No dia 28/03, o jornal Carta Capital trouxe uma interessante matéria com o historiador Daniel Aarão Reis, um dos colaboradores da fundação do PT mas que, atualmente, tornou-se um crítico do partido. Em sua entrevista "Para se reinventar, o PT precisa sair do poder" (clique AQUI para ler na íntegra), ele não vê um futuro promissor para a agremiação mantendo-se no governo e considera possível o seu restabelecimento institucional passando para a oposição:
"As políticas adotadas por ela [Dilma] configuram um estelionato eleitoral. Trata-se de algo que já vai virando uma tradição na República pós-ditadura: Sarney, Collor e FHC o praticaram alegremente. Mas Dilma, ao reiterar o comportamento, fragilizou-se muito perante suas bases sociais e eleitorais. Imaginou que isso 'sossegaria' as oposições. Não surtiu efeito. Assim, ela não conseguiu apoio das elites e perdeu suas bases. Ficou numa situação muito complicada. Muitos manifestantes contra o impeachment estão deixando claro que não são pró-Dilma, mas é uma posição também difícil de ser defendida. A grande questão é a seguinte: Dilma quer se manter no poder para que, exatamente? Para fazer que tipo de política? Ela não está fazendo o tipo de política com a qual se comprometeu no segundo turno. Vai fazer agora? Se esse é o caso, precisaria esclarecer. Mas ela manteria o apoio de Sarney e de Renan? É um mato sem cachorro (...) Bem, se o impeachment for aprovado, não parece razoável imaginar o PT apoiando um governo fruto do impeachment. Teria que ir para a oposição, certamente. E isso poderia fazer bem ao partido. Tendo-se lambuzado no poder, como disse o Jacques Wagner, uma 'cura de oposição' faria bem ao PT. Eu diria que, para se reinventar, o PT precisa sair do poder. Como já aconteceu com muitos partidos populares na história, e mesmo na história do Brasil, participar do poder apenas para gerenciar a ordem dominante é receita certa para perder a identidade política. E o que é mais importante para um partido político do que manter sua identidade?"
Considerando em parte as colocações que Daniel expôs, entendo que o PT já estaria praticamente morto e enterrado se a militância de esquerda não houvesse se mobilizado em protestos contra o "golpe". Aliás, com o impeachment cada vez mais perto de acontecer, tudo o que Dilma e Lula andam fazendo nos seus discursos não passa de mero teatro. Ou melhor dizendo, estão numa espécie de pré-campanha para o partido tentar um retorno ao poder nas futuras eleições.
Realmente, se fizer oposição a Temer, o Lula pode até crescer já que o cenário econômico não ficará imediatamente favorável no dia seguinte ao impeachment. Pois estando o país em recessão, com desemprego, dólar alto, a inflação retornando e o nosso grau de investimento rebaixado perante o capital internacional, considero pouco provável que tenhamos uma recuperação até 2018. E aí, diante de uma crise que requer a ministração de remédio amargo (medidas de austeridade), o carisma populista do ex-presidente ainda pode convencer alguns a apoiarem sua eventual candidatura fazendo-os se lembrar dos anos de prosperidade da década passada.
Não nego que essa seja uma possibilidade sobre a qual o cientista político e ex-prefeito do Rio de Janeiro César Maia havia comentado na edição de 01/03 de seu informativo, embora visualizando uma situação um pouco diferente (clique AQUI para conferir). Contudo, mesmo diante da hipótese de que o Lula volte a ser competitivo em 2018, isto não seria uma reinvenção do PT e representaria o funeral da esquerda brasileira. Pois, certamente, que nem a REDE e menos ainda o PSOL vão se referenciar politicamente enquanto o petismo/lulismo estiver dando os seus suspiros finais. E aí volto à entrevista:
"O PT, com suas políticas de conciliação, foi responsável por alguns avanços notáveis, enquanto durou a conjuntura de grande prosperidade. A inclusão social e uma série de políticas de defesa e 'empoderamento' das camadas populares, das maiorias negras e pardas e dos mais pobres tiveram resultados apreciáveis. Ao mesmo tempo, contudo, o PT estabeleceu relações carnais com as grandes empresas, os bancos e as empreiteiras, e isso representou uma perda muito grande para as esquerdas brasileiras, em geral, porque o PT, inegavelmente, tornou-se o maior e o mais representativo partido das esquerdas brasileiras. Resta às forças alternativas, inclusive àquelas que ainda estão no interior do PT, formular plataformas de reforma política. Crises podem enfraquecer e até serem fatais. Mas podem ser também 'janelas de oportunidade'. A ver se as esquerdas alternativas estarão à altura dos grandes desafios que a crise tem apresentado." - destaquei
Com todo o respeito ao nobre historiador, não acredito que essas "forças alternativas" ainda existam com força dentro do PT. Quando muito, elas se encontram mais nas bases do partido e não terão poder algum sobre a cúpula sagaz de lideranças envolvidas nos escândalos de corrupção. Isto sem esquecer que falta credibilidade ao petismo perante o povo brasileiro para propor a reforma política que hoje necessitamos. Tais mudanças acredito que poderão vir da sociedade civil através de suas instituições e pensadores, mas não por meio de uma legenda terrivelmente desgastada como é hoje a agremiação de Lula e da sua presidenta.
OBS: A foto acima foi extraída de uma das páginas da EBC com atribuição de autoria à Agência Brasil, conforme consta em http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-03/dilma-da-posse-lula-como-ministro-da-casa-civil
Nenhum comentário:
Postar um comentário