Páginas

terça-feira, 6 de agosto de 2013

"O vosso nome está arrolado nos céus"

Foi visto no estudo anterior do Evangelho de Lucas que Jesus tinha enviado os setenta discípulos para uma missão afim de que o precedessem nas cidades onde haveria de passar em sua peregrinação a Jerusalém. Deveriam eles anunciar o Reino de Deus e curar as pessoas enfermas do local visitado (Lc 10:9). Agora, porém, eles já estavam de volta, cheios de alegria e trazendo o seguinte relato:

"Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome!" (verso 17)

No episódio sobre o envio dos doze apóstolos, Jesus havia lhes concedido "poder e autoridade sobre todos os demônios" (9:1). E, embora isto não conste explicitamente na missão dos setenta, no capítulo 10, é possível afirmar que as missões de ambos os grupos parecem ter sido idênticas. Além de curarem os enfermos, os discípulos deveriam libertar as pessoas dos assédios espirituais bem como anunciarem as boas novas do Reino.

Sem dúvida que a sujeição dos espíritos malignos aos apóstolos significa também um dos sinais da chegada do Reino de Deus. A ação dessas consciências invisíveis que atuam sobre o Universo não se restringe a provocar danos na saúde das pessoas ou distúrbios psíquicos de comportamento. Há uma interferência também sobre os governos através das brechas nas vidas das autoridades estabelecidas e da própria sociedade que as constitui relacionando-se com o poder. Por isso, o Evangelho é dirigido também para as comunidades e não somente para os indivíduos.

A resposta dada por Jesus às expressões jubilosas dos discípulos vem então direcionar a alegria deles para algo muto mais grandioso do que as manifestações de poder:

"Eu via a Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus" (versos de 18 a 20)

Observem que o Mestre usa o verbo no presente. Os nomes dos discípulos já estavam "arrolados nos céus". Não se trata de uma condição futura! Eles já faziam parte do revolucionário plano divino de redenção da humanidade. Através do Evangelho anunciado, comunidades estavam sendo transformadas, revendo os seus valores e criando novos objetivos para si. Nos locais onde a Palavra era realmente acolhida, germinavam a solidariedade, o amor, a restauração de relacionamentos quebrados, o perdão, a paz interior, a alegria e o desejo de viver com propósito. Os comportamentos tornavam-se mais transparentes, sem mentiras ou falsidades, de modo que passava a ser possível construir um projeto coletivo sem os vícios de corrupção.

Neste sentido, os milagres viravam somente sinais, a pontinha de um iceberg. Junto com o Evangelho vem também a salvação completa do homem caído e perdido em si próprio, o qual é refém das próprias compulsões. Quem se abre para a realidade do Reino passa por um processo de arrependimento sincero retornando à essência da vida. Algo que não se confunde com a assimilação de culpas, mas sim com o reconhecimento do erro que leva a uma atitude positiva de darmos um novo sentido à nossa existência.

Quando as pessoas e as comunidades passam a caminhar na direção do Reino, Satanás despenca como um relâmpago. Em outras palavras, que Jesus quer nos dizer seria que o mal perde o controle sobre a vida do novo convertido que não abandona o seu processo de mudança porque o bem passa a achar lugar nos corações, nas mentes e nas atitudes tomadas daí por diante. Trata-se da salvação operando no micro e no macro: na pessoa, na casa e na sociedade.

Ter o nome arrolado nos céus é estar salvo e regenerado pela graça. Os setenta discípulos não alcançaram esse reconhecimento de Jesus pelas obras que fizeram. O fato de estarem se tornando crentes maduros era resultado da transformação do Evangelho em suas vidas. Não precisariam ganhar almas para terem uma morada no céu como se a evangelização servisse de moeda de troca perante o Pai. Porém, a Palavra de Deus em seus corações despertou neles a preocupação amorosa pelas almas perdidas. Ou seja, o que faziam significou frutos salvíficos.

Que haja em nós um idêntico sentimento! Que sejamos capazes de nos importar com o pobre, com o faminto, o doente, o drogado, o encarcerado (seja por qualquer tipo de crime), o pecador em geral, o excluído e com todo aquele que sofre injustiças. Oro para que o Espírito de Deus nos inspire dando motivações para querermos envolvimento com as missões. Mesmo que sendo na nossa cidade ou bairro onde, certamente, há muita gente carente dos abraços do Pai e do Filho em nós.

2 comentários:

  1. A graça levará um homem para o Céu sem operar milagres, mas a operação de milagres jamais levará um homem ao Céu sem a graça!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom dia, Evaristo!

      Embora eu veja os milagres como manifestações da Divina Graça, eis que a operação desses fenômenos não significa que, necessariamente, a pessoa beneficiada converteu-se de coração ou entrou na dimensão da graça.

      O amor de Deus pela humanidade é imenso, mas muitos não compreendem isso. Até entre os que professam a salvação pela graça há pessoas que ainda não sabem como viver com graça. Mas quem se desperta parea essa realidade, faz de seu viver o céu e trás as coisas de cima para a terra onde caminha.

      Um ótimo dia pro irmão! Abraços fraternos.

      Excluir