Páginas

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Será mesmo necessário um governante "comprar" deputado?



Uma frase dita num programa de rádio pelo ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, um pré-candidato ao Palácio da Guanabara nas eleições gerais de outubro, está sendo alvo de uma investigação eleitoral pelo Mistério Público. Segundo declarou o político,

"Faça o seguinte: não vote só em mim. Vote num deputado que está do meu lado. Porque olha só: o cara vai votar em mim e vai votar num deputado estadual contrário? Sabe o que vai acontecer? Depois eu vou ter que gastar dinheiro para comprar esse deputado. Como é que vai fazer?" (clique AQUI para assistir o vídeo numa matéria do portal de notícias do G1)

Segundo a reportagem, será aberta uma investigação administrativa pela Procuradoria Eleitoral do MP, o que, por sua vez, pode levar à propositura de uma ação judicial eleitoral. Ou seja, mais um processo contra quem já é réu em muitos.

Fato é que o ex-governador evidenciou uma prática corriqueira da política brasileira, dando a entender que, caso eleito e deixe de alcançar apoio espontâneo com a futura composição da Assembleia Legislativa, não terá escrúpulos para "comprar" os parlamentares estaduais a fim de que estes possam dar governabilidade à sua gestão. E, em seguida acrescentou o seguinte:

"Que eu vou mandar uma lei, o cara vai no meu partido e vai dizer assim: 'Ah, não! Eu, para votar isso aí, eu quero, tanto'. E que é isso que acontece hoje aqui no estado. De onde nasceu o mensalão? Nasceu disso!"

Não pretendo perder tempo analisando se o ex-governador é pessoa idônea ou se ele é mesmo capaz a praticar esses atos de corrupção. Até porque não sinto a mínima confiança em Garotinho por considerá-lo um ser indigno de receber o nosso voto nas urnas. Porém, a sua fala nos leva a refletir acerca da viabilidade do atual sistema político (o presidencialismo de coalizão) onde o Chefe do Executivo pode ser eleito sem fazer a maioria no Legislativo, obrigando-o a cooptar potenciais opositores através do pagamento em dinheiro que, por sua vez, será fruto da corrupção.

Por outro lado, devemos observar que o ex-governador não levou em conta que os deputados a serem eleitos no mesmo partido que o dele também poderão fazer suas respectivas exigências ao Chefe do Executivo. Isto porque é impossível empregar na Administração Pública todos os apadrinhados desses deputados a fim de satisfazer as demandas espúrias de seus respectivos sub-grupos. Pois, imaginando-se esse quadro na Assembleia Legislativa, logo se formaria de um lado um "centrão" governista e, de outro, apoiadores descontentes que, por sua vez, começariam a barganhar fazendo suas chantagens.

Que a reforma o sistema político brasileiro é importante, não nego. Por exemplo, acho que tudo caminharia melhor com o Parlamentarismo. Só que, enquanto não houver uma reforma ética em toda a nossa sociedade, dificilmente haverá solução. E a prova disso é que tivemos em 2017 três ex-governadores na cadeia. Inclusive o próprio senhor Anthony Garotinho que responde a diversos processos na Justiça e foi preso em novembro por suspeita de fraudes nas eleições de 2014.

Para um candidato decente que vier a ser eleito em outubro e o deixarem vivo para então assumir o Estado do Rio de Janeiro no ano que vem, o jeito será jogar com a total transparência ao invés de ceder às pressões de deputados maldosos. E para tanto um governador pode contar com os órgãos de investigação da sua Polícia Civil, gravar eventuais conversas em seu gabinete que evidenciem tentativas de extorsão (todas as audiências do Chefe do Executivo deveriam ser transmitidas em via de regra), ter uma agenda bem transparente para o público saber das suas atividades e expor, através dos meios de comunicação oficiais, tudo aquilo que ocorre nessa Assembleia Legislativa.

Portanto, mesmo considerando a hipótese de que Garotinho não intencionasse "comprar" deputados caso eleito governador, mas, sim, que desejasse expor como é o sistema político brasileiro para convencer os seus eleitores a votar nos candidatos a deputado que lhe apoiam, a sua argumentação não se sustenta. Pois, como coloquei, mesmo diante de um parlamento corrupto, é possível ao governante agir de outro modo e procurar o apoio da opinião pública sempre que vier a prestar contas de um modo transparente, tendo ao seu lado a Polícia e o Ministério Público para combater a corrupção.

Chega de tolerarmos bandidos na política! O Brasil tem que mudar!

2 comentários:

  1. Quando se quer algo, até se servir da corrupção serve. A ganância do poder é infinita
    .
    Gostava que visitasse, lesse e comentasse.
    .
    .
    * COMO ATINGIR PLENA SATISFAÇÃO SEXUAL? - GUIA DO PÉNIS. *
    .
    Deixando cumprimentos luxuriosos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde, Nuno (creio que por aí já seja noite),

      Infelizmente a ganância é o que muitas das vezes faz um governante ou empresário aceitar a corrupção valendo-se da máxima de que "os fins justificam os meios". Mas há quem queira o poder para enriquecer como se tem visto muito por aqui, faltando a muitos candidatos um projeto finalístico. Isto é, a roubalheira para eles já se torna o verdadeiro fim em si mesmo.

      Obrigado pela visita e ótimo final de semana.

      Excluir