa da família deles.

A maioria das vezes eu me dava bem! Fazia caminhadas de 6 horas sem problemas, o que me encheu de auto-confiança. Morando aqui no Rio desde meados de dezembro, fiquei ansioso por querer conhecer profundamente o território da cidade e, principalmente, esta área onde estou morando na Zona Norte. Minha compulsão por estar em novos lugares ficou a mil. De lá pra cá, fiz vários passeios e caminhadas.

Como antes eu tinha conhecido a pé uma boa parte do nosso estado e da Serra do Mar, pensei que o Parque da Tijuca fosse só um pequeno jardim. Brincadeira de Mickey Mouse pra quem se achava um grande trilheiro que já tinha andado praticamente Friburgo inteiro mais boa parte dos municípios de Cachoeiras de Macacu, Teresópolis, Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Macaé e Trajano de Morais. Só que passear no meio rural é muito diferente de um parque ecológico! Principalmente porque as vias de acesso são menores e não há moradores.

Bem, mas quando eu olhava os morros da janela de casa, cada dia dava aquela vontade de ir daqui do Grajaú (bairro onde moro) até a sede do Parque da Tijuca, situada no Alto da Boa Vista, bem como descobrir um roteiro até à praia por dentro do mato. Aí soube que pessoas já faziam o roteiro, geralmente vindo do Alto da Boa Vista pra cá e outros até um lugar em Jacarepaguá chamado de Represa do Cigano. Passeios que nem são recomendados pelo parque porque fogem do circuito turístico. Porém, não quis esperar a oportunidade de pintar um passeio. Eu mesmo resolvi arriscar sozinho assim como já fazia lá em Nova Friburgo e nunca tive problemas.

Pois é. Dizer que antes disso Deus não me mandou um aviso, estaria mentindo. Quando foi no dia 3/5, saí à tardinha de casa e tinha chegado até o alto do Morro do Elefante. Não achei a trilha, o sol começou a se por, senti um certo desespero e quase me perdi. Naquele dia, consegui acertar o caminho de volta e cheguei em casa de noite, grato por não ter passado a noite ali e estar vivo.

Mas vocês acham que eu aprendi a lição naquele dia? Coisa nenhuma!

Não demorou muito pra que a minha mente justificasse que o fato de não ter achado a trilha pro outro lado do Morro do Elefante teria sido o fato de escurecer. Na manhã deste último sábado, após ter sido cancelado um evento do qual o pessoal da minha ONG participaria, resolvi então caminhar. Não avisei ninguém pra onde iria, nem levei celular, mochila, alimentos, lanterna, facão ou barra de acampamento. Simplesmente resolvi ir até o alto do Morro do Elefante e, se identificasse o caminho para o outro lado, desceria por ele. Aí, quando cheguei lá em cima, encontrei o Luiz Albuquerque vindo com seu grupo do Alto da Boa Vista pra cá. Perguntei-o se a trilha estava “limpa”, o que, no linguajar do meio rural significa “roçado”. Então, com a presença deles, senti-me super auto-confiante.

Continuei o caminho, descendo embalado e acreditando que, à tardinha, estaria na sede do parque talvez antes das 15 hs. Só que, quando cheguei num bananal é que comecei a me embananar. Fui descendo por uns vales e vi que não chegava a lugar nenhum. Retornei e não achei o caminho de volta, pelo que precisei passar a noite ali, ficando pouco acima do bananal, perto de, salvo engano, uns taquaruçus.

Só aquela noite foi num terrível teste de resistência pra mim. Sem ter me alimentado naquele dia (tomei apenas o café da manhã), dormi com estômago vazio e enfrentando o frio gelado da serra, tendo que deitar ao relento pela primeira vez na vida fora de uma barraca. Sofri uns ataques de mosquito, só que o pior mesmo foi o frio. Sabia que, sem comida, a pessoa sobrevive por dias e água tem bastante por ali. Ainda assim fiquei preocupado em não conseguir sair dali ou não ser achado.

Imaginei que minha morte seria por motivo de hipotermia e que estaria deixando este mundo de uma maneira tão sem razão. Algo bem diferente do que fizeram Jesus, Gandhi, Martin Luther King ou o nosso Chico Mendes. Meu corpo poderia ficar por lá, minha família nunca saber, ser aberto um processo de declaração de ausência até a Justiça permitir a abertura do inventário. O documento de identidade de minha mulher e o cartão da Unimed dela estavam comigo assim como a chave de um cofre onde ficam os remédios controlados dela que eu dou todas as noites pra Núbia tomar. O único conforto que tinha era o fato da ter vindo de Mangaratiba ficar conosco, o que não deixaria minha esposa sozinha dentro de casa.

Passando o aperto da primeira noite, fui procurar o caminho de volta ali pelo bananal e não consegui encontrar. Distanciei-me e fui sair num outro vale onde também fiquei andando desorientado sem encontrar alguma trilha que me levasse pra qualquer saída. As horas passaram e acabei ficando outra noite na mata que pareceu muito mais longa e fria do que a primeira. Principalmente porque ventava e meu corpo estava com menos energia do que no dia anterior. Por ser inverno, não tinha muito alimento disponível na floresta. Cheguei a comer um pouco de cana-do-brejo, folhas de assa-peixe, de bananeira e até larva, sabendo que são coisas comestíveis.

Segunda-feira, tomei a decisão de descer por um caminho a princípio aplainado entre dois morros que descia em direção ao barulho de uma estrada (a Grajaú-Jacarepaguá). Prossegui, atravessei um trecho cheio de plantas espinhosas e depois continuei andando por dentro de um rio que, por um longo percurso, parecia ser tranquilo. Tinha a esperança de que não encontrasse cachoeiras pelo caminho e fosse sair numa ponte da tal estrada onde eu subiria até o asfalto pra tomar o ônibus. Só que, infelizmente, depois de tanto andar, cheguei até o alto de um enorme precipício de onde despenca uma imensa queda d'água. Eu tava exausto para retornar e meus pés já machucados por causa do roçar do tênis no calcanhar. Achei melhor pegar um pouco de sol e descansar.

Meu corpo já doía devido ao ácido láctico. Eu estava profundamente arrependido com o que fiz, tomando providências quanto à minha possível morte de modo que raspei o código de segurança do cartão de crédito, cortei-o em dois e enterrei para o caso de alguém encontrar o corpo, não fazer compras indevidas e provocar danos à herança. Pensei muito no bem estar das pessoas que eu deixaria tipo Núbia e minha mãe.

Orei muito a Deus e pedi pelas pessoas. Achei que aquela seria mesmo a minha hora e que ainda poderia sofrer por dias até, finalmente, morrer com uma parada cardíaca porque tenho boa saúde. Disse a Deus que amo minha esposa e que, mesmo sem ela ouvir fisicamente esta mensagem, Ele a transmitisse. E, certamente, entristeci-me por estar deixando a vida tão prematuramente.

Entretanto, ainda naquela tarde, a alegria voltou ao meu coração. Ouvi uma voz na mata e respondi para ver se não era alguma alucinação (quando estive perdido várias vezes imaginava estar ouvindo alguém mas devia ser som de bicho). Então, quando recebi resposta e a mensagem para permanecer onde estava, percebi que realmente estava sendo resgatado.

Não sabia exatamente como aquilo estava acontecendo, se alguém teria escutado meus gritos de socorro na mata, e considerava bem remota a possibilidade de ter ocorrido o que de fato aconteceu: minha família ter espalhado na internet o meu desaparecimento e o Luiz Albuquerque visto a informação pelo Facebook a ponto de responder que me viu no alto do Morro do Elefante. E foi justamente isto que houve, mas que também poderia não ter acontecido. E, neste caso teria eu permanecido lá até os urubus comerem meu cadáver.

Bem receptiva, a equipe de socorro cumprimentou-me, trouxe alimento, fez curativo nos meus calcanhares e me guiou dali até uma das saídas do parque na represa dos ciganos. Eles tinham começado a busca no começo da tarde, viram os locais onde eu tinha dormido e improvisaram uma trilha para me tirarem daquele buraco. Eu pedi muitas desculpas pelo transtorno causado já que viaturas e agentes públicos foram deslocados para me salvarem, porém ninguém ali ficou me julgando mau pelos erros cometidos.

Cerca de uma hora depois, sendo já noite, cheguei até à ambulância do Corpo de Bombeiros onde, após a médica examinar e ver que nada havia de grave, ainda assim sugeriu que eu fosse ao hospital. Concordei e fui conduzido ao Lourenço Jorge, unidade municipal de saúde. Ali, dormir numa maca e num lotado corredor com luzes acesas e uns pacientes alcoolizados perturbando o tempo todo, acabou se tornando um verdadeiro hotel cinco estrelas para quem tinha passado duas noites frias no mato sobre o chão frio da serra.

Depois desta experiência, estou buscando reavaliar a maneira como tenho conduzido meus caminhos. Pedi a Deus uma nova chance de viver e Ele, na Sua grande misericórdia, me concedeu. Estou me sentindo um pouco como o profeta Jonas quando ficou três dias na boca de um peixe e também me cuido para deixar de ser estúpido como orei Ezequias que, depois de receber o livramento divino, quis orgulhosamente exibir-se diante da embaixada dos babilônicos.


“Andaram errantes pelo deserto,
por ermos caminhos,
sem achar cidade em que habitassem.
Famintos e sedentos,
desfalecia neles a alma.
Então, na sua angústia,
clamaram ao SENHOR,
e ele os livrou das suas tribulações.
Conduziu-os pelo caminho direito,
para que fossem á cidade em que habitassem.
Rendam graças ao SENHOR por sua bondade
e por suas maravilhas para com os filhos dos homens!
Pois dessedentou a alma sequiosa
e fartou de bens a alma faminta.”
(Salmo 107.4-9; ARA)

Aceitem aquilo que sou!

Não sou o melhor e nem o pior homem.
Também não me enquadro nos padrões da sociedade.
Vivo minha vida errante buscando ser feliz.
Gostaria de ser sábio, mas acabo agindo como insensato.
Agradar eu quero, porém não consigo.
Defendo causas que penso serem boas.
Poucos me compreendem.

A moral da sociedade é demasiadamente injusta.
Também tenho meus vícios e egoísmos.
Passo por problemas, tento sair deles e muitas vezes eu me emburaco ainda mais.
Só que a crueldade de algumas pessoas é pesada nessas horas.
Elas me excluem de suas vidas como se eu fosse um monstro nojento!?

Qual monstro não se revela em cada um de nós quando, sem podermos cortar na própria carne, preferimos afastar o outro na vã tentativa de esquecer quem realmente somos?!
Pois somos pedaços de um todo e, juntos, formamos uma coletividade humana complexa com grande diversidade.

Por mais fora dos padrões que esteja, penso ainda haver algo de positivo em mim.
Coisas minhas podem não prestar, mas teria eu me tornado um ramo infrutífero da árvore que precisa ser podado e lançado ao fogo?!
Porém digo que até os galhos infrutíferos têm sua serventia como combustível ou adubo para a terra.
Porque com fertilizante o solo da árvore se fortalece e até com o fogo a floresta é renovada.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A insensibilidade de Evo Morales quanto à economia verde

Em sua fala na manhã de hoje(21/06), o presidente da Bolívia, Evo Morales, condenou a economia verde proposta pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), considerando-a como um "novo colonialismo para submeter os povos e os governos anti-capitalistas". Acrescentou ele que a proposta "coloniza e privatiza a biodiversidade a serviço de poucos. Verticaliza os recursos naturais e transforma a natureza em uma mercadoria".

Segundo o Pnuma, a economia verde (IEV, ou GEI-Green Economy Initiative, em inglês) é aquela que resulta em melhoria do bem-estar humano e da igualdade social ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica. Sua sustentação estaria em três pilares: ser pouco intensiva em emissões de CO², eficiência no uso dos recursos naturais e buscar a inclusão social.

Evidentemente que, por se tratar de um conceito novo, cria-se um amplo debate sobre o que vem a ser esta economia verde. Principalmente porque os países ainda se encontram dependentes de processos ambientalmente degradantes e socialmente injustos para atender às demandas de mercado. E isto envolve todos. Até os Estados que se consideram "socialistas".

Lamentavelmente, o discurso do presidente boliviano, que durou 14 minutos (nove além do permitido), padeceu de inegável demagogia. Disse ele que "os países do norte se enriquecem em meio a uma orgia depredadora e obrigam aos países do sul a ser seus guardas florestais pobres". Como solução apontou a estatização de bens e serviços prestados pelo Estado, assim dizendo:

"Os serviços básicos jamais podem ser privatizados. É obrigação do Estado".

Verdade é que Evo Morales apenas defendeu a irresponsável política de nacionalização praticada pelo seu governo contra companhias estrangeiras que atuam em território boliviano. Neste último 1º de maio, foi a vez da empresa espanhola REE da sua participação no transporte de energia boliviana. E, durante o governo Lula, até a nossa PETROBRÁS sofreu restrições e irresponsáveis expropriações.

Acontece que tais discursos não se sustentam pela lógica. Empresas estatais podem ser tão poluidoras quanto qualquer outra companhia privada, seja de capital nacional ou internacional. A causa do problema estaria na maneira de usar os recursos naturais bem como na falta de participação democrática dos trabalhadores e ambientalistas na gestão da empresa.

Será que num país de regime totalitário, ou que altera significativamente a sua Constituição a ponto de permitirem que seus governantes perpetuem-se indefinidamente no poder, os dirigentes estarão mesmos preocupados em preservar o meio ambiente?

Que garantia tem o cidadão de um país se a estatal acaba se tornando, na prática, mais um cabide de empregos em que os cargos são preenchidos com a livre nomeação do presidente sem atentar para as necessidades sociais?

Ao atacar a economia verde, Evo Morales acabou jogando em favor do esvaziamento do debate ao invés de contribuir positivamente com a sua visão para que o conceito venha a ser interpretado em favor dos países pobres. Sua postura reivindica mais o direito das nações subdesenvolvidas em continuarem poluindo apresentando como justificativa aquele velho papo de que, por longos anos, o terceiro mundo foi explorado por suas antigas metrópoles e massacrado pelos interesses "imperialistas" dos Estados Unidos.

Menos incoerente pareceu-me o presidente equatoriano Rafael Correa. Ele atacou o consumo dos países ricos e a ausência de seus governantes na cimeira, sendo que foi bem feliz quando criticou o documento final da Rio+20 por não contemplar a criação de uma declaração universal do direito da natureza, como defendia o Equador:

"Pela nossa iniciativa, teríamos um tribunal internacional que obrigasse todos a cumprir os direitos da natureza. Seria uma enorme mudança para o bem-estar do planeta".

Com tais palavras, Correa mostrou-se mais aberto que o seu colega esquerdista boliviano, atuando de maneira mais proativa na construção daquilo que chamou de "nova forma de poder", afastando-se um pouco dos vícios do caudilhismo latino-americano.


OBS: A foto ilustrativa deste artigo foi extraída do site da Agência Brasil em http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-06-21/evo-morales-condena-conceito-de-economia-verde-e-aconselha-paises-estatizarem-recursos-naturais

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Rio+20 e a fábula do beija-flor

Estamos aí em uma outra etapa da Rio+20 e que será decisiva para a conferência com a presença dos chefes de Estado.

Meu desejo é que este encontro não termine em "pizza" como têm sido todos os anteriores em que os presidentes e primeiros ministros dos países nada decidem de concreto para salvarem o nosso planeta.

Por isso, nós que somos ambientalistas (ou pessoas que têm consciência ambiental) precisamos reivindicar, protestar e também agir com fé no enfrentamento de um problema que parece tão difícil.

Que sejamos fortes e não desistamos de lutar, lembrando do clássico exemplo do beija-flor que tentou apagar o incêndio, conforme a fábula utilizada na campanha Ação pela Cidadania do saudoso sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho (1935-1997).



Um forte abraço pra todos vocês!


OBS: A ilustração acima foi extraída da página oficial da conferência Rio+20 em http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Precisamos aprender a reciclar vidas!


Esta semana, depois do frustrante passeio de domingo (ver o artigo Prefeitura do Rio dá informações desatualizadas ao turista e fecha a Casa de Banho de D. João aos domingos), passeei em dois outros lugares da cidade. Nenhum deles por motivo de lazer. A caminhada que eu tinha pra manhã de ontem (14/06), acabou sendo cancelada.

Um dos passeios foi na conferência Rio+20, dia 13/06. Por sugestão de um amigo no Facebook, eu me inscrevi numa mesa sobre sustentabilidade e as comunidades pacificadas do Rio de Janeiro que contou com a presença dos secretários estaduais de meio ambiente e de segurança pública, senhores Carlos Minc e José Mariano Beltrame.

Andando pelo Parque dos Atletas, área próxima ao Riocentro, onde também estão ocorrendo os eventos da conferência, notei a presença de uma exposição bem interessante por ali. Trata-se de uma usina de reciclagem montada pela indústria petroquímica produtora de resinas termoplásticas, Braskem, a qual se aliou à Centrel, marca especializada em engenharia ambiental, para transformar resíduos plásticos em peças de mobília feitas a partir de "madeira plástica". Lá os resíduos plásticos são transformados em bancos, lixeiras e floreiras, permitindo que o público presente possa acompanhar de perto o processo de confecção das peças.

Entretanto, não estive apenas transitando pela Rio+20. Houve um dia em que precisei prestar assistência a uma pessoa que foi encaminhada ao Instituto Municipal Phillippe Pinel.

Considerado como um dos maiores hospitais de referência na área de saúde mental, o Pinel atende grande parte da cidade do Rio de Janeiro, desde a Tijuca, na Zona Norte, até o Vidigal, na Zona Sul. Suas atividades incluem tanto as internações psiquiátricas como também o atendimento a alcoólatras e pessoas que fazem o seu tratamento morando em sua casa, além de dispor de uma emergência funcionando 24 horas.

Pode-se dizer que as pessoas internadas num hospital desses ainda são consideradas como sendo o lixo da sociedade. Muitos estão ali esquecidos pela família e sem receber o apoio de pelo menos um parente próximo, apesar do longo período de visitas. Porém, observei gente que não é do mesmo sangue que os internos fazendo um trabalho voluntário ali. Vi também um local de terapia ocupacional onde é possível produzir trabalhos artísticos com papel e tinta.

Atualmente, no Rio de Janeiro, qualquer internação nos hospitais públicos e conveniados da região entre a Tijuca e o Vidigal é decidida no Pinel. E, em conformidade com o contexto da reforma psiquiátrica, ali a abordagem é bem interessante dispondo de formas alternativas de atendimento substitutivas ao manicômio.

"A proposta traz uma significativa mudança de abordagem. No lugar de um só médico, equipes. Em vez de atendimento exclusivamente individual, grupos. Ao invés de hierarquia de posições, horizontalização (...) A RIPP é formada por vários profissionais, como psicólogos, psiquiátricas e assistentes sociais, que recebem os pacientes para encontros terapêuticos em grupo. A filosofia do trabalho é a de que cada paciente tem sua história e os sintomas que o levaram ao hospital psiquiátrico precisam ser analisados sob um amplo ponto de vista antes de serem caracterizados como sintomas de doença mental."
(extraído de http://www.sms.rio.rj.gov.br/pinel/media/pinel_ripp.htm)

Confesso que estou de acordo com esta visão de trabalho. Sei o quanto é difícil para uma família lidar com alguém com problemas psiquiátricos, mas não vejo outro jeito. A meu ver, a internação só deve ocorrer em casos bem extremos quando a vida e a integridade física estão mesmo em rico. Tanto da sociedade quanto do paciente. Assim como o lixo que a sociedade sempre descartou na natureza é trabalhado para tornar-se uma interessante mobília de nossas casas, acredito que as pessoas com transtornos psíquicos também podem fazer parte do nosso meio ambiente através de um processo de convivência verdadeiramente inclusivo.


OBS: As imagens desse artigo foram extraídas respectivamente de http://www.ecycle.com.br/component/content/article/37-tecnologia-a-favor/894-usina-de-reciclagem-sera-instalada-durante-a-rio20.html e http://www.insight.psicologia.ufrj.br/visualizarPortifolio.asp?idPortifolio=9  .

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Como fazer de sua esposa a mulher virtuosa de Provérbios 31?

Nesta última sexta-feira (08/06), quando eu estava na feira do bairro comprando legumes, um vendedor de bananas comentou algo até preconceituoso. Disse ele mais ou menos assim:


"Fruta quanto mais preta, mais gostosa fica. Eu estava casado com uma mulher branca que só me 'roubava' (talvez o fizesse gastar). Separei-me dela, casei-me com uma 'preta' trabalhadeira e agora estou só progredindo financeiramente"


Tirando de lado o aspecto étnico-racial e o excesso de machismo, será que existiria pelo menos um pingo de razão em suas palavras?

Penso que, se levarmos em conta o poema alfabético que consta entre os versos 10 a 31 do último capítulo do livro bíblico de Provérbios, o qual fala da mulher de valor (eficiente e virtuosa), talvez seja importante a escolha de uma boa esposa para que o casamento dê certo.

A mulher virtuosa da época da Bíblia, no sentido literal, seria a perfeita dona-de-casa. Porém, se fizermos uma interpretação mais profunda do texto, veremos que a mensagem aplica-se a todos os cônjuges responsáveis que cooperam diligentemente na administração do lar. E isto sem dúvida que inclui tanto as esposas que trabalham fora de casa como os maridos também.

De acordo com Provérbios, podemos afirmar que estas seriam algumas das características da “mulher virtuosa”: torna-se digna de confiança do cônjuge; é trabalhadeira; otimiza o tempo; não age de maneira perdulária com os recursos; pratica a caridade com os pobres; previne-se quanto às dificuldades; consegue desfrutar das melhores coisas pelo seu talento em utilizar os bens; não envergonha o cônjuge pela sua conduta; enfrenta a vida com fé; cultiva sabedoria e bondade; e cria relacionamentos amáveis com a família.

Certamente que o autor estabeleceu um padrão a ser seguido ou alcançado pelas esposas porque não existe mulheres (e nem homens) perfeitas. Todos somos pessoas com falhas e cometemos os mais reincidentes erros, assim como ninguém é totalmente reprovável em sua conduta e possui qualidades a serem reconhecidas. Só que o fato de sermos todos gente fora de um padrão ideal jamais pode servir como desculpa para acomodações.

Por outro lado, o texto de Provérbios serve como um alerta para os homens ainda solteiros que ainda estão em busca de um relacionamento afetivo (a beleza não é tudo), mas que muitas das vezes desconhecem o cotidiano da vida de casado. Pois quando termina a lua de mel e marido e esposa vão travar juntos a batalha da vida, inúmeros são os desentendimentos que surgem por causa da gestão de uma coisa chamada dinheiro. E aí penso que todas as colocações feitas pelo escritor bíblico precisam também ser observadas pelo marido quanto à sua conduta já que a esposa não tem como suportar sozinha todas as dificuldades e encargos da família.

Verdade seja dita que muitos homens deixam de assumir os próprios erros e preferem colocar toda a culpa na esposa pelo seu insucesso. Assim fez o nosso ancestral mítico Adão, desde que o mundo é mundo, quando resolveu atribuir a Eva a responsabilidade por suas escolhas quando confrontado por Deus estando ainda no jardim. Entretanto, o Criador da mulher não aceitou aquela resposta como válida e deixou bem claro que as consequências negativas a serem enfrentadas daí por diante seriam por causa da decisão tomada pelo varão (Gn 3.17a):

"E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa"

Creio que o homem pode habilidosamente atuar para que a sua mulher desenvolva-se eticamente tornando-se mais próxima do ideal bíblico descrito em Provérbios. Porém a resposta seria que ele deve antes mudar a si mesmo e reconsiderar o seu comportamento. Pois cada um deve buscar a própria transformação de caráter e o divórcio não pode se tornar algo tão banalizado a ponto de qualquer dificuldade tornar-se motivo para duas pessoas se separarem. Antes é preciso ter persistência e refletir o tempo inteiro, praticando o amor.

Neste sentido, vale a pena citar um importante trecho da carta do apóstolo Paulo à igreja em Éfeso:

“Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, sem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.” (Efésios 5.25-27; ARA)

Ao invés do marido só exigir que sua esposa seja uma mulher perfeita, deve ele se tornar um doador assim como faz Cristo dentro da teologia do cristianismo. Nós homens precisamos deixar de ser meros receptores, sairmos da acomodação cotidiana e nos tornarmos pessoas amorosas para com a esposa e toda a família. Pois só com uma atitude proativa que eficientemente contribuiremos para melhorar os relacionamentos com os quais nos achamos envolvidos.

Que Deus nos dê força e luz!


OBS: A primeira imagem acima, Good Housekeeping refere-se á capa de um dos vários periódicos que circularam nos Estados Unidos do início do século XX exaltando a economia doméstica. Tal periódico seria da edição de agosto de 1908. A revista foi fundada em maio de 1885 por Clark W. Bryan. Quanto à segunda ilustração, trata-se de uma retratação encontrada no mural de uma igreja na Etiópia de autor desconhecido.

domingo, 10 de junho de 2012

Prefeitura do Rio dá informações desatualizadas ao turista e fecha a Casa de Banho de D. João aos domingos



Como muitos dos meus leitores podem acompanhar pelas anteriores postagens deste ano, tenho investido boa parte do meu tempo para conhecer com profundidade o Rio de Janeiro, cidade onde estou morando desde meados de dezembro. Inegavelmente tenho aproveitado intensamente meu tempo, visitando lugares históricos fantásticos, passeando em museus museus, parques ecológicos e colorindo os meus dias com novidades. Só que nem sempre as coisas correm da maneira esperada.

Neste domingo (10/06), tive uma frustrante experiência quando resolvi conhecer a antiga Casa de Banhos de D. João VI (hoje Museu da Limpeza Urbana), situada na Praia do Caju, n.º 385, num bairro histórico da região central da Cidade Maravilhosa. Fui à estação de metrô de São Cristóvão e de lá tomei um táxi em frente à Quinta da Boa Vista, estando acompanhado por minha esposa Núbia e pela minha tia Giselle, ambas na expectativa de conhecerem o lugar. Também marquei uma encontro pela internet com outras pessoas. Porém, ao chegar no ponto de destino, as portas do velho casarão estavam fechadas!

Antes disso, confesso que acessei o site da Prefeitura/Comlurb para obter informações acerca dos dias e horários de funcionamento e vejam quais foram as informações encontradas:

Visite o museu e conheça a história da limpeza

Vamos resgatar a memória do Caju e conhecer a história da Limpeza Urbana na Cidade do Rio de Janeiro. O Museu mantém as portas para o público, de terça a sexta-feira, das 10:00 às 17:00 horas. E nos sábados e domingos, o funcionamento é das 13:00 às 17:00 horas. Entrada franca.

Trata-se de um local ideal para o lazer de toda família, pois dispõe de uma área verde, play-ground, tanque de areia, teatro ao ar livre, fraldário, bebedouro e sanitários.


(acesso à página http://comlurb.rio.rj.gov.br/emp_museu.htm feito dia 10/06/2012)

Quanta irresponsabilidade, senhor prefeito!

Mas foi devido a este episódio decepcionante que pude verificar o relaxamento da atual gestão da Prefeitura quanto às informações sobre os turísticos. Tendo ido hoje lá por volta das 15 horas e encontrado o espaço fechado ao público, pude constatar uma situação que servirá de alerta para o turista e também para fins de reivindicação para a comunidade local.

Pois bem. Se o museu está sendo fechado aos domingos e a Prefeitura nem ao menos teve o trabalho de atualizar o seu site na internet, um visitante pode até correr o risco de ser assaltado num lugar que, infelizmente, tem ficado quase deserto nos finais de semana. E, por sua vez, o morador local que muitas vezes só tem o sábado ou o domingo para aproveitar o seu lazer na comunidade, também não pode curtir as atrações na velha Casa de Banhos de D. João VI. Aliás, até o carioca fica sem poder conhecer o patrimônio histórico de sua cidade nos dias em que as pessoas têm mais disponibilidade de sair de casa a passeio.

Vale ressaltar que a Casa de Banhos de Dom João VI foi um dos primeiros monumentos tombados no Brasil (em 1938) e se trata de um dos locais frequentados pelo monarca por motivo de indicação médica, por volta de 1817. Veio a ser restaurada pela Prefeitura em governos anteriores e, conforme diz o site,

"foi projetada como ponto de apoio para ações de pesquisa, preservação e comunicação; como espaço para ações educativas, culturais e de lazer, tais como: exposições, seminários, encontros, espetáculos musicais, teatrais e de dança, filmes, vídeos e audiovisuais, fóruns de debates, interações escolares e comunitárias".

Chega de maquiagens urbanas, prefeito!

Será que a cidade do Rio de Janeiro apenas se restringe à Zona Sul?!

Ainda que esta denúncia não chegue ao gabinete do senhor Eduardo Paes, espero que outros cariocas tomem conhecimento e lutem para que tanto a Casa de Banho de D. João VI como o Caju voltem a ser contemplados com um trabalho turístico de qualidade. Afinal, o Rio merece uma atenção melhor por parte das nossas autoridades.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O que esperar da Rio+20?

Em seu brilhante artigo A ausência de uma nova narrativa na Rio+20, publicado em alguns jornais, o pensador Leonardo Boff expôs a sua falta de expectativas quanto à cimeira que ocorre em junho deste ano na cidade do Rio de Janeiro. Para ele, haveria um "vazio", pois faltaria uma "nova narrativa" ou "nova cosmologia" para que possamos alcançar aquilo que propõe o lema do evento - o "futuro que queremos":

"(...) Tal vazio se deriva da velha narrativa ou cosmologia. Por narrativa ou cosmologia entendemos a visão do mundo que subjaz às idéias, às práticas, aos hábitos e aos sonhos de uma sociedade. Por ela se procura explicar a origem, a evolução e o propósito do universo, da história e o lugar do ser humano. A nossa atual é a narrativa ou a cosmologia da conquista do mundo em vista do progresso e do crescimento ilimitado. Caracteriza-se por ser mecanicista, determinística, atomística e reducionista (...) Em contraposição, surge a narrativa ou a cosmologia do cuidado e da responsabilidade universal, potencialmente salvadora. Ela ganhou sua melhor expressão na Carta da Terra. Situa nossa realidade dentro da cosmogênese, aquele imenso processo de evolução que se iniciou há 13,7 bilhões de anos. O universo está continuamente se expandindo, se auto-organizando e se autocriando. Nele tudo é relação em redes e nada existe fora desta relação. Por isso todos os seres são interdependentes e colaboram entre si para garantirem o equilíbrio de todos os fatores. Missão humana reside em cuidar e manter essa harmonia sinfônica. Precisamos produzir, não para a acumulação e enriquecimento privado mas para o suficiente e decente para todos, respeitando os limites e ciclos da natureza (...)"

Não tenho como discordar do Boff pois o nosso conflito ambiental é antes de mais nada um problema de origem ética. Os governantes dos países, banqueiros e grandes investidores encontram-se insensíveis quanto à realidade planetária pensando primeiramente em solucionar o atual momento de crise econômica como se a vida se resolvesse em etapas. Lamentavelmente não estão dispostos a mudar e ainda há quem diga que os impactos decorrentes de uma redução na produção industrial seriam maiores do que os cataclismos relacionados ao aquecimento global.

Confesso que vejo a natureza cada vez mais enfurecida. Com maior frequência e consequências muito mais danosas, o Brasil tem sofrido enchentes, secas e terríveis tragédias que já matam centenas de pessoas. Ano passado, eu mesmo fui testemunha de uma catástrofe na Região Serrana fluminense, quando então residia na cidade de Nova Friburgo e vi muitos daqueles morros desabarem numa só madrugada. Foi caótico! Num abrir e piscar de olhos, bairros acabaram-se e a paisagem em volta de minha casa se modificou.

Mas será que os governantes estão mesmo preocupados em resolver a situação do planeta?

Estados Unidos, China, Europa, Índia e o nosso Brasil estão dispostos a reduzir as suas emissões de CO² e usarem menos combustíveis fósseis?

Lembro que, logo após as fortes chuvas que ocorreram em janeiro do ano passado na Região Serrana, Dilma veio até Nova Friburgo e prometeu ajudar as vítimas. Nossa presidenta em momento algum resolveu combater as causas do problema e demagogicamente ofereceu os recursos do programa Minha casa, minha vida que pouco depois foram reduzidos à metade em todo o país, fato que apenas contribui para as pessoas pobres continuar vivendo nas áreas de risco.

E o que será considerado área de risco daqui por diante?!

Ao que parece, os governos preferem investir mais na prevenção e no monitoramento do que focarem na causa do conflito. Querem que nos adaptemos às novas condições de vida e ainda transformam a tragédia numa nova indústria. Tanto pra votos quanto para licitações. Cegos pela compulsão de desviar dinheiro público, talvez muitos políticos corruptos até sonhem em lucrar com o caos preferindo que passem a existir novas necessidades para eles gastarem com obras de contenção de encostas, represamento de águas, abrigos contra furacões, etc.

Do jeito que as coisas estão, acho que existe mais clima para protestos do que para fazer qualquer outra coisa. Mesmo assim, como também não deixo de atuar propositivamente, inscrevi-me para participar do debate sobre Sustentabilidade e as Comunidades Pacificadas do Rio de Janeiro, a qual acontecerá na abertura da Rio+20, dia 13/06/2012, às 17 horas, no Parque dos Atletas, em Jacarepaguá. Os integrantes dessa mesa serão o secretário estadual do Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, o secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, o especialista em Desenvolvimento Urbano Sustentável (Banco Mundial), Sameh Wahba, o presidente do Instituto Pereira Passos e coordenador do Programa UPP Social, Ricardo Henriques e a presidente do CEBDS – Comitê Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, Marina Grossi. O objetivo da reunião será dar foco ao processo de pacificação das diversas comunidades do Estado do Rio com a implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e dialogar sobre novas perspectivas de aplicação de políticas públicas que promovam o desenvolvimento sustentável nestes locais.

Aceitei participar da Rio+20, mesmo criticando-a, porque considero importante estar presente em todas as frentes. Tão logo voltei a morar na cidade, comecei a me envolver com trabalhos eco-sociais, com ênfase nas comunidades carentes mais próximas. Junto com alguns moradores do Complexo do Andaraí, passei a compor o movimento Amigos do Rio Joana, o que tem se tornado um grande desafio já que uma parte do problema não é causada apenas pelos políticos ou pelos grandes poluidores do planeta, mas sim pelas próprias pessoas que vivem na localidade sendo que muitas delas ainda jogam lixo no rio.

Ora, será que as tão esperadas mudanças não podem começar também pela sociedade civil?!

Enfim, percebo que há muitas oportunidades de avanço nesta conferência e acho que devemos deixar os momentos de protesto quanto à "cosmologia" da humanidade para quando os chefes de Estado chegarem e estiverem reunidos entre si tratando dos destinos do planeta como se fossem deuses. Aí sinto que também precisaremos colocar nossos joelhos no chão e orarmos fervorosamente pelo destino do planeta para não enfrentarmos este problema apenas como ingênuos manifestantes de rua que somente sabem malhar os seus governantes. E aproveitando as palavras de Leonardo Boff em seu artigo, eu diria que o papel das pessoas espiritualmente conscientes inclui também buscar aquela "Energia de fundo que deu origem e sustenta o universo permitindo emergências novas". Ou seja, devemos exercer a cidadania com espiritualidade.

Que Deus tenha misericórdia de nós e ajude a humanidade a superar este momento global tão difícil!


OBS: A primeira imagem acima trata-se do logotipo da conferência Rio+20 e se encotnra num site do governo federal em http://www.rio20.gov.br/ enquanto que a segunda ilustração do texto refere-se à foto de um mutirão de limpeza ocorrido numa das comunidades do Complexo do Andaraí, Zona Norte do Rio de Janeiro. A imagem foi feita pela integrante do movimento Amigos do Rio Joana, Rosangela Tertuliano.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Finalmente escalei o Pão de Açúcar!


Quem acompanha o meu blogue possivelmente deve ter visto o relato sobre a frustrada tentativa de alcançar a pé o Pão de Açúcar em abril deste ano, quando pude apenas me contentar com um bonito passeio no Morro da Urca que corresponde ao nível intermediário do bondinho (teleférico). Naquela ocasião, fui parar na Praia do Forte por equívoco, entrando sem permissão numa área militar. Leiam depois o artigo Um passeio ecológico e cultural pelo Morro da Urca:

Desta última vez, porém, tomei a atitude certa. Fui fazer um passeio que exige um certo grau de dificuldade com gente que conhece a área e trabalha com profissionalismo. Afinal, pra quem não quer ir lá em cima no bondinho, é preciso escalar para chegar até o alto do Pão de Açúcar. Nem que sejam só dez metros de pedra por uma das vias mais fáceis dali.

Admito que nunca tinha escalado na minha vida. O máximo que eu havia feito antes foram umas “escalaminhadas” para alcançar o topo de alguns picos. Então, mesmo tendo já realizado várias travessias longas, posso dizer que o montanhismo está sendo para mim uma experiência completamente nova.

Após informar-me acerca do passeio, através do Facebook, encontrei-me com o grupo da Kmon Adventure na praça da Praia Vermelha às 13 horas. Núbia Mara, minha esposa, desta vez foi comigo mas não pôde aventurar-se por causa do seu problema nos dois joelhos. Então combinamos de nos encontrar lá no Pão de Açúcar. Ela iria de bondinho pegando um dos últimos dias da promoçao Carioquinha, onde os moradores do Rio pagam metade do preço, enquanto eu subiria o morro andando.


A galera que foi comigo no passeio é super gente boa e transmitiu um ótimo astral. Tinha tanto rapazes como moças. Todos neófitos em alpinismo, exceto uma menina que havia escalado antes um trecho do Morro da Babilônia instruída pelo nosso guia Fábio Magrão. Este já conhecia a trilha do Pão de Açúcar com a palma da mão, além de outros lugares do Rio e fora da cidade, sendo que sua especialidade é justamente o montanhismo.

Despedi-me de Núbia e deixamos a Praia Vermelha pra trás, inciando o passeio pelo agradável bosque da Pista Cláudio Coutinho que também é chamada de Caminho do Bem-te-vi. E seguimos por ali até o final. Sua extensão totaliza pouco mais de um quilômetro e duzentos metros.

Só a caminhada leve pelo Caminho do Bem-te-vi já é sensacional! Trata-se de um mergulho no verde tendo o azul intenso do mar ao seu lado. Não chega a ser uma trilha pois, como disse, é uma pista e bem espaçosa por sinal. O ar puro e o visual fascinante com a encantadora Ilha de Cotunduba já são suficientes para fazer o excursionista delirar. E vi muitas pessoas pescando ali naquela tarde maravilhosa de sábado.


Antes de pegarmos a trilha, uma placa bem no comecinho já adverte o turista sobre o risco de se aventurar imprudentemente. Ali fizemos um breve alongamento orientado pelo guia, o que proporciona um grande bem para a saúde e ajuda a prevenir algum mal jeito no corpo que possa tornar o passeio desagradável, coisa que jamais observei nas minhas caminhadas amadoras. Depois, com o corpo já preparado, prosseguimos costeando o Pão de Açúcar até começarmos a subir.

O pedaço inicial da trilha é totalmente virado para o mar aberto, situado entre a Praia Vermelha e a saída da Baía da Guanabara, Em alguns trechos, já dá para se ver Niterói com a imponente Fortaleza de Santa Cruz e várias praias do referido município. Observei muitos barquinhos a vela bailando pelo oceano como se estivessem fazendo um treinamento e vi também uns navios cargueiros transportando mercadoria. No céu, aviões partindo do aeroporto Santos Dumont buscavam ganhar altitude em seus voos. E para a perplexidade de todos encontramos ainda um homem vestido de terno, o qual passou por nós para gravar uma mensagem no meio do mato.


Mais lá pra cima tivemos outra surpresa que foi bem mais agradável. Uma família de miquinhos surgiu das árvores vindo em nossa direção (provavelmente em busca de comida que os turistas costumam dar). Uma das pessoas do grupo teve vontade de alimentar os primatas com um gominho de mixirica mas o guia advertiu para que não fizéssemos aquilo e o pessoal respeitou.

Daquele ponto até o início da escalada, os micos nos acompanharam. Tínhamos chegado a um belo mirante natural com uma considerável altura. O guia então abriu a mochila que carregara com os equipamentos de proteção (cintos especiais, sapatilhas e capacetes) e subiu primeiro para prender a corda bem como sinalizar os pontos de apoio. Na nossa frente, tinham uns homens arriscando a vida bobamente por estarem escalando a rocha sem nada.

É de grande importância seguirmos corretamente as regras de um esporte radical. A vida é um presente precioso e que deve ser aproveitada com gratidão e respeito. Pois do que adianta alguém morrer tragicamente em seus momentos de lazer por falta de cuidados deixando os seus familiares todos tristes e cheios de traumas psicológicos? E se o excursionista imprudente sofre um terrível dano físico a ponto de ficar tetraplégico e depois ter que depender dos outros para o resto da vida? Ora, será que as pessoas que se arriscam sem motivo não têm a consciência de que a existência atuante delas na sociedade pode ainda proporcionar muito bem ao seu próximo?

Na escalada tivemos que subir um por um. O último foi o rapaz da equipe da Kmon Adventure (o Tiago) que esteve sempre presente conosco para qualquer eventualidade. Eu acabei sendo o penúltimo e as sapatilhas não couberam no meu pé de número 45. Precisei escalar de tênis, fato que tornou a minha vida um pouco mais difícil.


E se vocês acham que subi tranquilo até o final, estão completamente enganados. No início bem que eu fui direitinho até encarar um pedaço mais complicado. Sentindo uma sensação psicológica de cansaço, resolvi dar uma paradinha e fui contemplar o lindo cenário natural estando ainda agarrado na pedra.

Que loucura eu cometi em olhar para baixo justamente naquele momento! Mesmo amarrado com uma corda, tive medo. Meu calçado às vezes deslizava na pedra e deu vontade de desistir. Precisei ser forte, respirar fundo e ouvir as orientações pacientes do guia para não me bloquear. Num certo momento, acabei pedindo que me dessem uma segunda corda para me facilitar a escalada e, persistindo, consegui concluir aquele desafio.

O sol se pôs e não cheguei a me despedir do dia. O grupo gastou mais de uma hora para escalar e o céu já começava a escurecer quando voltamos a caminhar. Felizmente tinha lua e ela estava linda na imensidão celeste, bem cheia clareando os nossos passos. E quanto mais agente subia, mais bonito ficava aquela parte da saída da Guanabara que era vista dali com a cidade de Niterói toda iluminada do outro lado. Prosseguimos com cuidado até que, num mirante, salvo engano chamado de Pedra Filosofal, já conseguíamos identificar a charmosa Praia de Copacabana olhando em outra direção oposta à baía do Rio de Janeiro.

Pegamos um trechinho de mata no final. Quase exausto, conquistei o Pão de Açúcar doido para estar com Núbia. Fui o primeiro a sair da trilha. Passei pelos degraus de uma escadinha, entrei no banheiro e lavei as mãos sujas de terra. Dirigi-me para a lanchonete que tem logo após a estação do bondinho e, como não consegui achá-la, o guia ofereceu-me o seu celular para que eu telefonasse.


Lamentavelmente o sinal da Tim não pegou justamente num dos pontos turísticos mais importantes do Brasil. Uma vergonha! E eu só morri de preocupação porque fui justamente Núbia quem acabou me encontrando ao ouvir a minha voz. Ela tinha ficado horas lá em cima esperando-me enquanto eu caminhava e matou o tempo conversando com uns turistas estrangeiros. Divertiu-se comunicando-se com uns chineses que não entendiam nada do nosso idioma.

O grupo mais Núbia reuniu-se antes de descer no bondinho (para quem veio a pé a descida sai de graça). Tiramos algumas fotos juntos e dali voltamos para a Praia Vermelha onde resolvemos dividir uma pizza (uma metade de marguerita e a outra de quatro queijos). Tava uma delícia!

Enfim, retornei satisfeito para a casa e feliz com a mais nova conquista. Pois, além de ter finalmente subido a pé o Pão de Açúcar, realizei a minha primeira escalada com segurança e bem orientado. Mesmo com o vexame que dei no finalzinho, quando pedi para segurar numa segunda corda, a aventura valeu a pena pelo sabor da superação, tornando-se mais uma experiência que entrou para o rol.



OBS: A Kmon Adventure realizou este passeio pelo acessível preço de R$ 50,00 (cinquenta reais) por pessoa. Maiores informações podem ser obtidas com o guia Fábio Magrão, telefones daqui do Rio (21) 3593-6481 / 7960-3299 (Tim) e 8544-6481(Oi), ou pelo site http://magr37.wix.com/kmonadventure#!INÍCIO/mainPage. As fotos acima foram tiradas pelos participantes do grupo, os quais compartilharam as imagens no Facebook, nos seus respectivos álbuns, em especial dos amigos ‎Sonia Barreto Gertner, Michael Petine e Juliana Dias.

domingo, 3 de junho de 2012

Uma lição bíblica para o povo brasileiro

A Bíblia é, sem dúvida, um livro fantástico! Um presente escrito pelos judeus para a humanidade! Com ela, aprendemos preciosos princípios que servem tanto para a vivência pessoal como em grupo. Extraímos de suas páginas ensinamentos até mesmo através da leitura de textos como a listagem de genealogias que para muitos parece ser algo cansativo ou inútil.

Na semana passada, terminei de ler o Livro de Esdras e, na sequência, iniciei o de Neemias. Ambas as obras relatam as experiências do povo judeu após o regresso do exílio de 70 anos em Babilônia. Ao voltarem para a terra de Israel, a partir das quatro últimas décadas do século VI a.C., os heroicos sionistas encontraram a capital do país totalmente em ruínas. Nada tinha restado daquela Jerusalém que outrora fora gloriosa nos dias do rei Salomão quando o mais poderoso monarca da dinastia davídica construiu o magnífico Templo, além de belos palácios.

Neste contexto da reconstrução, surgiram líderes e profetas que focaram na elevação da autoestima do povo. Sem desfrutarem mais de independência política, os judeus precisavam contar com o consentimento e com o apoio dos reis da Pérsia. Primeiramente o Templo foi refeito nos tempos do governador Zorobabel e do sumo sacerdote Josué (não confundir com o outro personagem com mesmo nome que liderou a conquista de Canaã após a morte de Moisés), mas só chegou a ser concluído com a vinda de Esdras, o escriba, sacerdote que alcançou o favor do imperador. E, tempos depois, no século V a.C., começou a missão do copeiro real Neemias, o qual afastou-se por livre iniciativa de suas funções na coorte para re-edificar as muralhas de Jerusalém (Ne 1).

Lendo o capítulo 3 do Livro de Neemias, deparei-me com o quase monótono relato sobre os voluntário quanto à reconstrução das muralhas. Admito que para a minha mente não se dispersar, tive que ler o texto quase que em voz alta e, forçando a atenção, consegui extrair uns detalhes importantíssimos dali. Ou seja, princípios que podem ser aplicados em nossos trabalhos sociais no Brasil envolvendo a força do voluntariado.

Muito interessante ver que a re-edificação dos muros da Cidade Santa começou justamente pela família de Eliasibe, o sumo sacerdote da época e que era neto de Josué. Ou seja, foi justamente aquele que era o principal líder da nação judaica quem se dispôs a iniciar a execução dos trabalhos. Diferente dos políticos brasileiros de hoje (e daqui do Rio de Janeiro), os quais preferem ficar sentadinhos em seus gabinetes mandando o povo trabalhar (isso quando eles não estão gastando o nosso dinheiro em suas caras viagens a Paris), eis que, com os judeus de 400 anos antes de Jesus as coisas aconteceram de outra maneira. Eliasibe mostrou que não ocupava o cargo só para engordar com os dízimos e ofertas do Templo e pôs as mãos na massa.

A partir do envolvimento do sumo sacerdote, outros homens seguiram o seu exemplo tomando parte na obra. O capítulo 3 de Neemias trás-nos um rol imenso de nomes e vai informando o leitor acerca da topografia montanhosa de Jerusalém e sobre a geografia política da província da Judeia. Fala sobre as denominações de portas da cidade, das torres, da parte antiga (a Cidadela de Davi) e do velho reservatório de captação da fonte de Giom que o rei Ezequias havia antes mandado aterrar quando tinha construído um canal subterrâneo até o tanque de Siloé.

Todavia, não é com a História que a Bíblia se preocupa. Sendo uma mensagem viva e que busca a elevação ética dos homens, o objetivo maior dos autores das Escrituras parece ter sido mais a transmissão de valiosos ensinamentos do que simplesmente narrar fatos, ainda que muitos relatos sejam de grande relevância para o estudo dos pesquisadores em Antiguidade. Assim, um outro detalhe que me interessou foi o fato de que alguns homens tornaram-se responsáveis pela reconstrução do muro em frente às suas casas:

“(...) Ao seu lado, reparou Jedaías, filho de Harumate, defronte da sua casa; e ao seu lado, reparou Hatus, filho de Hasabnéias (…) Depois, repararam Benjamim e Hassube, defronte da sua casa; depois deles, reparou Azarias, filho de Maaséias, filho de Ananias, junto à sua casa. Depois dele, reparou Binui, filho de Henadade, outra porção, desde a casa de Azarias até o ângulo e até à esquina (…) Para cima da Porta dos Cavalos, repararam os sacerdotes, cada um defronte da sua casa. Depois deles, reparou Zadoque, filho de Imer, defronte de sua casa; e, depois dee, Semaías, filho de Secanias, guarda da Porta Oriental. Depois dele, reparou Hananias, filho de Selemias, e Hanum, o sexto filho de Zalafe, outra porção; depois deles, reparou Mesulão, filho de Berequias, defronte da sua morada (...)” - Ne 3.10,23-24,28-30; tradução de Almeira Revista e Atualizada

Extraímos daí o princípio de que, se todo mundo trabalhasse na sua porção, tudo se tornaria mais suave e menor seria a nossa dependência do Estado ou da assistência social porque cada um saberia tomar conta das suas próprias coisas. Porém, na realidade, os acontecimentos não ocorreram tão perfeitamente assim como idealizamos. Uns operaram apenas onde seus braços alcançaram, cuidando do próprio terreno. Outros parecem ter ajudado seus vizinhos nas tarefas ou cuidaram de proteger determinadas estruturas da cidade de interesse não individual e, logicamente, teve gente omissa. E aí o texto bíblico foi tão realista que o autor mencionou no verso 5 o fato de que nem todos foram unânimes:

“Ao lado destes, repararam os tecoítas; os seus nobres, porém, não se sujeitaram ao serviço de seu senhor.” (ARA)

Ora, é interessante constatar que, ao mesmo tempo quando alguns negligenciam no tocante às suas responsabilidades, pessoas vindas de outros lugares resolvem contribuir dando apoio. Com isto, o versículo acima fala que o povo da cidade de Tecoa (os tecoítas) ajudaram a obra, com exceção dos nobres que, provavelmente, consideravam-se importantes demais para um serviço pesado ou não tiveram comprometimento com o projeto proposto por Neemias.

É certo que se tratavam das muralhas da capital da província persa de Judá e que, até o século VII a.C, fora também o centro religioso e administrativo dos reis descendentes de Davi e dos sacerdotes da linhagem de Zadoque. Entretanto, se pensarmos bem, como na época do domínio estrangeiro não havia mais a soberania de Israel, por que os demais judeus habitantes de outras cidades deveriam importar-se com aquela obra se o palácio do imperador ficava na fortaleza de Susã (atual Irã)?! Afinal, eles constituíam uma nação dentro de um Estado que não lhes pertencia, mas demonstraram muita solidariedade naquelas horas difíceis e angustiosas.

Curioso que o cantor e compositor Renato Russo (1960-1996) bem disse numa de suas músicas chamada de Perfeição que o Brasil seria um “Estado que não é nação”. E, se refletirmos um pouco, veremos que somos o oposto do que foram os judeus quando estes perderam a soberania. Assim como seus primos semitas iraquianos também conseguiram resistir à ocupação militar dos norte-americanos na Segunda Guerra do Golfo e suportaram a colonização britânica em épocas passadas, eis que, por dois milênios e meio, a nação judaica resistiu graças aos ensinos sábios da Torá. E pode-se dizer que o Corão também serve de igual proteção cultural para os povos árabes. Por mais que lutem entre si, são todos uma gente muito unida em meio à aridez desértica.

Penso que nós brasileiros, povo de terras férteis, precisamos criar pontos de identificação entre pessoas e com o ambiente onde vivemos. Nos tempos de hoje, as cidades não precisam mais de muralhas como era no antigo Oriente Próximo. Contudo, necessitamos de serviços educacionais, moradias dignas para o trabalhador, unidades de saúde que realmente funcionem, saneamento básico para todos, transportes públicos de qualidade, proteção das florestas, etc. Nem sempre poderemos ficar contando com os governos, os quais ainda tratam o país como sendo uma neo-colônia à venda para a gringolândia. Por isso, mais do que nunca precisamos de união e de um envolvimento maior com as causas coletivas, cultivando um sentimento de unidade com base no fator humano e da vida, o que considero indispensável para a realização de projetos eficazes.


OBS: A ilustração antiga trata-se de uma obra retratando Neemias montado num cavalo vistoriando secretamente os muros de Jerusalém ainda em ruínas antes do começo das obras de restauração, conforme descrito nos versos 11 a 16 do capítulo 2. É de autoria do pintor e desenhista francês Paul Gustave Doré (1832-1883).