Páginas

domingo, 5 de maio de 2013

Obras que poderão valer mais do que milhões


Interessante saber como que um dois mais famosos quadros de Vincent van Gogh (1853 - 1890), Retrato do Doutor Gachet, foi vendido por nada menos do que 82 milhões de dólares em Nova Iorque um século após a morte do pintor neerlandês. Durante toda a sua carreira artística, Van Gogh vendeu apenas uma única tela, apesar de ter deixado 800 pinturas e centenas de desenhos. Viveu boa parte dos seus 37 anos na pobreza, enfrentando também os graves distúrbios psíquicos que o afetavam fazendo com que muitos na sociedade se envergonhassem dele. E, se não fossem as ajudas financeiras do irmão Theodorus, as quais lhe garantiam o sustento, talvez a humanidade não desfrutasse hoje desse patrimônio de imensurável valor que nos foi deixado.

Da mesma maneira, creio que muitas ações positivas feitas por nós hoje poderão ser reconhecidas só daqui uns anos, décadas ou séculos. Lembrando da célebre parábola de Jesus, eu diria que os pequenos e importantes gestos que fazemos são como a semente do grão de mostarda. Quando lançada no solo, ela é pequena. Porém, depois de crescer, torna-se uma enorme planta onde as aves do céu irão se aninhar.

Em que pese o lamentável fim de Van Gogh (ter se suicidado com um tiro no peito), acredito que, ainda assim, ele tinha alguma dose de fé na vida. Suas obras propunham expressar sentimentos verdadeiros e, provavelmente, ele queria dar o seu recado para a sociedade:

"Percebam o mal que estão fazendo a si mesmos. Vocês andam destruindo o belo. Sufocam a vida."

Pessoas como Van Gogh são especiais. Eu demorei a perceber isso porque nunca entendi bem por que alguém poderia sofrer tanto de depressão. Até hoje ainda não compreendo tudo sobre essa doença e nem quero sofrer na "pele" o que sente uma boa parte dos pacientes que frequentam os consultórios psiquiátricos. Porém, acho que muitos portadores de transtornos psíquicos captam aspectos da realidade que para nós, os "normais" (se é que sou um deles), geralmente passam desapercebidamente.

O médico dr. Paul Gachet foi quem cuidou de Vincent quando ele voluntariamente se internou num sanatório de Saint-Remy, no ano de 1889, na cidade francesa de Auvers-sur-Oise, situada a noroeste de Paris. Em reconhecimento da amizade e da dedicação, Van Gogh pintou o seu retrato com os cotovelos apoiados sobre a mesa com gesto cansado e olhar dirigido ao vazio. Uma figura que expressa o sentimento que muitos, infelizmente, nutrem dentro de si acerca da vida quando perdem o entusiasmo.

Ao "ler" um quadro desses, busco não me conformar com essa falta de entusiasmo. A postura do médico é justamente o que não desejo para mim e nem o triste fim de Van Gogh. Também não quero deixar de reconhecer as obras que outros estão compondo no dia que se chama hoje. Pois na nossa família, na nossa cidade e no meio onde vivemos existem artistas em potencial. Admiremos, pois, essas lindas "pinturas".


OBS: Ilustração extraída do acervo virtual da Wikipédia em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1e/Portrait_of_Dr._Gachet.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário