Se você acha que o tempo de tomar sorvete seria somente no verão, como fez o macaco do zoológico, encontra-se enganado. Pois, se formos consultar a História do produto, saberemos que a sua origem antecede a criação da geladeira ou a descoberta da eletricidade em que era preciso usar a neve para conservar o alimento gelado. Aliás, a sua existência tem mais do que dois mil anos sendo atribuída aos orientais. Senão vejamos o que encontrei no site da ABIS (Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvete) em que este texto nos conta como foram as coisas até o siciliano Francesco Procopio (1651 - 1727) abrir em Paris um café que vendia sorvetes, o qual se tornou a primeira sorveteria do mundo já por volta de 1670:
"A história começa com os chineses, que misturavam neve com frutas fazendo uma espécie de sorvete. Esta técnica foi passada aos árabes, que logo começaram a fazer caldas geladas chamadas de sharbet, e que mais tarde se transformaram nos famosos sorvetes franceses sem leite, os sorbets. Nos banquetes de Alexandre, o Grande, na Grécia, e nas famosas festas gastronômicas do imperador Nero, em Roma, os convidados já degustavam frutas e saladas geladas com neve. O Imperador mandava seus escravos buscarem neve nas montanhas para misturar com mel, polpa ou suco de frutas. O gelo era estocado em profundos poços construídos pelo povo. Porém, a grande revolução no mundo dos sorvetes aconteceu com Marco Polo, que trouxe do Oriente para a Itália, em 1292, o segredo do preparo de sorvetes usando técnicas especiais. Assim a moda dos sorvetes espalhou-se por toda a Itália, e quando Catarina de Medici casou-se na França com o futuro Henrique II, entre as novidades trazidas da Itália para o banquete de casamento, estavam as deliciosas sobremesas geladas, as quais, encantaram toda a corte." (extraído de http://www.abis.com.br/institucional_historia.html)
Esta semana, assistindo a um o programa da apresentadora de TV Ana Maria Braga, o Mais Você, observei que uma antiga peça de porcelana encontrada na casa de um colecionador brasileiro era usada para conservar sobremesas geladas (assista AQUI o vídeo). Ou seja, naqueles velhos tempos do Império Chinês, o jeito de manter a baixa temperatura da sobremesa era pondo gelo num compartimento inferior do objeto. Óbvio que a durabilidade do produto não seria eterna mas, na época de inverno, principalmente em lugares de clima temperado ou de grandes altitudes, talvez desse para os serviçais aguardarem o rei terminar a refeição e então servi-lo.
Pois é. Apesar da estação fria ter sido tradicionalmente o melhor momento para o consumo de sorvetes no passado, o fato é que os brasileiros preferem curtir esse produto no auge do verão a fim de se refrescarem nas horas mais quentes. Só que, em países europeus, os gringos continuam tomando muito mais sorvetes do que nós e fazem isto o ano inteiro. Segundo dados da ABIS de 2010, divulgados numa página do portal Correio Gourmand, eis que, na frente do Brasil, estariam Nova Zelândia, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Suíça, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Itália e França. E vejam que os dados foram bem antes da atual crise!
De qualquer modo, ainda somos um mercado em expansão. Conforme li numa matéria do ano passado editada pela Globo News, Consumo de sorvete no Brasil teve alta de mais de 80% em dez anos, "de 2003 a 2013, o consumo de sorvetes no país passou de 685 milhões de litros para 1,244 bilhão de litros". E, segundo a consultoria Euromonitor, mencionada reportagem, o consumo per capta brasileiro, em 2014, chegou a quase três quilos, sendo que, de acordo com a diretora de marketing da Kibon, Katia Ambrosio, citada pela revista Forbes, teríamos aqui "um público ávido por produtos diferenciados e um consumo per capita de sorvete que sobe a cada ano". Diz ela também que:
"Hoje, o Brasil é 12º país no mundo em consumo per capita, com 6,4 litros por ano por pessoa, somando-se os potes levados para casa e os picolés consumidos na rua". (extraído de Muito calor e… aumenta o consumo de sorvete no Brasil, de 20/01/2015, em http://www.forbes.com.br/colunas/2015/01/muito-calor-e-aumenta-o-consumo-de-sorvete-na-america-latina/)
Mesmo com as dificuldades econômicas, penso que este mercado em específico continua com perspectivas de crescimento em que a nova onda agora tem sido as paletas mexicanas. Claro que junho ainda não é uma boa época para você abrir a sua sorveteria de maneira que torna-se recomendável esperar o finalzinho do inverno para então começar o negócio. Aliás, não foi por menos que a ABIS instituiu em 23 de setembro o Dia Nacional do Sorvete que passou a ser comemorado desde 2002 para celebrar o início das temperaturas mais elevadas já no início da primavera.
Na localidade praiana onde moro, o sorvete ainda é umas das poucas mercadorias que os banhistas não trazem de casa. Na alta temporada de verão, Muriqui fica lotado e o pessoal de fora leva praticamente tudo: água, comida, refrigerante, cerveja, frutas, filtro solar, bronzeador, roupa de banho, brinquedos e guarda-sol. Porém, apesar do baixo preço do picolé (nas fábricas e nos atacadistas ainda se compra por menos de um real a unidade das marcas populares), eu diria que é raro alguém trazer num isopor a sua própria mercadoria para comer na praia porque vai derreter, sendo poucos os que conhecem as placas térmicas de gel. E aí não há como o pai ou a mãe deixar de comprar um docinho gelado pra criança. Aliás, até no frio a garotada quer sorvete, embora os adultos nem sempre deixem o filho comer por acharem equivocadamente que o moleque vai ficar doente. Principalmente se forem os avós.
Assim, ainda que o verão seja mais atrativo para o consumo desse nutritivo alimento, o lado bom de chupar um sorvete no inverno é que o produto demora a derreter. E para mim, quanto menor a temperatura, mais charme encontro em saborear essa deliciosa sobremesa todo encasacado. Eu pelo menos gosto.
OBS: Os créditos autorais da imagem acima (não se trata de nenhuma montagem) são atribuídos a Tânia Rêgo da Agência Brasil, conforme consta em http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-01/zoologico-do-rio-dobra-producao-de-sorvetes-para-animais-suportarem-o-verao
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Amo sorvete no inverno!
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