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sexta-feira, 1 de abril de 2016

O que a militância de esquerda ainda não percebeu...




Na manhã de hoje (01º/04), encontrei uma preciosa postagem nas redes sociais do senhor Mauro Nunes analisando humoristicamente a situação política brasileira do ponto de vista da esquerda, o que chamou a minha atenção motivando-me a respondê-lo. Seu texto dizia:

"Rapidamente rápida e com muito bom humor: Quem são Ele, ela e o outro mesmo?
Muitos BICOS estarão em céu ESTRELADO com pouca luz
hehe
Outra sinuca de bico. Se ELA sai, ELE assume, com Outro atras dele. Se tivermos uma eleição, a burguesia elege seus candidatos. Mais uma vez a saída será pela direita? Qual seria nossa capacidade de interferir nesse processo? Na verdade a polarização continuaria e o debate estaria perdido, mesmo pq a ESTRELA não esta morta e tentará alguma saída ... ainda. Não vamos nos iludir. Esses 70% são heterogêneos e BICOS irão picar em todos os cantos"
(Clique AQUI para acompanhar o debate no Facebook)

Atento, assim comentei, expondo meus pontos de vista quando teclei pelo celular:

"O fato é que a esquerda brasileira tá confusa e enfraquecida. E ela caiu na armadilha da estrela dando ao PT uma sobrevida que não teria por causa da Lava Jato e traição ao trabalhador. Pela dialética e pendularidade da política, esse seria um momento de recuo em que o eleitor dá seus passos à direita por insatisfação com o governo. Dificilmente a esquerda chega ao Poder nesta década! Logo, esse seria o momento de desconstrução dela mesma para se reconstruir. Hoje torço pra termos novas eleições em que o PSDB ganhe, enterre o petismo e crie um ambiente pro retorno de uma nova esquerda."

Ao que me parece, boa parte da esquerda não governista (formada por movimentos sociais e partidos que se opuseram ao PT) estão defendendo erroneamente o mandato de Dilma porque supõem não haver opção melhor nesse momento de crise. Pois, se a presidente sofre o provável impeachment, entra o temeroso vice, o qual, por sua vez, teria em sua linha sucessória alguém ainda pior que é o atual presidente da Câmara.

Por um lado, a esquerda tem razão no sentido de que, com o PMDB no poder, há fundados riscos de retrocessos com o aumento da roubalheira, a retomada das privatizações, o governo encaminhar propostas de reformas na Previdência Social, mudar regras trabalhistas, liberalizar mais a economia, abrir a exploração do pré-sal para o capital estrangeiro, etc. E de fato o maior partido do país (continuamente no poder desde os tempos de Sarney) havia tocado nesses pontos quando apresentou suas ideias no ano passado. É o que pode ser lido na matéria Veja as propostas que o PMDB apresentou para superar a crise, publicada em 10/08/2015 na Folha de São Paulo.

Entretanto, quando essa esquerda de base decide defender o mandato tampão de Dilma, por considerar o impeachment como um "golpe contra a democracia", ela dá a entender que está consentindo com os erros cometidos pela atual gestão dando uma sobrevida a quem já estava para ser morto politicamente - o PT.  Ou seja, ela não somente transfere a sua energia para um partido moribundo como também corre o risco de se contaminar com a sua doença que é a corrupção e traição dos trabalhadores, jogando fora a oportunidade de ser uma protagonista nesse cenário político.

O fato é que nenhum partido esquerdista cresceu satisfatoriamente no país por causa do PT. Antes do Lula virar presidente em 2002, o eleitor o referenciava como um representante da esquerda. Sua tinta vermelha prejudicou muito a candidatura de Brizola a presidente, assim como ofuscou as de Miguel Arraes, Roberto Freire, Mário Covas, Fernando Gabeira e outros nomes mais da oposição. Qualquer jovem dos anos 80 e 90, quando se tornava simpático aos ideais marxista, pensava logo na estrelinha como se não houvesse opção melhor.

Curioso que, antes mesmo da eleição do Lula, mais precisamente em 1993, surgiu uma dissidência no PT. Uma fação de extrema esquerda, seguidora do trotskismo e com uma participação de anarquistas, rompeu com o partido de origem fundando o PSTU. Desde então, esta agremiação não conquistou nada significativo e, pelo seu radicalismo doentio, jamais conseguiu aglutinar militantes suficientes como fez o PSOL surgido depois dos petistas terem chegado em Brasília.

Ora, posso dizer que, na década passada, o PSOL foi bem corajoso quando resolveu sair do governo para virar oposição. Lembro da Heloísa Helena que chegou em terceiro nas eleições de 2006 ao disputar com Lula e o tucano paulista Geraldo Alckmin, sendo ela uma senadora do Alagoas (um colégio eleitoral tão pequeno quanto o do Acre da Marina Silva). E caso sua candidatura tivesse se repetido em 2010 e 2014, HH ainda estaria por aí incomodando.

Só que essa esquerda não governista até hoje foi incapaz de criar uma estratégia eficiente de chegada ao poder. Ainda na atual semana, pela primeira vez li algo inteligente vindo da Luciana Genro quando ela resolveu não tomar partido de Dilma e nem embarcar nessa onda equivocada da bipolarização consistente em chamar o impeachment de golpe. Na postagem publicada ontem, Uma mulher de esquerda que resolveu pensar..., elogiei a entrevista que Luciana concedeu na rádio conforme pude ler por uma página da Folha de São Paulo. de modo que vale a pena transcrever novamente a alfinetada dada em Lula, quando considerou o ex-presidente um "indefensável":

"Não só pelo fato de que possa estar diretamente envolvido em corrupção, mas porque ele está diretamente comprometido com os interesses das empreiteiras... Ele [Lula] traiu os interesses do povo quando se aliou com esses megaempresários que saquearam os cofres públicos superfaturando obras e enriquecendo também políticos ligados ao PT, ao PP, ao PMDB, a todos esses partidos" - destaquei

Não nego que a tendência do eleitor nesta década será mesmo votar mais à direita em relação ao PT, o que abre oportunidades para Bolsonaro, Álvaro Dias, Marina Silva e alguém do PSDB. Neste sentido, o Mauro, na citação feita acima, não estaria errado ao dizer que "se tivermos uma eleição, a burguesia elege seus candidatos". Só que ele e a esquerda não podem esquecer de que uma nova disputa presidencial este ano (na hipótese de anulação dos votos da chapa Dilma/Temer) abre portas para todos que defendem uma renovação na política. E, mesmo que uma candidatura dessa tendência não ganhe agora, ela pode crescer para 2018, 2022, 2026 e 2030, obviamente evoluindo nas práticas e discursos.

Por outro lado, termos eleições presidenciais em 2016 ajudaria a enterrar de vez o lulismo/petismo. Ainda mais se o ex-presidente vier como candidato e perder logo no primeiro turno ficando, por exemplo, em quarto ou quinto lugar. Neste caso, outras forças passariam a ser referência criando novas polarizações no cenário político tipo REDE e PSDB, Bolsonaro e REDE, ou Bolsonaro e PSDB. E, por estar o PT desacreditado, o PSOL e a REDE cresceriam captando apoio da militância de esquerda assim como o PDT e o PSB também de algum modo seriam beneficiados.

Para terminar, quero só explicar melhor o que seria a desconstrução/reconstrução da esquerda brasileira do meu ponto de vista (o Mauro certamente tem o dele). Pois entendo que até hoje ainda falta um partido forte no cenário nacional capaz de expressar ideias digamos revolucionárias sendo ao mesmo tempo democrático, propositivo e íntegro tal como se vê em países europeus. Acho que o Chile tem atualmente em Michelle Bachelet do Partido Socialista do Chile (PS) uma boa representante que soube distinguir-se de Lula, de Dilma e da vizinha Cristina Kirchner, dando um novo significado à luta histórica de Salvador Allende conforme os desafios do nosso tempo presente. É o que ainda precisamos ver por aqui. 


OBS: Ilustração acima extraída do Opinião News em http://www.opiniaonews.com.br/images/2180.jpg

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