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| Registro de eleitores em fila para votar em São Paulo |
Em 2 de dezembro de 1945, o Brasil viveu um de seus momentos mais emblemáticos: as primeiras eleições gerais realizadas sob os princípios da democracia, com voto popular, livre organização partidária, disputa multipartidária e fiscalização judicial. Essas eleições — para presidente da República, senadores e deputados — são consideradas por historiadores como o início da verdadeira experiência democrática no país.
O contexto: Fim do autoritarismo e pressões por liberdade
Nos anos anteriores, o país vivia o regime conhecido como Estado Novo — instaurado em 1937 por Getúlio Vargas, que dissolveu o Congresso, extinguiu os partidos, suspendeu a Justiça Eleitoral e fechou o sistema institucional de representação popular.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o repúdio global aos regimes autoritários, cresceu no Brasil a pressão por retorno ao regime democrático. Representantes das Forças Armadas, preocupados com a permanência de Vargas no poder, promoveram sua deposição em 29 de outubro de 1945 — golpe que restabeleceu condições para eleições livres. O governo foi assumido interinamente por José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, encarregado de conduzir o pleito.
Poucos dias antes, o governo — já acuado — havia assinado a Lei Constitucional nº 9/1945 e o Decreto‑Lei nº 7.586/45 — restauração da Justiça Eleitoral e abertura ao multipartidarismo, fundamentais para tornar o pleito de dezembro viável e legítimo.
O pleito de 1945: Eleições e resultados
No dia 2 de dezembro, milhões de brasileiros — homens e mulheres — foram às urnas. Pelo voto secreto e sob a supervisão da Justiça Eleitoral, escolheram o presidente da República e os membros do Congresso Nacional.
O vencedor da disputa presidencial foi Eurico Gaspar Dutra, do Partido Social Democrático (PSD), que recebeu 3 251 507 votos.
Além disso, a nova configuração partidária — fruto da redemocratização — incluiu diversas legendas, como o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o União Democrática Nacional (UDN), o Partido Comunista entre outros — demonstrando pluralidade de ideias e a representarão de diferentes setores da sociedade.
O significado histórico: recomeço da democracia e esperança coletiva
Para historiadores e analistas políticos, as eleições de 1945 representaram mais do que a simples escolha de governantes: inauguraram a chamada Quarta República Brasileira, um período de experiência democrática que duraria até 1964. A nova Constituição promulgada em 1946 refletiu os valores liberais e democráticos emergentes, e restabeleceu os direitos políticos, a pluralidade partidária e o poder de representação popular.
Esse pleito também simbolizou o reingresso do cidadão brasileiro no centro da vida política do país: pela primeira vez, com liberdade de escolha real, multipartidarismo, voto secreto e participação mais ampla. A expectativa de muitos era de que o Brasil finalmente encontrasse um caminho de paz, justiça e participação popular — valores que continuam a fundamentar nossa democracia.
Por que celebramos 80 anos depois
Hoje, ao completar 80 anos desde aquele 2 de dezembro de 1945, é válido recordar o quão caro foi reconquistar o direito ao voto e à representação. Esse marco histórico nos lembra que a democracia não é algo garantido — é fruto de lutas, rupturas e escolhas coletivas.
Celebrar essa data é reafirmar nossa responsabilidade como cidadãos: de defender instituições, garantir participação, valorizar a pluralidade e cultivar o respeito à vontade popular. Em tempos de polarizações e tensões, lembrar o passado fortalece nossa consciência de que a democracia brasileira tem raízes profundas — e que depende continuamente de nós para sobreviver e se consolidar.



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