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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Avós e netos




Quem hoje tem netos e não guarda lembrança dos avós com os quais chegou a conviver?!

Eu, embora ainda não possua filhos, já teria idade suficiente para ser pai de um jovem adulto e, consequentemente, avô de pelo menos um ou dois netos. Afinal, faço quarenta em abril, sendo que me restou um avô vivo por parte de mãe com seus respeitáveis 82 anos.

Nascido no Egito e de nacionalidade grega, seu Georges seria o avô com quem menos convivi. Veio ele para o Brasil trazendo a família em meados do século passado e se casou com a minha avó Marisa na década de 50. Separou-se, contraiu novas núpcias no exterior e acabou deixando o país por motivo de trabalho pois era funcionário da multinacional suíça SGS. Teve um casal de filhos do primeiro casamento e uma única filha do segundo. Atualmente, reside em San José, capital da pacata Costa Rica.

No entanto, fui criado pelo meu outro avô, seu Sylvio, pai do papai, o qual, assim como as avós, era carioca da gema. Nascido em 1917, no bairro Todos os Santos, Zona Norte do Rio, seguiu carreira militar na arma da artilharia, pegando o tempo em que os canhões do Exército eram puxados a cavalo. Casou-se nos anos 40 com minha avó Darcília, tendo com ela também um casal de filhos. Igualmente veio a se divorciar da primeira esposa e contraiu novas nupcias em Juiz de Fora, cidade mineira onde entrou para a reserva na patente de coronel. Com o falecimento de papai, em setembro de 1983, fui morar com esse avô um ano e alguns meses depois.

Posso afirmar que não há ninguém melhor do que um neto criado pelos pais de seus pais para falar sobre como é essa relação avoenga. E, no meu caso específico, morei com os avós paternos em casas diferentes, incluindo o final da infância, a adolescência e o início da juventude, quando fui então viver sozinho até casar-me com Núbia em março de 2006.

Ora, quem considera os avós super protetores está coberto de razão. Pois eles costumam ser demasiadamente preocupados com o bem estar do neto a ponto de logo quererem agasalhar a criança ao escutarem um simples som de tosse ou de espirro. Na presença de seu Sylvio ou de dona Marisa, eu jamais poderia andar descalço que eles já pediam para que colocasse nos pés os chinelos.

Suponho que, atualmente, haja uma proporção maior de crianças cuidadas pelos avós do que na minha época de infância. E muitos avós parecem até que são os pais do pentelho de tão novos que são assim como acontecia com a minha avó Marisa quando ela me levava para passear em sua companhia pelo Rio de Janeiro. Frequentemente as pessoas perguntavam "ele é seu filho?", quando nos conheciam pouco.




Não acho ideal uma criança ou adolescente ser criado pelos avós. Em casos excepcionais, pode um juiz entregar a guarda do menor a outra pessoa da família que não sejam os pais. Porém, posso dizer que essa convivência predominante com os avós paternos trouxe-me experiências extras em relação a maioria de meus colegas, embora incapazes de compensar os benefícios do relacionamento do filho com a mãe na época necessária.

Penso que a presença dos avós na vida dos netos deva ser dosada para que não ocupem o lugar dos pais na educação da criança. Os avós devem dar suporte para que os pais desempenhem o papel que lhes cabe e jamais assumirem responsabilidades que não são deles. Pois, no fim das contas, acabam sacrificando inutilmente os últimos anos da maturidade e o melhor da velhice, prejudicando também o desenvolvimento do neto.

De qualquer modo, sou grato aos meus saudosos avós paternos por terem contribuído da maneira deles com a minha criação, levando em conta o que fizeram de positivo por mim e perdoando suas falhas. Orgulho de tê-los vivos até o início do presente século, tendo despedido primeiro do velho soldado em maio de 2005 e depois da avó paterna no mês de setembro de 2011. Já a vó materna, ela se foi pouco depois da outra, em março de 2012. Mas quanto ao seu Georges, pretendo reencontrá-lo em abril do corrente ano, na próxima viagem dele ao Rio (da última vez em que veio ao Brasil ele foi direto visitar minha mãe no Distrito Federal).

Para concluir, lembro que, segundo a Bíblia, há poucas passagens contando sobre a relação avoenga. Por exemplo, praticamente nada sabemos sobre a convivência de Jacó com Abraão. Contudo, as Escrituras relatam ter José visto os descendentes de seu filho Efraim até a terceira geração e que "tomou sobre seus joelhos" os bisnetos, os quais eram filhos de Maquir, netos de Manassés (Gn 50:23). E acho que esse deve ser o grande barato de alguém poder curtir os netos e bisnetos sem o estresse de se tornar pai pela segunda vez.

Uma ótima quarta-feira a todos!


OBS: As ilustrações acima referem-se aos quadros do artista grego Georgios Jakobides (1853 - 1932), ambas extraídas do acervo virtual da Wikipédia.

2 comentários:

  1. Tenho um neto de um ano de idade, uma neta de 05 anos, e outra de 10 anos. Em todos vejo uma faceta de meus tempos de menino, e alguns cacoetes que surgiram durante a minha idade adulta. Ter netos, mesmo aos 69 anos de idade, como é o meu caso, é uma oportunidade ímpar de ser pai duas vezes. A gente, no primeiro estágio de pai, não percebe tanto nem aprende tão intensamente quanto no estágio de avô. - rsrs

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    1. Acho que, numa idade mais jovem, não se te muita disponibilidade e interesse dos país pelos detalhes do crescimento do filho, não concorda? Claro que isso não serve de regra para todos os país. Também ser avô deve ser como a releitura de livro em que tentamos captar o que passou desapercebido.

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