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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

As armadilhas da experiência




"Melhor é o jovem pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que já não se deixa admoestar" (Eclesiastes 4:13; ARA)

Ao interpretar a mensagem bíblica acima citada, o mestre judeu medieval Ibn-Ezra contrastou a inútil experiência de vida de um velho-rei com a mente aberta de um jovem-sábio. Segundo ele, a disposição de alguém em ouvir um bom conselho seria superior a quem, devido à própria tolice, já não exercita mais a capacidade de relacionar as suas observações da realidade com as situações vivenciadas.

Tal reflexão fez-me pensar mais profundamente acerca dos erros que todos cometemos nas diversas áreas de nossas vidas. Quer seja nas profissões, no convívio fraterno dentro do meio religioso, nas relações familiares ou no comando da política. Não raramente, por exemplo, encontro pessoas arrogantes nos ambientes de trabalho achando que estão absolutamente certas em suas opiniões apenas porque teriam tantos anos de exercício de uma determinada função. Só falta baterem no peito e dizer: "Eu sou o chefe! Manda quem pode..."

Em momento algum a experiência deve ser ignorada. Para o sábio, quanto mais aprendizado de vida, melhor será. A diferença para o insensato é que ele percebe diante da vida o quanto ainda precisa evoluir e crescer nas suas concepções aproximando-se daquilo que, numa certa ocasião, assim teria dito o filósofo grego Sócrates: "só sei que nada sei". E, agindo assim, quer seja jovem ou idoso, a mente sábia permanece com o grau de abertura necessária para a renovação/atualização do conhecimento.

Na nossa caminhada espiritual será que não ocorre a mesma coisa?!

O crente arrogante custa a se desfazer da pretensão de se tornar um conhecedor onisciente de algo e diz ser convertido há tantas décadas como se o tempo de membresia numa determinada igreja fosse algo superior. Faz da frequência a cultos, a aulas bíblicas, participações em vigílias, jejuns, orações e da atuação em ministérios itens de uma espécie de currículo, mas nem sempre experimenta os mesmos sabores de um neófito na fé. Este, com toda a sua simplicidade e humildade, consegue encontrar-se maravilhosamente com Deus todas as vezes quando se põe de joelhos para falar com o Pai Celestial. Quer ele tenha ou não assimilado os costumes de expressão do lugar onde congrega.

Verdade é que o jovem-sábio e o velho-rei estão dentro de nós! Um velho-rei de hoje pode ter sido um jovem-sábio quando iniciou a sua carreira sendo que o contrário também se aplica. Daí podemos identificar no texto bíblico as inclinações que todos temos tanto pro bem quanto para o mal de modo que cabe a cada um incentivar aquilo que há de positivo dentro de si, estar sempre disposto a ouvir a voz da sabedoria, reconhecer as falhas e procurar mudá-las.

Nas cartas às sete igrejas do Apocalipse, Éfeso é advertida pelo abandono do seu "primeiro amor" (Ap 2:4). A orientação recebida pelos crentes daquela extinta cidade da Ásia Menor foi para se lembrarem de onde caíram, arrependerem-se e voltarem às práticas das primeiras obras (Ap 2:5). Logo, o passo inicial para o caminho do retorno é aceitarmos a repreensão de que estamos indo na direção errada e, com humildade, revermos onde foi que aconteceu a falha. A partir de então, os passos seguintes passam a ser o arrependimento sincero juntamente com a atitude coerente de mudança.

Meus amados, tenhamos sempre uma mente jovem!

Tenham todos um excelente descanso semanal.


OBS: A ilustração acima trata-se de uma obra dedicada ao domínio público com autoria atribuída a David Castor e que foi extraída por mim do acervo virtual da Wikipédia. A imagem refere-se ao rei Asa, o qual, segundo a Bíblia, teria reinado 41 anos sobre Judá. Foi considerado um bom monarca. Entretanto, já nos anos finais de seu governo, veio a ser advertido pelo profeta Hanani pela aliança que fizera com os sírios. Ao invés de dar ouvidos à repreensão, Asa resolveu encarcerar o homem de Deus agindo, portanto, com insensatez (ler 2Cr 16:7-10).

domingo, 26 de janeiro de 2014

Dias bem quentes



Como tem feito calor nesta terra! Tá demais! Só que não posso reclamar pois as minhas vendas de picolés em Muriqui têm sido bem satisfatórias no mês com tantos dias ensolarados.

A praia pode não estar tão cheia como costumava ser em outros anos anteriores à construção do túnel José de Alencar. Porém, considerando a realidade atual em que o BRT proporcionou uma maior mobilidade urbana aos cariocas da Zona Oeste (o pessoal de Campo Grande e de Santa Cruz tem preferido se banhar no Recreio dos Bandeirantes), até que temos recebido um público razoável. Bem melhor do que foi em janeiro passado quando choveu direto no litoral sul-fluminense e houve a terrível enchente de 02/01/13.

Confesso que já estou me sentindo um tanto cansado com o rotineiro trabalho que divido com certas atividades da advocacia em algumas manhãs. Mesmo descansando religiosamente num dia específico da semana e me ocupando mais no horário da tarde com os sorvetes, eis que esse calor em excesso provoca uma alta dose de desgaste físico. Minhas plantas então chegam a sofrer um bocado. A grama do jardim quase não cresceu se comparado ao chuvoso mês de dezembro/2013 e ontem precisei molhar os vários pés de abacaxi que andei plantando pelo quintal.



Quase toda noite, eu e Núbia nos refrescamos tomando um maravilhoso banho de mangueira. Cá em Muriqui, o serviço de abastecimento da Cedae torna-se muito precário nesta época e nem sempre dá para usarmos a água da nossa caixa para entrar quinhentas vezes no chuveiro. Até mesmo porque, quando a localidade fica cheia de veranistas, a força da água diminui, pelo que acabamos usando uma torneira de fora ligada diretamente ao cano da rua. Nestas horas, aproveito para regar o nosso agradável jardim.

Nossa gata Sofia morre da calor debaixo de tantos pêlos, mas sai correndo quando o jato da mangueira espirra perto dela. Nem ela e nem o outro felino, o Tigrão, querem correr o risco de se molhar. E faz um tempão que agente não dá banho nesses bichos sendo que esta me parece uma época ideal por causa da facilidade que há para o animal se secar depois de enxaguado graças uma maior evaporação.

Ontem (25/01), recebemos a visita de minha mãe que veio do Rio de Janeiro almoçar conosco. Ela chegou aqui exausta devido a um engarrafamento ocorrido na estrada Rio-Santos onde uma carreta havia tombado no município de Itaguaí. E o calor estava tão intenso que nem deu para fazermos a refeição na nossa sala de modo que ficamos o tempo quase todo num dos quartos onde tem um ventilador de teto. Apesar das altas temperaturas, ninguém desprezou uma xícara de café quentinho mantendo o tradicional costume brasileiro...



OBS: A primeira foto foi extraída de uma página da Agência Brasil de Notícias na internet com atribuição de autoria a Marcello Casal. Já a terceira imagem trata-se da foto tirada ontem no final da tarde antes de minha mãe retornar ao Rio de Janeiro.

Educação nada "zen"




Sinto-me indignado toda vez quando assisto a um comercial do MEC na televisão informando que o governo federal teria "democratizado" a educação no país. Através de uma peça publicitária acompanhada por uma chata musiquinha "Tô bem, tô zen, entrei pra faculdade com Enem", a qual não quer sair de jeito nenhum da minha cabeça, o vídeo tenta convencer a população de que, com os programas oficiais (Sisu, Prouni, Fies, Cotas e Ciência Sem fronteira) as portas ao ensino superior foram finalmente abertas aos estudantes brasileiros.

Ainda que tais projetos tenham facilitado o acesso de muitos às universidades, jamais podemos falar que houve uma verdadeira democratização social enquanto a educação de base, principalmente a escola pública, permanecer deficiente. Pois a verdade é que somente uma minoria consegue concluir os seus estudos com a qualidade necessária para ingressar e se manter numa faculdade, tendo um aproveitamento que possamos considerar suficiente.

É certo que a desvantagem educacional dos estudantes pobres deve-se à vergonhosa situação de desemparo dos ensinos fundamental e médio que é praticamente geral em todas as regiões brasileiras. Sem a elevação da qualidade da escola pública, que tenha como padrão as melhores instituições particulares, estaremos mais uma vez tapando o sol com a peneira. Por isso, não é uma inverdade afirmar que a reserva de vagas para jovens negros, por exemplo, continua sendo uma paliativo incapaz de solucionar a raiz do problema das desigualdades raciais. Estas se explicam por causa da força gravitacional da pobreza que, por razões históricas relacionadas a um passado de escravidão e de marginalidade, atinge quase a totalidade dos afro-descendentes. Logo, nenhuma política afirmativa, por si só, conseguirá dar jeito nisso.

Em se tratando de mais um ano eleitoral, não é admirável que as propagandas oficiais estejam voltadas para a captação de votos. Contudo, essa publicidade falsa e hipócrita do MEC cada vez engana menos. Percebo hoje na sociedade brasileira um certo desgaste em relação às baboseiras dos governantes, quer sejam eles do PT, do PSDB e de qualquer outro partido. Grande é a falta de credibilidade de todos esses programas e projetos os quais, no fim das contas, acabam sendo vistos como um desperdício do dinheiro público no imaginário da população. E quem não consegue passar no Enem, deve ficar com mais raiva ainda...

Para concluir, quero lembrar aqui da composição O Pequeno Burguês do compositor negro Martinho da Vila, sendo esta sim uma música de qualidade. A canção retrata muito bem a vida de um estudante de baixa renda, o qual, para realizar o sonho de algum dia se graduar (sem direito a ter festa de formatura), precisou pagar faculdade particular andando de trem lotado indo do trabalho para a aula. Diz a letra que "quem quiser ser como eu, vai ter é que penar um bocado" pois, afinal, só o sujeito que foi realmente pobre e veio das camadas mais humildes da população sabe o quanto é difícil melhorar de vida num país que, por enquanto, ainda é de poucos e não "de todos".


OBS: Imagem acima relacionada ao comercial do MEC que tem sido exibido na TV brasileira.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"Melhor serem dois do que um"


"Então, considerei outra vaidade debaixo do sol, isto é, um homem sem ninguém, não tem filho nem irmã; contudo, não cessa de trabalhar, e seus olhos não se fartam de riquezas; e não diz: Para que trabalho eu, se nego à minha alma os bens da vida? Também isto é vaidade e enfadonho trabalho [ou grave infortúnio]. Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem junto, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade." (Eclesiastes 4:7-12; versão ARA)

Muitas reflexões podem ser extraídas da passagem bíblica transcrita acima. Há quem estabeleça aí um interessante paralelo entre a cooperação e o sentimento invejoso mencionado pelo autor no verso 4 do mesmo capítulo. É que, enquanto a inveja motiva o homem a buscar conquistas fúteis e vazias, muitas das vezes auto-destrutivas e até prejudiciais ao próximo, eis que o cooperativismo promove justamente o contrário ao resgatar o nosso verdadeiro sentido existencial.

De fato, a solidão faz com que as pessoas venham a colher as amarguras do isolamento. O dito popular brasileiro "antes só do que mal acompanhado" não seria a mais correta orientação do ponto de vista da Bíblia. Isto porque, conforme o texto, é recomendável que o sujeito esteja pelo menos em dupla para bem se proteger (v. 12). Quem se isola enfraquece, esfria, deixa de alcançar os melhores resultados e pode não mais se levantar caso tropece. Logo, o antídoto contra as más companhias seria cultivar as boas amizades pela convivência.

Também de acordo com a Bíblia, pode-se buscar no relato da criação da mulher a constatação da importância do companheirismo através da célebre frase "não é bom que o homem esteja só" (Gn 2:18). E, ao interpretar as Escrituras Sagradas, a mística judaica chegou a considerar o homem solteiro como um ser de "meio corpo" (Zohar) enquanto que para o Talmude a falta da esposa importaria na ausência da alegria e das bênçãos da vida (Iebamot 62). Daí o direcionamento dos antigos sábios judeus para o homem amar e honrar a sua mulher "mais do que a si mesmo".

Poderia o texto de Eclesiastes aplicar-se ao matrimônio? Confesso que não vejo problema algum sendo o que muitos pregadores já fazem quando ministram seus cursos para casais. No ano de 2006, quando vivíamos ainda na cidade serrana de Nova Friburgo, eu e Núbia tivemos uma lição nos Casados Para Sempre baseada na citação bíblica deste artigo, dentre outras passagens das Escrituras. Na própria apostila que recebemos na residência familiar dos líderes (onde as reuniões semanais ocorriam) ensinava ser Deus a "terceira dobra" do relacionamento a dois.

Uma outra interpretação também se mostra possível sem exclusão das demais. De acordo com o teólogo eritreu Tewoldemedhin Habtu da Igreja Metodista Wesleyana, os versículos bíblicos em estudo têm a ver com a vida em comunidade:

"O trabalho não tem sentido para a pessoa que vive sozinha (4:7-8). Dois é melhor do que um em todos os aspectos (4:9-11). Três é ainda melhor, pois o cordão de três dobras não se rompe com facilidade (4:12). Esses versículos contrastam a segurança e as bênçãos da companhia com os riscos e a dor da solidão. A cosmovisão africana baseia-se na vida comunitária. Isso se reflete nas várias versões do adágio: 'Eu sou, porque nós somos; e, uma vez que nós somos, então eu sou'. Por exemplo, o povo Akan de Gana sublinha a necessidade de cooperação, dizendo: 'Uma pessoa sozinha não pode construir uma cidade'" (Comentário bíblico africano. São Paulo: Mundo Cristão, 2010, pág. 819)

Inegavelmente que uma pessoa sozinha não pode construir uma cidade e também não consegue edificar uma congregação. Lembremos que o Senhor Jesus fez da sua Igreja um verdadeiro projeto coletivo e, quando o Mestre enviou os discípulos para pregarem pelos povoados de Israel, mandou-os seguir em duplas (Lc 10:1). Deste modo, jamais poderá existir o ministério do "eu sozinho". Precisamos sempre uns dos outros.

Meus amados, estamos hoje numa época em que a cultura ocidental enfraqueceu-se pela falta do companheirismo e deterioração das relações familiares. Talvez em nenhuma outra época a construção civil tenha vendido tantos apartamentos para solteiros como na atualidade como pude assistir esta semana na TV durante o programa Mais Você da apresentadora Ana Maria Braga (ler a matéria Estúdios: opção por apartamentos pequenos é realidade em São Paulo). Só que esse isolamento pode não fazer bem e transformar o ser humano em refém das suas ambições egoístas e dos próprios desajustes de convivência, os quais erroneamente preferimos evitar do que tratá-los. Por isso, eu diria que estamos assistindo a fragmentação da sociedade brasileira.

Termino esse artigo acrescentando que não podemos confundir os momentos de solidão oracional com a ausência de companheirismo. Passar um tempo a sós com o Pai Celeste, na na busca de um encontro com o nosso Criador, certamente compõe a caminhada espiritual que fazemos. Contudo, manter o relacionamento de uns para com os outros significa viver neste mundo com propósito. Sem tal comunhão, encontramos solidão e isolamento, o que não creio ser o melhor para a humanidade.

Um ótimo dia para todos!


OBS: Ilustração disponível na internet como papel de parede. Extraí a imagem de http://wallpaper4god.com/pt/melhor-serem-dois-do-que-um/

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

As injustiças "debaixo do céu"



"Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos. Pelo que tenho por mais felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem; porém mais do que uns e outros tenho por feliz aquele que ainda não nasceu e não viu as más obras que se fazem debaixo do sol." (Eclesiastes 4:1-3, ARA)

Vivemos num mundo em que, por causa do homem, muitas são as opressões e injustiças sofridas pelas pessoas. No texto bíblico acima citado, o autor chegou a especular que os mortos e aqueles que não nasceram estariam em melhor situação do que os vivos!

Desde os tempos das Escrituras Sagradas até hoje, o poder ainda se encontra "nas mãos do opressor". Ainda que as constituições modernas proclamem que "todo poder emana do povo", sabemos que os nossos representantes eleitos são capazes de corromper o sistema democrático estabelecido e passam a governar/legislar conforme os seus interesses e das minorias privilegiadas. Algo que também alcança a esfera judicante e as decisões de muitos magistrados brasileiros.

Felizmente não existe mais uma escravidão legitimada no Brasil desde 13/05/1888 e as normas jurídicas atuais impõem direitos sociais a serem assegurados pelo Estado democrático. Contudo, ainda estamos muito distantes de uma sociedade verdadeiramente livre e com igualdade. Devido às más condições econômicas, muitos acabam se sujeitando a um massacrante trabalho em que uma boa parte do tempo do indivíduo passa a ser ocupada com atividades mal remuneradas. Em seu trajeto cotidiano, há empregados que viajam mais do que o tempo de uma partida de futebol em meios de transporte lotados, fazem hora extra na empresa, levam serviços para casa nos finais de semana (atendendo aos emails do chefe), sofrem descontos no salário por erros de terceiros, recebem humilhações dos mais diversos tipos, têm a privacidade desrespeitada, dentre inúmeras situações violadoras.

Há também o caos na saúde pública, o qual vejo como algo proposital, sendo capaz de tornar indigna a vida do cidadão pobre que depende do SUS. Quando o trabalhador fica doente/envelhece e precisa de uma assistência médica, mesmo após ter derramado litros de suor durante anos, ele passa a sofrer nas filas dos hospitais devido ao excesso de burocracia, à falta de materiais e à indisponibilidade injustificável de um monte de serviços importantes. Seja porque o doutor faltou, ou deu defeito no aparelho do exame, ou faltam vagas nos leitos de internação. E o pior é que muitos funcionários gestores do sistema agem como se estivessem prestando algum favor ao paciente...

E o que temos a dizer dos vergonhosos lixões como o da foto acima onde seres humanos excluídos da sociedade e do mercado de trabalho precisam catar latinhas bem como procurar alimentos estragados afim de sobreviverem? E ainda se vê gente da classe média formadora de opinião que tem a coragem de falar mal do Bolsa Família esquecendo-se de que foi devido a esse importante programa assistencial que milhões de brasileiros saíram da miséria absoluta. Mesmo assim, muito precisa ser feito e não vejo como tudo se resolver apenas pelas ações do governo sem que participemos de um permanente processo de mudança coletiva.

Pensando bem, o próprio povo também é autor das injustiças. O eleitor brasileiro não somente é responsável pelos bandidos que ajuda a colocar no poder como ele mesmo reproduz a violência doméstica, abandona crianças e idosos, causa acidentes trágicos no trânsito, comete os cruéis assassinatos estampados nas manchetes dos jornais, espanca torcedores em estádios de futebol nas poucas horas de lazer que tem, etc. A exploração do trabalho em empresas menores chega a ser bem maior do que nas grandes assim como os casos de desrespeito à função, os atrasos e calotes no pagamento salarial, os assédios moral/sexual, dentre outras lesões. Isso sem nos esquecermos de como a classe média tem reagido contra as novas medidas protetivas das empregadas domésticas como se, inconscientemente, desejasse ainda perpetuar um pouco da escravidão dentro de seus lares.

Apesar dos pesares que se vê sob o azul da atmosfera terrestre, vale lembrar que o livro de Eclesiastes não é pessimista em relação a essas injustiças todas. Numa passagem do anterior a que foi transcrita, o autor fala de um julgamento divino. Este, a seu tempo, torna-se manifesto e vem demonstrar o absoluto controle de Deus sobre os eventos que ocorrem "debaixo do céu":

"Vi ainda debaixo do sol que no lugar do juízo reinava a maldade e no lugar da justiça, maldade ainda. Então, disse comigo: Deus julgará o justo e o perverso; pois há tempo para todo propósito e para toda obra." (Ec 3:16-17)

Ainda que a intervenção divina pareça demorada aos nossos olhos, eis que, em seu devido tempo, toda a luta que travamos pela justiça social alcançará um resultado libertador. O Juiz de toda a Terra, como escreveu o poeta bíblico no Salmo 121, "não dorme e nem dormita". Daí a importância de mantermos sempre acesa a chama da fé, a qual se mostra viva por meio de atitudes positivas praticadas. E crer em Deus não significa cruzar os braços esperando com omissões que em algum dia tudo se resolverá. Assim, a fé vem justamente para nos proporcionar o alento que necessitamos afim de jamais sucumbirmos ao desânimo.

Somos a causa dos males que assolam o planeta como bem mostra Gênesis 3:17, mas também podemos produzir benefícios quando removemos do solo dos nossos corações os "cardos e abrolhos" passando a cultivar a boa semente frutífera. Por isso, temos a árdua e gratificante tarefa de buscar a transformação ética das consciências agindo pelas mais diversas maneiras: com orações, jejuns, reuniões, manifestações políticas ordeiras, elaboração de propostas capazes de trazer melhorias para a comunidade, a prática da caridade, etc. Cabe ao revolucionário preparar o ambiente social para a aguardada plenificação do Reino de Deus conforme havia dito o profeta:

"Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do SENHOR; endireitai no ermo vereda a nosso Deus." (Isaías 40:3)

Bendito seja o Soberano do Universo! E que não nos cansemos de fazer a nossa parte porque as lutas que travamos pela justiça nunca são em vão.

Uma ótima terça-feira a todos!


OBS: A ilustração acima trata-se de uma imagem que mostra uma criança saindo do lixão da Vila Estrutural, no Distrito Federal. A foto oriunda da Agência Brasil tem a sua autoria atribuída a Marcello Casal Jr. e foi extraída a partir do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:CriancaLixao20080220MarcelloCasalJrAgenciaBrasil.jpg

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Por mais qualidade nos transportes públicos!




Recentemente recebi pelos Correios uma correspondência do gabinete do deputado federal Rodrigo Maia (DEM/RJ) onde o parlamentar informa acerca das suas atividades políticas em 2013, dentre as quais três projetos de lei sobre o transporte público rodoviário. Das três proposições nesta área, uma fala sobre a transparência nas contas das empresas de ônibus, as quais seriam obrigatoriamente transformadas em sociedades anônimas, enquanto as outras duas relacionam-se com a qualidade do serviço prestado pelos concessionários. Tratam-se do fim do motorista-cobrador (PL 5327/2013) e a exigência de que toda a frota do país passe a dispor de ar-condicionado (PL 5564/2013).

Sem dúvida que o deputado mostrou estar bem atento às principais questões nacionais que compõem os reclames das ruas, conforme ocorreram nos protestos de junho e de julho do ano passado. Pois embora muitos manifestantes tenham lutado contra o aumento nas passagens dos ônibus urbanos, a verdade é que a real motivação não foi por causa de alguns centavos que tinham sido acrescidos. E, se meditarmos profundamente sobre o problema, talvez a má qualidade do serviço pese muito mais do que os reajustes tarifários.

Inegavelmente que os transportes coletivos seriam umas das maiores insatisfações do cidadão de hoje. Nas metrópoles brasileiras, trabalhadores e estudantes passam uma significativa parcela do tempo diário viajando em ônibus lotados e suportando um ambiente que se torna bem abafado neste verão. Trata-se de um tremendo desconforto e que chega a ser torturante. Imaginem alguém tendo que ir de ônibus para o trabalho vestido de terno em pleno calor de 40º C do Rio de Janeiro?!

Mas não são somente os passageiros que sofrem com isso! Segundo a justificativa apresentada no projeto, de acordo com estudos feitos em medicina do trabalho, "45% de motoristas e cobradores sofrem com a vibração do motor dianteiro e o calor nos ônibus coletivos". E o texto acrescenta também que "os trabalhadores de empresas de transportes de passageiros que trabalham em veículos com ar condicionado e motor traseiro são menos afetados pelos transtornos causados pelo stress no trânsito".

Penso que existe também uma questão de saúde a ser observada. Mesmo no inverno a falta do ar-condicionado pode propiciar o contágio de gripe no interior dos veículos. Isto porque os microrganismos proliferam em ambientes quentes onde haja ajuntamento de pessoas. E, sendo assim, é preciso obrigar a renovação da frota de todas as empresas de transporte, inclusive das vans, bem como exigir que haja manutenção periódica e o uso permanente do ar-condicionado, coisas que o projeto de lei poderia contemplar também.

Acerca do fim do motorista-cobrador, mesmo que a medida importe num futuro reajuste da passagem, acredito que todos ganharão em termos de qualidade e de segurança. Na proposta do deputado, ele pretende inserir um novo inciso ao rol trazido pelo artigo 162 da Lei nº 9.503/97, que institui o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), afim de tipificar como infração gravíssima o ato de dirigir veículo em concomitância com a função de cobrador ou de qualquer outra atividade capaz de desviar a atenção do condutor nas vias públicas.

A meu ver, uma alternativa seria alterando a legislação trabalhista pertinente em que a profissão do cobrador volte a ser obrigatória nos ônibus de característica urbana, quer sejam linhas municipais ou intermunicipais onde o movimento de passageiros seja intenso. A falta do cobrador tem causado também perda de tempo, prejudica a fluidez do trânsito nas vias públicas e ainda elimina uma oportunidade de emprego.

Enfim, há vários aspectos a serem considerados/ponderados sendo muito importante a participação da sociedade nesse debate. Afinal, queremos não apenas pagar menos como também utilizar serviços melhores nas nossas cidades.


OBS: Foto oriunda da Agência Brasil com atribuição de autoria a Tânia Rêgo, conforme consta no acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Protestos_no_Rio_em_2013.jpg

Um SUS feito para não funcionar...




Minha esposa Núbia perdeu o seu cartão do SUS e, atualmente, precisa deste documento para marcar uma importante consulta na rede ambulatorial específica aqui em Mangaratiba já que os dois únicos profissionais do nosso plano da Unimed na região da Costa Verde não satisfazem adequadamente sua necessidade. Hoje telefonamos para a Secretaria Municipal de Saúde em que a funcionária respondeu estar "sem sistema" e pediu que retornássemos a ligação na sexta-feira, dia 17 deste mês. Também sugeriu obter a segunda via eletronicamente.

Deste modo, tentei ajudá-la pela internet e comecei a pesquisar uma maneira alternativa de se obter uma outra via do cartão sem ter que depender do precário atendimento presencial da unidade de saúde local. Comecei a vasculhar o portal do Ministério de Saúde e, com muitas frustrações, não consegui resolver nada.

Tendo penado bastante, concluí então que o acesso virtual ao portal do SUS encontra-se com problemas. Ao tentar entrar na consulta à base de dados do Cartão Nacional de Saúde por nome ou no pré-cadastro, tendo realizado repetidas tentativas sem sucesso, o sistema apresentou sempre como resposta "Código de segurança inválido". Fiz isso mesmo durante o final da manhã e tarde de hoje digitando corretamente as letrinhas e números apresentados pelo site!

Finalmente pude verificar que não sou o único que passei por tal situação. Entrando numa página não-oficial, um cidadão identificado pelo nome de Valdenir compartilhou em 09/10/2013 que: "Há vários tias estou tentando o cadastro e o site está com erro". Já um outro internauta que se identificou como Valdoberto Rosa da Silva assim escreveu dia 11/10/2013: "Fiz o pré-cadastro para o cartão do SUS e a mensagem “Aguarde, solicitando a gravação dos dados” já está com mais de 40 minutos em tela processando. É normal isso?"

Indignado, enviei ao MS um e-mail e absurdamente me pediram para informar o navegador de internet utilizado e versão "para que possamos verificar o problema relatado". Respondi dizendo quais eram os dois navegadores mas não pude descobrir as suas respectivas versões já que não sou um expert em informática. Porém argumentei que o sistema deve funcionar para todas elas.

Também não consegui fazer o contato com o Disque Saúde através de um formulário da página do MS porque o site encontra-se "em manutenção" (ver imagem acima). Aí liguei para o 136, falei com a funcionária que se identificou como sendo a Adriana e lhe apresentei a minha demanda. Ela então me disse que a ouvidoria do SUS possui um papel apenas de "mediação" entre o cidadão e os órgãos públicos e que não poderia me dar um prazo para resolver a solicitação. Em dezenas de minutos se espera a funcionária do Disque Saúde finalmente passou os protocolos das duas reclamações que abri. Uma sobre os serviços na secretaria municipal (984193) e outro do portal do MS (984197).

Infelizmente, é por essas e outras que o SUS não funciona a contento em praticamente todo o país. Parece que o sistema foi criado para não dar certo e as pessoas serem obrigadas a procurar atendimento na rede particular ou ficar nas mãos dos convênios dos planos privados cada vez mais decepcionantes. Criam burocracias desnecessárias, nem sempre os serviços estão disponíveis, falta um monte de coisas e até para encaminhar a sua reclamação na internet pelo site o cidadão encontra obstáculos.

Ora, será que os nossos gestores não ouviram o recado das ruas ou vamos ver mais protestos no meio do ano quando começarem os jogos da Copa?! Com a palavra a dona Dilma, Sr. Sérgio Cabral e os ilustres prefeitos da maioria das cidades brasileiras...

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Compreenda e aprenda a viver o seu tempo!



"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu:
há tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derribar e tempo de edificar;
tempo de chorar e tempo de rir;
tempo de prantear e tempo de saltar de alegria;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras;
tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar;
tempo de buscar e tempo de perder;
tempo de guardar e tempo de deitar fora;
tempo de rasgar e tempo de coser;
tempo de estar calado e tempo de falar;
tempo de amar e tempo de aborrecer;
tempo de guerra e tempo de paz."
(Eclesiastes 3:1-8; ARA)

Estamos diante de uma das mais comentadas passagens da Bíblia muito citada nas pregações religiosas e na literatura em geral devido à grande sabedoria contida em tais palavras. Porém, também é um texto que nos leva a concluir sobre a limitação do nosso conhecimento acerca da própria existência de modo que sentimos dificuldades para compreender qual o "tempo determinado" ou "apropriado".

Muitas vezes erramos por ignorar as estações da vida sendo hoje grande o número de pessoas frustradas por conta disso. Numa época em que a juventude é excessivamente valorizada (por causa dos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade e sua mídia), há quem acabe não cultivando corretamente a maturidade que chega no decorrer dos anos.

Talvez ainda se encontre bem distante do alcance humano estabelecer tendências para todas as coisas pois isso importaria em controlar a dimensão do tempo. Mal conseguimos descobrir quando é a época adequada para certas atitudes. Ou melhor, nem sempre somos capazes de definir a conduta correspondente ao momento atual. Seja em relação à nossa idade, ao contexto histórico e aos diversos períodos de crise que atravessamos, bem como das coisas pertinentes ao nosso próximo.

Por outro lado, tal dificuldade pode estar relacionada com a nossa falta de sensibilidade e até mesmo com a ideia equivocada de que iremos determinar os acontecimentos futuros. Pois, embora dotados do livre arbítrio, nem sempre podemos modificar conforme o nosso bem querer toda a realidade que há em volta. Às vezes seremos mais felizes aceitando alguns fatos superiores à nossa vontade do que passarmos a vida lutando contra eles.

Assim, creio que essa limitação de certa maneira ajuda a nos aproximar de Deus. Pois desconhecendo o homem o seu futuro (Ec 3:11), ele passa a desenvolver uma atitude de reverência para com o Eterno (3:14). Com isso, temos a oportunidade de nos arrepender dos pretensiosos erros e trilharmos o caminho de retorno para o Criador bendito.

Acredito que é andando com Deus e cultivando uma espiritualidade autêntica que conseguimos entender melhor o tempo. Seguindo pelas veredas de luz de sua Palavra, podemos ver claramente onde os pés estão pisando. Então, quando chega cada estação da vida, sentimo-nos mais preparados para enfrentar os desafios que se apresentam e encontramos o verdadeiro propósito existencial capaz de proporcionar satisfatória realização ao nosso espírito. E, como disse o salmista, "nas Tuas estão os meus dias" (Sl 31:15a).

Enfim, você pode aceitar as condições do tempo ou ser esmagado por ele! E esta escolha sábia cabe a cada um fazer e não podemos tomar decisões por ninguém.

Que o Eterno ilumine os nossos caminhos e sejamos guiados pelo seu Santo Espírito!


OBS: Ilustração acima extraída do acervo virtual da Wikipédia sendo a autoria do trabalho atribuída a Meinolf Wewel, conforme consta em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Jahreszeiten_Jahresringe.jpg

domingo, 12 de janeiro de 2014

O uso de terno no Brasil deveria ser facultativo!


Durante a semana passada, os telejornais noticiaram que a Caixa de Assistência dos Advogados do Rio de Janeiro, a Caarj, enviou uma equipe de enfermeiros para socorrer os profissionais no Fórum de Bangu, um dos bairros mais quentes do Rio de Janeiro. Em sua edição de 08/01, assim mostrou o Jornal Nacional da TV Globo na matéria intitulada Trabalhadores sofrem com roupas inadequadas para tanto calor:

"(...) Se o excesso de roupa faz sofrer nesse calorão, imagine em Bangu, o bairro carioca mais quente de todos, onde a temperatura é sempre 4°C ou 5°C acima da média da cidade. Deve ser por isso que os advogados que trabalham lá são os mais empenhados numa campanha da OAB, que quer acabar com a obrigatoriedade do paletó e da gravata. “A gente não pode abrir mão de brigar pela saúde do profissional“, declarou o advogado Marcelo Augusto de Oliveira. No Fórum de Bangu, a OAB contratou enfermeiros para cuidar dos advogados que passam mal. E em defesa da campanha, basta tirar o paletó (...)"

Segundo a Caarj, são comuns os relatos de tontura, náuseas, desmaios e queda de pressão entre os advogados por causa do calor excessivo nesta época do ano. E, atenta a esta questão, a OAB/RJ mais uma vez dispensou os nossos nobres causídicos do uso de paletó e gravata no exercício profissional, como já havia feito em verões passados desde a gestão do então presidente Dr. Wadih Damous. Assim, quem optar pelo não uso desse inadequado traje europeu deverá apresentar-se com calça e camisa sociais. Tal determinação vale até o dia 21/03, quando começa o outono.

Acontece que esta tem sido apenas uma posição da OAB do Rio de Janeiro em que os atos praticados pelo seu atual presidente Dr. Felipe Santa Cruz não têm força suficiente para obrigar os tribunais a tolerar a entrada dos advogados sem terno nas salas de audiência, bem como fazer com que todos os juízes os recebam para despachar. Até mesmo o atendimento feito pelas serventias judiciais pode ser negado se o profissional estiver inadequadamente trajado, hipótese em que o causídico corre o risco de ser tratado como parte e não como profissional. Logo, por mais que se tente liberar os advogados de usarem terno, falta uma lei que proporcione a devida segurança jurídica para todos. Recordemos, pois, do que o Conselho Nacional de Justiça havia resolvido em 2011:

"O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu hoje (21) que os advogados devem usar terno e gravata nos tribunais, a não ser que haja autorização em sentido contrário dos tribunais locais. O CNJ respondeu a um pedido da seccional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), que pedia que a própria OAB determinasse a forma de os advogados se vestirem. A ação da OAB-RJ pedia o fim da obrigatoriedade do uso do terno e gravata para os advogados do Rio de Janeiro durante o verão, quando as temperaturas atingem 40 graus Celsius (ºC). Apesar de fazer referência apenas ao Rio de Janeiro, o pedido era embasado em uma regra geral da advocacia. De acordo com o presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, o Estatuto da Advocacia diz que cabe à OAB regular a forma de vestir dos advogados. A OAB-RJ propunha que os advogados pudessem usar calça e camisa social nas cidades mais quentes. Há dois anos, a OAB-RJ baixou portaria dispensando os advogados do uso de terno e da gravata no verão. No verão de 2009/2010, muitos profissionais foram impedidos de circular nos tribunais por este motivo e a entidade levou o caso ao CNJ. Em um primeiro momento, o conselheiro Felipe Locke determinou que não cabia ao CNJ dispor sobre a vestimenta dos advogados. No verão de 2010/2011, os tribunais dificultaram o trânsito de advogados, e a OAB-RJ acionou o CNJ novamente." (matéria da Agência Brasil de Notícias)

Felizmente, alguns juízes têm se sensibilizado e outros há muito tempo que nem se importam mais com o uso de terno pelos advogados. Neste final de semana, soube primeiramente pelo Facebook que, aqui em meu município praiano, o magistrado da Vara Única teria atendido a um pedido do presidente da subseção local da OAB Dr. Ilson Ribeiro e dispensou o uso do paletó e da gravata até o fim do verão. É o que consta na notícia Advogados de Mangaratiba estão liberados do uso de terno que a redação do periódico Tribuna do Advogado tem divulgado nos sites e redes sociais:

"Atendendo à solicitação do presidente da OAB/Mangaratiba, Ilson Ribeiro, o juiz Marcelo Borges Barbosa, diretor do Fórum, liberou os advogados do uso de terno e gravata durante o verão. De acordo com Ribeiro, os profissionais poderão frequentar audiências vestindo apenas calça e camisa social até o fim da estação. "Apesar de estarmos em uma região litorânea, o calor está intenso, com a temperatura batendo quase 40 graus. Achei o pedido importante e o juiz não fez nenhuma objeção", disse o presidente."

Já no dia 07/01, quando fui despachar uma ação popular sobre meio ambiente com o magistrado, ousei comparecer em seu gabinete sem terno, mesmo sem ainda conhecê-lo. Para minha surpresa, nem o juiz estava vestido com essa inapropriada indumentária forense enquanto trabalhava junto com sua assessora. Não houve qualquer objeção da parte dele e fomos logo direto ao assunto daquela demanda de interesse difuso-coletivo.

Penso que o uso de paletó e gravata deveria ter sido abolido no Brasil desde o século passado! Vivemos num novo tempo que requer menos formalidades bem como contatos diretos e verdadeiros. O respeito pelo ambiente público e pelas pessoas é o que deve importar realmente.

Embora não fosse ainda nascido, venho lembrar que Jânio Quadros (1917 - 1992), durante o seu curto mandato presidencial, desejou implantar o uso do slack indiano como traje padrão no país afim de que o terno viesse a ser em várias ocasiões dispensado. Atentando para a tropicalidade do clima, Jânio propôs, no começo dos anos 60, que, em ocasiões de protocolo menos rígido, fosse usada uma vestimenta oficial que se assemelharia a um uniforme estilo safári, a qual seria mais adequada à realidade brasileira.

Creio que Jânio Quadros poderia ter tido mais sucesso em sua ideia se o uniforme por ele idealizado fosse algo mais original e, ao menos, tratasse de uma coisa socialmente aceita naquela época. Faltou, evidentemente, um pouco de seriedade do nosso ex-presidente quanto à sua proposta, visto que a polêmica por ele suscitada pode não ter passado de mais um de seus truques de comunicação para manter-se na “ribalda”, tal como fez proibindo as rinhas de galo, o lança-perfume nos bailes de carnaval e o biquíni nos concursos de miss.

Como havia compartilhado acima, acredito que a aprovação de uma lei geral pode pôr fim a esse problema em todo o país de modo que o paletó e a gravata se tornariam facultativos no Brasil inteiro. Não apenas nos verões, mas em todas as épocas já que somos um país continental e existem terríveis ondas de calor mesmo no inverno.

Ótima semana a todos!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

As neblinas que tentamos alcançar



"Palavra do Pregador, filho de Davi, rei de Jerusalém: Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?" (Ec 1:1-3; ARA)

Neste ano de 2014, comecei a leitura do livro bíblico de Cohélet (Eclesiastes), o qual, segundo a tradição judaica, teria sido escrito pelo rei Salomão nos dias de sua velhice, pouco antes de morrer. Foi quando o sábio monarca de Israel também teria composto o Shir Hashirim (Cântico dos Cânticos) e Mishlê (Provérbios).

Ainda que para muitos o livro pareça um tanto pessimista, eu diria que o seu autor habilmente provoca nos leitores um choque de realidade com o proveitoso fim de auto-questionarmos as nossas futilidades. A palavra traduzida em muitas bíblias como "vaidade" significa literalmente, no idioma original hebraico, os termos "sopro" ou "neblina". Ou seja, o homem passa a sua vida correndo atrás do não-substancial, das coisas incapazes de preenchê-lo, assim como a água nunca enche o mar, conforme a linguagem poética muito bem empregada no texto:

"Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr." (1:7)

Por mais que as coisas experimentadas pelos nossos sentidos possam proporcionar um imediato sentimento de realização, eis que, com a morte física dos corpos, as obras feitas "debaixo do sol" (ou "debaixo do céu") tornam-se completamente inúteis para o espírito humano. Para quem já não se encontra mais aqui perde todo o significado ter acumulado bens, títulos, fama, notoriedade, muitos seguidores nas redes sociais, prestígio e até mesmo o conhecimento.

Enfim, qual seria o proveito de muitas dessas realizações?

Isso é o que o livro nos propõe a pensar desde o seu começo até a sua conclusão. E aí eu coloco a seguinte questão: será que conseguiremos ficar verdadeiramente livres desse constante desejo de realizar algo?

Creio que faça parte da nossa existência corrermos sempre atrás de alguma coisa. Tal como a Terra gira e o vento sopra continuamente sobre a sua superfície, existe em nós o impulso, sendo certo que precisamos estar bem orientados interiormente em relação à vida para buscarmos as melhores coisas. Logo o livro vem nos ensinar a ter saudáveis atitudes.

Curioso que Cohélet costuma ser lido nas sinagogas judaicas durante o sábado de celebração de Sucót (Festa dos Tabernáculos). As palavras do "Pregador" são então lembradas pelos rabinos justamente numa alegre época de Israel, quando os celeiros encontram-se abastecidos de alimentos e o homem tem a oportunidade de se satisfazer com a sua porção nesta vida debaixo do céu.

Assim, Eclesiastes trás um importante ensino que não podemos negligenciar e daí o seu autor mencionar um tipo de conflito entre as gerações que vão e que vêm (1:4,10-11). Erramos muitas vezes por ignorar as experiências dos mais antigos, daqueles cujos olhos já não se deixam mais enganar por supostas novidades. Daí manter viva na consciência a memória histórica e exercitar a capacidade de reflexão pessoal tornam-se úteis ferramentas para não sairmos por aí tentando apalpar miragens.

Num mês em que muitos de nós gozamos férias (não tem sido o meu caso), creio que a leitura de Eclesiastes será enriquecedora afim de que possamos trilhar 2014 com uma dose maior de sensatez e de sabedoria. Que tal aprendermos um pouco mais da vida com os erros e acertos do velho rei Salomão?

Um excelente final de semana para todos!


OBS: A imagem acima acima trata-se de uma ilustração do rei Salomão feita pelo artista francês Paul Gustave Doré (1832 - 1883). Extraí do acervo virtual da Wikipédia conforme conta em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Dore_Solomon_Proverbs.png

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Meu feliz 2014 a todos!




Caros leitores,

Bom dia!

Quero começar a minha primeira postagem do ano desejando um feliz 2014 para todos o que me acompanham. Quer seja comentando ou apenas lendo as mensagens que coloco aqui.

Entrei no ano novo trabalhando. Tanto em 31 de dezembro quanto no dia 01º de janeiro. E eis que até agora não tive folga! Afinal, estamos na alta temporada turística de verão aqui em Muriqui/Mangaratiba. É o momento em que o comércio local tem a maior possibilidade de vender assim como no período Carnaval. E os dias quentes e ensolarados estão me ajudando com os sorvetes.

Começar o ano trabalhando, embora diminua um pouco as oportunidades de fazer uma reflexão pessoal da vida, tem um efeito diferente para quem fala ou escreve muito, como no meu caso. Mas posso dizer que, ao me calar por uns momentos, sinto-me mais sensível a ouvir aquela Voz que fala dentro de nós. Talvez eu devesse ficar mais vezes em silêncio e aproveitar melhor as mensagens que a Vida quer me transmitir...

Inicio 2014 com humildade, despindo-me de qualquer arrogância de quem pensa ter já aprendido todas as coisas. Pretendo melhorar profissionalmente, procurar outros negócios e quem sabe editar o meu primeiro livro (fruto dos estudos religiosos que realizei sobre o Evangelho de Lucas na segunda metade do ano passado). Nem que seja algo virtual, um e-book. Mas, no momento, estou mesmo é focado nesse exaustivo trabalho com os sorvetes.

Assim, só devo dar um tempinho mesmo é quando chover e no meu dia de descanso semanal em que folgo aos sábados (amanhã) com restrição de várias atividades habituais. É quando procuro guardar o 4º mandamento da Bíblia que fala do descanso sabático - o Shabat. Por isso, do final da tarde de hoje até o pôr do sol de amanhã, entendo que nem escrever artigos devemos fazer. O sétimo dia da semana é para o homem fazer cessar as suas atividades laborais e criativas celebrando a Vida e a Liberdade. Mesmo que estejamos inspiradões para postar algum texto na rede ou fazendo aquele sol na praia, valendo ressaltar sobre a importância de sermos livres de qualquer compulsão. Até mesmo a de ficar na internet ou ganhando dinheiro.

Portanto, meus amigos, desejo-lhes um feliz descanso. Tenham todos um ótimo final de semana e um 2014 cheio de realizações, com muita paz!


OBS: Foto sobre as comemorações do ano novo aqui no município de Mangaratiba, conforme extraída do site da nossa Prefeitura onde consta uma matéria falando sobre o Rèveillon daqui.