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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Havendo uma redução nos reajustes das tarifas de transportes, os protestos esvaziariam?



Nesta terça-feira (18/06), após mais de uma semana de reivindicações, vários prefeitos já admitiram a possibilidade de renegociarem os valores dos reajustes das tarifas nos transportes públicos. Em Porto Alegre, na noite do dia 17, o pedetista José Fortunati propôs diminuir a passagem para R$ 2,80 através da isenção do ISS.

"A prefeitura está abrindo mão de 15 milhões anuais e sem orçamento. Alguém paga a conta. Estamos abrindo mão de um tributo", ressaltou o prefeito da capital gaúcha.

Já em São Paulo, que seria o epicentro das manifestações, Fernando Haddad (PT) dispôs-se a reunir com os integrantes do Movimento Passe Livre para debater as questões levantadas, tendo declarado à imprensa o seguinte:

"Eu gostaria de dizer que esse debate nos interessa. E nós queremos esgotar as possibilidades de entendimento, de compreensão desse fenômeno do transporte público, da mobilidade urbana na cidade de São Paulo (...) Nós temos aí um trabalho a fazer da parte do poder público e um trabalho a fazer do ponto de vista do empresariado, porque nós não temos receita para subsidiar a tarifa para além do esforço que está sendo feito"

Tenho a impressão de que, mesmo passando por dificuldades orçamentárias, os municípios deverão seguir por esse caminho, tendo em vista os incômodos perturbadores causados pelos protestos. Ainda mais com a realização da Copa das Confederações em que o mundo inteiro encontra-se de olho no nosso país.

Embora os movimentos tenham partido de grupos sem grande representatividade social, os protestos conquistaram rapidamente a adesão de mais pessoas. Percebi que o povo brasileiro foi, dia após dia, identificando-se com aquelas passeatas e direcionando para elas toda a sua insatisfação. Era como se houvesse uma demanda reprimida mas sem uma canalização política. O futebol, que em outras vezes absorveu essa energia, fracassou nos seus efeitos alienantes sobre as massas em 2013. A popularidade de Dilma, até poucas semanas atrás apontada como fator de uma reeleição em primeiro turno, foi terrivelmente arranhada com uma inesperada vaia recebida no último sábado no estádio Mané Garrincha.

É difícil prever quais serão os próximos rumos desses movimentos, se eles tendem a crescer mais ou simplesmente se esvaziariam com uma redução nas passagens de ônibus através de subsídios pagos oficialmente aos empresários do transporte. Mas tudo indica que esta é a aposta dos prefeitos já que as razões iniciais das passeatas foram motivadas pelos altos preços das tarifas. E, sendo assim, as propostas terão que ser ainda votadas pelo Poder Legislativo de cada localidade. No caso de São Paulo, ocorreria até uma complicada modificação orçamentária com cortes sabe-se lá aonde.

Pode ser que o sistema de concessões comece a ser revisto a partir daí. Isto porque, sendo curto o cobertor, para poder diminuir mais as tarifas só abrindo mão do lucro, o que significa a impossibilidade da iniciativa continuar atuando no setor ou um encarecimento cada vez maior dos subsídios. E aí por que pagaríamos ao empresário se o próprio governo pode prestar o serviço de transportes urbanos?

Suponho que, por motivo de estratégia, talvez muitas das lideranças desses movimentos recuem uma vez obtida a renegociação dos valores, mas não significa que os protestos terminariam de vez. Passeatas menos expressivas continuariam acontecendo com outras reivindicações e para 2014, ano do Mundial e das eleições, o aviso já estaria dado. O governo terá que soltar muito dinheiro para acalmar os ânimos.

Se o PT tivesse bola de cristal, teria desistido dessas loucas ambições de sediar uma Copa do Mundo e, em dois anos depois, as Olimpíadas. Como se vê, os eventos esportivos foram ingredientes desnecessários para a eleição de Dilma em 2010 e não podemos nos esquecer que, em 2002, o tucano José Serra não conseguiu vencer o opositor Lula mesmo com o pentacampeonato do Brasil obtido uns três meses antes. Ou seja, o poder do futebol de conformar as massas já estava falhando desde aquela época e o governo parece não ter se dado conta.

No exterior, a imprensa internacional até que fala bem dos protestos daqui e a Anistia Internacional acusa a polícia e não os manifestantes. Entretanto, não se pode jamais esquecer dos prejuízos causados ao turismo por causa da instabilidade política. As manifestações ocorreram em todas as cidades onde estão previstos os jogos da Copa de 2014 e quantos estrangeiros não poderão cancelar suas vindas para o Brasil?!

Suspender os eventos esportivos agora, na visão dos governantes, sairia uma "emenda pior do que o soneto". Mas, se em 2013, mais de 200 mil pessoas foram às ruas em todo o país, quantos não poderão ir aos protestos que deverão ocorrer no próximo ano e depois? Enfim, só o futuro pode dizer e podemos constatar claramente que o governo ficou numa posição bastante delicada.


OBS: Foto extraída da Agência Brasil em http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2013/06/mais-de-100-pessoas-detidas-para-averiguacao-em-protesto-contra-o-aumento-da

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