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terça-feira, 6 de setembro de 2016

Como combater a crise migratória?




Além dos graves problemas enfrentados na Ucrânia, Turquia, Síria, o Brexit, as disputas territoriais no Mar do Sul da China e as questões sobre o clima, um dos principais pontos que foi discutido nesta última reunião do G20, ocorrida na cidade chinesa de Hangzhou, teria sido a crise migratória. Temos hoje 65 milhões de deslocados no mundo sendo que o documento assinado pela cúpula reconheceu que o número de refugiados já chegou a vergonhosos "níveis históricos".

Inegavelmente, trata-se de algo que, embora não esteja ainda atingindo fortemente o Brasil, precisa ser tratado exigindo de fato esforços globais no enfrentamento das causas e consequências. Pois, se olharmos hoje para a situação da Europa, eis que não há mais condições do Velho Mundo continuar amparando um número tão grande de pessoas deslocadas de seus países por diversas razões, entre as quais os limites de espaço, a necessidade de aumentar a segurança contra o terrorismo e de promover políticas de acolhimento social, sem nos esquecermos também da afetação das culturas nacionais receptoras. Isto porque muitos desses imigrantes trazem consigo costumes e hábitos capazes de impactar sociedades que, diferentemente do Brasil e dos EUA, sempre foram monoculturais.

A meu ver, a melhor maneira de combate à crise migratória seria buscando a solução dos conflitos nas origens, o que vai exigir da ONU uma atuação cada vez maior. Tão importante quanto outros países mais ricos receberem refugiados (não deixando toda a carga sobre a limitada Europa) é fazer com que a periferia econômica do mundo possa desenvolver-se alcançando níveis sociais mais satisfatórios em termos de trabalho, renda, educação, serviços de saúde, moradia, transportes e segurança pública.

Sem dúvida que o problema esbarra nas questões da soberania de cada país, seja no sentido de aceitarem uma eventual intervenção externa para a pacificação de um conflito militar ou para a adesão de um programa mundial de amparo e de distribuição dos refugiados por parte da comunidade internacional. Ou seja, todos os Estados precisariam se envolver com a causa, na medida de suas possibilidades, seja ajudando financeiramente, recebendo imigrantes, oferecendo alimentos, enviando remédios diante de cada crise humanitária surgida.

Para que tudo dê certo, os países devem dar um passo concreto para isso a começar pelos membros do G20, do qual fazemos parte. O Brasil, ainda que esteja tentando sair de um preocupante momento de recessão econômica, não pode negar-se a ajudar uma vez que dispõe de um vasto território subaproveitado e mal povoado em muitas áreas. Pois, se recebermos investimentos externos para o assentamento de imigrantes, conseguiremos não só atuar solidariamente como melhorar o nosso desenvolvimento econômico-social tendo em vista que, no futuro, poderemos ter uma proporção menor de mão-de-obra ativa devido ao envelhecimento populacional. Aliás, por que não financiarem a nós e a algumas das nossas nações vizinhas da América do Sul para o recebimento de refugiados, assim como Austrália, Canadá e Rússia igualmente se comprometeriam com a causa?

É certo que para um programa desses dar certo, todos precisarão se preparar melhor para a multiculturalidade. Durante o encontro, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan foi certeiro em criticar que os países ocidentais ainda adotam uma "atitude de segurança racista" contra os que buscam asilo dentro de suas fronteiras, sendo certo que a Turquia teve uma despesa extra de 25 bilhões de dólares em seus cofres só para receber cerca de 3 milhões de deslocados vindos de Síria e Iraque. Ou seja, o mundo precisaria não só compensar os turcos pelos benefícios que têm feito como tirar das costas deles um pouco desse pesado fardo.

Obviamente que não basta somente distribuir pessoas pelo planeta. Como bem disse em sua primeira visita à China a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, "temos que fazer mais para combater as causas da migração em massa". Logo, para que o mundo não fique a enxugar gelo, voltamos à questão sobre o desenvolvimento da periferia pois é certo que, quando houver um menor desequilíbrio entre as regiões do planeta, os deslocamentos de refugiados, por certo, também diminuirão.


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