Páginas

terça-feira, 21 de maio de 2013

A bendita disciplina de Deus

"O que fez o ouvido, acaso, não ouvirá? E o que formou os olhos será que não enxerga? Porventura, quem repreende as nações não há de punir? Aquele que aos homens dá conhecimento não tem sabedoria? O SENHOR conhece os pensamentos dos homens, que são pensamentos vãos. Bem-aventurado o homem, SENHOR, a quem tu repreendes, a quem ensinas a tua lei, para lhe dares descanso dos dias maus, até que se abra a cova do ímpio. Pois o SENHOR não há de rejeitar o seu povo, nem desamparar a sua herança." (Salmo 94:9-14; ARA)


O salmo 94, por ser ele um poema imprecatório, não costuma ser procurado pelos cristãos em suas leituras devocionais ou nas pregações bíblicas. Pois para muitos o clamar por vingança parece algo inconcebível com o ensino de Jesus quanto ao amor pelos inimigos, com o perdão e a atitude de procurar o bem de todos durante as orações.

Certamente que a Bíblia abriga várias teologias refletindo as mais diferentes maneiras de pensar dos seus autores, os quais viveram em épocas e contextos diferentes. Talvez seja esta pluralidade que a ortodoxia cristã até hoje não conseguiu assimilar e daí o motivo pelo qual muitos simplesmente preferem evitar a reflexão sobre determinadas passagens que incomodam. E, agindo assim, o leitor acaba empobrecendo o seu aprendizado.

Entretanto, não é sobre isso que pretendo escrever neste texto. Quero passar pelo comentário a respeito do salmo e entrar logo na essência da mensagem edificante que um autor anônimo das Escrituras nos felicitou. E aí o trecho que me desperta a atenção é sobre a disciplina de Deus afim de que não sejamos condenados com o mundo.

O Salmo 94 fala sobre o juízo divino. Provavelmente, deve ter se dirigido a algum monarca ímpio que reinou sobre Israel e desprezava as necessidades de grupos sociais em desvantagem (ler versos 5 e 6), distorcendo o significado das Escrituras para realizar os seus propósitos de iniquidade (versos 20 e 21). E aí, assim como em outros poemas bíblicos, a justiça divina é exaltada ensinando-nos sobre o quanto é breve o reinado da maldade.

Deus é bom e creio que a sua perfeita bondade não se separa de sua justiça a qual, no tempo certo, manifesta-se como vingança santa. E este juízo vingador nenhum homem é capaz de planejar por sermos todos nos injustos ainda que qualquer um possa tornar-se instrumento da ira do SENHOR a exemplo do que diz a Bíblia sobre os israelitas contra os povos cananeus na conquista da Terra Santa e depois falando de Nabucodonosor quando levou cativo o povo de Jerusalém (século VI a. C.)

Há julgamentos que terminam em destruição para desarraigar da terra o homem iníquo. Porém, também existe o juízo de disciplina afim de que o povo de Deus arrependa-se dos pecados cometidos e se volte para o seu Criador. E, nestas horas, precisamos prestar muita atenção sobre os acontecimentos que estão ocorrendo nas nossas vidas.

"Por que eu estou passando por esta ou aquela dificuldade?" É a pergunta que todos devemos formular.

Creio, amados, que, ao fazermos tal indagação, precisamos também ter o cuidado para não cairmos em equívocos. Ainda mais quando se tratar da vida de outra pessoa como fizeram arrogantemente os amigos de Jó. E aí digo que uma situação adversa tanto pode significar juízo como uma provação ou ainda mero infortúnio do qual ninguém está totalmente livre de sofrer. É o que está também lá em Eclesiastes:

"Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso; ao bom, ao puro e ao impuro; tanto ao que sacrifica como ao que não sacrifica; ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento." (Ec 9:2)

Todavia, quando o salmista nos fala do juízo de destruição (Deus não tem prazer na morte do ímpio), uma atenção especial foi reservada ao juízo de disciplina para que o servo de Deus aprenda a lei divina e encontre "descanso dos dias maus". Pois o nosso Pai Celestial conhece aqueles que são retos de coração e quer salvá-los. Então, para o nosso bem, somos castigados amorosamente.

Recordo da vez em que fiquei perdido no Parque Nacional da Tijuca em junho do ano passado. Ali eu sofri para aprender sobre não tentar a Deus colocando a própria vida em risco diante de aventuras sem propósito em que um momento de lazer acabou se tornando um pesadelo. Foram três dias e duas noites na floresta sem saber como que seria o meu fim, dormindo ao relento só com a roupa do corpo, sem nada ter para comer e nem ao menos poder avisar as pessoas da família que já estavam preocupadíssimas com meu paradeiro.

Naqueles dias, eu tanto poderia ter sobrevivido como morrido (hoje não estaria aqui blogando na internet). E se fosse vitimado por algum acidente caindo num buraco, quebrado uma perna e levado mordida de cobra? Porém, Deus foi grandemente misericordioso de modo que pude ser visto por um grupo de caminhantes antes de embrenhar-me nas matas do Morro do Elefante. Também não acho que foi por acaso que eu tenha perdido o rumo justamente numa área cheia de nascentes d'água e que abastecem uma represa de Jacarepaguá ao invés de parar num local mais seco onde, na certa, ficaria desidratado.

Poucos dias depois do resgate (25/06/2012), novas lutas começaram em minha vida. Vieram problemas financeiros e a saúde de minha mulher se complicou a ponto de eu precisar interná-la por quase dois meses numa clínica. Foi necessário dar um tempo nos sonhos ministeriais que tinha e enfrentar a dura realidade. Tive que encarar muitas dificuldades praticamente sozinho, lidando com a incompreensão das pessoas, sofrer maus julgamentos a meu respeito, humilhar-me diante de Deus e dos homens saindo da min ha soberba intelectual, afastar-me da superficialidade das redes sociais, usar menos tempo a internet e pedir emprego nas empresas a ponto de me negarem vagas destinadas para quem tem apenas o segundo grau. Quando fui ao balcão de empregos da Prefeitura de Itaguaí, município vizinho, ouvi as seguintes palavras da atendente bem mais nova do que eu:

"Temos até ofertas de trabalho para vendedor em algumas lojas da cidade, mas não posso te informar o nome das empresas porque você não tem experiência na carteira".

Naqueles dias em que eu me encontrava perdido no Parque da Tijuca, senti que ali Deus estava acertando contas comigo. Clamei a Ele para que pudesse continuar a viver e creio que fui atendido. Mas, ainda assim, senti como se a sua mão continuasse pesando por uns tempos, como se eu precisasse passar por um momento de dores, privações, anonimato, falta de reconhecimento, ter necessidades financeiras, instabilidade e ainda ser vítima da ignorância dos outros. Lembro muito bem quando cheguei a trabalhar por uns três dias como frentista num posto de gasolina de Itacuruçá e não ter aguentado o ritmo das atividades. Foi o máximo que consegui com uma CTPS totalmente limpa (ver o artigo Blogueiro a procura de trabalho de 21/09/2012).

Ao mesmo tempo, busquei fugir dessas coisas e não deixei de ir ao encontro da graça divina, tentando cultivar dentro de mim aquilo que é bom. Um belo dia do mês de novembro, sentindo o maior aperto financeiro, resolvi começar a vender picolé na praia. E foi ralando de sol a sol como camelô, mesmo com a carteirinha de advogado no bolso, que pude ir saindo do cheque especial, pagar as dívidas de dois empréstimos no meu nome e de Núbia, acabar de vez com as últimas compras parceladas feitas no cartão de crédito cancelado desde junho, adiantar de uma só vez a anuidade da OAB, o carnê do caríssimo IPTU de Mangaratiba  e ainda tirar a licença de ambulante para não ficar na ilegalidade fugindo dos fiscais. Só quando terminou o mês janeiro é que saí definitivamente do vermelho.

Se nos dias em que vaguei pelo Parque da Tijuca pude encontrar água para beber, compreendi que Deus não tem me deixado morrer de sede. Ele supre todas as nossas necessidades! Com muito sacrifício, pude comer naqueles dias difíceis, vestir meu corpo e me abrigar debaixo de um teto. A situação não me deprimiu e pude abrir a minha boca cantando louvores ao Altíssimo. Aleluia!

Bendito seja Deus, o Rei do Universo! Ele é quem nos dá a chuva, o verão, o outono, o inverno e a primavera. Por sua providência temos colheitas e somos protegidos de um mal destruidor. Graças ao Eterno recebemos o inalienável dom da Vida, a qual foi manifestada ao mundo em Jesus Cristo para que o homem possa compreender a extensão da graça experimentada através de um confundível amor. E esse amor é tão grande que somos disciplinados sempre que necessário. Glória a Deus!

Nenhum comentário:

Postar um comentário