A crise entre Estados Unidos e Venezuela voltou a crescer depois das declarações duras do governo Trump. Muita gente pergunta: por que Nicolás Maduro ainda não fez uma denúncia formal na ONU ou em outros organismos internacionais?
A resposta pode parecer estranha, mas faz sentido dentro da lógica política e estratégica da Venezuela.
Aqui estão os principais motivos — explicados de forma simples:
🔹 1. Denunciar antes pode parecer fraqueza: Maduro precisa mostrar força para suas Forças Armadas e sua base política.
Se ele denunciar cedo demais, antes de qualquer ação concreta dos EUA, pode parecer que ele está com medo e até desesperado, ou então está exagerando.
Isso pode criar tensão interna e até incentivar divisões no Exército.
Desse modo, ele só denuncia quando tem certeza de que isso não o enfraquece.
🔹 2. Ele quer aparecer como vítima, não como provocador:
No cenário internacional, a imagem importa. Desse modo, se os EUA derem o primeiro passo — mesmo um passo pequeno — Maduro pode dizer: “A Venezuela foi atacada. Estamos defendendo nossa soberania.”
Ora, tal conduta pode fazer com que a comunidade internacional veja o país como vítima, não como causador da crise, o que aumentaria muito o apoio diplomático à Venezuela.
🔹 3. Trump fala muito e nem sempre age:
Obviamente o governo venezuelano sabe que Trump:
- costuma exagerar;
- usa ameaças para pressionar;
- já recuou várias vezes no passado.
Maduro e seus conselheiros podem estar esperando para ver se a ameaça é real ou apenas retórica política. Por isso, se não houver movimentação militar concreta no Caribe, denunciar cedo seria desgastar energia à toa.
🔹 4. A Venezuela talvez esteja negociando nos bastidores: Antes de ir à ONU, Maduro provavelmente tentaria:
- falar com Brasil e México;
- obter apoio da China;
- consultar a Rússia;
- medir a posição da Colômbia;
- esperar um posicionamento conjunto da CELAC.
Certamente que uma denúncia forte funciona muito melhor quando outros países já estão do seu lado.
🔹 5. Um ataque externo fortalece o governo internamente:
Pode parecer estranho, uma agressão estrangeira costuma unir a população e o Exército ao redor do governo, mesmo que Maduro seja impopular.
O ditador sabe que um ataque dos EUA, por menor que seja, criaria:
- mais patriotismo;
- mais união interna;
- mais lealdade militar;
- menos espaço para a oposição.
É triste, porém é historicamente provado que governos pressionados de fora tendem a se fortalecer por dentro.
🔹 6. A estratégia militar venezuelana prevê esperar o inimigo agir:
A doutrina militar venezuelana — chamada de "guerra assimétrica" — prevê que o país deve:
evitar provocar;
esperar o ataque;
resistir com guerrilha e defesa territorial.
A lógica é simples! A Venezuela não tem como vencer os EUA numa guerra tradicional, mas pode vencer politicamente se aparecer como vítima e resistir.
Por isso, a estratégia oficial é não denunciar até que haja algo concreto para mostrar.
🔹 7. Denunciar antes pode provocar ainda mais Trump:
Há também um cálculo político. É que, se Maduro denunciar cedo, Trump pode se sentir desafiado e endurecer a postura, tornando um ataque ainda mais provável.
Ao manter silêncio relativo, Maduro evita dar “motivos extras” para Trump agir.
🔚 Conclusão: realmente Maduro pode estar esperando um ato real antes de denunciar e, diante desses fatores, faz sentido pensar que o presidente da Venezuela esteja adotando uma estratégia de:
- esperar;
- observar;
- avaliar;
- só então reagir no campo diplomático.
Caso haja qualquer provocação militar concreta — como um bloqueio naval, violação do espaço aéreo ou ataque pontual — acredito que a Venezuela deverá denunciar imediatamente na ONU e tentar mobilizar apoio internacional.
Até lá, o silêncio pode ser parte de uma estratégia calculada.
📷: AFP/Jim Watson



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