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sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Que saibamos vivenciar a "trégua olímpica"!




O turista que vem ao Rio para as Olimpíadas certamente deve estar estranhando a falta de ânimo do brasileiro com esse importante evento e também as notícias de divisão política pelo poder tendo em vista o processo de impeachment em curso no Senado, muito embora a maior parte da população não tenha se deixado levar por essa polarização.

Na abertura dos jogos prevista para a noite desta sexta (05/08), certamente Michel Temer tentará mostrar para o mundo a legitimidade de seu governo. É o que considerou o analista política francês Gaspard Estrada, do Observatório Político da América Latina e Caribe, na entrevista concedida à BBC e reproduzida na pelo portal de notícias G1 (clique AQUI para ler). Na visão dele, ocorrerá a "trégua olímpica", mas o Brasil deverá enfrentar uma luta política nos próximos anos:

"Michel Temer deve utilizar esse evento, considerado também diplomático e que terá a presença de vários chefes de Estado, para tentar mostrar a legitimidade de seu governo à comunidade internacional e, com isso, também à população brasileira. Poucos líderes latino-americanos confirmaram presença, o que denota embaraço com a situação política indefinida no Brasil. Mesmo que não estejam previstos encontros bilaterais com autoridades, Temer vai receber os chefes de Estado, provavelmente tirar fotos com eles, e deve tirar proveito disso para tentar melhor sua imagem no exterior e a de seu governo, impopular, entre os brasileiros (...) O processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff não amenizou a crise no Brasil. Assistimos a uma batalha política e de comunicação entre o governo interino e a presidente afastada. Diferentemente da destituição do presidente Fernando Collor, o impeachment da Dilma está dividindo o Brasil. Seu partido, o PT, tem força política. Além disso, os escândalos de corrupção atingem toda a classe política brasileira. Todas os problemas revelados pela crise não estão sendo resolvidos pelos políticos (...) O governo Temer terá muitas dificuldades para governar e acredito que a crise vá continuar. O governo interino não tem força política para aprovar as reformas necessárias, como os cortes de gastos. O Temer vai ter de enfrentar as pressões do mesmo Congresso que se recusou a adotar medidas de austeridade propostas por Dilma Rousseff em 2015. O Congresso continua fragmentado e vai exigir contrapartidas para votar medidas consideradas impopulares. Além disso, o governo Temer tem baixo índice de aprovação, de apenas 13% segundo pesquisas. Elas também revelam que muitos consideram o governo interino ilegítimo e que 60% defendem eleições antecipadas."

Achei boa a reflexão desse respeitável pensador estrangeiro, mas devemos considerar o fato do cidadão comum não ter se manifestado nem contra ou a favor do impeachment nas ruas. Os que compareceram aos protestos a favor ou contra da presidenta eram, respectivamente, em sua maioria, militância organizada e pessoas da classe média. E, no domingo (31/07), diga-se de passagem que poucos andaram se interessando em retornar às ruas por causa da Dilma. E tais protestos não guardam qualquer relação com as manifestações ocorridas por esses dias contra a passagem da tocha nas cidades, as quais são uma reprise desgastada do que foram aquelas mobilizações de 2013 contra todos os políticos. É o que se ver pelas fotos a seguir compartilhadas por amiga de Visconde de Itaboraí (RJ), via WhatsApp, quando a tocha passou em seu município:







Mas o fato é que esses protestos contra a chama olímpica representam um pouco do desgosto do brasileiro com a sua realidade política atual em que faltam melhores serviços de saúde, de educação, de segurança e de transportes, com o acréscimo agora da questão do emprego. Se há uns vinte e poucos anos atrás tanto a Copa quanto as Olimpíadas pudessem significar uma festa para o brasileiro, tal efeito já não ocorre mais. O cidadão comum desta década está triste com a falta de um trabalho digno e com o recebimento de salários que já não dão mais para suprir todas as necessidades tendo em vista a disparada da inflação dos alimentos, Após uma jogada pela seleção de futebol, todos sabem que as suas vidas não mudarão no dia seguinte.

Seja como for, esse não é o momento para instigar conflitos, ainda que devamos permanecer atentos a todos os acontecimentos da política. Sempre é bom lembrar que uma das maiores tradições das Olimpíadas é a trégua, que, já no século VIII a.C., os gregos estabeleciam acordos de paz entre si durante os jogos, fazendo com que as competições se voltassem para os esportes.

Assim também, penso que devemos fazer desse momento de Olimpíadas uma oportunidade para que haja mais diálogo no lugar dos conflitos. Pois ainda que bilhões tenham sido gastos para a realização dos últimos eventos esportivos no país, o que foi um dos maiores erros, agora não seria o momento de resolvermos isso. Aliás, vamos ter em outubro eleições municipais e, antes delas, o Senado deve definir o impeachment de Dilma de modo que aí sim será o momento certo de darmos uma resposta a esses maus políticos inimigos da população, a começar pelos prefeitos que (des)governam as cidades onde moramos.


OBS: Créditos autorais das imagens da manifestação atribuídos à blogueira Aline Cleo Vieira, segundo eu recebi em meu celular via WhatsApp, e os da primeira ilustração atribuídos a IOC/Ian Jones, conforme extraído de https://www.rio2016.com/educacao/noticias/transforma-leva-tregua-olimpica-para-novo-desafio-escolar 

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