Alguma palavra definiria melhor o cotidiano da maioria dos brasileiros do que o vocábulo desespero? Duvido!
Quando assisto nos telejornais as frequentes matérias sobre o caos na saúde pública, as más condições dos meios de transporte, a violência nas preferias das grandes cidades, a precariedade dos serviços de saneamento básico e o abandono das escolas pela idolatrada e gentil "pátria educadora" (só aqui no meu município de apenas 40 mil habitantes existem centenas de mães aguardando vaga na creche para o filho), percebo o quanto é desesperadora a vida do pobre. Trata-se de um sofrimento que pouca gente das classes média e rica percebe na mesma dimensão. Uma realidade da qual só conseguimos dar conta quando passamos a vivenciá-la também em seus variados detalhes e condicionamentos.
Alguém tem ideia do que vem a ser o chamado ciclo de pobreza?
Se pensarmos nas condições em que as pessoas muito pobres vivem, veremos o quanto é difícil para elas terem alguma mobilidade social. Suponho que, se não fossem os programas assistenciais, a exemplo do Bolsa Família, diversas regiões do país teriam até hoje os seus bolsões de miséria em dimensões mais profundas, com a exploração do trabalho infantil em proporção ainda maior e agricultores recebendo uma renda mensal inferior a meio salário mínimo, conforme era bem frequente nas décadas do século XX.
Todavia, falta muito para quebrarmos esse maldito ciclo!
São diversas as condicionantes e as políticas públicas permanecem deficientes. Pois, se até para o pobre desfrutar de uma vida razoavelmente digna está difícil, mais distante ele se encontra da tão sonhada mobilidade social. E os poucos que a alcançam acabam passando por sacrifícios e privações consideráveis que marcarão irreversivelmente suas vidas nesta sofrida terra.
Apesar da acessibilidade em relação à escola básica, um longo deserto precisa ser cruzado para o pobre entrar numa faculdade, conseguir sair dela com diploma e, finalmente, colocar-se profissionalmente no mercado de mão-de-obra qualificada. Ao se formar, um aluno de condição humilde já não costuma ser tão jovem quanto o filho de papai e isso conta muito para o sujeito ficar empregado e se aperfeiçoar.
Como se não bastassem as condicionantes materiais, o pobre também enfrenta desafios no campo das emoções. Um deles seria quanto à auto-estima muitas vezes rebaixada. Trata-se de uma dificuldade surgida desde a infância da pessoa mas que pode ser novamente retroalimentada por outros problemas que vão surgindo, os quais envolvem a vida pessoal e a família. Basta um parente adoecer, um irmão ser preso ou ocorrer uma perda considerável para as coisas ficarem abaladas a ponto de comprometerem o sucesso das metas traçadas.
Penso que não será fácil a superação coletiva dessa crônica situação desesperadora do Brasil sem haver um esforço coletivo e solidário dos membros da nossa sociedade. Junto com as políticas públicas, as pessoas precisam se apoiar mutuamente criando assim um ambiente propício para que construamos um futuro melhor dentro de duas ou três gerações. E aí o primeiro passo consiste em alargarmos a nossa compreensão, colocando-nos no lugar do outro, e evitando os julgamentos morais improdutivos.
OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro O Grito, pintura em óleo sobre tela feita em 1893 pelo artista norueguês Edvard Munch (1863 - 1944). Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia
Este artigo eu o postei originalmente no blogue da Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola. Quem desejar, poder comentar lá:
ResponderExcluirhttp://cpfg.blogspot.com.br/2016/01/desespero.html
Ótima semana!