Em mais uma madrugada de sono perdido, o trabalhador brasileiro, agora um desempregado pela crise econômica, ergue os olhos para as montanhas e indaga de onde o seu socorro possa vir. No entanto, apesar de ter fé, nenhuma ajuda chega em sua direção pois os que criaram a ordem política e social fazem de tudo para se beneficiar das sobras dos recursos do país que eles próprios contribuíram para escassear.
Se quando deixou a empresa em 2015, o trabalhador ainda conseguiu por um tempo obter uma pequena renda extra (a princípio um pouco maior do que seu salário líquido quando era empregado), agora a situação está complicada. Com mais pessoas na mesma situação que ele, tornou-se arriscado aventurar-se nas águas do empreendedorismo porque os seus clientes já não têm tanto dinheiro para comprar os produtos que vende de porta em porta. Menos ainda acompanharem os necessários reajustes inflacionários.
As dívidas vão se acumulando nas contas do trabalhador, o qual já não se sente alguém tão digno de viver nesta terra de injustiças. Em pleno gozo do final de semana, a sua geladeira encontra-se vazia porque, além da falta de dinheiro, tudo ficou caro no supermercado de modo que já não dá mais para levar pra casa um queijo, os ingredientes para o bolo ou até determinadas frutas. Para não deixar de comer, ele já cortou seu plano de saúde, pretende matricular os filhos numa escola pública e traça agora um plano de sustento sobre a melhor maneira como poderá ficar inadimplente nos meses seguintes.
Para piorar as coisas, o temeroso governo da republiqueta pretende ainda arrochar mais a sua vida visto que certas minorias não querem abrir mão dos privilégios que têm no enfrentamento da crise. Corruptos continuam sendo acobertados e os projetos que deveriam ser votados pelo Congresso para combater a safadeza não são vistos como prioridade por quem se encontra no poder. Aliás, tais medidas nem são bem vindas pelos que administram e legislam (em causa própria).
Desperto para a realidade, o injustiçado trabalhador se sente só. Ele tropeça, cai na dureza do solo e não há quem o segure a fim de evitar o doloroso tombo. Nos dias quentes, o sol o molesta porque se tornou proibitivo ligar o ar condicionado. E, nas noites frias, fica complicado usar o aquecedor pelas mesmas razões. O mal ameaça a sua vida e os que tanto pregam a proteção vinda de um senhor metafísico preferem quase sempre se omitir quanto à solidariedade, escolhendo edificar os templos de pedra onde se engaiolam ao invés de unirem seus trocados para salvar o próximo.
Enfim, de onde virá o socorro? Chegará esse trabalhador a algum lugar? Porém, mesmo com a sua fé abalada e uma profunda decepção pela vida, no fundo ainda lhe resta aquela pontinha de esperança no coração amargurado. Afinal, é mais um dia que acaba de amanhecer para ser pacientemente suportado no paraíso que fora transformado pela (des)humanidade num inferno terrestre.
OBS: Imagem sobre a paisagem da Serra dos Órgãos (RJ) extraída de uma página do Portal Brasil, conforme publicado 29/10/2013 19h00, última modificação 30/10/2013 13h19 — Divulgação/Ernesto V. Castro/ICMBio — http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2013/10/parque-nacional-da-serra-dos-orgaos-rj-oferece-nova-opcao-de-lazer/parna-serra-dos-orgaos.jpg/view
Nenhum comentário:
Postar um comentário