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quarta-feira, 8 de junho de 2016

Nossos oceanos continuam morrendo




Oito de junho é considerado o Dia Mundial dos Oceanos, uma data que para muitos passa desapercebida, sendo lembrada mais pelos militantes ambientalistas.

Entretanto, não há muito o que se comemorar diante de tanta degradação do nosso ecossistema marinho cujos danos não são tão visíveis quanto os que ocorrem na superfície terrestre. Seja pela pouca divulgação e também pela falta de consciência do cidadão comum.

Acontece que mais de 55% do oxigênio de todo o mundo vem das algas marinhas e, conforme informações da organização-não governamental WWF-Brasil, "se os oceanos fossem considerados uma economia única, eles seriam avaliados em mais de R$ 24 trilhões". Aliás, não é por menos que a costa brasileira é chamada pela nossa Marinha de Amazônia Azul.

Para a coordenadora do Programa Marinho da referida ONG, Anna Carolina Lobo, o Brasil precisa urgentemente ver o mar com outros olhos. Numa entrevista publicada pela própria instituição, em 24/05 do corrente ano (clique AQUI para ler na íntegra), ela declarou que "a relação do brasileiro com o mar termina na praia", acrescentando ainda que:

"As praias estão poluídas por esgoto, lixo. O problema do plástico é alarmante. Há um comportamento predatório em relação ao mar. Os recursos pesqueiros são coletados à exaustão. Já quase acabamos com a sardinha, antes abundante na nossa costa. E outras espécies vão na mesma rota. Temos de ir cada vez mais longe no mar para conseguir pescar. Sem contar os pesqueiros piratas que vêm com frequência. Não temos monitoramento suficiente da costa, e muitos dos subsídios para a pesca são perversos, incentivando a atividade sem considerar a sua sustentabilidade. Não dá para saber se as espécies ameaçadas de extinção estão sendo coletadas, se os defesos (períodos de reprodução das espécies) estão sendo respeitados (...) Só os pescadores artesanais na costa brasileira somam cerca de um milhão de pessoas que dependem diretamente dos recursos do mar. Fora a indústria e toda a sua cadeia. Some-se o fato de que há pouco dinheiro para pesquisa, monitoramento e fiscalização quase zero e dezenas de espécies à beira da extinção, ou exploradas ao extremo."

Vivo atualmente numa região litorânea no sul do estado do Rio de Janeiro e testemunho quase diariamente com os pescadores da baía de Sepetiba essa triste realidade. Menos de um século atrás, quando Getúlio Vargas criou a antiga escola de pesca da Ilha da Marambaia, era muito mais fácil para as famílias da região tirarem o sustento do mar. Agora, porém, com tanta poluição e empreendimentos econômicos impactantes, já não é mais a mesma coisa.

Entretanto, há que se buscar soluções racionais para o problema e umas das iniciativas é conscientizar a sociedade a fim de que promova um consumo sustentável como indicou a coordenadora do projeto da WWF:

"Desenvolvemos junto com a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) uma campanha chamada Do Mar à Mesa, cujo objetivo é oferecer aos restaurantes e bares pescados frescos e ingredientes locais, advindos da pesca e cultivo sustentável. Testamos em Ubatuba, em outras cidades do litoral norte e na capital paulista. Foi um sucesso. Mostramos que há um mercado consumidor a fim de comprar um pescado que seja, de fato, sustentável, mesmo que tenha de pagar um pouco a mais por isso. Começamos com os chefs de cozinha, levando a eles a ideia de usar os pescados da temporada, que não estejam no período reprodutivo (defeso). Resgatamos receitas e modos de preparo tradicionais. Temos um padrinho, o chef Eudes de Assis, que é um caiçara e que abraçou nossa ideia e replica essas práticas no restaurante dele e nos cursos que ele promove."

Ao lado da sociedade civil, pode o setor governamental fazer a parte dele aumentando a fiscalização e criando novas unidades de conservação da natureza, tal como temos aqui em Mangaratiba a APA Municipal Marinha do Boto Cinza. Afinal, tendo um dos maiores litorais do mundo, com mais de 9.000 km e 42 milhões de habitantes, é inaceitável que somente 2% dessa enorme área esteja institucionalmente protegida.

Portanto, lutemos pela vida marinha dos oceanos! Salvemos a nossa Amazônia Azul!


OBS: Créditos autorais da foto acima atribuídos a WWF-Brasil/Divulgação, conforme extraída da citada entrevista feita por Jaime Gesisky.

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