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quarta-feira, 28 de abril de 2010

A nudez de Noé


Umas das mais intrigantes passagens da Bíblia diz respeito a um episódio ocorrido na vida de Noé em que ele amaldiçoou um de seus descendentes por ter sido flagrado nu.

Segundo o texto de Gênesis 9.20-27, após o Dilúvio, Noé plantou uma vinha e, ao beber do vinho, embriagou-se a ponto de ficar nu dentro de sua tenda. Cam, um de seus filhos, ao saber da nudez de Noé, divulgou a notícia perante os seus dois irmãos, Sem e Jafé, os quais, cobrindo seus rostos com uma capa, vestiram o pai andando de costas. Então, quando despertou-se do estado de embriaguez, Noé amaldiçoou a Canaã, filho de Cam, abençoando a Sem e a Jafé.

Tal passagem quando interpretada ao pé da letra torna-se assustadora, pois a leitura da tradução em português, sem atentar para os significados das palavras e principalmente para o contexto em que se passaram os fatos, induz a uma equivocada ideia a respeito de Noé, como se ele tivesse sido um homem injusto e de uma incoerente severidade.

Há quem se utilize dessa passagem de Gênesis, junto com o texto do capítulo 3 de Gênesis em que Deus havia feito vestimentas para Adão e Eva depois que estes desobedeceram suas ordens, bem como com o capítulo 18 de Levítico, para tentar justificar que ver a nudez de alguém seja pecado. Porém, na Bíblia, inexiste qualquer mandamento a respeito da nudez, sendo que as normas de Levítico 18, quando falam de “descobrir a nudez” de alguém, referem-se às relações sexuais de incesto.

Até a queda, o homem e a mulher não sabiam que estavam nus. Porém, após Adão e Eva terem quebrado a única regra existente (uma desobediência que nada teve a ver com o sexo), passaram a sentir vergonha de seus corpos de modo que tentaram se cobrir confeccionando cintas de folhas de figueira para si. Deus, então, sentindo misericórdia de sua criação decaída, decidiu fazer vestimentas para Adão e sua esposa, vestindo-os afim de que não mais se envergonhassem.

É certo que, com a queda, o homem passou a sentir não só a vergonha do próprio corpo como também o medo a ponto de se esconder de Deus apenas por ouvir a sua voz no Éden, embora, nesta ocasião, já estivesse usando as cintas de folhas de figueira. E, mesmo depois de ter sido expulso do jardim, percebe-se que o relacionamento da humanidade com Deus foi profundamente afetado. Não por causa da nudez em si, mas sim pelo pecado.

Pode-se dizer que, devido ao medo de sua malícia ser descoberta, o homem já não ousava mais aproximar-se de Deus, de modo que as roupas e os sacrifícios de animais traziam um certo conforto quanto à relação com o Criador. E poucos alcançaram a graça divina a ponto de se sentirem a vontade na presença de Deus, como foi nos casos de Moisés, Abraão, Isaque, Jacó e do próprio Noé, homens que conseguiam expressar seus sentimentos e desejos diante do SENHOR.

Contudo, após o salvamento milagroso das águas do Dilúvio, Noé embriagou-se bebendo vinho, sem que o texto nos informe por qual motivo o patriarca de todas as nações teria ficado naquele estado. Será que fora por tristeza em razão do comportamento de seus descendentes? Ou teria sido um mero acidente pela descoberta das propriedades do vinho? Foram saudades de algum parente ou amigo morto pelas águas do Dilúvio? Desejava ele aliviar algum sentimento de culpa? Simplesmente não sabemos!

De qualquer modo, o texto nos dá pistas sobre o porquê da maldição proferida por Noé contra Canaã, filho de Cam, num contexto em que a lei mosaica fala sobre as consequências da iniquidade dos pais até à terceira e quarta geração.

Como já disse antes, o homem passou a ter vergonha da nudez de seu corpo por causa do pecado, adotando o costume de se cobrir. E, desta maneira, flagrar intencionalmente a nudez de uma pessoa havia se tornado uma atitude de grande desrespeito, algo que jamais poderia ser praticado contra um ascendente.

Analisando o texto bíblico novamente, podemos perceber que Cam parece ter flagrado a nudez do pai por acaso O verso 22 diz que ele viu seu pai nu e sua próxima atitude foi ter noticiado o fato aos seus irmãos.

Ora, cabe aqui as seguintes indagações: por que Cam, ao invés de cobrir a nudez de seu pai, resolveu propagar a notícia perante os seus irmãos? E por que apenas Sem e Jafé tomaram a iniciativa de vestir Noé?

Tenho pra mim que o pecado de Cam residia justamente na atitude de aproveitar-se da situação miserável em que o seu pai se encontrava ao invés de solucioná-la. Pois, ao divulgar a notícia da nudez de Noé para os seus irmãos, Cam estava atentando contra a honra de seu genitor.

Baseando-me nesta passagem bíblica, consigo extrair um importante ensinamento que vai além das questões relativas à nudez física. Compreendo que se trata de uma atitude condenável expor as misérias pessoais de alguém, aproveitando-se de qualquer situação capaz de causar vergonha.

Todas as vezes em que encontramos o nosso semelhante praticando algo vergonhoso, devemos mirar nos exemplos deixados por Sem e Jafé, abstendo-nos de fazer qualquer exposição do próximo. Jamais podemos tentar tirar proveito do tropeço de algum parente, colega de trabalho, pastor ou membro de igreja, pois é fundamental preservar a honra de nosso irmão, ajudando-o a se levantar.

Por muito tempo, ao invés de meditar nos ensinamentos implícitos na passagem bíblica em questão, a Igreja deturpou o seu sentido, incutindo um falso moralismo na sociedade cristã, enquanto condutas semelhantes a Cam continuavam sendo praticadas no meio eclesiástico. Durante séculos de ascetismo religioso, reprimiu-se rigorosamente a nudez e se tolerou atitudes de hipocrisia. Mas hoje, felizmente, a mentalidade no meio evangélico parece que está mudando, pois cada vez mais os teólogos e pastores estão buscando compreender a mensagem bíblica dentro do contexto, o que é fundamental para entendermos o sentido da instrução de Deus.


OBS: A ilustração acima refere-se à gravura do pintor e desenhista francês Paul Gustave Doré, retratando Noé quando proferiu sua maldição contra o neto Canaã.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Olhando para os lírios do campo


Uma das frases que muito me chama a atenção no Sermão da Montanha está no verso 28 do capítulo 6 do Evangelho segundo Mateus. Ali, ao discursar sobre a ansiosa solicitude pela vida, Jesus mandou aos seus ouvintes que observassem como crescem os lírios do campo, afirmando, em seguida, que nem o rei Salomão chegou a se vestir como essas plantas que “hoje existe e amanhã é lançada ao fogo” (versículo 30).

No contexto da sua pregação, Jesus estava ensinando aos seus ouvintes que não vivessem debaixo das vãs preocupações sofrendo antecipadamente, demostrando que tudo aquilo que eles precisavam para alimento e vestuário são conflitos íntimos que, certamente, tentam roubar a adoração a Deus e o prazer de viver o presente.

Posso dizer que ainda sou um cara profundamente preocupado, mas tenho buscado várias vezes entregar a Deus a minha ansiedade, prosseguindo pela fé em minha caminhada com Cristo. E, sinceramente, não acho fácil a libertação da ansiedade porque o pensamento é algo que a princípio não podemos controlar, cabendo a cada um de nós não alimentarmos as ideias negativas que atacam a mente.

Todavia, tenho aprendido a prestar mais atenção nos “lírios do campo”, sendo que a minha ligação com o verde e com a natureza há muito tempo começou a fazer parte de minha vida.

Durante a infância na cidade do Rio de Janeiro, fui criado perto de uma reserva florestal situada na Zona Norte carioca, conhecida atualmente como o Parque Estadual do Grajaú. Desde aquela época, eu já sentia o desejo de alcançar uma elevação ali existente de seus 400 metros que pode ser considerado o ponto mais alto do bairro Grajaú – o Bico do Papagaio.


Também na infância, eu gostava muito de tomar banho de mar, principalmente furar ondas, sendo que desde criança meus pais me levavam às tradicionais praias do Rio: Copacabana, Ipanema e Leblon. E, eventualmente, íamos ao Pão de Açúcar e ao Corcovado.

Com sete para oito anos, mudei-me para Petrópolis, onde cheguei a morar por um ano antes de ir para Juiz de Fora com meu avô paterno. E, como já tinha uma certa identidade com o verde da Reserva do Grajaú, fiquei maravilhado com aquela belíssima floresta que cobre a vertente oceânica da Serra do Mar, separando a cidade imperial dos municípios de Duque de Caxias e de Magé. Olhando da janela do ônibus, eu desejava penetrar naquelas matas e descobrir os mistérios da natureza, imaginando o mundo mágico dos desenhos animados.

Assim, cresci contemplando de longe a natureza selvagem e, eventualmente, curtindo com mais proximidade a natureza domesticada, isto é, uma praia do litoral fluminense, o sítio de algum conhecido do meu avô que vez ou outra visitávamos, o quintal de minha avó na sua casa de Muriqui, um passeio a cavalo quando passava dias de férias no Sul de Minas Gerais e, com um certo receito de levar uma mordida, conseguia passar a mão num cachorro.

Com 13 anos de idade, finalmente, subi até o topo do Bico do Papagaio, realizando sozinho aquele meu desejo desde a época da infância. De lá, tive uma maravilhosa vista parcial da cidade do Rio de Janeiro, conseguindo avistar alguns prédios importantes da cidade, o mar da Baía da Guanabara que me parecia tão distante e a ponte que liga o Rio a Niterói.

Mais tarde, consegui, finalmente, aproximar-me da natureza selvagem, isto é, dos ecossistemas nativos. E posso dizer que tudo começou quando resolvi conhecer Ibitipoca, interior de Minas Gerais.

Desde a segunda metade da década de 90, ei tinha começado a viajar sozinho para novos lugares. Porém, os meus roteiros geralmente eram cidades, lugares bem badalados que a mídia e as agências de turismo costumam divulgar. Excursionando sozinho, fui a Florianópolis, Cabo Frio, Porto Alegre, Buenos Aires, Colônia (Uruguai), Guarapari, Lisboa, La Coruña (Espanha), Paris, Foz do Iguaçu e Porto Seguro. Porém, muita gente lá em Juiz de Fora falava sobre Ibitipoca e eu nem sabia onde ficava este lugar que era elogiado por uns e malfalado por outros.

A princípio, movido pela compulsão de conhecer mais um ponto turístico, planejei passar um final de semana em Conceição do Ibitipoca, sede de um dos distritos do município mineiro de Lima Duarte, vizinho a Juiz de Fora. Fui de ônibus pela BR-267 até à cidade que, coincidentemente, leva o mesmo nome de um conhecido ator brasileiro de telenovelas, a qual eu já conhecia desde a época em que viajava com minha família para o Sul de Minas. Porém, jamais tinha me aventurado numa poeirenta estrada de terra de uns 27 quilômetros que vai de Lima Duarte até Conceição do Ibitipoca, cortando uma serra íngreme. E, na aventureira viagem de Lima Duarte para Ibitipoca, o velho ônibus subia transportando não só passageiros, mas também mercadorias dentre as quais se incluem os terríveis cigarros paraguaios.

Na minha primeira ida a Ibitipoca, pouco aproveitei. Subir a pé os 3,6 km de estrada até o Parque Estadual foi bastante cansativo e acabei ficando boa parte do tempo me embriagando (na época eu estava “desviado” dos caminhos do Senhor). E, talvez por excesso de álcool etílico no sangue, caí na asneira de comprar um bar naquele local.

Em razão de um dos piores negócios da minha vida, acabei indo várias vezes de Juiz de Fora para Ibitipoca durante alguns meses de 1998, restringindo-me quase sempre ao ambiente do arraial, isto é, à vila de Conceição do Ibitipoca, onde eu trabalhava bastante sem ter um retorno que compensasse o esforço. Porém, uma vez ou outra, eu me aventurava fazendo caminhadas ali por perto e cheguei a fazer amizade com uma cadela de rua, a Cristal, que me seguia para onde quer que eu fosse. Um dia, andei mais de 20 quilômetros até à cidade vizinha de Santa Rita do Ibitipoca, situada no outro lado do parque, de onde retornei para Juiz de Fora passando antes por Barbacena.

Contudo, foi nos meus últimos dias daquela aventura louca em Ibitipoca que conheci melhor o Parque. Em certa ocasião, cheguei a dormir uma noite numa barraca tendo feito contatos com o lobo-guará, um cão de selvagem de perna fina que costumava rondar o acampamento à noite procurando comida. E se, por acaso, algum visitante desavisado deixasse a barraca aberta com comida dentro o cachorro certamente “furtaria”.

Após passar o bar para outra pessoa e decidido dar continuidade aos meus estudos universitários na cidade de Nova Friburgo, resolvi tirar férias de verdade. Utilizei-me do que havia me restado na conta bancária e da venda do estabelecimento, de modo que saí passeando por vários lugarejos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. No mês de janeiro de 1999, aproveitei cada oportunidade para visitar novos pontos turísticos convencionais e também alternativos. Desta maneira, viajando sozinho, conheci Visconde de Mauá, Ilha Grande, São Tomé das Letras, Aiuruoca, Poços de Caldas, Mariana, Ouro Preto, Miguel Pereira e Paty do Alferes. Em muitos desses passeios, eu enchia a cara de cerveja, bebia vinho, uísque e até a pinga.

Tendo fixado minha residência em Nova Friburgo, no mês de fevereiro de 1999, também me propus a conhecer novos lugares pela região, tendo adquirido um mapa do município no posto de turismo da Prefeitura. Decidi que não iria parar de fazer turismo, mesmo que fosse para os locais mais próximos, sendo que o meu primeiro passeio foi para a região de Lumiar, São Pedro da Serra e Boa Esperança, de onde retornei embriagado, conforme costumava ficar em Ibitipoca e nas noitadas de Juiz de Fora.

Desta vez, contudo, tive a sorte de conhecer um vizinho frequentador do AA que me encorajou a deixar o vício da embriaguez de uma vez por todas (hoje consigo beber socialmente). E, radicalmente, parei com o consumo de bebida alcoólica por uns 5 anos, o que foi suficiente para desintoxicar o meu organismo, sendo que nunca mais tornei a me embriagar como antes. E, além dos incentivos de meu vizinho, também tive a felicidade de conhecer minha esposa Núbia em alguns dias depois de ter conhecido Lumiar.

A ocasião em que conheci Núbia foi também num desses locais alternativos que eu costumava visitar. Já havia ouvido falar de um lugar chamado Sana que fica nas serras macaenses, não muito distante de Casimiro de Abreu e de Lumiar. Então, após ter me informado sobre como chegar lá, resolvi sair caminhando pela RJ-142 a partir de Lumiar, andando e pegando carona. Na época, a rodovia Serramar ainda não era pavimentada e tinha fascinantes pontes de madeira, de modo que transitar por lá ainda era uma verdadeira aventura e muito mais seguro depois do asfaltamento feito no governo da Rosinha.

Ao chegar no Sana, fui conhecer o Bar do Jamaica, um dos locais mais exóticos do arraial. Porém, nenhuma cerveja ou taça de vinho tomei, tendo me limitado a um copo de mate. Lá eu conheci Núbia com quem novamente me encontrei na noitada daquele mesmo dia. E, a partir então, o nosso relacionamento começou.


Sana é um lugar fantástico, cheio de cachoeiras e de fragmentos preservados de Mata Atlântica secundária. Foi desmatado na época do ciclo do café, produziu bastante banana na década de 70 e, finalmente, foi descoberto por hippies e pessoas alternativas. Quando fui lá pela primeira vez, no Carnaval de 99, o local estava lotado de turistas, sendo a maioria pessoas do Rio de Janeiro e de Niterói. Núbia era mais uma visitante que veio de Niterói.

Posso dizer que Núbia fez uma enorme diferença na maneira como eu observava os “lírios do campo”. Com ela eu tive que frear a minha compulsão por apenas querer conhecer lugares novos e então comecei a prestar mais atenção nos detalhes. Meus olhos, que até então fixavam-se nas grandes paisagens, passaram a identificar a beleza dos ambientes menores e nos seus elementos. Núbia me ensinou a observar com mais carinho as plantas menores, os animais da floresta, as borboletas e também as pessoas.

De volta a Nova Friburgo e precisando recuperar-me da gastança de janeiro, tive que me contentar com o turismo interno. Com o mapa turístico da Prefeitura, percorri não somente os pontos turísticos principais, mas também os locais não divulgados. Além de Lumiar e de São Pedro da Serra, pesquisei passeios pelas regiões de Três Picos de Salinas, Cascatinha, Amparo, Riograndina, Macaé de Cima, Rio Bonito de Lumiar e Toca da Onça. Descobri acidentalmente a prática do trakking, fazendo travessias de uma localidade a outra em que, muitas das vezes, precisava percorrer uma trilha no meio da floresta. Em maio de 99, subi pela primeira vez o Pico da Caledônia com seus 2.218 metros de altitude.

Tendo visitado vários lugares de Nova Friburgo, meus novos roteiros passaram a ser Cachoeiras de Macacu. Por acaso, descobri na internet que o município vizinho, onde os ônibus da 1001 faziam breves paradas na viagens para o Rio de Janeiro, esconde incríveis belezas naturais nas suas serras, além de um passado histórico bastante curioso. No site que eu pesquisei havia inúmeros roteiros sobre cachoeiras, informações sobre um jequitibá centenário perdido nas matas, picos elevados para serem conquistados, ruínas históricas da gloriosa época do café, o caminho desativado uma ferrovia construída no século XIX atualmente sem os trilhos e o nome de um guia amador conhecido popularmente como Jorge “Passarinho”, o homem que explorou muitos desses locais.

Um dia, após ter tentado chegar a uma distante cachoeira de 40 metros de queda escondida nas florestas de Guapiaçu, procurei pelo Passarinho quando retornei a Cachoeiras de Macacu sem nunca tê-lo conhecido antes pessoalmente e daí começamos nossa amizade.

Junto com Passarinho, desbravei uma trilha que vai da localidade de Castalha até à região de Guapiaçu. Foi umas das mais belas travessias que fiz até hoje aqui pelas serras fluminenses, o que posso considerar como um verdadeiro mergulho no verde. Ali, fazendo passeios deste tipo, finalmente eu estava realizando um antigo desejo de infância quando viajava de ônibus pela BR-040 do Rio para Petrópolis.


Passarinho é uma cara fenomenal! Ele não só conhece as matas de Cachoeiras de Macacu como também defende causas ambientais. Quando eu ainda era uma criança, ele já promovia concursos de voo livre e de asa delta na Pedra do Colégio. Também sempre foi atuante na área cultural pelo que fundou a popular festa do Rock Noel no começo dos anos 80. E, além disso, procurou resgatar a história e as lendas de seu município.

Todas essas experiências despertaram em mim uma forte paixão pela natureza. Comecei a descobrir um novo mundo que sempre estava ao meu lado, mas que passava desapercebido pelos meus olhos. O próprio ambiente urbano que até então eu percebia como algo desconectado da natureza, passei a compreender como uma edificação dentro de um ambiente natural.

Não demorou muito para que eu me tornasse um “ambientalista” (foi um professor de Direito Constitucional da faculdade que pela primeira vez me identificou com este termo). Como as caminhadas se tornaram o meu esporte favorito e o contato da natureza passou a fazer parte da minha vida, agonizei junto com as árvores quando começaram as terríveis queimadas nos meses de agosto e setembro de 99. Indignado, eu não me conformava em ver os morros de Nova Friburgo pegando fogo e daí comecei a defender a criação de um corredor de biodiversidade na região, o que ainda era um conceito muito pouco conhecido. Então, resolvi elaborar um site e hospedá-lo num provedor local afim de divulgar as minhas primeiras ideias.

Como consequência de meu novo envolvimento, acabei fazendo da ecologia uma espécie de "religião". Não que eu saísse por aí adorando cristais ou abraçando árvores. Nada disso! Mas a minha vida espiritual, pouco ativa nesta época quanto à frequência da igreja, extraiu da observação da natureza importantes ensinamentos que me levaram a um conhecimento de mim mesmo e do outro. Reconheci o quanto havia magoado as pessoas da família nos meus tempos de rebeldia, quando tratava mal o meu avô e cheguei a praticar um delito quando ainda estudava Administração na Universidade Federal de Juiz de Fora tornando amargos os dias de sua velhice aos 80 anos.

Por outro lado, meus novos interesses pela defesa da natureza reaproximaram-me da política. Em 1993, cursando o 2º grau em Juiz de Fora, cheguei a militar por uns tempos na política estudantil secundarista. Em 2001, participei de um movimento contra a instalação de uma pequena central hidrelétrica no rio Macaé pretendida pelo Grupo Monteiro Aranha. Depois, acompanhei até 2003 o processo de criação de dois comitês de bacia hidrográfica na região, passando a representar uma ONG – o Instituto Planeta Vivo – junto ao Consórcio Intermunicipal MRA5.

Não fui eu quem criei o Planeta Vivo, pois a ONG já existia desde a época em que havia chegado a Nova Friburgo. E foi numas das reuniões sobre comitês de bacia que fui estabelecendo contatos com Juão Tavares. Formado nas áreas de ciências econômicas e de psicologia, Juão tornou-se um dos proprietários do Gaia, um sítio na localidade de Boa Esperança adquirido por ele e seus sócios no início dos anos 90. E, com persistência, ele fundou a ONG e lutou por vários anos defendendo o meio ambiente até que, em 2003, cansou-se da causa.

No entanto, apesar de tanto envolvimento com a política ambiental, eu já estava deixando de olhar para os lírios do campo. Viajava para participar de reuniões em que políticos e representantes de ONGs muitas vezes estavam defendendo seus próprios interesses ou discutindo o sexo dos anjos, sendo que eu também, num determinado momento, estava mais interessado em captar recursos para projetos ambientais do que para pensar em assuntos ecológicos. Para satisfazer as vaidades dos prefeitos, os locais das reuniões eram definidos aqui ou ali, sendo que a Prefeitura de Macaé esbanjava recursos públicos promovendo eventos de aparência e procurando influenciar a seu modo nas posições do grupo de trabalho.

Num certo momento, assim como Juão, também me cansei da politicagem ambiental, muito embora reconhecesse a importância dos comitês de bacia hidrográfica como um organismo capaz de incentivar o debate com as comunidades. Então, enquanto ia perdendo o interesse pela coisa, fui retornando às caminhadas junto à natureza, tendo, desta vez, explorado lugares nas serras de Macaé e de Trajano de Moraes. Caminhando quase sempre sozinho, fui até a represa de Tapera, às cabeceiras do rio Sana, à região de Bicuda (visitei lá um pequeno assentamento de sem terras), além de conhecer Frade, Glicério e Sodrelândia. Ficava às vezes vários dias fora de casa viajando por lugares ainda pouco divulgados no meio turístico em que eu dependia apenas dos meus dois pés para locomover-me.

Familiarizado com os hábitos do homem do campo, eis que, nesta época, eu já me encontrava acostumado a cumprimentar quem encontrasse a pé pelas estradas. E, sem nenhum medo, atravessava propriedades rurais sabendo que nessas regiões é a coisa mais normal do mundo obter passagem por dentro de uma fazenda em razão do uso de servidões sendo que, não raras vezes, era convidado por algum morador da roça para tomar um café em sua casinha humilde.

Em algumas caminhadas Núbia chegou a me acompanhar, o que ocorria com mais frequência entre os anos de 1999 a 2001. Juntos, nós tivemos aventuras incríveis, mas também passamos por enormes apertos. Certa vez, ficamos perdidos nas florestas de Cachoeiras de Macacu numa fria noite de outono até sermos encontrados por dois caçadores. E, no caminho de Cascatinha para São Lourenço, que uns chamam de “Trilha do Barão”, quase fomos mordidos por um fila. No Pará, enfrentamos mais de 500 quilômetros na Transamazônica de Marabá até Altamira e, partindo de Gurupá, no rio Amazonas, o barco em que estávamos quase que colidiu com outra embarcação durante uma sofrida tempestade na Baía de Belém.

Em nenhum desses passeios preocupei-me em levar máquina fotográfica. Núbia sempre se interessou por fotos, mas, quando eu estava caminhando sozinho, considerava que era um peso a mais carregar a máquina, pois a busca desenfreada por querer registrar o momento pode prejudicar o aproveitamento do presente, sendo que esta posição até hoje eu mantenho.

Contudo, os meus esforços finais para sair da faculdade, o começo do trabalho com a advocacia e, mais tarde, o casamento, o encarecimento das coisas e os problemas de saúde de Núbia puseram obstáculos aos frequentes passeios que antes fazia junto à natureza. Daí em diante, foram poucas as andanças e quase sempre caminho por lugares já conhecidos, situados bem próximos de casa.

Atualmente, poucas horas passo fora de casa e, quando resolvo programar uma caminhada tornou-se algo raro. Porém, não posso reclamar da minha vida, a qual é muito boa quando vejo por aí o que de fato é o sofrimento humano. E, afinal, tudo posso Naquele que me fortalece.

Além disso, onde estaria a minha contemplação acerca dos “lírios do campo”? Será que precisarei escalar o Aconcágua, mergulhar nas águas do Mar Vermelho ou visitar as savanas africanas com seus elefantes, girafas, zebras, crocodilos, hipopótamos e guepardos para conseguir ouvir a voz de Deus falando através da natureza? E será que os viajantes de lugares exóticos conseguem sempre perceber a beleza que há na simplicidade das coisas?

Aqui no meu apartamento, situado no centro da cidade de Nova Friburgo, inúmeras vezes a natureza me convida para um bate-papo. Pode ser através de um banho de sol no terraço do condomínio que fica ao lado de minha varanda. Ou quando alguns pássaros vêm alegrar meu ambiente com seus cantos, mesmo em meio à poluição da urbes. Ou ainda através de minha gata que, em meus momentos mais estressantes, resolve pedir a minha atenção roçando pelas minhas pernas enquanto tento apressadamente terminar determinadas atividades.

Acredito que todos nós podemos contemplar as coisas mais simples que Deus nos deu, o que independe dos problemas que enfrentamos, da carga de trabalho, da falta de recursos financeiros ou das limitações físicas. Contudo, o que realmente nos impede de prestar a atenção nas “aves do céu” ou nos “lírios do campo” são as preocupações cotidianas que nós mesmos cultivamos lá no íntimo pela nossa falta de confiança no Deus que nos ama e tudo pode.

Jesus, quando proferiu tais palavras no Sermão do Monte, certamente, não estava apenas demonstrando os cuidados de Deus com os homens, numa restrita comparação com os pássaros ou com os lírios. Ele também mandou que seus ouvintes prestassem atenção na natureza.

Se buscarmos contextualizar como era a vida nos tempos de Jesus, os seus ouvintes na Galileia, mais do que nós, teriam todos os motivos do mundo para viverem preocupados, ansiosos, frustrados e desgostosos com relação à vida. E, pensando assim, podemos imaginar o quanto aquelas palavras são transcendentes.


Como se sabe, a Palestina havia sido incorporada pelo Império Romano, o qual impunha pesados tributos à população dominada. Naqueles tempos, não se respeitava a capacidade econômica do contribuinte e, mesmo se a colheita não fosse tão generosa, ou se o Mar da Galileia não produzisse tantos peixes, os impostos deveriam ser pagos a César de qualquer jeito. A corrupção dos soldados, dos governantes e dos publicanos era tanta que muitas das vezes cobrava-se mais do que Roma realmente exigia. Praticava-se também o castigo físico através da pena de açoites. Revoltas dos zelotes aconteciam com frequência e muita gente inocente sofria as piores injustiças. Se alguém contraísse a doença da lepra era logo tido por imundo e banido do convívio social.

Vivendo nesse ambiente hostil de miséria, opressões, torturas e enfermidades, Jesus teria motivos de sobra para ter se tornado mais um homem angustiado, frustrado e triste, conforme nos ensina Augusto Cury em seu best-seller “Análise da inteligência de Cristo”. Porém, não é uma mensagem derrotista que encontramos nas quatro “biografias” de Jesus - os Evangelhos. Apesar de todos os graves problemas que o Senhor testemunhava cotidianamente, ele expressava amabilidade, ternura, compreensão, tolerância com as crianças e ainda procurava ocasiões para observar as aves do céu e os lírios do campo.

Pode-se dizer que a vida de Jesus é o maior exemplo do que é praticar o Evangelho, mostrando que nós também podemos seguir seus passos. Pois, embora Ele seja Deus, visitou o nosso planeta na condição de homem, ficando vulnerável aos mesmos sentimentos de tristeza e de dor aos quais também estamos sujeitos. Porém, o Senhor não foi refém dos acontecimentos ruins que experimentou, pois sabia muito bem como proteger e trabalhar as suas emoções.

Embora ainda tenha muito para tratar a respeito do tema (os lírios do campo), prefiro encerrar meu texto por aqui e compartilhar estas reflexões: será que, mesmo nos momentos mais difíceis, não podemos ser capazes de por de lado os problemas por um instante e prestarmos mais a atenção no que Deus está dizendo através da natureza? Mesmo diante de uma perda, a beleza de uma flor não permanece digna de ser contemplada? O que pode nos acrescentar as preocupações e o cultivo da angústia?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Deus e os preconceitos culturais religiosos

Sem dúvida, Deus sempre nos leva mais além do nosso cotidiano comum para que possamos romper com as nossas limitações pessoais e avançarmos na direção que Ele propõe.

Durante os primeiros anos da Igreja primitiva, a perseguição empreendida por Saulo de Tarso, após a morte de Estevão, serviu para impulsionar a pregação do Evangelho para outros lugares fora de Jerusalém, resultando num maior crescimento da obra de Deus, sendo que, a partir daí, coisas mais incríveis ainda aconteceram nos dias seguintes.

E, se antes a Igreja precisava superar o medo das perseguições das autoridades religiosas judaicas, em uma nova fase tornou-se necessário aos nossos irmãos do passado vencer alguns preconceitos culturais e entender qual a dimensão daquela obra que fora profetizada há muitos séculos pelos profetas (Isaías 56.1-7).

Primeiramente os nossos irmãos do passado foram surpreendidos com a inesperada conversão do jovem Saulo, sendo que muitos demoraram a acreditar neste fato (At 9.26). E suponho que as próprias autoridades religiosas do judaísmo devem ter se sentido frustradas com a conversão de Saulo e, por isso, podem ter recuado provisoriamente as perseguições contra a Igreja de Deus. O autor de Atos dos Apóstolos conta que, naqueles dias, a Igreja alcançou um momento de paz nas regiões da Judeia, Galileia e Samaria, crescendo cada vez mais, e já não se encontrava estabelecida somente em Jerusalém como fora no início.

Pois bem. Nesta época, Pedro permaneceu firme no contexto do seu dia a dia, visitando as comunidades dos irmãos, liberando sobre muitos a unção de cura e de ressurreição que estava sobre ele. E, deste modo, ia consolidando a obra iniciada pelos discípulos, atraindo mais pessoas para se entregarem a Cristo.

Contudo, Pedro necessitava de uma outra experiência para ir mais além das próprias limitações e, deste modo, poder cumprir o glorioso chamado de Deus em sua vida.

Atos diz que, enquanto Pedro estava na cidade portuária de Jope, eis que em Cesareia (uma outra cidade da região da Palestina também marítima), morava um alto oficial do Império Romano chamado Cornélio.

Embora fosse estrangeiro, Cornélio residia entre os judeus e tinha um comportamento íntegro diante de Deus juntamente com toda a sua família. Pois, ao invés de oprimir o povo em nome do dominador romano, ele preferia praticar a caridade e, frequentemente, orava ao Senhor. Porém, apesar de ser estrangeiro, Cornélio deveria ser respeitado pelos judeus em razão de sua alta posição como autoridade e das boas ações que praticava, sendo certo que, naquela época, os estrangeiros eram discriminados pela religião judaica, considerados como pessoas impuras, com os quais não poderiam fazer suas refeições. E a própria lei mosaica impunha distinções alimentares aos judeus com a finalidade de afastar os riscos de assimilação por outra cultura, o que, contextualmente explicava-se porque se tratava da formação de uma nação separada das demais.

Apesar de sofrer todo este preconceito naquela complicada província romana, Cornélio teve uma experiência sobrenatural numa certa tarde quando viu um anjo. Este, ao manifestar-se, mandou que Cornélio enviasse mensageiros até Jope onde estava Pedro e o conduzisse para Cesareia. Temente a Deus, Cornélio obedeceu prontamente a ordem transmitida pelo anjo.

Ocorreu que, no dia seguinte, por volta do meio dia, quando os homens enviados por Cornélio estavam a caminho de Jope, Deus fala com Pedro através de uma visão. O apóstolo viu descer do céu vários animais considerados pela Lei de Moisés como impuros para a alimentação e para o sacrifício. Então, Pedro ouviu uma voz com uma ordem expressa para que ele comesse a carne daqueles bichos. Porém, por três vezes, o ele se recusou a obedecer o que lhe estava sendo falado na visão, mesmo sendo advertido para que não considerasse como coisa comum aquilo que Deus purificou.

Sem ainda entender o significado daquela experiência, chegaram os homens enviados por Cornélio à casa onde Pedro estava hospedado, quando então o apóstolo recebeu uma direção do Espírito Santo para acompanhá-los. Pedro, desta vez, obedeceu à ordem de Deus e, no dia seguinte, partiu com aqueles homens para Cesareia.

Ora, Cornélio estava com o coração totalmente aberto para receber a Palavra de Deus e, espontaneamente, convidou seus parentes e amigos para ouvirem o que Pedro teria para lhes anunciar. E, embora fosse ele um homem piedoso que, continuamente, orava a Deus, não sabemos se de fato Cornélio tinha a concepção sobre a existência de uma única divindade ou se deveria adorar somente a Deus. Por ignorância, ele chegou a se prostrar diante de Pedro a fim de adorá-lo, tão logo o apóstolo chegou em sua casa (At 10:25).

Entretanto, erros ingênuos como esses jamais seriam imputados por Deus, visto que Cornélio estava com o seu coração completamente aberto e preparado para ouvir a mensagem do Evangelho, aguardando apenas que alguém viesse lhe anunciar as Boas Novas.

Quebrando um forte preconceito existentes entre os judeus daquela época, Pedro entrou na casa de um estrangeiro incircunciso e fez ali um breve discurso anunciando Jesus, mas que foi suficiente para salvar a vida daquelas pessoas que estavam presentes e com os seus ouvidos atentos, a ponto de todas elas receberem instantaneamente o dom do Espírito Santo como acontecera anteriormente no dia de Pentecostes (At 10:44-46).

Lendo os versos 36 a 43 do capítulo 10 de Atos, percebe-se que Pedro fez menção do ministério de Jesus ocorrido entre os judeus alguns anos antes, pois se tratava ainda de um fato ainda recente na memória do povo e, na certa, conhecido por Cornélio bem como pelos demais ouvintes (At 10:37-38). Prosseguindo, Pedro falou da morte de Jesus (At 10:39), sua ressurreição (At 10:40-41), da missão recebida para pregar ao povo (At 10:42) e do perdão dos pecados para todo aquele que Nele crê (At 10:43).

Sem que fosse necessário Pedro fazer alguma citação das Escrituras judaicas, o Espírito Santo foi derramado sobre aqueles receptivos ouvintes enquanto o nosso irmão ainda falava. E, mesmo sem eles terem ainda experimentado o batismo nas águas, começaram a falar em línguas e a glorificar a Deus, confirmando que foram, verdadeiramente, convertidos.

Reparem que não foram necessárias muitas palavras para que Cornélio e todas aquelas pessoas em sua casa entregassem suas vidas para Jesus e fossem seladas pelo Espírito Santo. Seus corações estavam verdadeiramente abertos na expectativa de receberem a Palavra de Deus que lhes foi ministrada. E, quando receberam o dom do Espírito Santo, estava mais do que confirmado que aqueles homens estrangeiros tinham sido salvos pela breve pregação de Pedro.

Enquanto que no Pentecostes os discípulos só receberam o dom do Espírito após terem perseverado em oração, por uns dez dias, Cornélio e os seus convidados ficaram cheios da presença de Deus, mesmo no momento em que receberam o Evangelho (At 11:15-16), pois a sede deles era tanta que foram batizados no Espírito imediatamente.

Com isto, Deus estava quebrando todo e qualquer preconceito cultural que pudesse existir naquela época dentro da Igreja, a qual foi formada a princípio por judeus, considerados como guardiões de uma tradição milenar dada por Moisés, tendo sido o povo com o qual Deus manteve um relacionamento durante séculos com a finalidade de preparar o ambiente ideal para a manifestação do Messias.

Até então, muitos certamente pensavam que a salvação fosse apenas para os israelitas que aceitassem a Cristo (At 11:18), não visualizando ainda a extensão ilimitada do plano de Deus que já havia sido, inclusive, profetizada séculos atrás nas Escrituras hebraicas.

Pode-se dizer que Pedro experimentou um considerável crescimento na sua vida espiritual como apóstolo e pregador da Palavra de Deus. Uma experiência que o levou a romper com suas limitações pessoais, sendo conduzido pelo Espírito Santo para alcançar um grau superior de maturidade espiritual para aperfeiçoamento seu e também da Igreja.

Nesta altura, Pedro já não era mais aquele homem inconstante descrito nos Evangelhos. Agora, além da coragem para enfrentar multidões e autoridades manifestada no dia do Pentecostes, Pedro estava se tornando mais compreensivo quanto aos propósitos de Deus.

Nos versos 19 a 20 do capítulo 11 de Atos, Lucas diz que, entre os discípulo que tinham sido dispersos por Saulo, depois da morte de Estêvão, alguns tomaram a iniciativa de evangelizar também os gregos, os quais eram inimigos dos judeus desde os tempos de Antíoco Epifânio. Porém, segundo o texto do versículo 21, a mão do Senhor estava com estes evangelistas, o que confirmou ser de Deus a direção fora dada a Pedro.

Assim como Pedro, também precisamos nos despir dos preconceitos culturais que ainda guardamos em nosso íntimo, afim de que possamos compreender o atual contexto em que Jesus nos comissiona para transmitirmos as Boas Novas a todos os homens, fazendo discípulos de todas as nações.

Embora na atualidade a Bíblia já esteja traduzida para diversos idiomas e existam missões cristãs em praticamente todos os países, precisamos vencer as barreiras culturais também dentro dos nossos relacionamentos interpessoais, penetrando no mundo das pessoas com as quais convivemos.

Entendo que não podemos mais nos fechar dentro das nossas igrejas, criando comportamentos para nos diferenciarmos exteriormente dos de fora e enganarmos a nós mesmos que somos separados do mundo só porque deixamos de ir às festas, tomar banho de mar, ouvir música secular ou de participar de um churrasco com a própria família. Temos que alargar os nossos horizontes e nos tornarmos mais acessíveis.

Infelizmente, muitos de nós cristãos evangélicos ainda confundimos o processo de conversão de alguém com o hábito de frequentar uma igreja. Alimentamos dentro de nós uma visão limitada de Deus, achando que a pessoa ao nosso lado não está sendo trabalhada e aí, quando a levamos para as nossas instituições religiosas, nem sempre a transformamos num discípulo de Jesus, mas sim na seguidora de uma nova cultura – a cultura dos evangélicos brasileiros.

É possível que, quando Pedro chegou na casa de Cornélio, este já estivesse até com o coração convertido, aguardando apenas que alguém lhe anunciasse Jesus. E, da mesma maneira, pode ser que o seu vizinho, parente ou colega de trabalho também já esteja vivendo este processo de conversão na expectativa de apenas ouvirem as Boas Novas. Afinal, Deus não faz acepção de pessoas.
 

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Conflitos de família: afinal com quem está a razão?

Umas das questões mais dramáticas que mais afligem o cotidiano das pessoas são os conflitos de família. Muitos dos lares brasileiros são verdadeiros barris de pólvora, nos quais se encontram brigas entre irmãos, cônjuges, cunhados, pais e filhos, além dos genros e noras versus sogros. E, infelizmente, sabemos que muitos desfechos dessas contendas terminam muito mal, com inúmeras expressões de descontrole emocionais, pessoas deixando de se falar, filhos menores que têm suas mentes envenenadas contra um dos pais, bem como os intermináveis processos na Justiça.

Nos casamentos desfeitos, percebo que, mesmo após a separação, um não consegue esquecer definitivamente o outro, o que muitas vezes se explica pela avalanche de processos judiciais e que acaba afetando o bem estar dos filhos. Depois de se resolver juridicamente a dissolução da sociedade e do vínculo conjugal (se bem que o homem não pode separar o que Deus uniu), surgem novas demandas como um pedido de reajuste da pensão, a disputa pela guarda da criança, a revisão das cláusulas de visitação dos filhos e os infindáveis registros de reclamações na Delegacia de Polícia que, quase sempre, são encaminhados para o Juizado Especial. E, no caso de brigas entre irmãos, o inventário vem a ser o palco onde muitas relações cortadas são restabelecidas através da guerra e do sentimento pela morte do genitor em que o processo passa a ser o meio através do qual as emoções são inadequadamente despejadas.

Como advogado, tenho me recusado a alimentar picuinhas e brigas de família. Contudo, não poucas vezes, sou solicitado pelo pastor e por frequentadores de minha igreja para prestar orientações jurídicas envolvendo conflitos na família. Mas, como o Direito de Família não a minha praia, limito a prestação de meus serviços profissionais ao aconselhamento, abordando também o aspecto espiritual da demanda.

Por outro lado, não se pode esquecer que as maiores injustiças e danos à personalidade do indivíduo ocorrem no meio familiar, em que os conflitos tornam-se sem uma solução jurídica, demonstrando o fracasso das instituições estatais em pacificar conflitos dessa natureza. E há situações em que até mesmo a Igreja fracassa já que somos incapazes de mudar o outro, sendo que cada qual pode apenas mudar a si próprio.

O filme “Prova de Fogo” fala sobre a emocionante história de Caleb, um dedicado bombeiro que estava prestes a separar-se de sua esposa Catherine. Sem ter mais esperanças, Caleb aceita o desafio proposto por seu pai para tentar salvar o casamento, tendo que por em prática, durante 40 dias, determinados ensinamentos. E, no decorrer do desafio, Caleb vai mudando o seu caráter e a sua personalidade, conseguindo, finalmente, restabelecer o seu relacionamento com Catherine.

Posso dizer que umas das questões que mais me chamou a atenção neste filme foi o reconhecimento do personagem a respeito de si mesmo. Pois, para reconquistar Catherine, Caleb precisou aprender que não deveria ter como justificativa do fracasso as falhas da esposa, tendo como maior desafio ele mesmo.

Penso em quantos relacionamentos dentro dos lares poderiam ser recuperados apenas a partir do propósito de um dos entes da família em reavaliar o seu comportamento. Se muitos casais ao menos assistissem um filme como “Prova de Fogo” ou procurassem uma ajuda de grupo a exemplo do Ministério dos Casados Para Sempre, creio que muitas separações indesejáveis poderiam ser evitadas.

Mas por que é tão difícil oferecer a outra face? Qual a razão de preferimos ser governados pelo orgulho? Até quando nos custará deixar que o outro leve o vestido e ainda assim sermos capazes de entregar a capa?

Há um provérbio árabe de grande sabedoria, encontrado no verso 34 da Sura 41 do Alcorão, o qual ensina que: “A boa ação e a má ação não são iguais. Repele o mal da melhor maneira, e verás aquele que era teu inimigo agir como se fosse teu amigo leal”.

Ainda que seja admissível uma pessoa justa e íntegra sofrer perseguições gratuitas por parte de alguém, jamais podemos deixar de considerar a possibilidade de que é o nosso próprio comportamento que muitas das vezes está atraindo a adversidade. Então, por que não nos reavaliarmos?

sábado, 17 de abril de 2010

A Lei e a Misericórdia de Deus no Sermão da Montanha

Jesus é sem dúvida o mais enigmático de todos os personagens da Bíblia. Seu jeito de ensinar nunca é imediatamente esclarecedor, levando os destinatários de sua mensagem a novas indagações que vão cada vez mais requerer mais explicações. As suas parábolas, os seus discursos e até mesmo as respostas dadas ao seus discípulos induzem a uma profunda e contínua reflexão, exatamente como eu suponho que Deus pretende em relação a nós quanto à meditação nos textos das Escrituras.

O Sermão da Montanha é um dos mais perturbadores discursos de Jesus, o que pode significar ao mesmo tempo uma inversão e uma restauração de valores. É, simultaneamente, a Lei de Deus levada ao extremo e um anúncio da graça salvadora.

Dos quatro evangelhos do Novo Testamento, apenas os livros de Mateus e de Lucas registram o Sermão da Montanha. Aliás, a maior parte dos ensinamentos dados no monte são encontrados nos capítulos 5, 6 e 7 de Mateus, enquanto que em Lucas temos um breve resumo comparativo e que complementa a nossa reflexão.

As bem-aventuranças, talvez a parte que me pareça mais difícil, representa a inversão dos valores da sociedade. Debater a respeito de cada uma delas, requer uma artigo específico, pois são ensinamentos de grande profundidade, sendo a meu ver um convite para abrirmos mão de nossa vida com conforto afim de lutarmos pela implantação do Reino de Deus nos corações dos homens, experimentando primeiramente nas nossas vidas.

No entanto, a parte do Sermão do Monte que mais quero focar neste texto relaciona-se com o cumprimento dos mandamentos de Deus, em que Jesus disse nos versos de 17 a 20 do capítulo 5 que não veio para revogar a Lei e sim cumpri-la.

Geralmente quando a nossa versão traduzida da Bíblia fala da palavra lei está se referindo à Torah hebraica, a qual, em termos mais exatos, significa a instrução ou o ensino de Deus aos seu povo. E, em última análise, não deixa de ser uma linguagem, uma maneira como a vontade de Deus foi expressa no contexto de um determinado tempo para todas as gerações.

Após ter dito aos seus ouvintes que eles só entrariam no reino dos céus se praticassem uma justiça superior a dos escribas e fariseus, Jesus passa para uma abordagem do sexto e do sétimo mandamentos do decálogo, dando a sua interpretação.

Ora, séculos antes de Jesus, Moisés também interpretou o que significavam o “não matarás” e o “não adulterarás”. Em Êxodo 21.12-14, bem como em Deuteronômio 19.4-13, faz-se uma distinção entre o homicídio doloso e o culposo em que o responsável por uma morte acidental não seria condenado à pena máxima, podendo abrigar-se numa das cidades de refúgio onde o vingador de sangue não o alcançaria. Quanto ao adultério, ainda que Moisés tenha considerado como uma variante do pecado a quebra do compromisso pré-nupcial, ele soube distinguir a situação da noiva fiel que não tinha como reagir diante de um estupro da mulher que consentiu em ter relações sexuais com outro homem. Tendo condições de evitar o ocorrido.

Jesus, porém, sem acrescentar ou remover nada do que havia sido determinado na Torah, mostrou que a ira sem motivo contra uma pessoa, um insultou ou a intensão impura no coração de um homem em relação a uma mulher também seriam pecados, conforme se lê na interpretação dada ao adultério:

“Ouvistes o que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno.” (Mateus 5.27-30)

Com tais palavras, Jesus não apenas denunciou aqueles que tentavam subverter ou descartar os mandamentos da Torah, como também mostrou qual é o padrão elevado de Deus.

Para os judeus, Deus encontra-se numa esfera de superioridade inatingível em relação aos homens, o que era representado pela colocação da Arca da Aliança na parte mais íntima do Tabernáculo – o Santo dos Santos ou Lugar Santíssimo – onde apenas uma vez por ano o sumo-sacerdote entrava do dia o Yom Kippur para fazer expiação pelo povo. Significa a existência de uma distância capaz de estabelecer uma separação entre uma humanidade pecadora e um Deus que é santo.

Tenho pra mim que um dos objetivos do Sermão da Montanha foi justamente levar o povo à tomada da consciência de que os seus atos os encerravam debaixo do pecado. Pois, se o meu olho direito me faz pecar e por isso devo arrancá-lo e jogá-lo fora, ou por um mesmo motivo amputar a minha mão direita, então chego à conclusão de que nenhuma parte do meu corpo jamais poderá entrar no reino dos céus. Pois nem mesmo a minha mente impura consegue entrar no céu, o que torna impossível a minha condição já que não dá para arrancar fora o meu cérebro pecador sem que eu sobreviva.

Mas por que o Senhor agiu com tanta severidade? Por qual razão Jesus teria levado os seus ouvintes a um conflito tão grande? E por que a Lei de Deus seria algo incumprível?

Acredito que o Sermão da Montanha, assim como várias parábolas e ensinamentos de Jesus, foram uma preparação para a graça salvadora de Deus que estava prestes a se manifestar. Algo que seria compreendido depois de sua morte na cruz, a qual trouxe perdão a todos os homens, dando uma esperança de herdar o reino dos céus por intermédio da ressurreição através de um novo corpo incorruptível, conforme nos explicam melhor as epístolas.

Contudo, no próprio Sermão da Montanha, assim como em todo o misterioso Antigo Testamento, há pistas acerca da graça divina. Pois, analisando as palavras de Jesus, por qual motivo deveríamos nós deixar de lado a vingança para praticarmos o amor ao próximo incluindo os indesejáveis inimigos que tanto nos aborrecem. Vejamos, pois, o que diz o Evangelho segundo Lucas a respeito do amor:

“Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam os que os amam. Se fizerdes o o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.” (Lucas 6.32-36)

Em Mateus, Jesus fala que Deus levanta o sol sobre bons e maus e manda a chuva sobre justos e injustos. Porém, no texto de Lucas, o Senhor resume tudo na frase imperativa do verso 36 para que sejamos misericordiosos tal como Deus é.

Há um mistério escondido na tolerância e na benignidade de Deus em relação aos maus e injustos. Por que o Pai Celeste dá o sustento diário a pessoas que matam, roubam, mentem, blasfemam, estupram e agridem? Será que o adultério cometido nos meus secretos pensamentos quando desejo uma mulher na rua ou os insultos ao meu adversário podem me levar para o inferno?

A resposta é que de fato até os pensamentos impuros do meu coração e as atitudes erradas que pratico certamente são capazes de me condenar, pois me colocam na mesma condição dos demais pecadores que consumam o adultério e o homicídio. Porém, a graça de Deus tem poder suficiente para salvar a todos do castigo eterno de modo que não entro no céu pela minha própria bondade e sim por causa da misericórdia divina.

Todo esse entendimento deve nos levar a uma nova atitude em relação ao próximo, o que Jesus expressou muito bem na célebre oração modelo do Pai Nosso: “perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Se recebo de Deus o perdão pelos meus graves pecados, quem sou eu para reter a misericórdia ao meu próximo?

Tornando a escrever e comentários sobre o consumo de bebida alcoólica dentro da cultura evangélica brasileira

Quanta saudade eu tenho sentido de escrever novos textos aqui no blog! Depois do último texto que postei neste site falando sobre a Páscoa, em 03/04/2010, com um brevíssimo comentário de minha autoria, dias depois senti-me inspirado novamente a compartilhar meus pensamentos. Alguns assuntos vieram à minha cabeça no decorrer destas semanas de abril, como a polêmica questão da ingestão de bebida alcoólica pelos cristãos, a candidatura de Marina Silva à Presidência da República, reformas intrigantes que sonho com o espaço urbano de minha cidade e outros temas que agora se acham momentaneamente perdidos numa área esquecida de meu cérebro.

Passei por lutas e aflições durante a primeira metade do mês de abril. E, desde 31/03/2010, foram até agora quatro viagens que empreendi ao Rio de Janeiro, sendo duas delas exclusivamente por causa do meu trabalho e as outras em que conciliei questões familiares com o exercício profissional. Dia 05/04/2010, consegui deixar o Rio de Janeiro poucas horas antes das fortes chuvas que caíram naquela data terem inundado as ruas da cidade. Eu havia me ausentado na reunião dominical de minha igreja para comemorar o aniversário de minha mãe no domingo (04/04) e, na segunda-feira (05/04), fui sustentar oralmente no julgamento do recurso de um cliente meu na Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis no Fórum do Rio, tendo saído de lá com um êxito parcial.

Em 08/04, minha avó materna, que mora com minha mãe no Rio, quebrou a cabeça do fêmur, encontrando-se até hoje internada no Hospital do Andaraí aguardando uma cirurgia. Ao ser informado acerca do seu acidente no sábado passado (10/04), desci novamente para o Rio no domingo (11/04) faltando pela segunda vez consecutiva ao culto de domingo no qual minha igreja celebrou a Ceia, bem como à minha aula de inglês nas segundas-feiras. Contudo, naquele dia, minha Ceia era estar mais uma vez com os meus familiares e estar presente nos momentos de dor, sendo que acabei comemorando o meu aniversário em meio à luta. Depois, retornei para Friburgo no dia 13 e fiquei trabalhando em cima de dois casos bem cansativos mal tendo tempo para sossegar ou dar uma atenção melhor à esposa. Então, em 16/04 (ontem), fui ao Rio e retornei de lá no mesmo dia, tendo chegado a tempo de participar da reunião da rede dos homens de minha igreja que ocorre às sextas, 19 horas e 30 minutos.

Uma pena eu não ter registrado todas as ideias que passaram pela minha cabeça. Fui descuidado, mas me senti atolado e refém de várias situações. Porém, apesar dos pesares, dou graças a Deus por ter conseguido finalizar mais uma semana e me encontrar agora em paz no meu apartamento curtindo uma madrugada de temperatura amena em que torno a escrever com desejo e empolgação uma vez que não consigo pegar no sono no momento.

Só posso mesmo dar graças a Deus por poder agora escrever e deixar minhas ideias correrem solto, o que, sob um ponto de vista, não deixa de ser um saudável surto psicótico de modo que também agradeço por não ser tão “normal”.

No fundo, quem neste mundo pode ser considerado normal? E o que é significa ser normal?

Tenho pra mim que somos todos seres complexos e desajustados, com comportamentos bem variados. Todos são pessoas com problemas distintos, atravessando dificuldades bem peculiares, mas que também possuem qualidades inigualáveis formando uma maravilhosa sinfonia, a sinfonia da vida.

Mesmos em estar com minhas ideias bem ordenadas, quero me expressar. Quero falar brevemente a respeito do consumo de bebida alcoólica pelos cristãos, uma das primeiras ideias que brotou na minha cabeça recentemente.


A QUESTÃO DO USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS PELOS CRISTÃOS

Sinceramente, acho que o comportamento evangélico brasileiro é muito tacanho em tratar a ingestão de bebida alcoólica e o fumo como pecados. A maioria das denominações evangélicas no Brasil proíbe seus membros de consumirem o álcool, havendo pastores que proíbem quem bebe de participar da Ceia e de algumas atividades da comunidade.

Contudo, questiono onde que está o amparo bíblico que sirva de fundamento para a conduta discriminatória e repressiva dessas igrejas. Fico perplexo e incomodado com tanta ignorância que é alimentada no mundinho evangélico brasileiro, o que acaba fazendo dos “crentes” uma tribo fechada dentro do país, causando impressões erradas a respeito de todas as comunidades cristãs.

Meditando sobre a Bíblia, vejo claramente que o vinho sempre fez parte da cultura judaica (o meio onde Jesus viveu), sendo uma droga que proporcionava uma boa convivência comunitária. Inúmeras são as passagens do Antigo Testamento que falam a respeito do vinho! O Shir Hashirim (lit. “cântico dos cânticos”) inicia-se com a fala da esposa comparando o amor do esposo ao vinho:

“Beija-me com os beijos
de tua boca;
porque melhor é o teu amor
do que o vinho.”

Além do mais, na Ceia, o que foi que o Senhor Jesus bebeu? Suco de uva ou vinho? E o que dizer sobre o milagre nas bodas de Caná da Galileia? Negaremos que os judeus tomavam seus goles de vinho nos casamentos?

Escrevendo a Timóteo, Paulo aconselhou seu discípulo que fizesse uso do vinho com finalidade terapêutica. Porém, o apóstolo também advertiu os cristãos da cidade de Éfeso que não se embriagassem com vinho, “no qual há dissolução”.

Por sua vez, no Antigo Testamento está registrada um episódio na história de Noé em que o patriarca, após o dilúvio, cultivou uma vinha e, após ter bebido do seu fruto, ficou nu em sua tenda necessitando ser vestido pelos seus filhos Sem e Jafé. E a lei mosaica fala a respeito dos nazireus, pessoas que, em razão de um voto, abstinham-se de qualquer bebida forte, além de não poderem tocar num cadáver ou passar a navalha sobre a cabeça, como foi o caso de Sansão e de João Batista.

É certo que ingerir bebida alcoólica e fumar jamais foram considerados pecado de acordo com a Bíblia, muito embora o uso do tabaco seja comprovadamente nocivo à saúde pela ciência. Sabe-se também que muitas famílias passam por terríveis desgraças dentro do contexto do uso excessivo de álcool.

A verdade é que o álcool, embora não seja a causa dos males, torna-se o veículo através do qual muitas maldades são cometidas. Uma vez embriagado ou sob o efeito de drogas alucinógenas, um indivíduo pode extravasar com mais facilidade a ira que armazena dentro de si, seja praticando assassinatos, agredindo fisicamente as pessoas ou falando palavras que vão ferir corações. Tanto o vinho como a cerveja, a cachaça, a vodca ou o uísque são facilitadores capazes de potencializar o terrível mal que há dentro de nós.

Contudo, não temos o direito de legislar no lugar de Deus a ponto de transformar em pecado aquilo que nunca foi proibido. E como cristãos temos o dever de dizer a verdade contando o que a Bíblia de fato diz a respeito do consumo de bebidas alcoólicas.

Penso que as igrejas evangélicas brasileiras, ao invés de criarem um verdadeiro tabu em relação à ingestão de bebida alcoólica pelos cristãos, deveriam pensar em como reintroduzir o uso do vinho nas comunidades cristãs e ao mesmo tempo encorajar as pessoas com problemas de alcoolismo a se posicionarem de maneira correta, aceitando suas próprias limitações.

A meu ver, se um cristão alcoólico pensa que é pecado beber, ele se torna mais vulnerável a cair na tentação de retornar ao seu passado de embriaguez porque sua conduta está baseada numa proibição e não na auto-consciência de que ele, por uma razão específica não pode ingerir substâncias que contêm álcool.

Independentemente das pessoas terem ou não propensão ao alcoolismo, penso que continua sendo papel das igrejas preocupar-se com o uso moderado do álcool dos cristãos. Além do versículo da epístola aos efésios referido neste texto, deve-se cultivar o domínio próprio que é fruto do Espírito Santo. Isto porque o cristão não deve ser dominado por nenhuma compulsão. Seja em relação ao sexo, ao apego pelo dinheiro ou quanto aos alimentos em geral. Aliás, somos livres e, como disse Paulo, “foi para a liberdade que Cristo nos libertou”.

Um bom final de semana a todos e apreciem a vida com moderação!

sábado, 3 de abril de 2010

Uma Feliz Páscoa a todos!

Olá!


Gostaria de aproveitar a oportunidade para desejar a todos que estão acessando o meu blog uma Feliz Páscoa, aproveitando para compartilhar este interessante artigo com o título "Páscoa ou chocolate?":


Páscoa ou chocolate?

Autoria: Pr. Robson Rodrigues


A semana na qual se comemora a Páscoa costuma ser aquela onde se intensifica a corrida popular ao chocolate, ao ovo mais bonito, enfeitado e, principalmente, GOSTOSO. As indústrias investem pesado e com uma criatividade admirável. Fica até parecendo que o chocolate tem sabor melhor em tal época!


Infelizmente, comemorações fantásticas como a Páscoa e o Natal se tornaram sinônimos de COMPRAR brinquedos, flores e enfeites, chocolates… O interessante é que os nomes dos festejos permanecem, só os significados estão sendo distorcidos. Mas vamos entender o que significa PÁSCOA?


Páscoa significa “passando por cima”, “passando adiante”, referindo-se ao momento em que Deus, no Antigo Testamento, libertou o povo hebreu da escravidão do Egito, através de uma marca de sangue feita na porta de cada casa, onde o morador acreditava em Deus.


No Novo Testamento, a Páscoa é o dia em que JESUS CRISTO promove a MAIOR DAS OBRAS DE DEUS para o Homem: a SALVAÇÃO. Abre-se, na Páscoa, através da ressurreição de Jesus Cristo, a possibilidade de cada pessoa ser recebida por Deus como JUSTIFICADA, SARADA, RESTAURADA e passar a viver uma VIDA ETERNA cheia de sabor, enfeites, novidades, beleza, satisfação, prazer, enfim, plena.


Se você quer celebrar a verdadeira Páscoa em sua vida, você precisa conhecer JESUS CRISTO e aceitá-lo como seu SALVADOR.