Num país de dimensões continentais, acostumado a ver decisões tomadas longe da realidade das comunidades, avança o debate sobre um novo modelo de gestão pública: a governança territorial de proximidade. Em outras palavras, uma forma de trazer o governo para mais perto das pessoas, permitindo que cada bairro, distrito ou região tenha voz e responsabilidade direta sobre as prioridades do lugar onde vive.
A proposta parte de um diagnóstico simples e conhecido por todos: a distância entre o problema e a solução dificulta a política pública. Em muitos municípios brasileiros, especialmente aqueles com grande extensão territorial ou forte diversidade interna entre zona urbana e área rural, a população sente-se pouco representada e pouco informada sobre o andamento de obras, serviços e investimentos. Somam-se a isso promessas que se repetem a cada ciclo eleitoral, prazos que se perdem, prioridades que mudam sem aviso e decisões tomadas sem diálogo.
É justamente nesse ponto que surge o conceito de Núcleos Territoriais de Gestão Local — estruturas permanentes de participação, deliberação e acompanhamento das ações públicas, implantadas dentro das próprias comunidades.
Diferente do que muitos poderiam imaginar à primeira vista, essa proposta não cria mais um ente político, não aumenta a máquina pública e não inventa novos cargos eletivos. O objetivo é outro: tornar a gestão municipal compartilhada, transparente e territorializada, com metas claras e prestação de contas.
Na prática, cada núcleo teria:
- um conselho eleito pela comunidade;
- um coordenador técnico escolhido por processo de seleção pública;
- um orçamento previamente definido para o território;
- contratos de gestão com metas, prazos e indicadores;
- acompanhamento e divulgação de resultados de forma aberta.
Isso significa que, em vez de esperar indefinidamente pela solução de um problema ou pela realização de uma obra, a comunidade participa da escolha da prioridade, monitora o processo e acompanha a execução. A política pública deixa de ser um anúncio e passa a ser um compromisso com endereço certo.
Experiências recentes de descentralização administrativa em grandes cidades brasileiras, bem como modelos de governança regional e participativa, sinalizam que a proximidade entre decisão e território gera melhores resultados — tanto na execução de obras quanto na sensação de pertencimento e confiança.
Em um cenário nacional marcado pelo cansaço com promessas não cumpridas e pela crescente desconfiança nas instituições, governar com proximidade pode ser a chave para reconstruir a relação entre cidadão e poder público.
Mais do que um novo desenho administrativo, trata-se de uma nova cultura política, em que o governo deixa de ser um espectador distante e passa a dividir responsabilidade com quem conhece a realidade no detalhe: a própria comunidade.



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