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quinta-feira, 22 de março de 2018

Será que ainda tem gente acima da Lei?!




Enquanto alguns petistas comemoram triunfantemente que, com a decisão de hoje no STF, Lula não poderá ser preso até o final do julgamento do habeas corpus em curso na mais alta Corte do país, outras pessoas decepcionaram-se com o tratamento dado ao ex-presidente como se o mesmo não fosse um ser igual a todos os demais brasileiros.

Contrariando o entendimento firmado antes pelo Tribunal, de que réus condenados em segunda instância já poderiam ser presos, eis que os nossos ministros, por 7 votos a 4, excepcionalmente admitiram julgar o habeas corpus que tem por objetivo impedir a prisão de Lula antes do trânsito em julgado na sua ação criminal. Pois, como se sabe, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de segunda instância, havia o réu a 12 anos e 1 mês em regime fechado pela propina recebida da empreiteira OAS na forma de um apartamento triplex no Guarujá/SP. Propina essa que foi oriunda de um esquema de corrupção na Petrobras em que o dinheiro saiu de uma conta da empresa que abastecia o PT em troca de favorecimento em contratos com a estatal.

Além do Plenário do STF, por maioria, haver admitido julgar esse habeas corpus, eis que uma decisão do colegiado impediu a prisão de Lula até o dia 04/04. Isto porque, depois de transcorrido mais de quatro horas da sessão, como parte dos julgadores tinha compromissos e necessitava viajar, resolveu-se apreciar o mérito (a concessão ou não do habeas corpus) para depois da Páscoa. E então, devido ao adiamento, o advogado José Roberto Batochio, integrante da defesa do ex-presidente, oportunamente pediu a concessão de uma "liminar" (decisão provisória) a fim de evitar a prisão do cliente antes da conclusão desse julgamento. Por 6 votos a 5, a liminar foi concedida.

Ao saber do resultado, fiquei refletindo como que alguns políticos poderosos continuam acima da Lei neste país apesar da Lava Jato e de tantas prisões que vêm ocorrendo. Atualmente, o STF é o Tribunal que mais vem se comportando complacentemente com a impunidade no Brasil e, graças ao ministro Gilmar Mendes, vários bandidos da política e empresários inescrupulosos conseguiram escapar da prisão cautelar após haverem sido recolhidos pela Polícia Federal em cumprimento à ordem de um Juízo de instância inferior.

Apesar do habeas corpus do Lula não ter repercussão geral, pois se julgado procedente, terá efeito somente para o caso do ex-presidente, temo que a decisão irá beneficiar inúmeros outros réus na Lava Jato criando um perigoso precedente. E, neste caso, poderemos ver muitos criminosos hoje atrás das grades retornando à vida normal em sociedade até que os seus recursos sejam definitivamente julgados nas instâncias superiores da Justiça daqui sabe-se lá quantos anos.

Por outro lado, tento também ver o lado positivo do que poderá acontecer em relação às eleições. Pois se Lula, ao invés de ser preso após julgamento dos seus embargos declaratórios no TRF-4, continuar aguardando em liberdade a apreciação de todos os seus recursos, já não mais poderá apelar para a vitimização diante da opinião pública. Deste modo, ao invés do eleitor de mente sugestionável ficar a favor do ex-presidente no período de campanha política, terá melhores chances de conscientizar-se de que a verdadeira vítima ainda é a população brasileira, a qual continua sem acesso à saúde, à educação, a um meio de transporte digno, à segurança e à própria Justiça.

Votaram para impedir a prisão de Lula antes do dia 04 de abril os ministros Rosa Weber, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello. Em favor de permitir, votaram ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia.

2 comentários:

  1. Meu querido amigo. Em Portugal, a revolução já aconteceu há cerca de 40 anos, ainda eu não tinha nascido, e só agoira os GRANDES estão a conhecer o poder da lei. Felizmente que agora em Portugal não são só os chamados pequenos que enfrentam a justiça. Até antigos ministros são presos e investigados ( José Sócrates e outros )
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    Quer conferir?
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    Beijinho

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    1. Olá, Vanessa.

      Inicialmente agradeço por sua visita com comentários.

      Eu também não era nascido quando ocorreu em seu país a Revolução dos Cravos, de 25 de abril de 1974. Naquela década, o Brasil ainda vivia debaixo de uma severa ditadura que só terminou mais de dez anos depois, apesar de ter se abrandado com a nossa Lei da Anistia, promulgada pelo último presidente do regime militar em 28 de agosto de 1979.

      Todavia, por aqui só temos visto grandes políticos sendo presos na atual década, depois de 25 anos da Constituição de 1988 e atribuo essa mudança em muitos aspectos às redes sociais de internet porque os contatos na rede aceleraram a troca de informações entre as pessoas dos movimentos sociais. E um dos fatores que também contribuiu no Brasil foram as novas normas jurídicas, dentre elas o instituto da "delação premiada" que, graças às prisões cautelares determinadas pela Justiça, estão funcionando bem.

      Recordo da prisão de Sócrates e, por esses dias, na França, foi a vez de Sarközy, ex-presidente francês, ser conduzido coercitivamente pela Polícia de lá já que paira sobre ele a acusação de haver recebido uma colaboração ilícita do ditador líbio Muammar Khadafi. E acredito que lá a Justiça será bem dura contra ele, caso fiquem provados os fatos. E espero que no Brasil os condenados pela Operação Lava Jato sejam exemplarmente punidos porque também lesaram a coletividade em muitas dezenas de bilhões de reais.

      Vou visitar sua postagem.

      Beijos.

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