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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Dias chuvosos...


Eis que o primeiro mês do ano vem chegando ao final, mas dou graças a Deus pelas bençãos que alcancei independente das circunstâncias enfrentadas.

Choveu a maioria dos dias dessa temporada de janeiro de 2013 aqui em Mangaratiba, no litoral sul do Rio de Janeiro. Na tarde de 02/01, caiu uma grande tempestade e que abalou muito o turismo na região. Não somente Xerém e a Baixada Fluminense foram afetadas. As cidades da Costa Verde também! Principalmente Angra dos Reis.

Meu trabalho com sorvetes na praia, de certo modo, sofreu com as consequências do mal tempo. Eu esperava conseguir o dobro do que obtive e acabei lucrando menos do que dezembro (sem contabilizar ainda o trabalho de amanhã). Porém, não posso me queixar. Pois paguei todas as minhas dívidas mais o IPTU em quota única, minha licença de ambulante na Prefeitura de Mangaratiba e a anuidade total da OAB. Só a conta da esposa ficou negativa porque o INSS não pagou o benefício dela dia 25 quando entraram dois débitos agendados.

Não posso negar que parte desse ganho veio dos dias chuvosos. O mal tempo inviabilizava o trabalho em muitas horas do dia. Então, quando a chuva dava uma trégua, eu saía de casa pra vender os picolés na praia de Muriqui aproveitando os breves momentos de mormaço. E vezes em que Deus fez sair água da rocha de modo que, nesta segunda-feira (28), vendi uns 71 sorvetes no palito com a praia quase vazia.

Toda essa experiência tem me ensinado bastante. Comecei a vender picolé na praia dia 20/11 do ano passado conforme relatei no artigo Vai um picolé da Moleka aí?, postado naquele mesmo mês. Sendo ainda baixa temporada, contentei-me em vender umas poucas dezenas por dia e sempre agradeci a Deus por retornar para casa com alguns trocadinhos a mais no bolso podendo pagar as passagens de ônibus do tratamento de saúde da esposa, deixar de pedir dinheiro emprestado pra sogra (quitei logo tudo o que devia a ela) e comprar umas coisinhas a mais no supermercado.

Por outro lado, isso tudo foi mais um teste de humildade para mim. Sendo formado em Direito, tive que deixar a aparência de lado e sair pela praia vendendo picolé. Não demorou muito, as coisas foram melhorando ainda em princípios de dezembro. Ganhei mais dinheiro quando exerci a advocacia na cidade de Nova Friburgo, época em que me matei de trabalhar acumulando aborrecimentos, frustrações, decepções com a Justiça, problemas de mal entendido, etc.

Dizer que estou livre dos problemas não seria verdade. Muitas vezes ainda tenho que interromper o trabalho para levar a esposa no tratamento de sua saúde em Itaguaí ou em Mangaratiba, bem como resolver umas situações que aparecem. Cuidar dos processos que deixei em Nova Friburgo também pertubam perturbam muito. Pois a maioria dessas ações são casos antigos que se arrastam há anos. Em meados do mês passado, por exemplo, tive que ir pra serra fazer uma audiência de instrução e julgamento num processo de 2009 que ainda aguarda sentença.

Assim vou levando a vida. Pretendo continuar com os picolés até estabilizar-me financeiramente e definir um trabalho mais rentável. Não penso em concurso e nada que me prenda. Quero algo que equilibre minha necessidade de deslocamento no tempo e no espaço. Pois, quando ando pela praia, refresco a cabeça, converso com pessoas, olho para o mar, os montes e as ilhas contemplando a bela natureza com a qual o Criador abençoou o nosso querido Brasil.

OBS: Imagem da praia de Muriqui extraída do site oficial da Prefeitura de Mangaratiba em http://www.mangaratiba.rj.gov.br/portal/distritos/muriqui.html

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Mercados cheios de transgênicos



Quem diria?! O saboroso mingau de Cremogema que a vovó fazia antigamente agora é vendido nas prateleiras dos supermercados com amido de milho transgênico. E não é só a Maizena! Produtos de outras marcas conhecidas como a Yoki também estão contaminadas com organismos geneticamente modificados - OGMs.

Até uns tempos atrás, algumas empresas grandes faziam questão de informar nas embalagens que o produto comercializado era "livre de transgênico". Agora, porém, parece que tal informação perdeu importância para o resultado das vendas e para o esquecido público formador de opinião. Lamentável!

É certo que a grande maioria dos compradores no Brasil nem lê sobre as informações nutricionais básicas dos alimentos que vão parar nas mesas de suas casas. O cidadão comum nem esquenta a cabeça com aquilo que ele ingere por dia! Com isso, a nossa população está se tornando obesa. O brasileiro deixou um passado de subnutrição para se tornar hoje um povo gordo e mal nutrido. Inclusive o que mais se vê nas ruas são crianças com péssimos hábitos dietéticos negligenciados pelos pais. Um inegável reflexo do que significa o desenvolvimento econômico petista...

Todavia, busco defender um padrão diferente nos hábitos de consumo. Sei que é inevitável seguir uma alimentação 100% livre de transgênicos. Principalmente se agente não possui uma renda satisfatória que permita adquirir as coisas de qualidade expostas em lojas de produtos naturais em geral mais caras do que as convencionais. Ou pior, quando comemos em restaurantes e mal podemos saber de onde vem a comida oferecida nos cardápios. Só que em todos os casos é possível selecionar as mercadorias encontradas nas prateleiras e, desta maneira, levar um estilo de vida mais saudável.

Mas afinal de contas, qual é o problema dos transgênicos?

Não nego que, na década anterior e no final dos anos 90, houve uma dose elevada de alarmismo entre a opinião pública no que diz respeito à saúde humana. Neste caso, os malefícios diretos seriam quase os mesmos dos alimentos cultivados com defensivos e adubos químicos na agricultura convencional de larga escala. Apenas os produtos orgânicos proporcionariam benefícios superiores aos da biotecnologia empregada hoje no mercado para atender interesses puramente comerciais de grandes empresas.

Então um alimento transgênico poderia ser melhor do que outro cultivado com agrotóximos mas sem OGMs?

Bem, se pensarmos de maneira holística, o transgênico causa um terrível mal sócio-ambiental. Pois, na prática, o que ocorre é o aumento da dependência econômico-tecnológica do homem do campo (e de países pobres) em relação às companhias que vendem as sementes transgências de cultivo e mais seus respectivos venenos a exemplo do herbicida da Monsanto. A nociva monocultura continua sendo utilizada causando o esgotamento do solo e o surgimento de novas pragas. Tudo isso contribui para o desaparecimento das variedades de espécies alimentícias tradicionalmente produzidas.

Para a humanidade libertar-se do poderio dos laboratórios de sementes e, finalmente, usufruir os benefícios de uma agricultura orgânica e limpa será uma luta árdua que pode demorar anos. Isso exigirá o rompimento com os valores da economia de mercado e requer a conscientização do consumidor. Por isso, nunca é tarde demais lembrar o público sobre os malefícios dos transgênicos afim de que as pessoas não se esqueçam facilmente como costumam fazer quando vão às urnas nas eleições.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Os limites do amor de Cristo em nós

"Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte" (1Jo 3:14; ARA)

Neste começo de ano, mergulhei em mais uma de minhas crises de reflexão teológico-filosófica. Não é algo meramente conceitual ou do tipo se somos seres predestinados ou se nos resta alguma liberdade de escolha. Menos ainda se a humanidade descende historicamente de Adão e Eva ou se evoluiu de um primata ancestral.

Nada disso! Não quero perder meu tempo com questões loucas que nada podem acrescentar à edificação pessoal. Tenho mais o que fazer! Entretanto, mesmo com um envolvimento mais intenso com o trabalho nesses últimos dias, não dispenso uma significativa parcela das horas dadas por Deus para meditar acerca dos limites do amor cristão. Afinal de contas, até que ponto esse sublime amor é real ou utópico? As narrativas e os comentários bíblicos acerca do Messias Jesus, registradas no Novo Testamento, devem ser lidos como algo para ponderação na tentativa de definirmos a conduta humana ou se caracterizam como um modelo de vida a ser plenamente alcançado por nós pecadores?

Como conciliar o amor de Cristo em tempo integral com a objetividade imposta pela vida que, no seu devido tempo, exige de todos uma espécie de prestação de contas quanto ao resultado do labor, os cuidados com a família, com a saúde mental e física, com os investimentos na casa própria e num fundo de previdência, com o casamento e geração de filhos, a participação no meio social (política e festividades) e outras necessidades que parecem ter sido colocadas no mundo pelo divino Criador quando nos fez a sua imagem e semelhança?

Seria a mensagem de Cristo algo incompleto ou somos nós quem não entendemos completamente até hoje aquilo que o santo e justo Senhor veio fazer na terra durante os dias de sua encarnação?

Por uns anos acreditei que, se um número considerável de pessoas no mundo abraçasse inteiramente o amor cristão, colocando-o em prática a ponto de romper os limites do auto-sacrifício, haveria uma transformação planetária capaz de inaugurar uma sonhada era de paz e de justiça. Todavia, tenho considerado hoje a hipótese de que, se houver uma certa medida de amor nas coisas banais do cotidiano que fazemos, sem fugirmos da normalidade, alguma diferença positiva já acontecerá numa área desse imenso Universo. Mesmo que as coisas ainda prossigam caóticas como até hoje têm sido.

Afim de que eu não fique gastando palavras falando de maneira muito genérica e abstrata, a ponto de correr o risco de não ser bem compreendido, prefiro ir direto para alguns exemplos práticos de vida. Vou propositalmente expor situações a seguir em que o amor estaria sendo colocado em dúvida:

Primeiro exemplo. Imagine um patrão honesto e temente a Deus. Ele admitiu um funcionário que não produz aquilo que a empresa necessita da mão-de-obra contratada e que ainda comete muitos erros no desempenho das tarefas. A situação chega a um ponto insustentável até que o chefe se vê numa encruzilhada e precisa se posicionar. Ou ele dispensa o empregado ou continua tomando prejuízos financeiros atrasando cada vez mais o andamento dos negócios.

Segundo exemplo. Uma filha solteira em idade produtiva e tendo muitos pretendentes para o casamento mora com sua mãe que é idosa e doente. Ela precisa de atenção especial e que, por sua vez, demandam uma presença maior da filha no lar. Esta para prosseguir precisa sair de casa afim de trabalhar e não tem condições de pagar por uma cuidadora. Então, num certo momento, a moça pondera se deve colocar a mãe num asilo ou se deixará de desenvolver a sua vida profissional progredindo na carreira. Se vai investir num relacionamento afetivo com alguém ou se ficará assistindo TV em casa todas as noites presa a uma pessoa enferma e acamada?

Terceiro exemplo. Um diretor tem numa das salas de aula um estudante problemático com sérios defeitos de comportamento. O garoto atrapalha a turma, arruma brigas com os colegas no pátio, desrespeita a professora, não trás o dever de casa com as respostas, costuma faltar até provas e prejudica o ensino e a disciplina da escola. Aí os pais das outras crianças começam a reclamar com a direção daquele estabelecimento nas reuniões ameaçando não renovar as matrículas de seus filhos para o próximo período letivo caso a situação persista de modo que o nobre diretor precisa tomar uma posição. Ou ele desiste da "ovelha perdida" ou paga um elevado preço perdendo clientela.

Eu poderia citar incontáveis exemplo e até compartilhar abertamente uns dramas pessoais, o que talvez seja desaconselhável fazer publicamente. De todo modo, penso ter alcançado êxito em tentar transmitir minhas reflexões e daí indago qual a síntese do nosso encontro com o amor de Deus manifestado em Cristo. Como se configurará a cruz no viver diário de cada cristão conforme as decisões escolhidas? Ou no amor agape não existe espaços para meio termo devendo ser experimentado na radicalidade a ponto de se tornar auto-destrutivo sem sobrar uma dose para si mesmo?

"Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o coração, como pode permanecer nele o amor de Deus." (1Jo 3:17)

Conforme escreveu Phillip Yancey no artigo Unwrapping Jesus (Desvendando Jesus), publicado na revista Christianity Today, em 17/06/1996, aconteceu certa vez em que, no curso de um evento, um conhecido judeu procurou o festejado escritor após este ter feito sua apresentação pública discursiva. O homem teria lhe dito assim:

"O que você falou me atingiu fundo no coração (...) Não sigo Jesus - sou judeu. Mas, quando você falou sobre Jesus perdoando seus inimigos, percebi como estou longe desse espírito. Tenho muito a aprender com o espírito de Jesus" (extraído do devocional Sinais da Graça, edição de 2011, Mundo Cristão, pág. 34)

Bem, eu estudo os evangelhos há quase trinta anos (leio a Bíblia com assiduidade desde os 10 e faço 37 em abril). Não sigo mais a ortodoxia cristã e já nem me preocupo em me afirmar como mais um herege (agora dizer-se "herege" virou moda), pois me importa muito mais a ortopraxia. Assim, tenho pesquisado Deus nas Escrituras da vida (inclusive na Bíblia), preservando reverência e temor pelo Eterno. Contudo, ao deparar-me com a realidade, não vejo outra saída senão ir ao confronto com ela. Busco encará-la de frente, nu, sem esconder-me atrás das árvores do Paraíso ou negar a responsabilidade que tenho pelas escolhas existenciais. Assumo meus pensamentos íntimos e a natural tendência do gene humano em desejar aquilo que nos falta do saber divino quanto ao bem e o mal. Logo, mesmo identificando-me como cristão de velha data, ainda me sinto tão aprendiz quanto o referido judeu que conversou com Yancey após a palestra deste. E, semelhantemente, vou procurando os rastros deixados pelas pegadas de Jesus ou de seus discípulos. E nisto descanso. Sei que Deus é maior do que meu coração!

Quem puder contribuir com seus comentários, sinta-se a vontade.

Paz e graça. Tenham um feliz 2013!


OBS: A ilustração acima trata-se da obra do artista Diego Velázquez (1599-1660), pintada a óleo sobre tela por volta do ano de 1632 tendo sido extraída da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Cristo_crucificado.jpg e acrescentada à postagem dia 16/01/2013.