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domingo, 23 de novembro de 2025

Um Passo Histórico com os Pés no Chão: Por que o Acordo Mercosul–União Europeia importa



A mensagem de Lula anunciando a assinatura do Acordo Mercosul–União Europeia no dia 20 de dezembro marca um daqueles momentos em que a política externa brasileira volta a dialogar com o mundo de cabeça erguida. 

Trata-se, sem exagero, de um dos passos mais ambiciosos da nossa diplomacia recente: conectar 722 milhões de pessoas e integrar economias que somam US$ 22 trilhões em PIB não é apenas um dado impressionante — é a demonstração de que o Brasil entende seu papel no cenário global.

Contudo, é importante olhar para esse otimismo com responsabilidade. Louvar o acordo não significa ignorar os desafios que virão. A assinatura, por si só, não despejará desenvolvimento instantâneo: haverá um longo caminho de ajustes, negociações internas, disputas no Parlamento europeu e — sobretudo — trabalho técnico para que os benefícios cheguem à economia real. Lula reconhece isso quando afirma que, “depois da assinatura, começa o trabalho”. É um recado maduro e necessário.

E ainda assim, vale celebrar!

O Mercosul que, por anos, foi acusado de estagnação, volta a mostrar vitalidade. E a União Europeia, apesar de pressões protecionistas internas, aceita renovar pontes com a América do Sul em um momento em que o mundo precisa mais de cooperação do que de barreiras. Assim, ao assumir a liderança política desse processo, o nosso país reafirma seu compromisso com o multilateralismo, com o diálogo internacional e com uma visão de desenvolvimento que não se fecha em fronteiras.

Do ponto de vista econômico, o acordo abre portas para a modernização industrial, aumenta previsibilidade para investidores, favorece exportações brasileiras — especialmente de produtos manufaturados e do agronegócio — e sinaliza que estamos prontos para competir de maneira mais integrada. Do ponto de vista político, mostra que é possível costurar consensos complexos sem abrir mão de compromissos sociais, ambientais e democráticos.

Todavia, a grande virtude dessa negociação está no equilíbrio: o Brasil não chega como um ator submisso, mas como parceiro. Não busca concessões a qualquer custo, mas defende condições justas. E compreende que um acordo dessa escala só faz sentido se beneficiar de fato o povo — do agricultor familiar ao exportador industrial, do trabalhador às empresas que irão se modernizar para competir no mercado global.

Por tudo isso, a assinatura do Acordo Mercosul–União Europeia deve ser vista como um marco positivo, mas não como ponto de chegada. É o início de uma nova etapa que exigirá vigilância, competência técnica, negociações firmes e políticas internas capazes de transformar potencial em realidade.

O entusiasmo é legítimo. O realismo, indispensável.

E, se ambos caminharem juntos, este acordo pode se tornar um divisor de águas na inserção internacional do Brasil — e na capacidade do Estado brasileiro de transformar oportunidades globais em desenvolvimento concreto aqui dentro.

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