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sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Entre a moenda e o bosque: reflexões sobre 2026



Há uma frase do abolicionista Joaquim Nabuco com a qual muito me identifico:


A política é uma moenda: entrado o braço, vai-se todo o corpo.


Nabuco falava da força irresistível com que a vida pública absorve aqueles que, mesmo querendo viver apenas das ideias, acabam sendo puxados pela necessidade interior de agir diante das circunstâncias.

Com o tempo, percebi que essa frase também se cruza com outra imagem clássica da literatura antiga: o apólogo de Jotão, em que as árvores do bosque procuram alguém para governá-las... A oliveira, a figueira e a videira — todas produtivas, úteis e virtuosas — recusam o cargo, cada uma preferindo seguir sua própria função. No fim, quem aceita reinar é o espinheiro, a planta sem fruto e sem sombra, que ameaça queimar quem não se curvar diante dela.

Muito além de qualquer leitura religiosa, o apólogo é uma metáfora política poderosa: quando os que têm algo a oferecer se afastam, o espaço fica livre para quem nada entrega.

E assim, entre a moenda de Nabuco e o bosque de Jotão, fui reconhecendo partes da minha própria história. Entrei na política ainda adolescente, no movimento estudantil de Juiz de Fora, e depois caminhei pela serra de Nova Friburgo, pela defesa ambiental, pelos direitos coletivos, pelas causas das pessoas com deficiência, pelos movimentos anticorrupção, pelas lutas sindicais e pela transparência institucional.

Desde 2012, a Costa Verde se tornou também parte fundamental da minha vida. Em Mangaratiba, ajudei a criar a ONG Mangaratiba Cidade Transparente, atuei em pautas de cidadania, acompanhei processos de revisão do eleitorado e mantive uma prática constante de defesa da legalidade e da participação social. Ao longo de três décadas, passei por blogues, artigos na imprensa, ações populares, denúncias, debates jurídicos e tantas outras frentes que acabaram somando uma identidade política construída no trabalho diário e não em gabinetes.

Olho para trás e vejo que não entrei inteiro na política — entrei pelo braço. Mas as circunstâncias, as urgências e as ausências de muitos fizeram com que eu fosse, pouco a pouco, entrando por completo. Não por ambição, mas por responsabilidade: cada vez que as boas árvores se afastam, o espinheiro encontra terreno fértil.

É por isso que hoje compartilho algo que venho amadurecendo há algum tempo: meu projeto pessoal de vida para 2026 inclui a intenção de apresentar meu nome como pré-candidato a deputado estadual.

Não se trata de campanha, nem de pedido de voto — isso é algo que a lei não permite e que respeito integralmente. Trata-se apenas de dividir com a sociedade um caminho que se tornou natural diante da minha trajetória e do momento histórico que vivemos.

Ainda não é hora de discutir articulações ou alianças. Isso virá com serenidade e diálogo. Mas é, sim, o momento de dizer que estou disposto a continuar contribuindo para um Rio de Janeiro mais democrático, mais transparente e mais comprometido com o interesse público.

Entre a moenda que não permite a neutralidade e o bosque que não pode ser entregue ao espinheiro, sigo construindo, com humildade, a possibilidade de dar um próximo passo.

Se será este o caminho certo, o tempo dirá. Mas é assim que escolho seguir: com coerência, responsabilidade e o desejo sincero de servir à sociedade do meu estado.

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