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segunda-feira, 26 de março de 2018

Em que sentido Lula poderia "pacificar o Brasil"?



Estava lendo por esses dias a área de comentários de um dos blogues aos quais sigo em que um dos comentaristas auto-denominado comunista escreveu que "a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na urna é o fator essencial para pacificar o Brasil", citando, em seguida, palavras que atribuiu a Michel Temer sobre a candidatura do petista: "queria que Lula participasse da eleição para pacificar o país". E continuou justificando que, na hipótese de termos um presidente eleito este ano, sem concorrer com Lula, o mesmo não terá legitimidade na ocupação do cargo.

Por sua vez, o outro comentarista, contrário às posições do primeiro que se disse esquerda, respondeu citando uma matéria no UOL, a qual faz menção a mais um dos protestos contra a caravana de pré-campanha do ex-presidente por cidades do Sul do Brasil:

"O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisou da proteção de guarda-chuvas para não ser atingido por ovos que eram jogados de um prédio localizado próximo à praça onde ele realizava um comício na noite deste domingo (25)…"

Confesso que, desde o ano passado, cheguei a me deparar com o argumento de que o retorno de Lula à Presidência poderá trazer paz ao Brasil, mas nunca vi lógica a respeito disso, exceto do ponto de vista dos inúmeros corruptos hoje da situação ou oposição que, até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, estiveram juntos num governo só. A saber, os integrantes do PT, do PMDB e de outros que até então faziam parte da base aliada do Planalto, mas que agora estão na mira da Operação Lava Jato.

Todavia, as palavras atribuídas a Temer por um internauta nas redes sociais e que, segundo pesquisei no Google, teriam sido ditas realmente pelo presidente numa entrevista lá pelo final de janeiro do corrente ano (clique AQUI para ler a matéria no JB), merecem ser criticamente refletidas. Pois, se o impedimento de um candidato popular na disputa do pleito de 2018 causa questionamentos quanto à alegada legitimidade, visto que Lula vem liderando as pesquisas de opinião, a sua presença nas urnas também será perturbadora para milhões de brasileiros que não o querem novamente no comando da República.

Outrossim, não podemos ignorar que a maioria dos eleitores brasileiros tem um patente desinteresse pela política, ainda que haja militâncias organizadas contra e a favor de Lula fazendo barulho. E, desse modo, ousaria em dizer que grande parte dos cidadãos alfabetizados entre 18 e 70 anos nem compareceria às urnas se o voto não fosse obrigatório para essa faixa etária devido á decepção que quase todos sentem em relação aos candidatos. Logo, estimo que, talvez, mais de 80% (oitenta por cento) toleraria tranquilamente uma eventual impugnação do petista bem a posse do novo governante.

Inegável é que a presença de Lula nas urnas contribui para uma indesejável polarização nada construtiva entre "direita" e "esquerda", o que ajuda a consolidar o extremista Bolsonaro (PSL) no segundo turno das eleições. Já a sua ausência possibilita que algum dos pré-candidatos moderados, como Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (REDE) e Ciro Gomes (PDT), possa derrotar o direitista no final de outubro, sendo certo que os votos do petista impugnado não se transfeririam para o seu colega de partido Fernando Haddad (ex-prefeito da cidade de São Paulo) e tão pouco para os dois nomes da esquerda radical: Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB). 

Por óbvio que pacificaria o Brasil se Lula, por sua própria vontade, consciente de que já teve dois mandatos na Presidência da República, não vir mais candidato em 2018 e focar, daqui por diante, na defesa dos processos judiciais aos quais responde em liberdade.

Também pacificaria o Brasil Michel Temer renunciar ao cargo que vem ocupando e ser acompanhado pelo senador tucano Aécio Neves (do meu partido), bem como a Lei passar a ser cumprida para todos o corruptos indistintamente com o fim do foro privilegiado.

Pacificaria o Brasil haver mais seriedade nas políticas públicas, quer seja na gestão da saúde, da educação, da segurança e dos transportes que são hoje as maiores demandas que afligem o cidadão comum, além da necessidade de muitos por habitação em inúmeras cidades.

Pacificaria o Brasil uma elevação gradativa do poder aquisitivo do trabalhador através de uma política econômica que volte a ser transparente como no saudoso governo de FHC que, com muito sacrifício, estabilizou a moeda combatendo a inflação.

Pacificaria o Brasil uma reforma política capaz de aumentar o controle do cidadão sobre os mandatos dos governantes e parlamentares que seriam derrubados, mediante pressão popular, através de ato do Chefe de Estado distinto do Chefe de Governo, com a convocação e novas eleições, conforme acontece em muitas democracias sólidas de países parlamentaristas.

Pacificaria o Brasil o cidadão ser tratado com mais dignidade e ter os seus direitos respeitados em todas as esferas estatais e por todos os Poderes da República. Desde um simples atendimento em balcão num órgão público até nos atos praticados pelas autoridades que passariam a dar o exemplo.

Pacificaria o Brasil passarmos a encarar os problemas com os pés no chão, sem alimentarmos ilusões, sem darmos crédito a promessas populistas, sem adiamentos e sem taparmos o sol com a peneira diante da realidade do cotidiano.

Do mais, meus leitores, é tudo conversa fiada esses discursos pró-Lula ou anti-Lula como se o elemento em tela fosse o melhor ou o pior político que o país tem. Pois somos um povo já exaurido de tantos problemas até agora nada resolvidos, roubado há muitas décadas por governantes e empresários ladrões que se apropriam daquilo que pertence a todos nós.

Tenha consciência, Brasil!

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