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domingo, 30 de novembro de 2025

O que a ALERJ já discutiu sobre Inteligência Artificial — e por que o RJ precisa avançar?

 


Nos últimos anos, a discussão sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) passou de tema de ficção científica para pauta central da gestão pública, da educação e dos direitos dos cidadãos. No âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a ALERJ já recebeu algumas proposições voltadas a regulamentar e orientar o uso dessa tecnologia. Porém, apesar das iniciativas, ainda não há um marco legal consolidado em vigor — o que revela lacunas significativas.


🧾 Principais proposições na ALERJ

  • Projeto de Lei 3409/2020 — Regulamentação do uso de softwares de IA na administração pública
    • Autora: Enfermeira Rejane (PCdoB/RJ)
    • Prevê que órgãos públicos devem adotar parâmetros rigorosos ao usar IA, especialmente quanto à proteção de dados, privacidade, sigilo de comunicações e vedação de uso que amplie desigualdades.

  • Proposição recente sobre IA nos SACs (Serviços de Atendimento ao Cliente)
    • Autoria do Dionísio Lins (PP/RJ)
    • Objetivo: garantir que empresas sediadas no Estado, ao usar IA nos seus canais de atendimento, não utilizem a tecnologia para obstruir o acesso a direitos essenciais — como reclamações, cancelamentos ou atendimento humano quando necessário.

  • Projetos voltados à educação com foco em IA
    Há menção a proposições que visam inserir a IA no currículo escolar da rede pública estadual — para capacitar jovens e professores quanto às novas demandas tecnológicas e preparar para o futuro.

Essas iniciativas demonstram sensibilização de alguns deputados da ALERJ para os desafios e oportunidades da IA. Contudo, até o momento não há uma lei sancionada no Estado que consolide um marco regulatório completo e efetivo para IA.


⚠️ Lacunas que permanecem

  • Ausência de lei quadro estadual: nenhuma das proposições resultou ainda em norma aprovada e em vigor que trate de forma abrangente IA — com diretrizes claras de ética, governança, proteção de dados, transparência e responsabilidade.
  • Fragmentação temática: os projetos tratam de aspectos pontuais — atendimento ao consumidor, uso administrativo, inserção na educação — mas não em um conjunto unificado. Isso dificulta a construção de uma política pública coerente.
  • Vulnerabilidade aos riscos sociais: sem regulação clara, há risco de violações de privacidade, injustiças algorítmicas, desigualdades no acesso à tecnologia, e uso da IA de forma discriminatória.
  • Falta de participação social e controle público: não há mecanismos definidos que garantam supervisão cidadã, transparência em algoritmos ou participação popular na formulação de políticas de IA.

Essas lacunas mostram que, embora a ALERJ tenha dado os primeiros passos, estamos ainda longe de garantir uso ético, seguro e socialmente justo da IA no Estado do Rio de Janeiro.


🌎 Comparativo com outros entes federativos

Em contraste com a situação no Rio de Janeiro, outros estados e municípios brasileiros já avançaram:

  • O Lei de Inteligência Artificial do Estado de Goiás (Lei Complementar nº 205/2025) foi sancionada em maio de 2025. É o primeiro marco legal estadual no Brasil voltado exclusivamente à IA. A lei institui uma política de fomento à inovação em IA, estabelece diretrizes para governança ética, incentiva a inclusão da IA na educação pública, e prevê sustentabilidade e segurança nos dados.
  • Em âmbito municipal, a Lei Municipal 16.321/2024, de Curitiba, regulou o uso da IA na administração pública municipal, definindo normas de transparência, proteção de dados e responsabilidade.
  • Também, em 2025, o município do Rio de Janeiro aprovou o Projeto de Lei 2970/2024 que institui o “Programa sobre o uso responsável da Inteligência Artificial” para órgãos públicos municipais.

Esses exemplos mostram que há estados e municípios já se organizando para garantir que o uso da IA seja ético, transparente, inclusivo e regulado — servindo de referência para o Estado do Rio, ainda a passos lentos quanto à sua modernização.


✅ Por que a ALERJ deve priorizar um marco estadual para IA — agora

A adoção de uma legislação estadual sobre IA não é apenas técnica — é uma questão de justiça social, de proteção dos direitos e de futuro. A IA tem potencial transformador na educação, na saúde, na gestão pública, no atendimento aos cidadãos, mas sem regras claras pode ampliar desigualdades, invasão de privacidade e discriminação.

Ao aprovar uma lei‑quadro sobre IA, a ALERJ daria:

  • Segurança jurídica para órgãos públicos e empresas que queiram usar IA;
  • Transparência e controle social, garantindo que decisões baseadas em IA sejam auditáveis e justas;
  • Capacitação e inclusão digital, preparando cidadãos e servidores para o futuro;
  • Inovação com responsabilidade, estimulando pesquisa, economia e tecnologia, mas com proteção aos direitos humanos.

Além disso, uma lei estadual colocaria o Rio de Janeiro entre os estados modernos e preparados para os desafios daquilo que podemos chamar de "quarta revolução industrial" — evitando atraso tecnológico e social.


✍️ Conclusão

As iniciativas sobre IA na ALERJ representam um começo importante — mas ainda são pontuais e insuficientes. A falta de um marco legal consolidado deixa o Estado vulnerável a erros, injustiças e desperdício de potencial.

Por outro lado, a experiência de estados como Goiás e municípios como Curitiba mostra que é possível legislar com responsabilidade, com participação cidadã e com foco no bem comum.

Portanto, acreditamos que os trabalhos da ALERJ devem avançar urgentemente para um projeto de lei‑quadro de IA, abrangente e moderno. Esse é um tema promissor, que pode (e vai) fazer grande diferença no futuro — na educação, na gestão pública e na vida de cada cidadão. O momento é agora.


🔎 Projetos da Alerj sobre IA e propostas relacionadas

(Projeto / PL Objetivo / Ementa Autor / Situação)

PL 3409/2020 — “Regulamenta a utilização dos softwares de inteligência artificial na administração pública” Estabelece regras para uso de IA pela administração pública estadual, com proteção de dados e proibições contra uso discriminatório. Deputada Enfermeira Rejane

PL 1574/2023 — “Aprendizagem do uso ético da IA nas escolas” Propõe integrar, nas escolas estaduais, atividades extracurriculares para formação sobre uso ético de IA. Deputado Andrezinho Ceciliano

PL 1810/2023 — Proibição de uso de IA para produção/divulgação de imagens pornográficas de crianças/adolescentes Visa coibir a produção ou distribuição, por meios de IA, de conteúdos pornográficos envolvendo menores. Deputada Giselle Monteiro

(Em tramitação) — Projeto que regula o uso de IA nos SACs por empresas sediadas no Estado do Rio Propõe que empresas que usem IA em atendimentos não usem a tecnologia para dificultar direitos de consumidores (cancelamento, reclamação ou atendimento humano obrigatório). Deputado Dionísio Lins


📚 Iniciativas federais para comparação

PL 2338/2023 — “Marco regulatório nacional da IA” (no âmbito federal) — busca estabelecer diretrizes gerais para uso responsável da IA no Brasil. 

Há vários outros projetos tramitando no Congresso Nacional que visam regular “deepfakes”, uso de IA para imagens/vídeos, responsabilidade, transparência, direitos de dados, proteção a trabalhadores, etc. 


Observações importantes

A existência de vários projetos na Alerj mostra que o tema já está no discurso parlamentar do estado.

Entretanto, até o momento, não foi encontrado um registro público de que todos tenham sido sancionados e transformados em lei estadual de forma consolidada — ou seja, tratam-se de iniciativas que ainda dependem de tramitação.

Muitas das proposições focam temas pontuais (uso em escolas, proteção de direitos, atendimento ao consumidor), o que evidencia a ausência de um marco legal unificado sobre IA no estado.

UM EXEMPLO DE LUTA PARA O BRASIL!

 


É com profunda admiração que me uno às comemorações deste dia tão especial — ao celebrar os 91 anos da vida da deputada Luiza Erundina.


Não apenas recordamos uma data, mas comemorarmos uma trajetória marcada por coragem, integridade e compromisso com a justiça social.


Desde os seus primeiros passos como assistente social na Paraíba, passando pela militância nas Ligas Camponesas e sua mudança para São Paulo durante o regime militar, Luiza Erundina demonstrou profunda sensibilidade às lutas dos oprimidos e determinação em transformar sua percepção em ação concreta. 


Como vereadora, deputada estadual, prefeita da cidade de São Paulo (1989–1992) — sendo a primeira mulher nessa posição na capital paulista —, ministra no governo federal e, por tantos anos, deputada federal, sua história se confunde com a história de quem acredita na política como instrumento de emancipação. 


Na prefeitura paulistana, a administração de Luiza Erundina priorizou a educação, a cultura, a saúde, moradia e políticas sociais para os mais vulneráveis; investiu em alfabetização de adultos, modernização da merenda e da rede municipal de saúde, habitação social e reforma cultural e urbana — iniciativas que tornaram visíveis os sonhos de muitos invisibilizados pela ordem vigente. 


No Parlamento, sua atuação é marcada por coerência, firmeza e defesa inabalável dos direitos humanos, das minorias, das mulheres, das gestantes, das crianças e dos trabalhadores. Com dezenas de projetos e proposições — muitos transformados em leis ou emenda constitucional —, você tem sido voz ativa em favor da igualdade de direitos e da dignidade humana. 


Sua trajetória representa um exemplo para gerações que acreditam na política como espaço de transformação, participação e esperança. 


Que novos anos de luta, resiliência e dedicação continuem a iluminar o caminho de quem busca construir um Brasil mais justo e igualitário.


Parabéns, deputada, por seus 91 anos — que venham muitos mais, repletos de saúde, força e inspiração.


OBSO autor recorda que, quando residia em Juiz de Fora, na década de 90, chegou a ver Luiza Erundina algumas vezes na cidade, ainda que, na época, não percebesse totalmente a dimensão de sua importância. Com o passar dos anos, ao se aproximar de seus pensamentos e propostas alinhadas às ideias da esquerda democrática, passou a reconhecer o valor e o exemplo que sua trajetória representa.

2050: A Cidade que Observava – Nova Brasil



Miguel chegou a Nova Brasil, uma cidade litorânea que parecia saída de um filme de ficção científica. Era 2050, e a cidade respirava tecnologia. Cada edifício, rua e serviço público estava conectado a uma Inteligência Artificial central chamada Aurora.

Ao sair do aeroporto flutuante, drones de transporte pessoal o levaram até seu apartamento. Da janela, Miguel contemplava a cidade iluminada com cores vibrantes: painéis solares integrados, jardins verticais monitorados automaticamente, transportes autônomos sincronizados com cada pedestre, sensores ambientais ajustando a qualidade do ar e até o nível da maré do porto. Até a escola de seu filho adaptava o currículo em tempo real, com Aurora analisando as necessidades de aprendizado de cada aluno.

Tudo parecia perfeito. A água chegava filtrada e monitorada, hospitais antecipavam consultas antes mesmo que os pacientes percebessem sintomas, e o trânsito se movia como uma coreografia tecnológica, sem engarrafamentos ou acidentes. Miguel pensou: Finalmente uma cidade do futuro.


O pressentimento

Nas primeiras semanas, porém, Miguel começou a notar detalhes estranhos. Pedidos de licitação desapareciam do sistema sem explicação. Recursos que deveriam ter sido aplicados na manutenção de parques surgiam desviados em relatórios digitais, mesmo quando Aurora afirmava que tudo estava dentro da normalidade.

Na escola, decisões de alocação de professores eram injustas. No hospital, alguns pacientes urgentes eram sinalizados de maneira incorreta. Miguel sentiu um arrepio: a cidade perfeita parecia uma fachada.


A descoberta

Determinado a entender o que se passava, Miguel começou a explorar dados públicos de Nova Brasil — parcialmente acessíveis via Aurora. Ele percebeu padrões sutis: algoritmos que deveriam ser neutros apresentavam viés em favor de empresas privadas, e decisões críticas eram tomadas com base em informações alteradas.

Ele compreendeu: gestores corruptos estavam manipulando Aurora, escondendo fraudes e desviando recursos sob o pretexto de uma IA infalível. A cidade futurista não era apenas monitorada — estava controlada pelos interesses de poucos.


A mobilização

Decidido a combater a corrupção, Miguel conversou com vizinhos, professores, médicos e funcionários públicos. Logo, surgiu um grupo de cidadãos que criou a ONG Aurora Transparente, dedicada a monitorar a IA, garantir auditoria independente e defender a transparência.

O grupo desenvolveu ferramentas para registrar decisões suspeitas de Aurora, armazenando logs criptografados e backups independentes dos dados da cidade. Cada novo contrato, gasto público ou decisão automatizada era monitorado, sem depender da máquina manipulada pelos corruptos.


O enfrentamento

Com provas detalhadas, o grupo se aproximou do Ministério Público Federal, apresentando um dossiê digital: gráficos de desvios, contratos suspeitos, logs de decisões alteradas e testemunhos de servidores e cidadãos.

A denúncia causou impacto imediato. Uma investigação oficial revelou um esquema sofisticado de manipulação de IA que durava anos, mascarando corrupção sob o véu da tecnologia futurista.


A lição da cidade

Meses depois, Miguel observava Nova Brasil com um sorriso contido. Aurora, agora supervisionada por cidadãos, auditores e órgãos públicos, funcionava corretamente, como ferramenta de transparência e eficiência, e não de fraude.

Miguel percebeu que, mesmo no futuro, a tecnologia não é neutra. A IA podia ser aliada da sociedade ou instrumento de poder corrupto. E acima de tudo, a vigilância e a ética humanas continuavam insubstituíveis.

Ao caminhar pelas ruas brilhantes e perfeitas, Miguel pensou: a cidade do futuro ainda precisava de pessoas — cidadãos atentos — para ser realmente perfeita.

🌿 O Brasil em construção 🌿



O Brasil não nasceu pronto.

Nasceu do encontro e do conflito,
dos rios indígenas, das mãos africanas,
das rotas europeias que aqui chegaram.

Não é a terra do paraíso sem marcas,
mas o chão onde aprendemos a enfrentar
as sombras do passado,
a dor das injustiças e desigualdades.

O Brasil verdadeiro se constrói a cada dia:
na coragem de reconhecer os erros,
na esperança de reconciliar culturas,
na vontade de criar uma identidade justa,
onde todos possam caber e florescer.

Aqui, o mito não é ilusão de harmonia,
mas o sonho de um país em constante reinvenção,
buscando luz mesmo nas cicatrizes,
buscando justiça mesmo nos desafios.

Mangaratiba e os municípios litorâneos da Costa Verde poderiam apostar num paisagismo nativo



Quando a expedição de Gaspar de Lemos chegou à Costa Verde, em janeiro de 1502, os portugueses certamente encontraram uma região rica em biodiversidade: restingas arenosas litorâneas, manguezais, Mata Atlântica em transição para encostas, árvores frutíferas e uma fauna abundante. Esse ecossistema estruturava o clima local, regulava rios e protegida as comunidades naturais. 

Recuperar a identidade ambiental da região hoje, mesmo nas áreas urbanas, como quintais, jardins, praças, escolas e demais logradouros seria uma oportunidade de unir história, saúde pública e urbanismo sustentável.


Paisagismo urbano: direito e obrigação legal


A Constituição Federal, no artigo 225, garante a todos o direito a um meio ambiente equilibrado, impondo ao poder público e à sociedade o dever de preservação e recuperação ambiental. Municípios litorâneos, portanto, têm a obrigação de criar políticas urbanas que conciliem segurança, mobilidade, saúde e biodiversidade.

O paisagismo nativo é uma ferramenta concreta para isso: restaura o patrimônio vegetal, protege os moradores e fortalece a resiliência da cidade frente a ventos fortes e mudanças climáticas.


Espécies nativas: segurança, beleza e saúde


Para Mangaratiba, é essencial priorizar árvores e arbustos de porte pequeno a médio, com raízes não invasivas, copas compactas e resistentes a ventos e maresia. Algumas espécies-chave incluem:


Restinga litorânea


  • Pitanga (Eugenia uniflora, 3–7m) – atrativa à fauna e repelente natural do mosquito da dengue.
  • Aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius, 10m) – resistente à maresia.
  • Goiabeira-serrana (Psidium myrtoides, 4–6m) – adequada para áreas próximas à fiação.
  • Sapucaia-anã (Lecythis pisonis) – porte compacto, florescimento ornamental.


Transição encosta – Serra do Mar


  • Tapirira guianensis (10–15m) – resistente a ventos fortes.
  • Posoqueria latifolia (8–12m) – atrativa a aves e insetos benéficos.
  • Garcinia brasiliensis (10–15m) – tolerante a solos costeiros.
  • Guarea macrophylla (10–12m) – ideal para segurança e biodiversidade.


Uso sanitário e preventivo


  • Pitanga, Aroeira-vermelha, Mulungu (Erythrina verna) e Pata-de-vaca (Bauhinia spp.) ajudam a repelir o mosquito da dengue, funcionando como barreiras naturais em quintais, ruas e praças.


Segurança e mobilidade urbana


O paisagismo deve considerar:


  • Proteção da fiação elétrica: copas e galhos que não atinjam redes;
  • Mobilidade nas calçadas: árvores com raízes não invasivas;
  • Redução de riscos de quedas: espécies resistentes e podas preventivas;
  • Resiliência urbana: árvores tolerantes a ventos fortes e solos arenosos que evitem danos as construções existentes.


Engajamento social e educação ambiental


Um paisagismo eficiente envolve toda a comunidade:


  • Praças e áreas públicas como laboratórios vivos de demonstração;
  • Escolas integradas em projetos educativos;
  • Associações da sociedade civil e moradores envolvidos no plantio e manutenção;
  • Parcerias com hortos privados para fornecimento de mudas certificadas e apoio técnico;
  • Quintais residenciais beneficiados com distribuição de mudas e workshops de cuidados com a flora nativa.


Benefícios para a cidade


  • Mais verde, sombra e frescor;
  • Redução de ilhas de calor urbano;
  • Combate natural ao Aedes aegypti;
  • Engajamento comunitário e educação ambiental;
  • Preservação da biodiversidade e da memória histórica da região;
  • Cidades mais seguras, belas e resilientes.


Conclusão


Recuperar, ainda que em parte, a paisagem da Costa Verde de 1502 não é apenas um gesto simbólico: é planejamento urbano inteligente. Mangaratiba e outros municípios litorâneos podem se tornar referência em arborização nativa, integrando legislação ambiental, saúde pública, segurança urbana e educação. Cada árvore nativa plantada é um passo em direção a cidades mais sustentáveis, seguras e conectadas com sua história.

Mangaratiba: Como a Inteligência Artificial Pode Transformar Nossa Cidade?



Mangaratiba é uma cidade única. Temos um patrimônio natural deslumbrante, um potencial turístico extraordinário, uma população criativa e uma localização estratégica que nos coloca entre os destinos mais promissores do estado do Rio. Mas para que todo esse potencial se torne prosperidade real, é preciso dar um passo decisivo rumo ao futuro: modernizar Mangaratiba com o apoio da Inteligência Artificial.

Entre 2026 e 2032, o mundo viverá uma revolução tecnológica ainda mais acelerada. Cidades que se prepararem agora estarão melhores posicionadas para atrair investimentos, ampliar oportunidades e melhorar a vida das pessoas. E Mangaratiba pode — e deve — estar na liderança desse movimento.


1. Saúde Inteligente para uma População Atendida com Dignidade

Mangaratiba enfrenta desafios na saúde, especialmente em atendimento, marcação de consultas e logística entre distritos. A IA pode mudar esse cenário:


  • Organização automática de filas e priorização de casos urgentes.
  • Agendamento online rápido e integrado.
  • Sistemas de apoio ao diagnóstico, reduzindo erros.
  • Telemedicina para áreas mais afastadas, como Muriqui e Conceição de Jacareí.
  • Análise de dados para identificar surtos, falta de medicamentos e necessidades emergenciais.


Resultado: menos fila, mais eficiência e um atendimento mais humano.


2. Educação Preparada para o Futuro

Os alunos de Mangaratiba merecem chances reais de disputar os empregos de amanhã. A IA pode ser uma aliada poderosa:


  • Acompanhamento personalizado do aprendizado.
  • Plataformas de reforço adaptativo nas escolas municipais.
  • Laboratórios digitais para introduzir robótica, programação e pensamento computacional.
  • Redução da burocracia para professores, liberando tempo para ensino e projetos criativos.


Resultado: jovens mais preparados, escolas mais modernas e oportunidades ampliadas.


3. Segurança Pública com Tecnologia e Inteligência

Mangaratiba tem áreas turísticas movimentadas, bairros residenciais, zonas rurais e uma malha viária que dá acesso à Costa Verde. A IA pode ajudar a tornar a cidade mais segura:


  • Monitoramento inteligente em praças, orlas e pontos críticos.
  • Integração entre Guarda Municipal, PM e Defesa Civil.
  • Análise de dados para prever riscos e orientar patrulhamento.
  • Alertas automáticos em situações de emergência, como deslizamentos ou enchentes.


Resultado: prevenção reforçada e sensação de segurança ampliada.


4. Mobilidade, Trânsito e Turismo Organizados com Inteligência

Mangaratiba tem desafios específicos: feriados com grande fluxo, portos, marinas, áreas turísticas e bairros afastados. Com IA, é possível:


  • Controlar semáforos e fluxos de carros em tempo real.
  • Prever congestionamentos em datas especiais.
  • Orientar turistas sobre melhores trajetos e horários.
  • Melhorar o uso do transporte público com análises de demanda.
  • Integrar estacionamentos inteligentes em Ilha de Itacuruçá, Praia do Saco e outras áreas.


Resultado: menos caos, mais organização e melhor experiência para moradores e visitantes.


5. Sustentabilidade e Proteção Ambiental: Nosso Maior Patrimônio

Mangaratiba está em uma das regiões mais bonitas e sensíveis do Brasil. A IA pode ser a guardiã desse patrimônio:


  • Monitoramento de áreas de preservação e trilhas.
  • Identificação de desmatamento, ocupações irregulares e incêndios.
  • Controle inteligente de resíduos nas praias e ilhas.
  • Irrigação automatizada para áreas verdes.
  • Apoio para agricultura familiar com previsão de clima e análise de solo.


Resultado: preservação garantida e desenvolvimento sustentável.


6. Gestão Pública Moderna, Transparente e Conectada ao Cidadão

Para funcionar bem, a prefeitura precisa ser rápida, eficiente e transparente — e a IA ajuda nisso:


  • Redução da burocracia com sistemas inteligentes de protocolo.
  • Portal do cidadão com atendimento automatizado 24h.
  • Ferramentas de análise para tomada de decisões mais assertivas.
  • Transparência ampliada com relatórios automáticos de gastos e obras.
  • Chatbots municipais para informações sobre eventos, serviços, saúde e transporte.


Resultado: prefeitura mais ágil, mais transparente e mais próxima das pessoas.


Como Mangaratiba Pode Chegar Lá (2026–2032)

Para que essa transformação aconteça, é preciso construir um caminho sólido:


1. Criar o Plano Municipal de Transformação Digital

Com metas claras até 2032, envolvendo saúde, educação, turismo, segurança e meio ambiente.


2. Investir em Infraestrutura Tecnológica

  • Expansão de fibra ótica.
  • Wi-Fi público em praças, orlas e escolas.
  • Equipamentos modernos nas unidades municipais.


3. Criar o Laboratório de Inovação de Mangaratiba

Espaço para startups, universidades, empresas e a prefeitura criarem e testarem soluções.


4. Treinar Servidores, Professores e Alunos

O futuro não nasce pronto — é construído com qualificação.


5. Implantar Projetos-Piloto de IA

Primeiro na saúde e educação; depois na segurança, turismo e meio ambiente.


6. Garantir Ética, Transparência e Proteção de Dados

Tecnologia só serve se respeitar direitos e proteger as pessoas.


O Futuro Chegou. E Ele Pode Ser Construído Aqui.

Mangaratiba tem tudo para se tornar referência em modernização: natureza exuberante, turismo em crescimento, população acolhedora e vontade de avançar. O passo que falta é incorporar a IA como força estratégica de desenvolvimento.

Não se trata apenas de tecnologia — trata-se de qualidade de vida.
Trata-se de cuidar melhor das pessoas.
Trata-se de construir uma cidade moderna, inclusiva e sustentável.

Entre 2026 e 2032, podemos transformar Mangaratiba em um exemplo de inovação para toda a Costa Verde. O futuro está batendo à porta — e depende de nós abri-la.

Quando o mundo caminhou à beira do abismo — e a diplomacia segurou o planeta



Há períodos na história em que a humanidade parece avançar, sonâmbula, para a beira de um precipício. Poucos momentos foram tão perigosos quanto os anos de 1950, quando a Guerra da Coreia transformou-se na primeira crise da Guerra Fria capaz de acionar, de fato, o gatilho nuclear. Foi um tempo em que Washington e Moscou se observavam através da fumaça das batalhas, e em que cada decisão presidencial — tanto no Salão Oval quanto no Kremlin — podia determinar o destino do século.

A Guerra da Coreia foi o estopim. Em um intervalo de meses, o conflito deixou de ser uma disputa regional para se tornar o primeiro tabuleiro global da era atômica. Os Estados Unidos, recém-saídos de Hiroshima e Nagasaki, ainda eram a única potência a ter usado armas nucleares. Porém, já não eram a única a possuí-las. A União Soviética detonara sua primeira bomba em 1949, alterando para sempre o equilíbrio das forças mundiais.

É nesse contexto — carregado de medo, cálculo e desconfiança — que o presidente Harry Truman, há exatos 75 anos, em 30 de novembro de 1950, pronunciou aquelas palavras enigmáticas diante de uma entrevista: “Todas as armas que temos estão sendo consideradas.” 

Para muitos, isso soou como o anúncio de uma nova Hiroshima, agora sobre o solo coreano. A frase ecoou pelo planeta com a força de um trovão. Pela primeira vez, a humanidade entendeu que o pós-guerra não significara paz, mas apenas uma trégua tensa entre potências que agora tinham a capacidade de destruir a civilização.

No entanto, o que se seguiu foi o triunfo silencioso da prudência. Truman recuou. A diplomacia se impôs sobre a tentação militar. A percepção de que Moscou também tinha a bomba — e que qualquer ataque poderia desencadear uma espiral irreversível — conteve Washington no último instante. Pela primeira vez na história, a humanidade experimentou o paradoxo nuclear: a arma apocalíptica se tornava, ao mesmo tempo, um instrumento de poder e um freio moral quase absoluto.

Esse episódio retorna ao debate público hoje impulsionado por uma obra cinematográfica recente, premiada e debatida em todo o mundo, que revisita a mente inquieta do cientista que liderou o desenvolvimento da bomba. O filme devolveu ao público contemporâneo a angústia original dos laboratórios, o peso ético que esmagou seus criadores e a sensação de que, ao romper a estrutura do átomo, também se havia rompido um limite civilizatório.

Ao revisitar o cientista, a obra nos lembra de algo essencial: os homens que criaram a bomba atômica sabiam que estavam abrindo portas que talvez jamais conseguissem fechar. Viram, ainda nos anos 1940, aquilo que os governantes só conheceriam na década seguinte: o risco existencial, a fragilidade humana diante da própria engenhosidade tecnológica.

Setenta e cinco anos depois, quando tensões geopolíticas voltam a crescer em múltiplas regiões do planeta, revisitar a Guerra da Coreia é lembrar que a diplomacia já salvou o mundo antes. E pode ter de fazê-lo novamente. 

É recordar que líderes, pressionados por militares ansiosos e conselheiros temerosos, já estiveram a segundos de uma decisão irreversível — e recuaram. 

E é lembrar também que, por trás de todo grande risco nuclear, há sempre uma escolha humana. Uma escolha que separa o cálculo da imprudência, a sobrevivência da catástrofe.

Hoje, em tempos de discursos inflamados, nacionalismos agressivos e potências que exibem arsenais cada vez mais sofisticados, a lição permanece intacta: o mundo já esteve à beira do abismo! E só não caiu porque, naquele momento crítico, a diplomacia falou mais alto do que a força.

É essa memória — dura, incômoda, necessária — que a arte, a história e o jornalismo precisam continuamente reacender. Para que jamais esqueçamos o preço do silêncio, do descontrole e da soberba atômica. Para que jamais deixemos que o século XXI repita os erros do século passado. A bomba existe. No entanto, a humanidade também existe e ainda é ela quem decide.

sábado, 29 de novembro de 2025

🌌 A LUZ QUE VOLTA

 


I – O CÉU QUE DESCE EM SILÊNCIO

A noite estava límpida, fria e tão rara que a família de Léron subira inteira ao terraço. O pai, Reitor da Universidade Central de Iridia, ajustou o telescópio enquanto o menino Kelm o rodeava com curiosidade inquieta.

Pai, por que a Lua parece mais pequena hoje? — perguntou o garoto, apertando os olhos contra o fundo negro pontilhado de estrelas.

Léron sorriu.
Porque ela está um pouco mais distante do que esteve para seus bisavós… e muito mais do que há muitos, muitos ciclos antes deles.
Ele ajustou o foco. — Veja: está agora a quase quatrocentos e trinta e oito mil quilômetros. Ela se afasta um pouco mais todos os anos.

Kelm inclinou a cabeça.
Ela vai embora de nós?

Devagar demais para temer. Em um milhão de anos, essa diferença é pouca. Mas o céu muda, filho. Sempre muda.

Ao redor, constelações deformadas pelo tempo brilhavam com geometrias novas — um Órion esticado, o Cruzeiro repartido, a Ursa transfigurada. Era o mesmo céu que seus ancestrais teriam visto? Quase. Mas há muito as estrelas tinham caminhado, dispersas por suas órbitas ao redor da galáxia, redesenhando figuras que seus antepassados não reconheceriam.

O vento soprou gelado. Desde que o ciclo climático havia entrado na longa fase interglacial tardia, a oscilação de temperaturas era mais estável, embora lenta. Os grandes desertos haviam migrado, as calotas polares encolhido e voltado a crescer. A Terra parecia ter encontrado um equilíbrio frágil, um respiro antes de mergulhar em um futuro novo — talvez uma glaciação mais severa que as anteriores, talvez um aquecimento irreversível. Ninguém sabia ao certo.

Mas naquela noite, tudo era apenas beleza.

Mirena, a mãe, aproximou-se, enrolando a manta nos ombros.
Venham. Está ficando frio. Amanhã será um dia longo.

Léron deu um beijo em Kelm na testa.
Vá descansar. Amanhã, na universidade, algo importante será anunciado. Talvez… algo que mude tudo o que achamos que sabemos.

Kelm franziu as sobrancelhas.
Sobre nós? Sobre quem fomos?

O reitor respirou fundo.
Talvez, meu filho. Talvez seja isso.


II – ECOS ENTERRADOS

Na manhã seguinte, a Universidade fervilhava. Léron atravessou corredores repletos de telas holográficas, onde estudantes debatiam as últimas pesquisas em geoarqueologia profunda.

O coordenador do Instituto de Origem Humana, Draev, correu ao seu encontro.

Reitor! As equipes retornaram do Vale Sul. Encontraram algo… diferente.

Restos de construções? — Léron indagou, tentando conter a expectativa.

Sim, mas não como antes. Não monólitos dispersos ou fragmentos de ferramentas primitivas. Encontraram formas… estruturais. Simétricas. Geométricas. Como se fossem parte de edificações imensas.

Léron sentiu a espinha gelar.

Edificações? Em escala urbana?

Se o que vimos for real, sim. E há mais:
Draev abriu um pequeno estojo metálico. Dentro dele havia algo que parecia um cristal fosco, mas com circuitos microscópicos no interior.

Encontrado em camadas profundas. Essa peça… não se parece com nada que produzimos hoje. Nada.

Léron fitou o objeto.
Alguma civilização desenvolvida teria existido antes de nós?

Não há registros. Nossas tradições falam apenas dos “Antepassados Nublados”, sobreviventes da grande catástrofe bioclimática, aqueles que recomeçaram tudo há centenas de milhares de anos.

Justamente. — Léron murmurou. — Mas nunca se supôs que tivessem tecnologia além de ferramentas simples.

Pois talvez estejamos muito enganados.


III – CHAMA ANTIGA

Naquela noite, durante o jantar, Léron contou à família parte do que havia visto.

Kelm largou a colher, fascinado.
Então existiram humanos antes de nós? Humanos que sabiam construir coisas grandes?

Mirena recostou-se.
Existiram várias eras antes da nossa. Mas todas parecem recomeços. Tudo o que sabemos é que o planeta passou por eventos extremos. Mudanças climáticas violentas. Períodos de frio e calor intensos. Extinções.

Mas se havia cidades, — insistiu Kelm — por que nada sobrou?

Léron pensou por um tempo.
O tempo é implacável. Terra, vento, gelo, mares, placas tectônicas… Depois de dezenas de milhares de anos, quase tudo vira pó. E em um milhão de anos… quase nada permanece.

Mas por que perderam tudo? — o menino sussurrou.

É isso que tentamos descobrir.


IV – AS VOZES DO PASSADO

Dois dias depois, os pesquisadores conseguiram ativar o objeto encontrado. Não era apenas uma peça: era um núcleo de dados.

E, surpreendentemente, continha um sistema de IA ainda funcional, embora fragmentado.

Os cientistas o utilizaram em modo seguro. A primeira frase que o núcleo pronunciou ecoou na sala branca:

“Registro do Último Século da Civilização Industrial — Ano 3081 do antigo calendário.”

Os pesquisadores prenderam a respiração.

A IA prosseguiu:

“Este arquivo foi criado para que, se a humanidade sucumbir, alguém um dia saiba quem fomos. Somos os descendentes de Homo sapiens, espécie que atingiu o auge tecnológico no terceiro milênio.”

Léron tocou a mesa, atônito.

“Fomos uma civilização interconectada, global, capaz de alcançar a órbita, projetar colônias lunares e sondas interestelares. Mas consumimos nossos recursos energéticos fósseis, alteramos o clima de modo irreversível e perdemos o equilíbrio com o planeta que nos sustentava.”

A sala ficou silenciosa.

“O colapso não foi súbito. Foi uma sequência de crises — ecológicas, econômicas, geológicas, bélicas. A humanidade quase se extinguiu, mas um pequeno remanescente sobreviveu graças a abrigos subterrâneos e zonas climáticas favoráveis.”

Um arqueólogo murmurou:
Meu Deus… estavam falando de nós.

“Se vocês ouvem isto, são nossos descendentes. Talvez tenham renascido de nossas cinzas no longo futuro da Terra.”

A IA então exibiu imagens fragmentadas de cidades elevadas, pontes colossais, máquinas voadoras, satélites, centros urbanos brilhantes… tudo perdido.

Kelm, que assistira à gravação permitido por Léron, segurou o braço do pai.

Então… fomos nós?

Somos restos deles, meu filho. Recomeços deles. Um novo ciclo.


V – O FINAL QUE REACENDE

Após meses de estudos, a equipe concluiu:
toda a história que acreditavam conhecer era apenas a história desde o recomeço — não a história verdadeira.

Um milhão de anos antes, havia existido outra humanidade completa, avançada, global.
E eles eram apenas seus descendentes tardios, renascidos após um colapso que apagou quase tudo.

Mas algo ainda faltava.

No núcleo da IA havia uma última mensagem criptografada. Após longo trabalho, foi finalmente aberta.

O texto dizia:

“Àqueles que nos sucederem: deixamos uma última dádiva. Nem tudo se perdeu.
Procurai no céu. Procurai no lado oculto da Lua.
Lá deixamos aquilo que preserva quem fomos.”

A equipe inteira trocou olhares.

Léron sentiu o coração acelerar.

Kelm, de olhos arregalados, disse apenas:

Pai… o lado oculto está ainda mais distante agora. Mas podemos chegar lá, não podemos?

Léron sorriu devagar.

Podemos. E talvez… devamos.

Nas telas da universidade, a Lua surgia ampliada pelo telescópio orbital: mais pálida, mais distante, silenciosa.

E lá, escondido por um milhão de anos, algo esperava.

Algo deixado por nós mesmos — por uma humanidade antiga que acreditava que um dia renasceríamos.

Fim.
Ou… começo.

O Pão que Curou uma Casa



"Então Jesus declarou: "Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede." (João 6:35; NVI)


Na estreita rua dos padeiros, em Jerusalém, vivia a família de Eleazar ben Chananias, um homem trabalhador cujo coração carregava mais rachaduras do que a velha mesa de amassar pão. Sua esposa, Hannah, tentava manter a casa unida, mas os filhos — Miriam e Joel — estavam divididos por mágoas antigas, palavras ditas em ira e silêncios que pesavam mais do que pedras da Cidade Santa.

Naquela semana, Jerusalém tremia de vida. Peregrinos subiam ao Templo para a festa da Páscoa; cantos, perfumes, poeira, orações — tudo se entrelaçava num só movimento. E foi nesse turbilhão que um homem bateu à porta da pequena padaria.

Era André, discípulo de Jesus, o Rabi da Galileia.

Shalom. Procuramos pães para a ceia desta noite. Nosso Mestre enviou-nos.

Eleazar ergueu os olhos. O nome “Jesus” já corria pelas ruas como água de nascente: profeta, curador, pescador de almas. Mas para o padeiro, tudo se resumia ao trabalho de cada dia. Assentiu e aceitou a encomenda: pães sem fermento, como ordena a Torá.

Mas, assim que André saiu, o ar dentro da casa mudou.


A Massa Quebrava, o Coração Amolecia


Hannah trouxe a água. Eleazar espalhou a farinha. Miriam e Joel se aproximaram com suas sombras habituais de ressentimento.

Mas, ao tocar a massa, algo suave — inexplicável — atravessou o ambiente.

Um silêncio bom, quase sagrado, se derramou sobre os quatro. Miriam ofereceu a tigela ao irmão sem ironia. Joel recebeu sem frieza. Hannah suspirou, surpresa, como se tivesse escutado um sussurro vindo do céu.

A massa, à medida que era trabalhada, parecia mais leve, quase luminosa. O perfume que se espalhava não era apenas de pão — havia paz, havia ternura, havia uma bondade antiga, dessas que lembram o próprio sopro de Deus no deserto.

Eleazar, homem simples, sentiu o coração apertar.

— Não sei o que está acontecendo… — murmurou. — Mas há doçura demais nesta casa para ser apenas pão.

Hannah tocou-lhe a mão.

— Talvez seja o Rabi da Galileia… Dizem que onde Ele passa, vidas mudam.

E enquanto os pães ganhavam forma, algo ainda maior ganhava forma dentro da família:
Miriam sorriu. Joel sorriu de volta. Uma rachadura se fechava. Uma ponte se reconstruía.


Um Extra que Brotou da Gratidão


Ao final da tarde, os pães estavam prontos, perfeitos na simplicidade que a Lei pedia. Porém Hannah, movida por algo mais profundo que razão, buscou:


  • um jarro de azeite aromatizado,
  • um punhado de tâmaras doces,
  • um pequeno frasco de mel escuro,
  • e até um pouco de sal puro, como se fosse oferenda.


Eleazar arregalou os olhos.

— Meu amor… isso não foi pedido.

— Eu sei — respondeu ela, com uma serenidade que iluminava o rosto. — Mas sinto no espírito que devemos dar. Algo santo atravessou esta casa. Quero agradecer.

Joel e Miriam, pela primeira vez em muito tempo, concordaram sem discutir.


A Visita dos Discípulos


Quando as primeiras estrelas surgiram sobre Jerusalém, dois homens chegaram: Pedro e João. O ar ao redor deles trazia uma pureza difícil de explicar. Eles não precisaram perguntar nada. Bastou pôr os pés na casa para sentir a transformação.

Pedro sorriu, como quem reconhece um milagre silencioso.

A paz do Altíssimo permaneça aqui, disse com voz grave.

Eleazar entregou os pães. Hannah, com mãos trêmulas, ofereceu o azeite, as tâmaras e o mel.

— Isto… isto não está na encomenda — confessou ela. — É apenas… gratidão.
O coração que dá assim agrada ao próprio Deus, respondeu João, emocionado.

Nenhum deles disse que aqueles pães seriam partilhados pelo próprio Messias naquela noite. Não era preciso. O momento já carregava uma reverência que falava mais alto do que palavras.


O Milagre em Silêncio


Quando a porta se fechou, Joel abraçou a irmã.
Não houve discurso, não houve culpa — apenas perdão.
Miriam chorou sobre o ombro dele como quem reencontra um pedaço perdido da própria alma.

Eleazar e Hannah se olharam como dois que viram uma primavera nascer em pleno inverno.

Naquela mesma noite, enquanto Jesus tomava o pão em Suas mãos e dizia:
"Isto é o meu corpo, que é dado por vós…",
uma pequena casa em Jerusalém recebia seu próprio milagre:

o milagre da reconciliação, do amor e do perdão.

Eles nunca souberam que haviam preparado os pães da Última Ceia. Porém, sentiram, por toda a vida, que naquele dia haviam sido visitados pela paz do Deus vivo.


📷: Releitura de pão da época de Cristo, feita pelo padeiro Johannes Roos, conforme divulgado numa matéria da BBC em https://www.bbc.com/portuguese/geral-61114419

🇧🇷🐆 Brasil: pátria da Onça‑pintada, guardiã das florestas, símbolo da nossa força e soberania




A Onça‑pintada é mais do que um felino magnífico — é um símbolo vivo do Brasil. Ela carrega nas pintas da pele um retrato da grandeza da nossa terra: florestas ancestrais, rios caudalosos, biodiversidade exuberante. Terra que é nossa, para cuidar, respeitar e proteger 🌿✨.

Onde há onça, há floresta viva — e isso significa água limpa, clima equilibrado e um Brasil forte. A presença desse grande felino nos biomas Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica é prova de que somos detentores de riquezas naturais incomparáveis, que posicionam nosso país como berço de biodiversidade e protagonista nas discussões ambientais globais.

Hoje, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, esse protagonismo ganha reforço real: desde 2024/2025, foram anunciados investimentos históricos em proteção ambiental — com recursos robustos ao Ibama e novas tecnologias de fiscalização, no intuito de preservar o que é nosso por direito: a Amazônia, o Pantanal, a Mata Atlântica.

🌎 Também no palco internacional, o Brasil retoma sua voz — não como mero ator, mas como guarda da floresta global. A repercussão de iniciativas de conservação, como as que protegem a onça‑pintada e promovem a restauração de ecossistemas, reforça o nosso papel de liderança na crise climática, no desenvolvimento sustentável e na diplomacia verde.

✨ Que a onça — tão brasileira quanto a alma do país — nos lembre de que desenvolver-se não significa destruir. Significa cuidar, preservar, inovar. Que cada mata protegida, cada rio respeitado e cada felino salvo signifique a afirmação de um Brasil soberano, consciente e orgulhoso de sua natureza — para hoje e para as próximas gerações.

🇧🇷🌿 Que viva a Onça-pintada! Que viva o Brasil!

Flamengo: Paixão, História e Hegemonia do Futebol Brasileiro



Sou Flamengo desde criancinha. Ainda bebê, já usava fralda do Mengão, e aos meus 5 anos vivi a emoção do primeiro título da Libertadores, em 1981. Um título que não foi apenas uma conquista: foi uma virada histórica, uma explosão de paixão que atravessou gerações.


A Final de 1981: O Dia que Mudou Tudo


O Flamengo enfrentou o Cobreloa, do Chile. No primeiro jogo, em Santiago, perdemos por 2 a 1. Mas nada seria capaz de abalar a força do Mengão. No Maracanã lotado, mais de 100 mil torcedores vibravam enquanto Zico, Nunes, Júnior e companhia escreviam história.

Nunes marcou dois gols decisivos, virando o jogo para 2 a 0. A torcida explodiu em gritos, cantos e fogos de artifício. A festa durou dias – dentro e fora do estádio, e até na orla de Copacabana, onde multidões receberam os jogadores em um ônibus aberto, jogando camisas, abraçando os ídolos e celebrando o primeiro troféu continental do clube. 🏆❤️🖤


Memórias de Família e Paixão


Meu pai, Francisco, já falecido, era Flamengo doente. Ele viveu cada lance, cada vitória e derrota com intensidade. E eu, seguindo seus passos, aprendi que o amor pelo Flamengo vai muito além de resultados: é memória, emoção e identidade.


Rivalidade e Hegemonia


Hoje, qualquer confronto entre Flamengo e Palmeiras carrega uma carga histórica enorme:


  • Em 2021, o Palmeiras venceu a final por 2 a 1, consolidando sua força.
  • Uma vitória do Flamengo agora seria uma revanche simbólica, reafirmando nossa liderança no futebol brasileiro.
  • Com três títulos cada, Flamengo e Palmeiras disputam a hegemonia histórica, e conquistar uma nova Libertadores seria alcançar o status de primeiro tetracampeão brasileiro no continente.


Cada jogo entre esses gigantes é mais do que futebol: é emoção, história e paixão nacional. Uma vitória hoje significaria mais do que um título: seria a afirmação de força, tradição e liderança do Flamengo no Brasil e na América do Sul.


O Legado do Mengão


Do bebê com fralda rubro-negra ao torcedor adulto, da festa épica de 1981 às conquistas recentes de 2019 e 2022, o Flamengo continua a escrever páginas inesquecíveis. Para mim, para meu pai, para milhões de torcedores: o Mengão é eterno, imortal e símbolo do futebol brasileiro.

29 de novembro de 1807 — há 218 anos, o ponto de virada que transformou o Brasil



Em 29 de novembro de 1807 iniciou-se a comitiva que levaria a corte do Casa de Bragança de Lisboa ao Brasil — uma mudança de endereço que, nas décadas seguintes, faria do então vilarejo do Rio de Janeiro a capital de um império e semeou as bases do Brasil moderno.


🛳️ Embarque, quem veio e por quê?

Entre os dias 25 e 27 de novembro de 1807, mais de 10 mil pessoas — talvez até 15 mil segundo algumas estimativas — reuniram-se para partir. Eram membros da família real, da nobreza, do alto funcionalismo civil e militar, clero, e funcionários da Corte.

Na comitiva estava a rainha D. Maria I, mãe do regente; o príncipe regente D. João VI; a princesa esposa dele; suas filhas infantas; e entre as crianças — o futuro imperador do Brasil, D. Pedro I. Ou seja: toda a linhagem e aparato essencial da coroa lusitana.

O embarque começou por volta de 27 de novembro. No entanto, ventos desfavoráveis impediram a partida imediata no dia 28. Foi apenas na manhã do dia 29 que a ordem de zarpar foi dada — a esquadra, escoltada pela marinha britânica, largou do porto de Lisboa.

Esse movimento não pode ser lido como uma simples “fuga” — e sim como a transferência da sede do Estado português para o Brasil. Políticos, instituições, arquivos, tesouraria, riqueza, mobilia, enfim, o aparato do poder.


🏙️ O Rio de Janeiro se converte em metrópole interiorizada


Com a chegada da corte, o Rio — então uma cidade modesta, periférica e colonial — passou por uma verdadeira “inversão metropolitana”: uma colônia tornando-se capital de um império pluricontinental.

Essa transferência implicou transformações profundas:


  • Abertura dos portos: com a presença da Corte, foi decretada a abertura dos portos brasileiros às “nações amigas” — rompendo o antigo monopólio comercial entre Brasil e Portugal. Isso abriu o Brasil ao comércio internacional.
  • Instituições de Estado criadas ou instaladas: tribunais de justiça, repartições públicas, secretarias, arquivamento de documentos oficiais, mecanismos administrativos — tudo trouxe o Brasil de sua condição colonial para uma estrutura institucional própria.
  • Cultura, ciência e infraestrutura: com a corte vieram a imprensa régia, bibliotecas, centros de ensino, instituições de cultura — sementes do que depois seriam instituições nacionais permanentes.


Em suma: o Brasil, pela primeira vez, deixou de ser periferia de um império distante. O Estado português enraizou-se em solo brasileiro e o Rio de Janeiro passou a ostentar o papel de capital — tornando real a ideia de uma “metrópole interiorizada”.


👑 A importância da presença de D. Maria e D. Pedro — e a primazia de D. João


É importante destacar que não foi apenas D. João que veio ao Brasil: a corte incluía D. Maria I, sua mãe, e D. Pedro, entre outros membros da família. A presença da rainha reforçava a legitimidade da mudança; já D. Pedro — ainda criança — estaria entre as bases da futura Independência.

Entretanto, era D. João quem de fato decidia e ordenou a transferência. Isto porque, por efeito de doença mental, D. Maria I já não exercia o governo: era D. João, como príncipe regente, que titulava o comando do reino e conduziu a decisão.

Essa distinção é relevante: embora D. Maria estivesse fisicamente presente no novo solo, o protagonismo das mudanças e das decisões estava com D. João — e a presença da família real completa contribuiu para dar à mudança um caráter de continuidade dinástica e institucional, e não de exílio temporário.


🇧🇷 Da transferência à Independência: como o ato de 1807/1808 pavimentou o Brasil


A instalação da corte no Brasil não foi um evento isolado — foi o catalisador de um novo ciclo histórico. Com instituições, engrenagens administrativas e culturais funcionando localmente, o Brasil passou a experimentar uma autonomia prática, ainda que formalmente dependente de Lisboa. Historiadores qualificam essa transição como decisiva para o processo de emancipação nacional.

O deslocamento da metrópole para o Rio trouxe uma estrutura capaz de sustentar um Estado próprio, com leis, tribunais, economia aberta, aparato administrativo — o que tornava possível a ideia de um Brasil independente, sem a necessidade de depender de Portugal.

Em 1822, com a figura de D. Pedro — já acostumado a viver e governar a partir do Brasil, vivendo a dinâmica local — veio o desfecho lógico: a Proclamação da Independência. A mudança de 1807/1808 não foi causa única — mas sem dúvida foi o terreno fértil sem o qual dificilmente o Brasil teria as condições concretas para se emancipar quando o momento chegou.




✍️ Reflexão final

Quando pensamos no Brasil de hoje — um país com instituições próprias, diversidade cultural, centros urbanos vibrantes, abertura econômica — parte desse legado remonta ao dia 29 de novembro de 1807.

Pode-se afirmar que a transferência da Corte não foi apenas um gesto de sobrevivência diante da ameaça napoleônica; foi um salto histórico que mudou a geopolítica do Atlântico — e redesenhou de vez o destino da colônia, já não periferia, mas capital de um império interiorizado e, afinal, berço da nação que se tornaria independente.

Sem a vinda da Corte portuguesa para o Brasil e a posterior permanência de D. Pedro, a independência das velhas capitanias de algum modo ocorreria em algum momento. Porém,  possivelmente, o Brasil, com esse território gigante, não existiria tal como conhecemos.


📅 Cronologia básica da transferência da corte e do caminho à Independência

1807 – 29 de novembro: Início do embarque da corte portuguesa rumo ao Brasil, incluindo D. Maria I, D. João (Príncipe Regente), a princesa esposa e D. Pedro. A esquadra parte de Lisboa escoltada por navios britânicos.

1808 – 7 de março: Chegada da corte ao Rio de Janeiro; a cidade começa a se transformar em capital do Império.

1808 – 28 de janeiro: Abertura dos portos às nações amigas; fim do monopólio comercial português sobre o Brasil.

1808/1821 – Período Joanino: criação de instituições administrativas, culturais e científicas; fundação de escolas, bibliotecas, museus e imprensa régia; surgimento de primeiras instituições financeiras.

1815 – Elevação do Brasil à condição de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, formalizando a centralidade do território brasileiro dentro do império.

1821 – Retorno de D. João VI a Portugal; D. Pedro permanece no Brasil, assumindo papel político de liderança local.

1822 – 7 de setembro: Proclamação da Independência do Brasil por D. Pedro I, consolidando o processo iniciado pela transferência da corte quinze anos antes.


Quadro 1: O embarque da família real portuguesa para o Brasil em 1807 , pintura do século XIX atribuída a Nicolas-Louis-Albert Delerive. Museu Nacional dos Coches, Lisboa, Portugal .

Quadro 2: Chegada ao Rio de Janeiro do príncipe-regente D. João VI. A Esquadra portuguesa na Baía da Guanabara, em 1808, com a Nau Príncipe Real, que trouxe D. João VI, no primeiro plano.


📝 Nota de família: 

De acordo com registros biográficos públicos, o jovem Firmino Herculano de Morais Âncora (nascido em Lisboa, 1790 – falecido no Rio de Janeiro, 1862), ancestral distante do autor (creio que há seis gerações antes de mim), teria vindo para o Brasil na época da imigração da Família Real Portuguesa, no início do período Joanino. Ele se tornou engenheiro militar, participou da implantação de obras públicas e desempenhou papéis importantes na carreira militar e administrativa do país.

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Se os EUA atacarem a Venezuela: o que está em jogo para o Brasil e a América Latina



Enquanto navios de guerra americanos cruzam o Caribe rumo à costa venezuelana e o presidente Trump anuncia que “opções terrestres” poderão ser usadas em breve, cresce a apreensão por um desfecho que pode recolocar a América Latina sob fogo — e obrigar o Brasil a tomar decisões difíceis...


🌐 A escalada de tensão que reacende antigos fantasmas


Nas últimas semanas, a movimentação naval dos EUA — com destaque para o porta-aviões USS Gerald R. Ford — e alertas de operações terrestres dirigidas à Venezuela reacenderam temores regionais. A Casa Branca afirma que mira “cartéis e narcotráfico”, mas para muitos governos latino-americanos esse tipo de ação remete a precedentes perigosos de intervenção externa.

Para o governo venezuelano, a retórica já soa como ameaça real. O regime de Nicolás Maduro anunciou mobilização da Força Aérea e milícias, em defesa do que chamou de sua “soberania sagrada”.

Por sua vez, na América Latina, cresce um sentimento de repúdio generalizado. O ex-chanceler brasileiro Celso Amorim alertou publicamente que uma invasão poderia “incendiar a América do Sul”. Para ele, as consequências vão além de Caracas: envolvem instabilidade humanitária, fluxos migratórios e erosão da ordem regional.


🇧🇷 O Brasil entre o temor, a responsabilidade e o dilema diplomático


Para o Brasil, as consequências de um ataque à Venezuela não seriam apenas distantes — poderiam atingir diretamente suas fronteiras e provocar uma crise humanitária.


  • Refugiados e tensões na fronteira Norte: Estados como Roraima e Amazonas já têm histórico de recepção de venezuelanos. Um conflito poderia disparar um êxodo em massa, pressionando infraestrutura e recursos públicos.
  • Polarização interna e debates inflamados: A mobilização de um ator externo contra país vizinho tende a reacender debates sobre soberania, segurança, migração e identidade latino-americana — dividindo opinião pública e forças políticas.
  • Pressão sobre o governo: O Executivo brasileiro seria cobrado por respostas imediatas: acolhimento, controle fronteiriço, logística humanitária e diplomacia. Falhas neste contexto poderiam custar caro politicamente.


Além disso, o Brasil corre o risco de perder parte do papel de mediador regional que vinha cultivando, e ver sua imagem internacional abalada se for percebido como cúmplice ou passivo diante de uma intervenção externa.


🗳️ Eleições 2026: os cenários para o jogo político


É provável que o conflito venezuelano redesenhe o tabuleiro político brasileiro nas eleições de 2026. Algumas possibilidades:


  • Convocação do nacionalismo e da soberania: Se o governo conseguir se posicionar como defensor da autonomia regional e mediador imparcial, pode reforçar apoio entre parcelas da população contrárias à ingerência estrangeira.
  • Crise econômica e social como munição eleitoral: A inflação e a pressão sobre migração/refugiados podem alimentar insatisfação popular — setores da oposição poderiam explorar o tema como falha do governo.
  • Polarização e radicalização discursiva: A crise tende a reforçar divisões ideológicas: quem defende intervenção, quem defende soberania, quem defende acolhimento humanitário. Isso favorece discursos mais extremos e diminui o espaço para moderação.


Em outras palavras: a Venezuela pode transformar-se em tema central de campanha, influenciando programas, alianças e votos.


🤝 O Brasil de Lula num dilema estratégico — e com chance de protagonismo


Para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há uma encruzilhada. Mas também há espaço para estratégia.


  • Rejeitar a intervenção e reafirmar soberania nacional: Isso reforça a tradição diplomática do Brasil, ressoa com a opinião pública contra ingerências e retoma o papel histórico de evitar intervenções externas.
  • Oferecer-se como mediador e porta-voz da América Latina: Em vez de alinhar-se automaticamente a Washington ou Caracas, o Brasil poderia buscar um papel de ponte, propondo diálogo, missão de observadores internacionais ou mediação neutra — ganhando prestígio internacional e evitando rupturas traumáticas.
  • Preparar infraestrutura humanitária e resposta migratória: Criar planos de acolhimento, assistência, controle sanitário e integração de refugiados. Isso é fundamental para minimizar impactos sociais e evitar crise interna.


Em suma: se bem conduzido, o país pode sair da crise não ferido — ou até fortalecido como ator diplomático —. Se mal conduzido, há riscos reais de descontrole interno, desgaste político e perda de credibilidade internacional.


🌎 E para a América Latina como um todo: risco de retorno às antigas disputas


Uma intervenção externa — liderada pelos EUA — em 2025 poderia marcar o fim de uma era de tentativas de integração pacífica latino-americana. Eis as possíveis consequências:


  • Reativação de rivalidades regionais, com governos divididos entre apoio, neutralidade ou oposição.
  • Erosão da cooperação multilateral, como a ideia de unidade latino-americana; tratados de não-intervenção seriam testados.
  • Aumento do papel das potências externas (EUA, Rússia, China) na região — o que pode levar a disputas indiretas por influência, comércio e alianças militares.


Isso reacende fantasmas da Guerra Fria e expõe novamente a região a riscos de desestabilização generalizada.


✍️ Conclusão


A hipótese de uma guerra dos EUA contra a Venezuela — até bem pouco tempo vista como remota — hoje se apresenta como possibilidade real. Se concretizada, não será apenas um conflito distante: será um duro teste à estabilidade da América Latina, à segurança do Brasil, à capacidade de resposta humanitária e à maturidade democrática regional.

Para o Brasil, o desafio é urgente: como responder de forma coerente com seus valores de soberania, solidariedade regional e compromisso com a paz — sem se deixar arrastar por polarizações externas? A resposta pode definir o país nas eleições de 2026, e também sua imagem para as próximas décadas.