Páginas

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma inspiradora revelação sobre quem somos


Os estudiosos discutem interminavelmente se as variadas histórias existentes nas culturas dos povos antigos sobre a criação (e também sobre o dilúvio) viriam de uma fonte comum. Fala-se, por exemplo, em notáveis semelhanças entre trechos do Bereshit (Gênesis) e a Epopeia de Atrakhasis, um poema babilônico sobre o começo da vida em sociedade, escrito há mais de 1600 anos a.C.

Segundo as versões sobre a Epopeia de Atrakhasis, os seres humanos teriam surgido para desempenhar a árdua tarefa dos deuses inferiores em cuidar da terra e foram criados da carne e do sangue de uma divindade. Porém, como os homens começaram a se multiplicar e a incomodar os deuses fazendo barulho, estes decidiram acabar com a raça humana através de um dilúvio...

Prossegue a lenda dizendo que o piedoso Atrakhasis fora advertido em sonhos por um deus acerca da catástrofe planejada e recebeu instruções de construir um barco para salvar-se junto com sua família mais alguns animais. E não muito diferente do Noé da Bíblia, o herói babilônico também soltou aves da arca afim de verificar se as águas já teriam baixado depois das chuvas torrenciais do dilúvio, chegando a oferecer ao final um sacrifício no alto de uma montanha dedicado aos deuses que “sentiram o cheiro suave” (conf. com Gn 8.21).

Questiona-se se a tradição bíblica teria ou não se originado da curiosa Epopeia de Atrakhasis devido às fortes semelhanças entre as duas narrativas. Porém, a existência de histórias anteriores na própria região da Mesopotâmia aponta para um mito originado num tempo ainda mais remoto em que os ancestrais de todos aqueles povos civilizados, antes de conhecerem a escrita, sentavam-se ao redor de uma fogueira para ouvir histórias contadas por um ancião nos acampamentos nômades dos grupos humanos.

Para Alan Millard, professor de hebraico antigo e de línguas semitas da Universidade de Liverpool (Reino Unido), os relatos dos capítulos 1 e 2 de Gênesis teriam os seguintes pontos em comum com outras histórias da criação do mundo e do homem: “uma divindade pré-existente; a criação como resultado de uma ordem divina; o ser humano como o ponto alto da criação, formado do pó da terra como se molda um vaso, mas também de certa forma um reflexo da divindade”.

Contudo, o renomado pesquisador adverte que a existência de ideias semelhantes entre as histórias não significa que todas elas sejam derivadas de uma fonte comum:


“É enganoso reduzir histórias diferentes trazidas das várias partes do mundo aos fatores que têm em comum para afirmar que todas têm uma fonte comum. É improvável que todas essas diferentes histórias, ou uma grande parte delas, tenham uma fonte única. É mais interessante, e mais correto, colocar o texto do Gênesis ao lado de outros relatos do antigo Oriente Próximo, que é o mundo do AT. Ao fazermos isso, notamos que são poucas as antigas histórias de criação que têm mais do que um ou dois conceitos básicos em comum, como a separação entre céus e terra e a criação do homem a partir do barro. Porém, as histórias dos babilônios têm algumas notáveis semelhanças com o relato hebraico.”
(extraído do Manual Bíblico da Sociedade Bíblica Brasileira, págs. 117 e 118)


A meu ver, a existência de uma fonte comum parece bem certa. Pois, mesmo desconhecendo a data e o local onde possa ter se originado a primeira história da criação do cosmos (e do dilúvio), observo na busca por respostas a razão comportamental para a ocorrência de todas as tradições dos povos a respeito de suas origens. Do contrário, os relatos teriam deixado de ser recontados pelas gerações posteriores.

Tudo indica que as histórias de Gênesis foram compostas no meio de inúmeros mitos que já deveriam existir no mundo antigo, tendo o autor da Torá baseado-se numa crença dos hebreus para transmitir-lhes uma mensagem de reverência a Deus dentro de uma visão sacerdotal. Pois, considerando que o povo do segundo milênio antes de Cristo, habituado a enchentes catastróficas, já ouvia falar de dilúvios e criação dos homens pelos deuses, mostrava-se oportuna a utilização dos mitos mais conhecidos pelos israelitas e inseminá-los com um significado espiritual capaz de conduzir os homens a um comportamento ético que respeitasse a vida.

Assim, Gênesis não é uma invenção de seu autor e muito menos foi escrito para se tornar uma dogmática teoria criacionista que contrariasse a ciência. Talvez nem possa ser considerado como uma fonte histórica, no sentido em que hoje compreendemos a História, apesar de suas belas narrativas explicarem poeticamente as origens da vida, da humanidade e da nação de Israel. Aliás, os relatos do Bereshit apenas compõem o revestimento de um ensino profundo, conforme expõe O Livro do Esplendor numa suposta fala do Rabi Simeão ben Yohai, célebre mestre judeu da Galileia do século II:


“Se um homem considera a Torá como uma simples compilação de histórias e de assuntos quotidianos, infeliz dele! Esse gênero de escrita, que tratasse de questões banais, e mesmo um texto melhor, também nós, nós mesmo o poderíamos redigir. Ainda mais, os príncipes deste mundo têm em sua posse livros de um valor ainda mais precioso, que poderíamos imitar se quiséssemos escrever uma 'Torá' semelhante. Mas a Torá, em cada uma das suas palavras, contém verdades supremas e segredos sublimes (…) Assim, os textos que a Torá relata não são mais do que as suas vestes exteriores, e mal daquele que julgue que tal traje é a própria Torá (…) Considerai o seguinte: A parte mais visível de um homem é o vestuário que traz, e aqueles a quem falta entendimento, quando olham esse homem, podem ver nele apenas o vestuário. No entanto, é na realidade o corpo do homem que faz a nobreza das suas vestes e a sua alma é a glória do seu corpo. Acontece o mesmo em relação á Torá. As suas narrativas que descrevem as coisas do mundo compõem a veste que cobre o corpo da Torá. E esse corpo é formado pelos preceitos da Torá, gufey-torah (corpo: princípios fundamentais). Os homens sem entendimento só vêem a narração, o vestuário; mas os que têm um pouco mais de sabedoria vêem igualmente o corpo. Só os verdadeiros sábios, os que servem ao Rei Muito-em-Cima, os que se conservam no Monte Sinai, penetram até à alma, até à verdadeira Torá que é a raiz fundamental de tudo (…) Assim como o vinho deve ser colocado num cântaro para se conservar, assim também a Torá deve ser envolvida numa roupagem exterior. Essa roupagem é feita de fábulas e narrativas. Mas nós, nós devemos penetrar através dela.”


Tais palavras podem ser hoje dirigidas para aqueles que, por acreditarem na teoria de Oparin, ou a da evolução das espécies de Charles Darwin, simplesmente desprezam as histórias de Gênesis, deixando de compreender que as narrativas bíblicas jamais foram redigidas para serem dogmatizadas. Porém, tanto o relato da criação quanto o mito do dilúvio foram escritos pelos sábios afim de comunicarem o papel de Deus na existência do universo e tratar de importantes questões de ordem ética que foram revolucionárias numa época de enorme brutalidade existente no trato entre os seres humanos, de modo que os temas desenvolvidos ao longo do Pentateuco baseiam-se nas narrativas do primeiro livro, sobretudo em ideias relacionadas aos versos iniciais: bondade manifestada por Deus em cada ato criador (1.4,10,18,21, 25, 31); sermos feitos à imagem e semelhança do Eterno (1.26-27); o cuidado com a natureza (1.28; conf. 2.5,15); descanso sabático (2.2-3); relação do homem com o solo (2.7); sopro de vida (2.7); jardim de ensino (2.8); árvore da vida (2.9); árvore do conhecimento do bem e do mal (2.17); a mulher como companheira do homem (2.18), sendo criada do varão (2.21), e se tornando ambos uma só carne (2.24); a nudez (2.25).

Sobre sermos feitos à imagem e semelhança de Deus, Barnabe Assohoto e Samuel Ngewa, ambos teólogos africanos, elaboram o seguinte comentário de aplicação pessoal que se mostram úteis para a compreensão do propósito de Gênesis:


“De acordo com as Escrituras, os seres humanos de ambos os sexos foram feitos à imagem de Deus (1:26b-27). Assim, as pessoas são diferentes de outros seres criados como animais, um fato que tem consequências importantes para a maneira como vivemos. Em primeiro lugar significa que cada ser humano é, de alguma forma, semelhante ao seu Criador. Assim, cada ser humano é especial e importante. Devemos ser capazes de reconhecer o Criador nos homens e nas mulheres que vemos ao nosso redor. Em segundo lugar, significa que não devemos adorar nenhum animal ou a imagem de um animal (…) Em terceiro lugar, uma vez que Deus criou tanto nosso corpo quanto nosso espírito, não devemos considerá-los separadamente e pensar que podemos ignorar o corpo enquanto vivemos para Deus no espírito. As Escrituras deixam claro que não devemos maltratar nosso próprio corpo nem o de outros (…) É importante observar que os homens e as mulheres receberam permissão de exercer domínio sobre as criaturas vivas, mas não sobre seres humanos. Da mesma forma, os homens não receberam autoridade para dominar as mulheres (nem vive-versa). Nossos semelhantes também são portadores da imagem do Criador e, portanto, não devem ser dominados, mas sim servidos.” (extraído do Comentário Bíblico Africano, pág. 11)


Não se pode esquecer que a Torá surgiu num tempo onde havia exploração do trabalho humano através da escravidão, penas cruéis baseadas na regra do Talião, dominação do homem sobre a mulher, adoração servil às divindades antropomorfas ou zoomorfas que poderiam incluir até sacrifícios de pessoas, terríveis reis opressores que se achavam descendentes dos deuses e guerras sangrentas. Logo, dentro deste contexto, pode-se afirmar que os “Cinco Rolos de Moisés”, dos quais Gênesis é o primeiro, tornaram-se a revelação tão esperada pelo escravizado homem do segundo milênio antes de Cristo. O manejo inspirado das tradições antigas significou a resposta para as intermináveis conversas em volta das fogueiras, dando novo sentido às narrativas folclóricas e libertando os homens do jugo dos deuses, visto que somos feitos à imagem e semelhança da divindade, o que nos faz destinatários de um tratamento digno e igualitário no trato entre os homens.

Até quando iremos deixar de ouvir o recado da natureza?


Não costumo postar textos de terceiros aqui em meu blogue pessoal (geralmente quando transgrido a regra, acompanho o artigo com algum comentário), mas este artigo do Boff pareceu-me bem oportuno para uma reflexão sobre as tragédias climáticas que têm ocorrido em nosso país, cada vez mais frequentes e com intensidades maiores. Aliás, concordo plenamente que é o homem quem deve adaptar-se à natureza e não esta ao homem.


O preço de não escutar a natureza


Por Leonardo Boff*


O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais.

Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.

A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco, pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue a nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrário, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.

Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que aí viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.

Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam.

Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d’água. Chico Mendes, com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre, sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências, lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.

No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.

Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.

Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário, teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.


(*) Leonardo Boff é filósofo e teólogo



OBS: A imagem utilizada acima foi extraída do álbum do IBAMA Nova Friburgo no Picasa: http://picasaweb.google.com/ibamanovafriburgo/TrajediaEmNovaFriburgo#5563628807110339170

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Por que a humanidade do Messias assusta?


“Apareceu-lhe então um anjo do céu que o fortalecia. Estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o seu suor era como gotas de sangue que caíam no chão.” (Evangelho de Lucas 22.43-44; Nova Versão Internacional – NVI)


Poucas pessoas sabem e quase ninguém prega numa igreja que os versículos 43 e 44 do capítulo 22 de Lucas são omitidos por alguns respeitáveis manuscritos antigos sobre o Novo Testamento.

Esta perturbadora notícia trás um problema a ser enfrentado pelos estudiosos e que ainda mexe com a fé biblicista de alguns, no sentido dos dois versos terem sido um acréscimo ou se o texto sofreu omissões. Porém, para muitos dos eruditos tais versos realmente têm a ver com o estilo e o cunho do autor do Terceiro Evangelho e, por isso, a redação deve ser mantida nas versões de nossas bíblias.

O que mais me intriga, entretanto, é por que alguns copistas teriam suprimido o referido trecho do Evangelho de Lucas? Quais foram as razões ideológicas que os levaram a omitir um importante detalhe sobre a vida de Jesus?

Lendo os comentários da Bíblia de Jerusalém, encontrei uma preciosa pista para as minhas inquietantes indagações e que vieram a se tornar inspiradoras para o presente artigo. Pois, de acordo com a nota de rodapé (coisa que muitos leitores das Escrituras ignoram), a censura no texto pelo copista seria explicada “pelo cuidado de evitar um rebaixamento de Jesus, julgado demasiadamente humano”.

Ao refletir sobre a história eclesiástica, selecionei dois aspectos relevantes que devem ser considerados. Um é que, nos primeiros séculos da era comum, parecia não haver a mesma preocupação dos dias atuais em se preservar a integridade e a originalidade do texto na transmissão do Evangelho. Outra é que o surgimento da doutrina acerca da divindade do Messias passou a integrar a concepção cristológica da Igreja helenizada do século II em diante a ponto de se tornar um dogma da religião cristã e sufocar qualquer versão mais humanizada do Deus encarnado.

Pode-se dizer que, até hoje, com quase 500 anos de protestantismo, ainda é mitigada a livre interpretação da Bíblia pregada por Lutero, pois a maioria dos cristãos nutre um forte apego pelas suas concepções doutrinárias sobre o Messias, reagindo com intolerância às ambiguidades bíblicas como se toda a Sagrada Escritura tivesse que dar embasamento à formação de uma teologia unificada. Só que, devido a isto, as passagens que contrariam as nossas concepções estabelecidas acabam sendo evitadas, mesmo que inconscientemente. Tudo pela infeliz escolha pelo (cai)chão da doutrina.

Curiosamente Jesus referia-se a si mesmo como o “Filho do Homem” e não tinha inibição para expor a sua humanidade. O Messias, embora tivesse realizado milagres pelo poder do Espírito Santo, não escondeu-se atrás da máscara de super herói. Aliás, ele se derramou em lágrimas quando visitou Marta e Maria pela ocasião da morte de Lázaro.

Sabendo de que também iria passar pela morte, suas emoções ficaram abaladas na cena do Getsêmani, abatendo sobre sua alma o sentimento de angústia. Ali, no Monte das Oliveiras, o homem que tanto amou a vida estava sendo confrontado entre escolher o natural instinto de auto-preservação ou se submeter à vontade de Deus.

Nossa idealização acerca da perfeição do Messias pode tornar-se em péssimo empecilho para que contemplemos a beleza de sua humanidade. Somos atraídos pela racionalização das coisas e queremos definir tudo pelo método aristotélico, criando loucas sistematizações. Em outras palavras , agimos como se tudo precisasse de explicações baseadas na lógica humana.

Todavia, o clamor de Jesus na cruz, em que o Messias recita as dolorosas palavras do Salmo 22, arranha mais uma vez aquilo que nós ocidentais supomos ser um comportamento perfeito. Logo, dizer “Deus meus, Deus meu, por que me desamparaste” expressa uma queixa que se mostra até inconveniente aos nossos olhares. Algo que soa na nossa cultura como uma falta de reverência ao Onipotente significando até mesmo a incompreensão de sua soberana vontade.

No seu sofrimento, Jesus não ficou dizendo Aleluia e nem entoou algum hino de ação de graças. Aquela Hora não dava para ele cantar louvores, mas apenas expressar lamentos. E foi uma tarde tenebrosa caracterizada por grande angústia. Estava morrendo o Messias.

O comportamento de Jesus é para mim a chave para a cura de muitos problemas emocionais com os quais lidamos e daí talvez venha a explicação para que muitos tentem abafar a humanidade do Messias.

Não tenho dúvidas de que olhar para a humanidade do outro implique em considerarmos a nossa. Pois equivale a perceber que estamos nus e que o comportamento falso que praticamos não passa de máscaras e de encenações com o intuito de encobrir quem somos de fato: crianças carentes e ansiosas pelo recebimento de afeto, aceitação e consolo, desejando ardentemente a restauração do ser.

Embora libertador, encarar é nossa humanidade é um processo doloroso visto que ainda sentimos vergonha de nós mesmos e iremos nos tornar pessoas incômodas para outras. Então, ao se deparar com tal dificuldade, muitos acabam repetindo o hábito praticado pelos nossos ancestrais, em cozer folhas de figueira para servir de vestimenta.


OBS: Acredita-se que a escultura acima do Cristo nu seja obra de Michelangelo. Extraí a imagem do site http://www.etudogentemorta.com/2010/01/cristo-nu/

A Regra de Ouro em meio ao caos ambiental


"Não faças aos outros o que não queres que te façam." (bShab 31a)

É impressionante como uma só frase é capaz de resumir os 40 dias em que Moisés ficou na montanha! Quem disse isto não fui eu, mas sim o ancião Hillel, quando um gentio, desejando ser recebido no judaísmo, pediu ao rabi um curso sobre a Torah. Na ocasião, o impaciente prosélito recebeu como resposta do mestre que a frase acima resumia toda a Lei.

Por aquele mesmo tempo, Filo de Alexandria, um filósofo judeu contemporâneo de Hillel, semelhantemente ensinou que "aquilo que alguém não quer sofrer, não deve fazer a outros" (Hipotética 7.6).

Ambos os sábios estavam falando sobre a Regra de Ouro, muito conhecida por pensadores gregos e judeus desde a Antiguidade e que havia sido formulada há vários séculos antes de Hillel, fazendo-se presente em diversas religiões da atualidade (judaísmo, cristianismo, budismo, taoísmo, islamismo, etc).

Pode-se afirmar que, além dos gregos e judeus, o filósofo chinês Confúcio (551 - 479 a.C.), teria formulado-a em seus dias da seguinte maneira: "O que você não quer que lhe façam, não o faça aos demais". E, curiosamente, as tradições dos nossos índios já orientavam os membros da tribo desta forma: "Não queira desfazer do seu vizinho, pois assim como você procura ter bom tratamento, dê o mesmo aos outros".

Em contato com o pensamento judaico e, na certa, manejando intencionalmente as palavras do ancestral Hillel, Jesus também fez aplicação da Regra de Ouro conforme se lê no conhecido Sermão da Montanha do Evangelho de Mateus:

"Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas". (7.12; Nova Versão Internacional - NVI)

Ou, mais resumidamente, taambém aparece em Lucas:

"Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles". (6.31; NVI)

Indubitavelmente Jesus inovou em relação a todos os pensamentos anteriores a ele, fazendo uso de uma incomparável formulação positiva, melhorando o viés negativo. Assim, segundo o Mestre dos mestres, aquilo que quero que seja feito para mim, devo fazer também para o outro, incentivando a prática de uma conduta capaz de envolver uma certa dose de criatividade, reflexão, entusiasmo pela vida e carinho pelo próximo.

Pensando no momento histórico em que viveram Jesus e Hillel, fico a indagar quão preciosas foram as pérolas que aqueles profundos pensadores apresentaram ao massacrado povo judeu. Em meio ao caos político da Judeia sob o opressor domínio romano, com inúmeras injustiças e parte da população passando fome, eis que à primeira vista parece difícil haver assimilação de um ensino tão nobre por pessoas extremamente necessitadas. Contudo, os humildes pescadores da Galileia, que seguiam o Messias Jesus pelas poeirentas estradas da Palestina, absorveram o sentido da mensagem melhor do que muitos ricos e poderosos habitantes dos palácios.

Nos dias de hoje em que a humanidade vive em meio a um caos político, econômico, social, familiar, ambiental e até religioso, a Regra de Ouro de Jesus torna-se a receita adequada para que possamos conviver melhor, promovendo a paz e garantindo a sobrevivência das futuras gerações. Seu ensino não se limita apenas à abstenção de praticar algo ruim para o outro, mas inclui uma atitude construtiva, algo comparável a um talentoso artista capaz de dar desenhos e cores a uma tela vazia.


Recentemente minha cidade de Nova Friburgo, situada na Região Serrana do Rio de Janeiro, foi alvo de uma catástrofe climática jamais vista em toda a sua história. Centenas de pessoas morreram e milhares encontram-se desabrigadas ou desalojadas. Jornais do país inteiro não páram de noticiar o ocorrido todos os dias juntamente com enchentes de outros lugares. Por todo lado ainda se vê rastros de uma tragédia que foi causada basicamente por dois fatores: as construções irregulares em locais impróprios e o aquecimento global.

De acordo com os cientistas, as condições do nosso planeta tendem a piorar cada vez mais nos próximos anos. Catástrofes climáticas como a que se viu este ano na Região Serrana do Rio de Janeiro, em Santa Catarina (2009) ou em Nova Orleans, durante a passagem do Catrina (2005), só tendem a se repetir e cada vez com maior intensidade. Por causa de sua ganância e recusa em deixar de emitir os gases do efeito estufa, o homem está destruindo a única casa que tem para morar, deixando um futuro incerto para as futuras gerações.

É neste contexto que ética e ecologia se encontram, confirmando o ensino do ex-frei Leonardo Boff, autor de dezenas de livros, dentre os quais "A Ética da Vida e Saber Cuidar". Numa entrevista dada à Construir Notícias, Boff responde que:


"A ética surge quando o outro emerge diante de nós. Que atitude tomar diante do outro? Não podemos ficar indiferentes. Mesmo o silêncio é uma atitude. Podemos acolher o outro, podemos rejeitá-lo, subordiná-lo e até agredi-lo e eliminá-lo. Essas atitudes configuram a ética. Ela será benfazeja quando faz do distante um próximo e do próximo um aliado e um irmão e irmã. Nesta perspectiva, bom é tudo aquilo que aproxima as pessoas ou que corresponde de forma benfazeja às realidades circunstantes; bom é tudo o que cuida e expande a vida em todas as suas formas; mau é tudo o que ameaça, diminui e destrói a vida. A regra de ouro da ética quando confrontada com o outro é: 'faça ao outro o que você quer que lhe façam a você'. Hoje pesa sobre a humanidade e o sistema da vida o pesadelo da depredação e até da destruição da vida e do projeto planetário humano. Somos todos vítimas de práticas que exploram pessoas, classes, paises, ecossistemas e o sistema Terra. São éticas anti-vida. Em razão disso, faz-se urgente uma ética salvadora e benfazeja que garanta a vida e o futuro do Planeta. Sem ética e uma cultura de valores espirituais que a acompanham não afastaremos o pesadelo e o encontro com o pior. Precisamos de uma ética mínima fundada do cuidado de uns para com os outros, com a vida e o Planeta, uma ética da cooperação e da solidariedade de todos com todos pois somos interdependentes e só podemos viver e sobreviver juntos, uma ética da responsabilidade que toma consciência das conseqüências benéficas ou maléficas de nossas práticas e uma ética da compaixão que se mostra sensível para quem menos tem e menos é, para que não se sinta excluído mas inserido na comunidade de vida." (extraído de http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=488)


Enquanto muitas das vezes a mídia expõe os moradores das áreas de risco nas encostas dos morros como os responsáveis pelos desabamentos das tragédias das chuvas, as autoridades brasileiras terceiro-mundistas culpam a fúria da natureza. Porém, o que se vê claramente neste país é uma ausência de políticas habitacionais eficientes e que sejam capazes de respeitar o basilar direito à moradia previsto na nossa Constituição Federal.

Ora, tudo isto aponta para a necessidade da ética e não somente para a satisfação imediata de necessidades. Isto porque chegamos a uma crise mundial sem precedentes, em que a sobrevivência do planeta parece estar por um fio, sendo que a humanidade precisa urgentemente colocar em prática uma ecologia capaz de não apenas salvar as baleias ou o mico-leão-dourado da extinção, mas sim incluir socialmente todas as pessoas, oferecendo condições dignas de subsistência, saúde e também educação de qualidade. Só que nada disso se alcança sem trabalhar também os valores espirituais do ser humano.

Inteligentemente Jesus não formulou sua Regra de Ouro do nada. O Mestre, ao dar um novo sentido à frase de Hillel, buscou na Torah (creio que em Levítico 19.18) o fundamento daquilo que disse. Ou seja, o amor ao próximo que assim foi ensinado por Moisés aos israelitas no deserto:

"Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o SENHOR." (NVI)

Pode-se dizer que, nos dias de hoje, o amor já não pode mais ser considerado como uma virtude de um homem piedoso, mas sim de uma necessidade. E, deste modo, mais do que décadas atrás, tornam-se proféticas as palavras do poeta anglo-americano Auden:

"Amem-se uns aos outros, ou pereçam"!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Por que falta autoridade às igrejas nos dias de hoje?


“Ao anjo da igreja em Filadélfia escreva: 'Estas são as palavras daquele que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi. O que ele abre ninguém pode fechar, e o que ele fecha ninguém pode abrir. Conheço as suas obras. Eis que coloquei diante de você uma porta aberta que ninguém pode fechar. Sei que você tem pouca força, mas guardou minha palavra e não negou meu nome'” (Apocalipse 3.7-8; Nova Versão Internacional – NVI) - destacou-se


Nas cartas às sete igrejas do livro do Apocalipse, Jesus manda João escrever ao anjo da igreja na cidade de Filadélfia (situada na antiga Ásia Romana) que tinha diante de si “uma porta aberta”, a qual ninguém poderia fechar. E em tal passagem, o Senhor identifica-se como “aquele que tem a chave de Davi”.

Neste texto, gostaria de meditar a respeito desses os vocábulos portas e chaves, os quais nos dão pistas para o que vem acontecendo com muitas igrejas nos dias atuais. E, antes de chegar às minhas considerações, pretendo fazer o estudo de algumas passagens bíblicas, de modo que peço atenção dos leitores acertos detalhes.

A expressão “chave de Davi” aparece pela primeira vez em Isaías 22.22, na profecia contra Sebna, mordomo do rei Ezequias, o qual iria ser deposto do cargo que, por sua vez, seria entregue a Eliaquim filho de Hilquias. É dirigindo-se ao futuro intendente do palácio que o profeta anuncia que Deus lhe dará as chaves da casa real da dinastia davídica:


“Naquele dia convocarei o meu servo Eliaquim, filho de Hilquias. Eu o vestirei com o manto que pertence a você [Sebna], com o meu cinto o revestirei de força e a ele entregarei a autoridade que você exercia Ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para os moradores de Judá. Porei sobre os ombros dele a chave do reino de Davi; o que ele abrir ninguém conseguirá fechar, e o que ele fechar ninguém conseguirá abrir. Eu o fincarei como uma estaca em terreno firme; ele será para o reino de seu pai um trono de glória [ou assento de honra]” (Is 22.20-23; NVI) - os destaques e as palavras dentro dos colchetes são inserções minhas


O cargo de intendente do palácio real no Israel antigo tinha sua importância para aquela remota época na qual viveu o profeta Isaías, pois se tratava da função de chefiar a casa do rei que, numa linguagem mais simbólica, é descrita pelas atividades de “abrir” e de “fechar” as portas. Em outras palavras, o texto nos diz que Eliaquim iria tornar-se uma espécie de ministro da Casa Civil de Ezequias, um cargo de extrema confiança, equivalente também ao vizir egípcio.

Entretanto, é preciso observar que as chaves da casa real não pertenciam ao administrador e sim ao rei. Pois é o monarca ungido de Israel quem podia nomear e exonerar os seus funcionários, ato que seria praticado a qualquer tempo, conforme os interesses do reino. Logo, é bom frisar que o portador das chaves (o mordomo) só exercia alguma autoridade em nome do rei, encontrando-se numa condição de total subordinação e não podendo deixar de cumprir as direções que lhe foram dadas para agir como bem entendesse.

É neste mesmo sentido que podemos compreender a passagem bíblica de Mateus quando Jesus entrega a Pedro “as chaves do Reino dos Céus”:


“E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la. Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus”. (Mt 16.18-19; NVI) - negritei


Como se pode observar, podemos pensar na figura de duas portas: a do inferno e a do Reino dos Céus. Uma é a porta do império da morte física e espiritual. Já a porta do Reino dos Céus é o acesso para a vida e se relaciona com o apostolado de Pedro e da Igreja para levar os homens à graciosa Palavra do Evangelho que é suficiente para conduzir os homens à salvação completa, estabelecendo nos corações das pessoas o governo de Deus.

Cumpre dizer que contra esta obra da Igreja, os poderes do mal não podem prevalecer, pois se trata do domínio do Rei Messias, a quem foi dada toda a autoridade na terra e nos céus.

Ora, basta lembrarmos das obras feitas por Jesus para confirmarmos como de fato foi exercida a sua autoridade durante o curto ministério desenvolvido pelo Senhor na Galileia. Os demônios não resistiam a Jesus e eram expulsos. Os enfermos ficavam curados. E os mortos ressuscitavam mostrando o poder do Messias sobre a morte, conforme ocorreu na ressurreição do terceiro dia. Também a tempestade acalmava-se ao ouvir a ordem dada por Jesus, o qual humildemente sempre agiu em submissão total ao Pai e dirigido pelo Espírito Santo.

Olhando para a Igreja em Filadélfia, no Apocalipse, podemos ver nela uma diferença para outras igrejas que receberam mensagens de advertência e de juízo. Enquanto algumas igrejas andavam desobedientemente, vivendo uma verdadeira hipocrisia religiosa, Filadélfia perseverou em guardar a Palavra (Ap. 3.10). Assim, o Rei Messias colocou diante dela uma porta aberta qye ninguém jamais iria poder fechar.

Nos tempos de hoje, muitos questionam a ausência de milagres e de prodígios nas igrejas. Eu, em parte, considero esta crítica, mas sem compreender o milagre como um fim em si mesmo, ou muito menos como uma prova da existência do poder de Deus para as pessoas crerem na pregação feita pela Igreja (se alguém vê algo acontecendo não precisa mais de fé). Contudo, mesmo nas igrejas onde seus líderes afirmam haver milagres, o que se vê é muitas das vezes a mais pura farsa, meras encenações que têm por objetivo arrecadar dinheiro das pessoas ingênuas.

Penso que não é tempo de buscarmos as bençãos, mas sim o abençoador!

É tempo da Igreja submeter-se à autoridade absoluta de Jesus e se dispor a cumprir sua vontade!

É tempo para que os cristãos arrependam-se e se convertam com lágrimas e cinzas!

É tempo de retornarmos ao primeiros amor, torarmos o pecado do nosso meio, não tolerarmos as doutrinas perversas e vigiarmos aguardando o retorno do Senhor!

Precisamos reconhecer as nossas miserabilidade, pobreza, cegueira e nudez afim de nos aproximarmos novamente do Evangelho simples de Jesus, de quem podemos adquerir ouro puro, vestes brancas e colírio para os olhos.

Meus irmãos, este é o tempo que Deus tem dado à sua Igreja. E aqueles que ouvirem o seu recado e obedecerem à voz de seu Espírito certamente farão diferença no meio desta geração perversa, preparando o mundo para a volta do Rei Messias. Pois, só assim teremos diante de nós uma porta aberta como tiveram nossos antepassados de Filadélfia, os quais reconheciam o senhorio de Jesus sobre as obras da comunidade

Maranata! Vem Senhor Jesus!


----------------------------

OBS: A imagem acima, extraída do Flickr do Yahoo, é das ruínas da antiga Igreja de São José da Boa Morte, localidade situada no 3º distrito do município de Cachoeiras de Macacu (RJ). Sua construção é da primeira metade do século XIX, embora, anteriormente, já existisse uma capela no local desde 1734. O autor da foto, André Confort Rodrigues, cedeu-a para ilustrar este site. Para ver a imagem originalmente postada, favor acessar este link: http://www.flickr.com/photos/aconfort/3713438243/

O destino das vítimas depois da tragédia


Fazem hoje nove dias que Nova Friburgo sofreu a maior tragédia de sua história na madrugada de 12/01/2011 que, segundo a historiadora da Universidade Cândido Mendes, professora Janaína Botelho, foi o nosso 11 de setembro.

Os telejornais ainda falam da cidade, mas com menos frequência e intensidade do que na semana anterior. Agora as atrações do Big Brother e dos campeonatos estaduais passam a estar mais na mente do telespectador e a grande tragédia climática da Região Serrana do Rio de Janeiro tende a ser esquecida com o tempo. Daqui alguns dias, seremos esporadicamente lembrados em alguma matéria ou outra, ocuparemos alguns minutos da "Retrospectiva 2011" do Globo Repórter no final do ano e seremos citados quando outros possíveis acontecimentos semelhantes ocorrerem no nosso país.

Foram centenas de mortos e milhares de pessoas desabrigadas ou desalojadas na Região Serrana do Rio de Janeiro. Pessoas que perderam suas casas e pertences, sendo que muitas delas não podem nem mais retornar para o imóvel onde se encontravam porque suas residências estão interditadas pela Defesa Civil.

O que será das vítimas desta tragédia daqui alguns meses? Como sobreviverão? Onde que tais famílias poderão reconstruir suas vidas?

É lamentável que, enquanto uma parte do público se sensibiliza e resolve colaborar com suas doações e com o valoroso trabalho voluntário, há pessoas que buscam extrair proveitos com a catástrofe, enquanto a grande maioria do povo brasileiro assiste a TV anestesiada. E os carniceiros aos quais me refiro não se resumem apenas aos comerciantes que inflacionam temporariamente os preços das águas e dos mantimentos, ou dos oportunistas que dão um jeitinho de acumular doações indo em cada ponto de de distribuição com o apoio de entes da família, aproveitando-se da ausência de medidas burocráticas. Estes, porém, são café pequeno perto das nossas autoridades políticas que são verdadeiros lobos.

Muitas doações têm chegado, felizmente, e agora a cidade precisa saber administrar a captação, o armazenamento e a distribuição, bem como as atividades dos voluntários. É lógico que, dentro destas ações, há políticos querendo apenas aparecer e, com isto, retardam a distribuição dos produtos. Outros desejam beneficiar A, B ou C por razões eleitorais, escolhendo locais que nem sempre têm uma estrutura tão adequada quanto outros. Para piorar, ainda tem aqueles safados que, na certa, pensam em meter a mão nesses bens para embolsar uma grana já que nem semrpe dá para fazer um controle.

Porém, nada disso deixou-me mais perplexo do que ter tomado ciência da má notícia em que a Justiça autorizou a desapropriação de uma localidade chamada Fazenda da Lage para a Prefeitura construir lá 3.000 moradias, sendo que, ali, conforme noticiado pela edição de 18/01/2011 do Jornal Nacional, sofreu deslizamentos de terra. Diz o texto da reportagem exposta na internet que:


"Uma área em Nova Friburgo já foi desapropriada para a construção das casas. É o terreno de uma antiga fazenda, afastado 14 quilômetros do Centro e ainda com poucas moradias ao redor. Região que também foi prejudicada pelos deslizamentos. No local, serão erguidos 3 mil apartamentos. Mas a destruição que se vê também nos acessos mostra o tamanho do desafio que as autoridades terão pela frente".
Fonte: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/01/governador-do-rio-diz-que-moradias-serao-construidas-pelo-minha-casa-minha-vida.html


Embora a matéria do JN não diga precisamente onde é que a Prefeitura pretende construir as novas habitações, suponho que se trate mesmo da Fazenda da Laje, situada na região dos distritos de Riograndina e Conselheiro Paulino, aqui em Nova Friburgo. E tudo isto pretende ser feito com recursos do projeto "Minha Casa, Minha Vida" do Governo Federal e contribuições do Governo Estadual.

Mesmo sabendo dos riscos, muita gente que ficou desabrigada aqui em Nova Friburgo vai acabar aceitando adquirir uma unidade habitacional no suspeito projeto da tal Fazenda da Lage. Afinal, essas pessoas não têm onde morar e, mesmo que recebam o "alguel social", não poderão continuar vivendo para sempre deste benefício e, no futuro, elas escolherão entre sair da cidade, morar em casas populares ou se amontoarem em favelas mais próximas.

Num período de calamidade pública, a Prefeitura fica dispensada das licitações e pode fazer comrpa direta. O orçamento público também acaba ficando mais flexível conforme os interesses dos governantes. Logo, alguma construtora será escolhida para fazer as obras e o resto do que vai acontecer nos bastidores acho que não preciso nem dizer. Porém, o que mais me assusta é a escolha de um local que, a princípio, está me parecendo um lugar bem impróprio para a ahabitação popular, uma suposta área de risco.


Estes dias recebi um e-mail de um agente do IBAMA questionando as habitações irregulares da seguinte maneira: "Essas construções têm aprovação da prefeitura? Elas serão retiradas dali? Seus proprietários serão responsabilizados? Ou tudo isso vai ser debitado na conta do AQUECIMENTO GLOBAL?"

A mais pura verdade é que os políticos, afim de ganhar votos nas eleições, permitem que as pessoas construam em locais impróprios. Quando o morador ou a construtora quer a todo custo fazer edificações num determinado lugar, sempre aparece um vereador ou funcionário picareta que vai facilitar as coisas dentro da Prefeitura. Então, como as tragédias não têm tempo certo para acontecer, pode-se dizer que, durante alguns anos tudo corre bem, mas depois, quando o mal acontece, os políticos culpam as chuvas.

Homens hipócritas, corruptos e assassinos! Até quando teremos que tolerá-los?! Até quando a população brasileira vai ficar assistindo a TV anestesiada e incapaz de relacionar as tragédias naturais ao planejamento criminoso das cidades?!

Daqui a pouco mais de um mês, começa o Carnaval e, junto com o futebol, o nosso povo vai se distraindo até o final do ano. E tem também as novelas e outras atrações da telinha, sem nos esquecermos também dos líderes religiosos enganadores que se associam com os políticos para amansar as massas, fazendo com que a religião torne-se aquilo que os filósofos do século XIX já diziam ser "o ópio do povo" (Karl Marx, 1844).




OBS: As imagens utilizadas acima foram extraídas do álbum do IBAMA Nova Friburgo no Picasa: http://picasaweb.google.com/ibamanovafriburgo/TrajediaEmNovaFriburgo#5563628807110339170

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

SOS Nova Friburgo e Região Serrana do RJ - Faça sua doação e ajude-nos!


Bom dia, leitores!

Neste texto não tenho muitas reflexões a fazer. Conforme relatei no artigo anterior, minha cidade foi atingida por uma tragédia de enormes proporções no dia 12/01/2011, havendo centenas de mortos e milhares de desabrigados.

O momento agora é de ação! Nova Friburgo precisa de voluntários e de doações. Logo, quem estiver interessado em colaborar, seguem algumas orientações práticas extraídas do blogue SOS Nova Friburgo:


Produtos de maior necessidade neste momento: vela, fósforo, farinha láctea, mamadeiras, fraldas geriátricas, escova e pasta de dente, gel higienizador, hypoglós e polvilho antisséptico, sal, farinha de mandioca, pão de forma, leite longa vida, biscoito, barra de cereal, achocolatados.
As instituições que estão cozinhando e distribuindo quentinhas precisam de: temperos, quentinhas de alumínio pra facilitar a distribuição das comidas e talheres descartáveis.
Para embalar os produtos que estão sendo doados é necessário: fita crepe, sacos de lixo resistente, sacos de supermercado, caixas.
Outros itens necessários: luvas, máscaras cirúrgicas, material de limpeza, pilhas para lanternas, lanternas.

Fonte: http://novafriburgourgente.blogspot.com/2011/01/repassando-informacoes-sobre-doacoes.html


Algumas igrejas de outras cidades estão nos ajudando, dentre as quais posso citar:

- Igreja Congregacional de Bento Ribeiro

- Igreja Congregacional de Acari

- Igreja Batista de Novo Horizonte

- Segunda Igreja Batista em Rocha Miranda

- Ministério Apostólico Sem Fronteiras

- Primeira Igreja Batista em São João do Meriti

- Comunidade Presbiteriana da Barra

- Igreja da Orla

- Igreja Batista Carioca


Procure um posto de coleta de doações perto de sua casa aí em sua cidade e ajude a socorrer as vítimas de Nova Friburgo e região serrana!


A seguir, disponibilizo um vídeo elaborado pelo Rafael "Feijão", um irmão de minha igreja:





ACESSEM E SIGAM ESTES BLOGUES PARA ACOMPANHAR OS ACONTENCIMENTOS:

http://novafriburgourgente.blogspot.com/

http://secompmnf.blogspot.com/


Uma ÓTIMA semana para todos!

sábado, 15 de janeiro de 2011

Um dia trágico na história de Nova Friburgo




Na manhã desta quarta-feira (12/01/2011), acordei com um helicóptero sobrevoando os céus de minha cidade (coisa rara de se ver num lugar do interior).

Choveu forte a madrugada toda. Eu mal tinha dormido por causa do barulho dos trovões e, por vezes, levantei para ir ao banheiro e beber água. Verifiquei numa das ocasiões que o meu apartamento estava sem luz. Senti fome e lembrei de comer a gelatina na geladeira antes que o doce derretesse. Voltava para a cama mas não conseguia entrar em acordo com a coberta para ajustar-me à temperatura do ambiente.

Logo que levantei, ouvi o barulho do tal helicóptero. Olhei pela janela e fiquei perplexo ao reparar que uma parte dos morros que circundam o centro da cidade tinha desabado. Uma tragédia havia acontecido poucos metros de minha residência.

Dentro de alguns instantes, eu teria um compromisso marcado com o meu cliente, agendado para às 8:40. Tratava-se de uma perícia judicial na área de engenharia, referente a um caso de deslizamento de terra ocorrido em janeiro de 2007 aqui na cidade. Juntos, eu e ele iríamos acompanhar o trabalho do perito engenheiro no local do acidente.

Contrariando meus hábitos de higiene, saí para trabalhar sem banho tomado porque não tinha luz para esquentar a água. Comi um pão de forma com mel e fui.

Ao colocar os pés no lado de fora da rua foi chocante. A portaria do meu prédio e as calçadas encontravam-se cobertas de lama. Vários paralelepípedos e tampas dos bueiros tinham sido deslocados. Porém, o pior eu ainda haveria de testemunhar.

Segui pela Praça Getúlio Vargas que mais parecia devastada por uma guerra. Era lama e água empoçada por todos os lados. Na medida em que eu caminhava em direção ao rio Bengalas, os estragos ficavam cada vez piores. Circulavam poucos carros, mas a todo instante ouvia-se o barulho das sirenes de uma viatura do Corpo de Bombeiros, da Polícia ou da Defesa Civil. As lojas ficaram inundadas de água e em alguns estabelecimentos o nível subiu bem mais do que um metro.

Pela visão parcial do deslizamento de terra que havia observado da janela de casa e com tanta movimentação das equipes de salvamento, não podia nutrir expectativas muito positivas do que pudesse ter ocorrido durante a madrugada e nas primeiras horas da manhã. Não podia imaginar que o barulho que tanto despertava meu sono talvez não fossem apenas os trovões, mas sim terríveis desabamentos de grandes proporções, destruindo casas, prédios, igrejas, ruas e hospitais, atingindo tanto favelas como áreas nobres da cidade. Algo incomparável com as enchentes de 2007, 2005 e de anos anteriores.

Aquelas cenas de destruição que logo de manhã eu estava presenciando ensinavam para mim que, quando chegam as tragédias, elas não avisam o dia e a hora, de modo que apenas podemos prever a época em que eventos deste tipo podem vir a suceder. Contudo, nesta quarta-feira cinzenta, eu estava vivendo um pouco daquilo que podemos imaginar ser um cenário apocalíptico. Era como se eu estivesse no terremoto do Haiti, nos bombardeios da segunda guerra mundial ou fosse vizinho das torres gêmeas do WTC no dia 11 de setembro de 2001.

Às vezes parece que vivemos mesmo num mundo de Alice. Temos nossos sentimentos e consciências anestesiados por um contato artificial com as coisas, sem darmos conta da realidade em que nos encontramos. Não só as programações da TV e a internet distraem nossas mentes, como as comodidades proporcionadas pela tecnologia e a prestação contínua de serviços essenciais fazem-nos esquecer facilmente do ambiente instável onde edificamos as cidades.

Nesta quarta-feira 12, experimentei por longas horas o que é ficar sem luz, sem telefone, sem serviços de transporte e sem condições para trabalhar, o que é de menos em face de tantas tragédias. Vi minha cidade parar e, por um fato da natureza, precisei abandonar um compromisso sem a possibilidade de estabelecer a comunicação através do celular. Também não pude transmitir nenhuma notícia aos meus parentes no Rio de Janeiro, os quais já estavam preocupados desde o dia anterior quando os telejornais tinham informado o desabamento de um prédio no bairro Olaria.

Tristes dias têm sido estes que já começamos a presenciar nas primeiras décadas do século XXI, mostrando-nos um cenário desolador que, pelas previsões dos cientistas ambientalistas, aponta para um período repleto de tragédias climáticas, capazes de por em dúvida a continuidade da espécie humana no planeta. Ou seja, cuida-se de um novo tempo que não só vem confirmar o cumprimento de antigas profecias, mas também denunciar o principal responsável pelas infelizes catástrofes – o homem (nós).

Nestas horas há quem culpe Deus e até blasfeme contra o Nome do Santo. Eu, porém, só posso ser grato ao meu Criador pela sua bondade para comigo, sabendo que Ele entregou uma terra perfeita à humanidade e que s temos destruído com nossa ambição desmedida. Isto porque, ao violarmos as leis da natureza, atraímos um retorno contra nós mesmos, sem que a tempestade faça acepção de pessoas. Pois, quando uma tromba d'água desce, morre o rico assim como morre o pobre e a enxurrada pode levar tanto o poluidor quanto o ambientalista, o justo junto com o pecador, bastando que se esteja em condições de vulnerabilidade.

Após ter aguardado infrutiferamente o meu cliente no local marcado, decidi voltar para casa. Permanecer na rua, junto com uma multidão de curiosos só contribuiria para atrapalhar ainda mais o trabalho dos agentes da Defesa Civil. Aquele tratava-se de um dia mal e ninguém poderia prosseguir nas suas atividades normais. Nada que estivesse ao meu alcance poderia ser feito pelas vítimas e seus familiares, a não ser calar-me, respeitar o sofrimento de meu próximo e ser grato a Deus pela oportunidade de continuar vivo.


OBS 1: O fornecimento de energia só foi retornando a partir da noite de 12/01 (na minha rua a luz chegou na tarde 13/01). O comércio ficou praticamente fechado por todo o dia 12. No dia 13, algumas portas se abriram e ontem (14) já tinha mais estabelecimentos funcionando com longas filas para as pessoas entrarem em mercados, padarias e farmácias. Até hoje não se aceitava pagamento pelo cartão de crédito e não tinha como tirar dinheiro no caixa eletrônico dos bancos que ainda estão fechados. Os serviços de transporte, telefonia, abastecimento de água e internet pararam. Até o momento já foram contabilizados mais de 200 mortos, sendo grande a quantidade de gente desabrigada e desalojada. Só hoje (15) é que consegui acessar a internet. Felizmente eu e minha esposa Núbia estamos todos bem!


OBS 2: As pessoas em minha cidade estão precisando de várias coisas, dentre as quais água mineral, alimentos não perecíveis e de pronto consumo (massas e sopas desidratadas, biscoitos, cereais), leite em pó, cesta básica, colchonetes, cobertores, kits de higiene pessoal e fraldas descartáveis, etc. Minha igreja está buscando uma ação coordenada e os contatos podem ser feitos com o Pr. Robson Rodrigues pelo telefone (22) 9213-3016 e um fixo no Rio de Janeiro (21)3079-0626.


OBS 3: Contamos com as orações de todos!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Se você tivesse vivido na época de Jesus, teria reconhecido-O como o Messias?

“Jesus e os seus discípulos dirigiram-se para os povoados nas proximidades de Cesaréia de Filipe. No caminho, ele lhes perguntou: 'Quem o povo diz que eu sou?' Eles responderam: 'Alguns dizem que és João Batista; outros Elias; e, ainda outros, um dos profetas'. 'E vocês?', perguntou ele. 'Quem vocês dizem que eu sou?' Pedro respondeu: 'Tu és o Cristo'. Jesus os advertiu que não falassem a ninguém a seu respeito.” (Evangelho segundo Marcos 8.27-30; Nova Versão Internacional – NVI)


Esta passagem acima citada, que também aparece nos outros evangelhos sinóticos (Mateus 16.13-20; Lucas 9.18-21), mostra o que as pessoas de fato pensavam acerca da identidade de Jesus na Palestina durante os dias de seu ministério. Pedro, porém, foi decisivo em declarar o messiado do Mestre afirmando ser ele o Cristo.

As palavras Cristo e Messias, respectivamente derivadas do grego e do hebraico, são sinônimos e significam ungido. Relacionava-se com a unção dos reis da dinastia davídica que era feita com óleo pelo sacerdote (conf. com 1Reis 1.39), dando legitimidade ao sucessor do trono. Porém, após o fim do período monárquico, seguido pelas dominações babilônica, persa, grega e romana, o povo judeu passou a aguardar a vinda de um novo rei ungido da descendência de Davi, conforme as promessas feitas através dos profetas. E, nos tempos de Jesus, desejava-se muito a chegada de um messias que fosse capaz de libertar Israel da opressão estrangeira.

Pode-se dizer que, do século II a.C. até o século II E.C., os judeus enfrentaram uma das épocas mais difíceis de sua história em que foi preciso defender a cultura nacional do helenismo. Depois que os romanos anexaram a Palestina, passando a governar a província com o apoio do reinado vassalo de Herodes, a população começou a sofrer uma forte opressão tributária que, juntamente com as condições ambientais da região, agravavam o empobrecimento das camadas sociais mais desfavorecidas. Constantemente surgiam revoltas que eram sufocadas pelo exército imperial e uma maneira de Herodes conquistar a adesão das massas foi promovendo uma reforma do Templo e, com isto, buscar o apoio religioso.

O quadro político da Palestina naqueles tempos mostrava-se como um campo fértil para o aparecimento de homens reivindicando ser o Messias prometido pelas Escrituras. Assim, tornou-se corriqueiro revoltosos e líderes religiosos usurparem tal posição.

Sustenta Israel Knohl, com base em estudos feitos nos Manuscritos do Mar Morte, que existiu um representante da comunidade religiosa de Qumran proclamando ser o Messias na época de Herodes, o Grande. Segundo o pesquisador, catedrático do Departamento Bíblico da Universidade Hebraica, tratava-se de um precursor messiânico de Jesus que, após ter sido morto no ano 4 a.C., teria sido associado pelos integrantes da seita como o servo sofredor do Livro de Isaías, conforme alguns hinos descobertos nas cavernas em que o autor exaltava a si próprio na primeira pessoa do singular:


"Em alguns hinos encontrados entre os Manuscritos do Mar Morto e publicados recentemente, esse Messias anterior [a Jesus] descrevia-se sentado sobre um trono celestial, cercado de anjos. Considerava-se o 'servo sofredor' que trazia uma nova era, uma era de redenção e absolvição, na qual não haveria pecado nem culpa. Essas idéias audaciosas levaram à sua rejeição e excomunhão pelos sábios encabeçados por Hilel. Esse Messias acabou sendo morto em Jerusalém e seu corpo foi deixado exposto por três dias. Seus discípulos acreditavam que ele havia ressuscitado após aquele período e ascendido ao céu. A humilhação, a rejeição e o assassinato do Messias provocaram uma crise de fé entre os seus seguidores. A fim de controlar a crise, procuraram na Bíblia passagens que pudessem ser entendidas como profecias da humilhação e da morte do Messias. Assim, pela primeira vez na história do judaísmo, surgiu um conceito de messianismo 'catastrófico' no qual a humilhação, a rejeição e a morte do Messias eram consideradas como parte inseparável do processo de redenção.” (O Messias antes de Jesus: o servo sofredor dos Manuscritos do Mar Morto. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, págs. 16 e 17)


Achei interessante o referido autor ter descoberto a existência de uma concepção anterior a Jesus que inclui o sofrimento e a humilhação do Messias, o que, no meu entender, atinge até as bases do cristianismo atual. Isto, inclusive, evidencia um dos motivos pelos quais o Vaticano possa mesmo ter buscado impor atrasos na divulgação do conteúdo do inestimável achado arqueológico. Principalmente porque o catolicismo sempre tentou se manter pelas suas tradições que hoje estão sendo cada vez mais questionadas pelas evidências históricas.

Entretanto, vamos tentar mergulhar no interior de um judeu do século I. Pergunto: qual era o tipo de Messias que aquele povo desejava? E como as pessoas poderiam acreditar na ressurreição de mais um Messias já que o anterior, que se auto-proclamava o Cristo, evidentemente, não ressurgiu dos mortos?

Sem dúvida que se Jesus não tivesse iniciado o seu ministério com manifestações do Pode de Deus, curando enfermos e expulsando os demônios, talvez ninguém tivesse compreendido que era chegado o Treino de Deus. Não que tais milagres fossem capaz de gerar a fé, mas eram sinais do verdadeiro Messias, o único capaz de destronar Satanás, “amarrando o valente” e vencer a morte. Para isto, ele ressuscitou mortos antes de ser morto.

Havia autoridade nas palavras de Jesus, o que não ocorre nas referências a exorcismos nos Manuscritos do Mar Morto em que os escritores de Qumran apenas dirigiam-se aos espíritos malignos empregando expressões do tipo “repreender”, “assustar” ou “aterrorizar” (Geza Vermes). Já nos Evangelhos, Jesus silencia os demônios e lhes dá ordens diretas para saírem das pessoas.

Além, Jesus era modesto ao referir a si mesmo. Enquanto o usurpador da seita de Qumran gostava de se auto-glorificar, os Evangelhos sinóticos mostram Jesus falando sobre o “Filho do Homem”, usando a terceira pessoa do singular e não a primeira. E, nos dias de seu ministério, os discípulos foram proibidos de testemunharem a respeito de seu messiado.

Por outro lado, temos no ensino sapiencial de Jesus algo surpreendente. Embora se utilizando dos ensinos de Filo e do ancião Hillel, que representava um ramo mais aberto do farisaísmo, o Senhor Jesus deu uma nova formulação à Regra de Ouro. Até então, Hillel tinha proclamado “não faças aos outros o que não queres que te façam” (bShab 31a). Já Filo de Alexandria escreveu que “aquilo que alguém não quer sofrer, não deve fazer a outros” (Hipotética 7.6). E, antes de Filo e de Hillel, tem-se na literatura judaica a passagem de Tobias 4.15 bem semelhante às citações acima e G. Vermes ainda levanta a hipótese de uma origem mais anterior nos “Ditos de Aicar”, mencionando ainda o livro “Eclesiástico” de Ben Sirac, um deuterocanônico assim como Tobias que não constam na Bíblia Protestante e nem no cânon judaico.

Pois bem. Jesus foi mais além de todos os seus antecessores quando deu uma peculiar formulação positiva à Regra de Ouro que se lê no Sermão da Montanha: “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas” (Mateus 7.12; conf. com Lucas 6.31). E ainda surpreendeu quando ensinou o amor pelos inimigos (Mt 5.43-48; Lc 6.27-28, 32-36), dando a melhor interpretação de Levítico 19.18 sobre amar ao próximo que não foi alcançada pela comunidade de Qumran cuja regra era “amar todos os filhos da luz” e “odiar todos os filhos das trevas” (Q. 1.9-10).

Como se pode notar, Jesus sempre foi o Messias humildade e que sempre desejou ser conhecido pelo incomparável amor demonstrado pelas suas obras, sem precisar de demonstrações de poder, muito embora estivesse sobre ele o verdadeiro Poder de Deus. Com uma personalidade igual a do Pai, o Filho sempre esperou ser encontrado na simplicidade pelas almas sinceras e deixou que os próprios discípulos um dia descobrissem o nobre príncipe que andava com aqueles pescadores pelas águas do mar da Galileia. Um rei que jamais seria achado fazendo barganhas políticas no suntuoso palácio de Herodes e não precisava de uma falsa aparência de piedade como os religiosos.

Sem dúvida, seria muito difícil para um judeu no século I reconhecer o verdadeiro Messias. Ainda mais no meio de pessoas de fina estirpe ou entre aqueles que queriam respostas para os seus problemas imediatos. E muitos, assim como os discípulos de Emaús (Lc 24.13-35), certamente ficaram decepcionados com a morte de Jesus.

Igualmente, penso que não somos muito diferentes daquela geração, pois somos muito influenciáveis pela aparência e nos deixamos seduzir pelo poder e pela satisfação rápida das necessidades. Por termos nascido numa cultura cristã, não acho muito difícil uma pessoa aqui no Ocidente confessar que Jesus é o Messias e segui-Lo como um mito da tradição do cristianismo. Porém, somos lentos em compreender o propósito de sua obra e aquilo que o Senhor quer que façamos no nosso tempo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A fé para lidar com o ateu que existe em cada um de nós


Nós, os que confessamos ser crentes em Deus, muitas das vezes cometemos o engano de achar que somos mais dignos do que os ateus ou seguidores de outras religiões diferentes do cristianismo (ou de alguma de suas variantes). Confundimos erroneamente a fé com o verbo acreditar como se crer em Deus dependesse de uma inabalável convicção literal em todos os acontecimentos bíblicos ou nos pontos principais de uma doutrina eclesiástica.

Por sua vez, muitas das pessoas que estão dentro das igrejas e que passam por algum tipo de dúvida ficam sofrendo os mais infernais conflitos quando não se consideram convictas a respeito de um ponto relevante da “fé cristã”. Uns acham que podem não estar salvos, no sentido de jamais terem se convertido, ou que seus nomes acabaram de ser riscados do Livro da Vida. E muitos preferem permanecer fechados dentro de si mesmos deixando de compartilhar suas dívidas com algum irmão capaz de ajudá-lo e acabam agindo como se estivessem escondendo do próprio Deus onisciente a incredulidade.

Eu considero que a fé está relacionada a algo muito mais profundo do que meramente acreditar. É um estado de confiança e que inclui entrega, dependência e obediência, manifestando-se nas posições tomadas pelo crente em relação aos fatos da vida, os quais podem exigir escolhas radicais. Ou do contrário, como ensinou Tiago, a fé “é morta” (em outras palavras talvez uma fé inexistente).

Não há como negar que todo crente tem em si um pouco de ateu. É um ateísmo presente em nossa velha natureza e que ainda opera em nossa mente mortal, a qual precisa ser renovada a cada dia pela obediência à Palavra.

No entanto, este ateísmo trata-se de uma descrença que nem sempre irá se manifestar pela negação confessional da fé, ou no sentido de questionar a existência de Deus, mas principalmente nas horas de decidir cumprir aquilo que deve ser feito nas mais conflituantes situações.

Eu diria que é devido á incredulidade que muitos homens permanecem trabalhando desonestamente porque não confiam suficientemente em Deus a ponto de deixarem um negócio que lhes rouba a espiritualidade. Por causa dessa falta de fé, muitas pessoas preferem contar uma mentirinha para evitar situações de desconforto. E o mesmo ocorre no momento de ofertar, pois o incrédulo teme que amanhã passará necessidades se der aquela contribuição de modo que o ateu enrustido vive mais por medo do que por fé.

Ora, mesmo as lideranças dentro da Igreja podem ter a fé abalada e isto não as torna piores do que ninguém, mas tão somente humanas. Aliás, por várias vezes Jesus repreendeu didática e amorosamente os seus discípulos chamando-os de “homens de pequena fé”. E ainda assim o Mestre não perdeu a fé no que aqueles rudes pescadores da Galileia poderia se tornar de modo que a história mostrou o quanto tais homens simples e falhos foram capazes de crer em Deus.

A melhor maneira de lutarmos contra a nossa incredulidade não será encobrindo-a, fingindo que a dúvida não existe e que somos os super crentes. Pois o que deve ser feito é o homem assumir diante de Deus a sua necessidade de fé e descansar na graça.

Os três primeiros evangelhos um interessante caso em que os discípulos de Jesus, na ausência deste, não tinham conseguido expulsar o demônio de uma criança. Então, quando o Senhor conversou com o pai do menino, ele respondeu que seu filho, desde pequenino, quando ficava possesso, era atirado no chão, passando a ranger os dentes e espumando. Com isto, o espírito imundo tentava jogá-lo no fogo, ou na água, afim de matar a criança.

Entretanto, a narrativa de Marcos (9.14-29) mostra uma particularidade deste episódio sobre a fé que não encontramos em Mateus e Lucas. Durante o diálogo, o pai da criança pediu a Jesus, se “caso ele pudesse”, que os ajudasse. Admirado com a resposta daquele homem dúbio, Jesus afirma=lhe que “tudo é possível ao que crê”. Então, em sua réplica, o pai do garoto manifestou fé reconhecendo a própria incredulidade e reiterando com isto o seu pedido de socorro:

Imediatamente o pai do menino exclamou: 'Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!'” (Marcos 9.24; Nova Versão Internacional - NVI)

O final daquela história pode ser lido na Bíblia onde os escritores dos três primeiros evangelhos contam que o menino ficou liberto. E depois Jesus responde aos discípulos porque eles não puderam expulsar Satanás ao dizer-lhes que aquela casta de demônios só sai com oração (e jejum segundo alguns manuscritos).

Tal explicação de Jesus infelizmente é mal interpretada como se tratasse de uma fórmula para exorcismos e curas, sendo que, na verdade, o Senhor nunca orava para expelir um demônio. Quando aparecia um endemoniado, Jesus simplesmente ordenava com autoridade para que o espírito imundo saísse da pessoa da mesma maneira como determinava que uma tempestade se acalmasse, ou que os ouvidos do surdo se abrisse, ou que o morto se levantasse. Logo, quem precisava orar (e talvez jejuar) eram os discípulos, provavelmente para que tivessem mais relacionamento com Deus, o que é importantíssimo para o exercício da fé de qualquer pessoa (as orações dos salmos são puras expressões de fé).

Ainda assim, não é pela oração e nem pelo jejum que o homem adquire fé. Esta é frutificada pelo Espírito Santo nos nossos corações. É um dom gracioso de Deus de modo que nenhum homem é salvo por fé e sim pela graça. Ou seja, porque Deus é misericordioso a sua palavra torna-se revelação para nós e aí decidimos seguir a Jesus.

Ora, se somos salvos por graça e não por fé, nada temos a temer se, por algum motivo, a nossa fé vier a vacilar. Nestas horas devemos agir como o pai do menino endemoniado que clamou pela ajuda de Jesus quando reconheceu a própria incredulidade ao invés de se achar um super crente.

Nos momentos de falta de fé devemos nos lembrar de Pedro ao duvidar quando estava andando sobre as águas para encontrar-se com Jesus e acabou afundando. Aí, o apóstolo reagiu com fé gritando “Senhor, salva-me” (Mt 14.30) e Jesus tirou-o das águas colocando-o de volta ao barco.

Precisamos admitir que ninguém na Igreja é um super crente achando que a fé seja resultante de um esforço pessoal, erro que, no fim das contas, acaba sendo uma negação da graça. E, infelizmente, dentro de várias congregações evangélicas há pessoas com terríveis traumas de fé que se sentem bloqueadas para se abrir na comunidade porque temem serem rotuladas como mundanas, incrédulas, desviadas ou fracas.

Quando Paulo falou que nada de bom habitava nele (Rm 7.18), obviamente que isto inclui também a incredulidade de modo que todo crente é também um ateu em potencial

Que tenhamos fé! Nem que seja do tamanho do átomo de um grão de mostarda para pedirmos socorro a Deus nas horas mais difíceis. Aliás, a verdadeira força do homem está em admitir sua própria fraqueza.


Oração pela Fé

Senhor, dá-me fé!
Mesmo quando as circunstâncias em minha volta fizerem-me desacreditar na tua permanente companhia.
Mesmo se os recursos faltarem, a fome bater e as preocupações com o meu sustento surgirem, dá-me fé.

Nas enfermidades e na hora da dor, dá-me fé.
Na escolha pelo caminho estreito e apertado, quando na minha frente há uma estrada larga e pavimentada para trafegar, dá-me fé para te obedecer.
Se a perseguição, a dúvida ou a incerteza vierem me cercar, sustenta a minha fé. E venha depressa me socorrer.

Que eu tenha fé para não pecar.
Fé para ao mundo renunciar sem me ensoberbecer.
Fé para servir e amar.
Fé para me arrepender se errar e, com graça, continuar.

Com fé não vou me desesperar diante da morte porque sei que, quando tua voz me chamar, eu vou ressuscitar.
Tu estarás para sempre comigo. Não importa o que acontecerá.
Então, quando o coração parar de bater, um novo fôlego de vida em mim vai entrar e a ti eu vou para sempre louvar.

Sim, Senhor. Dá-me fé!

Muito obrigado pela tua graça.
Amém.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O rei que preferiu montar num animal de carga...


Muitos entendem a entrada messiânica de Jesus em Jerusalém como algo que teria se cumprido mística e involuntariamente para dar validade à citação de uma profecia de Zacarias pelos evangelistas com a finalidade de confirmar o seu messiado.

No entanto, considero superficial não investigar os motivos do acontecimento registrado nos quatro Evangelhos (Mt 21.1-11; Mc 11.1-11; Lc 19.28-38; Jo 12.12-16) pois o fato de Jesus entrar na Cidade Santa transportado por um jumentinho certamente ultrapassa a mera prescrição das Escrituras a respeito do Cristo prometido.

Segundo o Talmude palestino, era comum os peregrinos entrarem em Jerusalém montados num burro antes da Páscoa, o que alimentava negócio dos condutores de jumentos (yBer 13d). Por sua vez, a profecia de Zacarias, datada de uns 400 anos antes de Jesus, faz menção ao uso de uma aparato modesto pelo Messias que significa renúncia aos ornamentos dos reis históricos (comentários da Bíblia de Jerusalém – BJ).

Na sucessão de Davi, enquanto o usurpador Adonias apresentou-se com carros e cavalos afim de tentar se impor como rei perante o povo de Israel (1 Reis 1.5), seu irmão Salomão, o herdeiro escolhido por Deus, montou na mula do pai (verso 38) afim de ser ungido pelo sacerdote Zadoque e pelo profeta Natã ao toque do Shofar. E, com isto, todo o povo seguiu o novo rei (v. 40).


Ora, Adonias, cuja mãe se chamava Hagite, tomou a dianteira e disse: 'Eu serei o rei'. Providenciou uma carruagem e cavalos, além de cinqüenta homens para correrem á sua frente”. (1 Rs 1.5; Viva Versão Internacional – NVI)

Então o sacerdote Zadoque, o profeta Natã, Benaia, filho de Joiada, os queretitas e os peletitas fizeram Salomão montar a mula do rei Davi e o escoltaram até Giom.” (1 Rs 1.38; NVI)


De modo semelhante, a decisão de Jesus em apresentar-se montado sobre um jumentinho foi uma escolha planejada e que tinha por objetivo transmitir sua mensagem para aquela geração, usando uma imagem que já estava no pensamento coletivo do seu povo. Com aquele gesto, Jesus estava colocando-se numa posição de inegável humildade tal como fizera Salomão quanto às pretensões ambiciosas de Adonias.

Ora, da mesma maneira que Adonias precisava demonstrar força para esconder sua ilegitimidade quanto ao trono de Davi, Satanás também busca seduzir os homens através de um falso poder ao passo que o Messias preferiu esconder-se na simplicidade. O uso de um animal de carga contrapõe-se ao transporte por cavalos e carruagens tal como faziam os antigos egípcios, sendo que o 611º preceito da Torah diz que o rei não deve ter muitos cavalos (Deuteronômio 17.16), justamente para que sua confiança estivesse baseada em Deus, conforme muito bem detalha este Salmo:

Nenhum rei se salva pelo tamanho de seu exército; nenhum guerreiro escapa por sua grande força. O cavalo é vã esperança de vitória; apesar de sua grande força, é incapaz de se salvar.” (Salmo 33.16-17; NVI)

Assim, Jesus chegou em jerusalém sem nenhum exército para expulsar o invasor romano, mas sim para ser morto e derramar o seu sangue numa cruz. Ou seja, ele veio lavar suas vestes “no sangue das uvas”, conforme fora previsto muitos séculos antes pelo patriarca Jacó ao profetizar sobre o filho Judá, do qual descendem Davi e o Messias salvador de Israel:

Ele amarrará seu jumento a uma videira e o seu jumentinho ao ramo mais seleto; lavará no vinho as suas roupas, no sangue das uvas, as suas vestimentas.” (Gênesis 49.11; NVI)

Pensando na aplicação prática deste estudo, creio que podemos tirar como lição a importância de anunciar o Evangelho de Cristo com simplicidade, como se estivéssemos também montados sobre um jumentinho.

Vivemos hoje um tempo em que várias denominações cristãs buscam novos adeptos através de recursos que causam falsas impressões de poder nas mentes das pessoas. Enquanto o papa apresenta-se ao público em finos trajes, líderes de igrejas evangélicas também agem da mesma forma e parecem confiantes nos seus mega-templos, no marketing religioso e nas técnicas de comunicação em mídia. Parece até que foi esquecida a recomendação dada por Jesus aos seus discípulos quando os enviou a pregar nas cidades de Israel:

Não levem nem ouro, nem prata, nem cobre em seus contos; não levem nenhum saco de viagem, nem túnica extra, nem sandálias, nem bordão; pois o trabalhador é digno do seu sustento.” (Mateus 10.9; NVI)

Que também possamos montar sobre o nosso jumentinho e voltarmos a pregar a Evangelho com toda a humildade que a Bíblia determina, lembrando-nos do exemplo simples deixado por Jesus.

Exaltando a fidelidade de Deus

É maravilhoso saber que Deus é fiel à sua Palavra. Mesmo que sejamos infiéis, Ele não pode negar-se a si mesmo e mantém firme a sua aliança.

A seguir, compartilho mais um vídeo do cantor Asaph Borba, disponibilizado no Youtube pela Adorarnet:


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A medida com que medimos os outros


Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.” (Evangelho segundo Mateus 7.1-2; Nova Versão Internacional – NVI)

Esta citação bíblica acima que aparece no tão festejado “Sermão da Montanha” e também em outras passagens dos três primeiros Evangelhos, os sinóticos, mostra a aplicação por Jesus de um antigo ditado judeu cujo significado é “medida por medida” (hebraico middah keneged middah).

A primeira impressão que temos é que Jesus esteja falando de um juízo escatológico no qual o homem será “medido” por Deus na mesma proporção em que ele tratou os seus semelhantes quanto aos julgamentos.

De fato, não se pode negar que há uma vinculação da citação de Mateus com o conceito de julgamento. Ainda mais se fizermos um estudo comparativo com o Evangelho de Lucas (ver Lc 6.37-38 e 8.18), o que, por sua vez, não se distancia da ideia de um julgamento conforme a consciência de cada um.

No entanto, prefiro utilizar a aplicação da medida por medida mais no âmbito da convivência humana do que em relação a julgamentos futuros e acho que Jesus também teve este objetivo quando usou por pelo menos umas três vezes aquele ditado popular. Isto porque este basilar princípio tem por finalidade a tolerância incondicional do outro com seus erros e falhas afim de todos sermos igualmente aceitos aqui na comunidade dos vivos com os incorrigíveis defeitos que temos. É o que Tiago nos ensina indagando em sua epístola:

Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir. Mas quem é você para julgar o seu próximo?” (Tg 4.12; NVI)

De acordo com este mesmo ensino de Tiago, quem julga o outro usurpa o lugar de Deus, o que significa também uma quebra da lei régia do amor.

O certo é que deixamos de compreender mais do Reino de Deus quando nos colocamos na posição de juiz das pessoas, pois ficamos sem contemplar o reto juízo do Onipotente para tentar impor nossa própria (in)justiça, excluindo homens e mulheres do convívio comunitário.

Ora, se eu me mostro compassivo, paciente e perdoador dos meus irmãos, posso contribuir para que haja no meio social dívidas de bondade e atos de misericórdia que se multiplicam, o que serve de ajuda para os incrédulos entenderem o amor divino. Pois, assim como Deus me perdoa sempre, lançando meus pecados no mar do esquecimento, sinto-me constrangido a perdoar também o meu próximo cujas faltas em seu relacionamento para comigo jamais vão superar aquelas que já cometi (e ainda faço) no tocante à Vida e seu Autor.

Minha conclusão é que o santo ensinamento de Jesus estudado neste despretencioso artigo destina-se mais para o aperfeiçoamento das relações entre os homens do que para nos apavorar com um rigoroso julgamento futuro (quem é que nunca julgou injustamente o seu próximo?).

Acredito que todos os que se colocam debaixo da graça de Deus estão salvos e o resultado deste perdão imerecido é o reconhecimento de que não temos moral alguma para condenar as outras pessoas pelos decepcionantes erros cometidos por elas por mais que sejam atitudes reiteradas.

Portanto, se queremos promover uma convivência harmoniosa, capaz de trazer para a Terra uma experimentação do Reino de Deus, devemos nos abster de julgar, praticando o auto-conhecimento que nada mais é do que o exame pessoal de nós mesmos. Aliás, este ensino encontra-se também no Sermão da Montanha como continuação da primeira passagem bíblica citada neste texto:


Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: 'Deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.” (Mt 7.3-5; NVI) - conferir com o Evangelho de Lucas 6.41-42 e o Evangelho apócrifo de Tomé 26

Um começo de verão não muito quente, porém chuvoso


Muitos falam que em Nova Friburgo faz as quatro estações do ano num mesmo dia. Porém, mesmo havendo uma certa dose de exagero neste comentário, de fato o tempo daqui é bem instável. E, com o aquecimento global e as mudanças que vêm ocorrendo no planeta, a tendência do nosso clima na região serrana é oscilar também.

Nestes primeiros dias do ano, tem chovido cotidianamente e isto faz cair um pouco a temperatura. Eu e Núbia temos dormido de cobertor até agora e, quando estou em casa, às vezes fico de meia e até chego a colocar um casaco simples. Já a minha sogra, que veio de Niterói com minha cunhada Sandra passar o Reveillon conosco aqui na serra, passa uma boa parte do tempo enrolada na coberta enquanto assiste TV na sala.

Não vou dizer que estranho este acontecimento pois me recordo razoavelmente dos verões passados de Nova Friburgo e sei que esfriamentos como este podem muito bem acontecer em épocas do ano como esta. Inclusive, já houve vezes em que o verão só chegou mesmo lá para meados de fevereiro e março, prolongando os dias de calor até o mês de abril.

Entretanto, os dias frios de verão não se comparam com aquelas madrugadas geladas do inverno. Recordo quando era preciso aquecer a cama com quatro cobertores, mas ainda assim o corpo demorava para se ressentir do frio. E, se no inverno tinha vezes que nem a calça de moletom era suficiente, certamente que nada se compara a este calorzinho tímido do verão em que posso ficar tranquilamente de bermuda, embora passe a maior parte do tempo de meia e agasalhando o peito.

Em que pese a friagem que a chuva trás, não seria tecnicamente correto afirmar que a temperatura estaria mais baixa porque seria um grande equívoco. Na verdade está é mais quente pois, mesmo que os termômetros marquem menos dos 20ºC aqui na cidade, deve-se considerar que o aumento dessas chuvas de verão está relacionado justamente com o aquecimento global.

Mês passado (dezembro/2010), houve dias em que a minha rua chegou aficar inundada por alguns instantes durante as chuvas fortes. E, segundo já me contaram, seria por causa de uma suposta obstrução nos bueiros causada pela companhia telefônica de modo que as águas que vêm de dois bairros acima não seriam totalmente absorvidas pela rede e chega a inundar as calçadas entrando nas lojas e nas portarias dos edifícios. Aí, quando a chuva diminui, as coisas voltam ao normal em alguns minutos.

Entretanto, a situação da minha rua em nada se compara com os problemas dos moradores das áreas de risco que são sujeitas a enchentes nas margens de rios e deslizamentos de terra em locais próximos às encostas dos morros.

No mês de janeiro de 2007, Nova Friburgo passou por maus pedaços com as chuvas de verão. Houve mortes, alagamentos e muitos desabamentos. Naquele ano, um cliente meu teve destruída a casa onde residia no bairro Vale dos Pinheiros e, por pouco, ele não se encontrava no morro que foi levado pela avalanche de terra que desceu morro abaixo atingindo a casa. Então, por causa disto, ele perdeu parte de sua mobília e do material de trabalho que necessitava para trabalhar, de modo que até agora ele está processando a Prefeitura pela omissão do Poder Público.

Por estes dias assisti na TV a mais uma tragédia ocorrida em Petrópolis e desejo que, em 2011, os episódios de quatro anos trás não se repitam aqui em Nova Friburgo e nas outras cidades. Só que não podemos negar a nossa falta de adaptação a uma região originalmente coberta pela úmida floresta tropical de altitude, com altos índices de pluviosidade (um dos motivos da exuberância de nossas matas), mas que sofreu supressão da vegetação nativa para a construção de cidades e estradas.

Com tantas mexidas no meio ambiente, é de se esperar que as constantes quedas de barreiras e as cheias dos rios sejam uma resposta da natureza à ignorância do homem, o que acaba trazendo enormes prejuízos econômicos e a inestimável perda de vidas humanas. E, infelizmente, os governos ainda não lidam com a natureza de maneira harmônico e fazem dos desastres ecológicos um motivo para gastar mais dinheiro com coisas ineficazes.

Enquanto que os alemães estão quebrando os muros de concreto dos rios, afim de revitalizar as suas margens, os governos municipal e estadual têm gastado rios de dinheiro desde o final do século XX para violentar o nosso rio Bengalas que corta Nova Friburgo com o pretexto de resolver os problemas das enchentes que são registrados desde o início da cidade nos anos de 1820 (ver o excelente artigo da historiadora Janaína Botelho foi publicado no seu blogue*). Porém, é uma obra que só gera gastos sem fim, sangrando os bolsos dos contribuintes e transtornando a vida dos moradores localidade de Conselheiro Paulino, situada à jusante da sede do município, devido ao inevitável aumento da vazão.

Nesta guerra climática são geralmente os mais pobres aqueles que mais sofrem e nisto não vejo outro responsável maior do que o próprio homem. A cada ano, nossos políticos e autoridades preferem culpar as chuvas pelos desastres ambientais sendo que é a a ganância dos poderosos, juntamente com a falta de políticas habitacionais eficientes e a maneira como lidamos com a natureza que têm contribuído de forma decisiva para estas situações de calamidade pois, afinal, não é a natureza que precisa se adaptar a nós, mas sim o contrário.

Mesmo indignado com o descaso das nossas autoridades e sabendo que o meu poder de ação é limitado, vou vivendo meus dias de verão atípico com temperaturas amenas, reconhecendo na chuva a generosidade de Criador. Um Deus que nos entregou uma terra perfeita e nós a estragamos.


(*) O texto da historiadora encontra-se em: http://historiadefriburgo.blogspot.com/2011/01/as-enchentes-do-velho-sao-joao-das.html

OBS: A data da foto está errada. Ainda não consegui programar a câmera digital...

Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Graciosamente novo


Foi mais um ano que passou e eis aí um outro que começa seguindo o calendário solar da civilização do Ocidente.

Geralmente, nesta época, as pessoas costumam fazer suas reflexões e elaborar planos para um novo período de suas vidas, às vezes com futuras metas a serem alcançadas. Também é comum elas desejarem boa sorte umas às outras para que os seus sonhos se concretizem, sendo que alguns têm o hábito de fazer simpatias, enquanto outros dão três pulos para frente na hora dos fogos, ou acreditam que serão bem sucedidos se comerem romã ou uva à meia noite, dentre outras superstições.

Ao lado das comemorações de feliz ano novo, creio ser indispensável refletirmos permanentemente sobre o bem e o mal que praticamos, removendo do nosso comportamento tudo aquilo que é capaz de gerar desconexões com a vida. Ou seja, precisamos arrancar coisas que só envenenam o nosso ser, as quais trazem tristezas, solidão, separação, amargura, inimizades, desilusões e morte.

A Bíblia nos ensina sobre todos esses contrastes, usando figuras como “luz” e “trevas”, “bem” e “mal”, “vida” e “morte”. Seus autores também nos falam no “novo” e no “velho” que se aplica a diversas situações, sob pontos de vista diferentes em cada passagem, mas que conduzem numa mesma direção: a vida, a eternidade, a união, a reconciliação, a paz, o amor, a alegria, a compreensão, a aceitação, a verdade, o nosso próximo e Deus.

Num mundo onde todos envelhecem, a Bíblia diz sobre sermos algo que inova (ou se renova), mesmo que, aparentemente, morra. Sua proposta é que internamente sejamos sempre jovens e revitalizados, não deixando que as situações do cotidiano façam de nós pessoas frustradas e que carregam consigo infelicidades. Porém, ao invés de sermos desgastados pelo tempo, somos convidados por Deus para nos tornarmos crianças novamente “porque o Reino dos Céus pertence aos que são semelhantes a elas” (Mateus 19.14; NVI).

Como alguém pode nascer, sendo velho?” - perguntou o mestre Nicodemus a Jesus, quando o Senhor havia lhe declarado que “ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”. E, nesta passagem do Evangelho, Jesus estava dizendo a um notável estudioso das Escrituras que ele e os demais doutores da Bíblia precisavam nascer outra vez.

Todavia, a verdade é que o nosso estado de desconexão requer uma radical desconstrução afim de podermos enxergar a Vida, o que Jesus chamou de “novo nascimento”. E, certamente, aqui o Senhor não se referiu à re-encarnação, sobre alguém passar pela experiência ritual do batismo ou muito menos a pessoa tornar-se membro de uma igreja evangélica. Pois, estudando João 3.3 no seu idioma original (o grego koiné), pode-se verificar que o editor do quarto Evangelho tentou transmitir aquele ensino através da palavra “anóthen” que também significa “do alto” que, por sua vez, representa um nascimento que vem de Deus, conforme uma citação anterior que se acha logo no início do livro:

Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por descendência natural (gr. de sangues), nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus.” (João 1.12-13; NVI)

Certamente que o nascer de novo não depende do nosso próprio esforço. É fruto gerado pelo Espírito Santo através da santa semente plantada em nossos corações – a Palavra de Deus. Logo, o novo nascimento só pode decorrer da mais pura graça, sendo um presente dos céus dado aos homens, os quais, mesmo envelhecendo na idade, resolvem retornar para a escola da vida e serem alunos outra vez. São homens que deixam o Espírito agir em seus corações sem oferecer resistência a Deus.

O segredo do novo nascimento está no acolhimento da Palavra de Deus como uma criança, conforme nos ensinou Jesus:

“Alguns traziam crianças a Jesus para que ele tocasse nelas, mas os discípulos os repreendiam. Quando Jesus viu isso, ficou indignado e lhes disse: 'Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele'. Em seguida, tomou as crianças nos braços, impôs-lhes as mãos e as abençoou”. (Marcos 10.13-16; NVI)

Com a mesma inocência humilde de um pequenino, Jesus, o Verbo encarnado, foi recebido em seu tempo pelas prostitutas, publicanos e pecadores. Porém, os religiosos, os caras cultos, os estudiosos das Escrituras e os homens poderosos tornaram-se cegos à presença do Messias. Só que a tais pessoas a escola da vida reprovou.

Finalmente quero compartilhar que o novo nascimento não pode ser compreendido como algo pronto e acabado a ponto do homem gerado pela semente espiritual não precisar submeter-se mais a um processo de desconstrução e reconstrução.

Muito pelo contrário!


O novo nascimento é também o contínuo processo que, figurativamente podemos comparar a um rio cujo mover das águas não cessa. É o que Paulo nos ensina nestes versículos da carta à Igreja em Éfeso para que os seus destinatários se revestissem do “Homem Novo”:

“Assim, eu lhes digo, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os gentios, que vivem na inutilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento do seu coração. Tendo perdido toda a sensibilidade, eles se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda espécie de impureza. Todavia, não foi isso que vocês aprenderam de Cristo. De fato, vocês ouviam falar dele, e nele foram ensinados de acordo com a verdade que está em Jesus. Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade prevenientes da verdade.” (Ef 4.17-24; NVI)

Este Homem Novo do qual Paulo fala é ao mesmo tempo o Messias e o protótipo da nova humanidade recriada. Uma nova criação que se faz na pessoa de Jesus, em sua morte e ressurreição, de modo que nos tornamos também a “nova criatura” de 2 Coríntios 5.17, sendo chamados para viver em justiça e santidade da verdade.

Ninguém que ainda se encontre neste mundo está imune ao pecado. Porém, aí está a grande diferença da nova criatura para a velha. Pois, mesmo sem alcançar perfeição, quem é nascido de novo edifica-se em santidade através da verdade, abrindo o seu interior para o tratamento de Deus porque nada pode ser ocultado aos olhos do Eterno. Assim, a autêntica santificação deve ser buscada pela sinceridade sem o fermento da religiosidade que é a hipocrisia, conforme ensinou Jesus:

“Nesse meio tempo, tendo-se juntado uma multidão de milhares de pessoas, ao ponto de se atropelarem umas às outras, Jesus começou a falar primeiramente aos seus discípulos, dizendo: 'Tenham cuidado com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido. O que vocês disseram nas trevas será ouvido na luz do dia, e o que vocês sussurraram aos ouvidos dentro de casa, será proclamado dos telhados'”. (Lucas 12.1-3; NVI)

Deus quer que sejamos uma nova massa sem o nocivo fermento da religiosidade, a qual corrompe o homem impedindo-o de ser sincero e de apresentar-se sem máscaras. Pois, enquanto a pessoa esconde-se por trás de um falso comportamento religioso, o seu interior permanece fechado em trevas e ela mesma impede a iluminação da Divina Luz. Então, tal homem não se encontra mais num estado de permanente renovação e volta a envelhecer espiritualmente, fingindo apenas ter a aparência de quem um dia brilhou. E seu verdadeiro rosto passa a ficar encoberto para que os outros não vejam mais suas humanas expressões.

Não é por menos que Jesus exortou seus discípulos a ficarem atentos quanto ao fermento dos fariseus (leia-se hoje em dia a realidade). Conhecendo a natureza humana mais do que ninguém, o Senhor sabia o quanto somos capazes de transformar o seu Evangelho numa perniciosa doutrina legalista e que nega a graça salvadora. E a história do cristianismo está aí para provar o quanto a injustiça da Igreja excedeu em muito a dos fariseus, dos saduceus e dos herodianos juntos. Uma Igreja que até hoje vem assassinando de diversas maneiras os seres humanos feitos à imagem e semelhança de Deus, pelos quais Cristo morreu, mas se vangloria em de intitular a si mesma como “santa”. E tais homicídios ainda ocorrem quando tentamos impor sobre as pessoas um evangelho de culpas, ensinando mandamentos de homens e roubando a verdadeira adoração ao Eterno, a qual deve ser celebrada com a sinceridade de João 4.23-24, como o louvor das pequeninas crianças.

Seremos uma nova massa se tirarmos de nós o velho fermento, tornando-nos aquilo que de fato somos. Pois, em sua essência, o homem foi criado puro como um pão asmo e ficou levedado pela adição do corruptível ingrediente do pecado. Mas agora, em Cristo, somos chamados para uma nova vida de pureza interior sem nada a ocultar, sabendo que estamos amparados pela graça salvadora de Deus, o qual aceita-nos como somos, não pelo que temos ou fazemos.

Ora, é no caminho da graça que devemos sempre estar para que sejamos renovados a cada momento. Compreendendo o que é a graça, o homem pode sempre continuar sua trajetória, corrigir rotas, levantar-se de cabeça erguida, retornar ao seu ministério e adorar o Eterno Criador com total liberdade, sem nenhuma culpa.

Que neste 2011 que se inicia possamos verdadeiramente andar assim, amparando-nos na divina graça e permitindo que o Eterno nos ilumine interiormente.

Caminhemos na novidade da graça! E, como dizem os judeus, Shanah Tovah Umetukah.