"Tal homem se apascenta de cinza; o seu coração enganoso o iludiu, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem dizer: Não é mentira aquilo em que confio?" (Isaías 44:20; ARA)
A passagem bíblica irônica de Isaías 44:9-20 que fala sobre a loucura da idolatria volta-se a princípio para as práticas mais rudes e primitivas dessa espécie de pecado. Ali o autor sagrado discursa acerca da pessoa que fabrica uma imagem de escultura a qual passa a chamar de deus a ponto de perder a sua consciência da origem do material utilizado bem como o objeto ter sido fruto da própria força do trabalho humano.
Entretanto, assim como o artífice pode confeccionar um falso deus conforme a sua própria imagem (Dt 4:16; Rm 1:22-23), nós que somos monoteístas de carteirinha também corremos o risco de inventar deuses pelo poder da imaginação. Pois quando alguém, por exemplo, começa a elaborar na mente uma concepção divina para justificar seus interesses, tal indivíduo está trocando a verdade pela mentira. Está iludindo o próprio coração com enganos de modo que ele passa a confiar numa falsa crença. Neste estágio, ele chega a se esquecer de que tudo não passa de uma fantasia inventada ainda que justificada na religião.
No livro de Jó, o SENHOR repreendeu a Elifaz dizendo: "A minha ira se acendeu contra ti e contra teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó" (42:7). E a conduta por eles praticada foi reprovada de uma ta maneira que, mesmo os monólogos dos amigos de Jó tendo afirmado a verdade sobre Deus, suas palavras foram tidas como falsas porque eles tinham ignorado as razões do sofrimento daquele nobre profeta bíblico. Pois agiram como se os acontecimentos negativos que sucederam a Jó fossem resultado de uma vida pecaminosa, arrogando-se em acusações contra um homem reto e fiel que vivia uma situação por eles desconhecida.
Penso que todo mundo fabrica seus ídolos mentais. Aliás, eu ousaria até dizer que violamos cada um dos mandamentos da Lei Divina. De alguma maneira, adulteramos no coração, matamos pelos maus sentimentos de raiva e roubamos dos outros bens da vida não materiais. Na nossa mediocridade religiosa tomamos o nome do Santo em vão e somos incapazes de praticar o repouso sabático sem levantar qualquer preocupaçãozinha com as coisas do cotidiano. Menos ainda prestamos a honra devida aos pais na amplitude do preceito ou conseguimos deixar de cobiçar aquilo que não é nosso.
Assim, reconhecer a nossa idolatria e suas razões na nossa vida torna-se o primeiro passo para o estabelecimento de uma relação mais íntima e sincera com o Criador bendito. Para tanto, é preciso encarar a verdade a nosso respeito por mais dolorida que seja. Pois somente se expondo à realidade no autoconhecimento é que o homem consegue encarar a própria condição e tentar superar os obstáculos que prendem sua vida.
Deus não é aquilo que gostaríamos que Ele fosse. O Santo, o Onipotente, o Rei do Universo e o Senhor de todos nós é o que é (Ex 3:14). O ser mortal não consegue ver a sua face e não está autorizado a substitui o Eterno pelas fantasias que a imaginação cria. Logo, é preciso ter reverência sabendo que o Altíssimo não é brasileiro, israelita, católico, evangélico, muçulmano ou torcedor do Flamengo. E antes de afirmarmos que os céus nos favorece nisto ou naquilo, consideremos que seja todo homem mentiroso e Deus verdadeiro.
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