Judeus e cristãos comemoram a Páscoa cada um a seu modo, sendo essa uma antiga festa que relembra a vitoriosa saída dos israelitas escravizados no Egito rumo à Terra Prometida, sob a liderança de Moisés.
Entre os cristãos, a Páscoa ganhou novo significado com a ressurreição de Jesus, mas que se reporta à sua dolorosa morte na cruz. Daí surgiu a tradição de celebrar a chamada "Semana Santa", a qual inicia com a triunfal chegada do Mestre a Jerusalém, no Domingo de Ramos.
Em ambos os episódios, tem-se em comum a celebração de uma passagem, como nos ensina a própria etimologia do termo hebraico pessach (Páscoa). Pois, tanto na formação de um povo livre e soberano, chamado para ser "santo" (separado) entre as nações, quanto na vitória do Filho do Homem sobre os grilhões da morte, recebemos uma mensagem que se traduz em superação e em mudança de estado ou condição.
Acredito que sempre estamos de passagem e cabe ao ser humano tentar compreender qual o seu caminho a percorrer tanto no plano individual quanto no coletivo. Afinal, não queremos levar uma vida vazia, sem propósito e errante que, no fim das contas, acaba é produzindo separações/segregações ao invés de construções.
Nesta terceira década do século XXI, convivendo há mais de um ano com a pandemia, a humanidade foi confrontada com um grande desafio que nos impõe mudança de hábitos, mais compreensão, maior respeito pelo próximo e o enfrentamento de um inimigo invisível a olho nu, mas que causa verdadeiras tragédias.
Certamente que, em nossa primeira Páscoa durante a pandemia, não tínhamos ainda a consciência de quão grave esse problema seria para o mundo inteiro. Havia muitos negacionistas da doença e os ignorantes sentiam-se mais á vontade para discursar contra as medidas de afastamento social de prevenção à COVID-19. Sem falar nos áudios, memes e demais brincadeiras que circulavam pelas redes sociais de mensagens instantâneas.
Entretanto, o problema global tem mostrado a sua complexidade com sucessivas "ondas" de infecção do coronavírus e o surgimento das perigosas variantes do vírus. Apesar da chegada das vacinas, não há uma imunização totalmente eficaz. E hoje vivemos no nosso período mais mortal desde o início da pandemia, com recordes sucessivos do número de mortes e de casos de COVID-19, de modo que assumimos em março a liderança global do ranking de países com mais óbitos diários.
Por coincidência, a pandemia fez com que tivéssemos neste ano um longo período de descanso entre março e abril, apesar de nem todos estarem conseguindo paralisar suas atividades para desfrutar o momento. Pelo menos aqui, no Estado do Rio de Janeiro, os deputados aprovaram a criação de feriados circunstanciais, através da Lei n.º 9.224/2021, de maneira que, em tese, todos poderíamos celebrar por completo a Semana Santa, embora dentro das regras de afastamento social estabelecidas.
Mais do que nunca é preciso fazer a nossa passagem da morte para a vida e isso vai exigir de todos um certo grau de esforço e de atenção à ciência, incluindo uma postura de mais respeito às normas sanitárias. Pois adotar essa atitude saudável em toda a sua amplitude é a Páscoa que temos para viver em 2021!
Que nada será como antes, tenho total certeza disso, porém não duvido que a humanidade sairá machucada desse "deserto", com tantas perdas de parentes e amigos que têm nos deixado. Contudo, precisamos enfrentar a pandemia até que os sobreviventes celebrem a vitórias sabe-se lá quando.
Feliz Páscoa a todos!