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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Não sofra sozinho(a) e nem deixe seu próximo nesta condição



Após ter publicado o meu artigo de ontem no blogue, veio em minha mente um complemento da mensagem postada e que tem a ver com o trecho da carta de Tiago ali citada:

"Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores. Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo. Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos." (Tg 5:13-18; ARA)

No texto anterior, havia compartilhado que não devemos agir como o estúpido rei Asa que, mesmo estando gravemente doente, deixou de buscar a Deus confiando somente nos médicos (2Cr 16:12). Agora, porém, quero ressaltar tanto a importância da nossa oração pessoal como também sobre dividirmos um pouco da luta travada por cada um com os membros da comunidade espiritual que frequentamos, tornando o ensino de Tiago como um princípio a ser observado/refletido.

No mundo antigo, o azeite era frequentemente usado como substância terapêutica. Isto é confirmado em outras passagens do Novo Testamento como no envio dos doze apóstolos feito por Jesus durante os dias de seu ministério (Mc 6:13) e na Parábola do Bom Samaritano (Lc 10:34). Não era nenhuma porção mágica e os primeiros cristãos pareciam ver no óleo mais um símbolo do poder curador divino do que algo sagrado. Com o tempo, os católicos romanos acabaram fazendo daquele velho costume um sacramento conhecido como "Estrema Unção" e as igrejas protestantes não abandonaram o ritual. Muito embora para os evangélicos o ato não é visto como uma preparação do enfermo para a morte e o óleo seja usado até nos casos bem simples como gripes e resfriados.

O mais importante, a meu ver, certamente não seria a unção do doente com algumas gotas de azeite e sim a acolhedora visita que a pessoa recebe no seu leito. Devemos considerar os "presbíteros" como sendo homens e mulheres iguais a todos nós, "sujeitos aos mesmos sentimentos" (verso 17), porém capacitados para prestar uma assistência espiritual, podendo transmitir uma mensagem de ânimo, conforto, amparo, esperança, amor e carinho. Tanto para o enfermo quanto para a sua família. Não necessariamente seriam os líderes da congregação eclesiástica frequentada, mas apenas obreiros, gente que se dispõe a cuidar/gostar de gente, encontrando-se em condições de oferecer algum auxílio e dividindo conosco sua atenção por maiores que sejam seus limites particulares.

De modo algum o "presbítero" pode substituir a presença de Deus na vida de alguém. Só que muitas das vezes o Pai Celestial quer contar também conosco, concedendo a graça de sermos canais do seu imenso amor. Para isto ele enviou Jesus e o Mestre apostolou discípulos afim de reproduzirem seu trabalho pelo mundo. Portanto, é fundamental que o visitante estabeleça um diálogo com o enfermo em sua casa além de orar. Eis aí a importância da confissão de pecados uns com os outros (verso 16).

Embora nunca possamos generalizar, ocorre que muitas das vezes as doenças têm um "pecado" como causa. O problema pode estar direta ou indiretamente relacionado a uma mágoa de alguém, à falta de perdão, à maneira errada como tratamos a nós mesmos e organizamos a vida, às compulsões por qualquer coisa, vícios, desejos por coisas que não nos farão bem, egoísmo, sentimentos de auto-comiseração, descrença, ausência de amor fraterno no nosso coração, apego à matéria, pensamentos negativos, etc. Assim, quem visita as casas precisa estar sempre disposto a ouvir, aprender a observar todo o ambiente da família fazendo uma atenta leitura multifocal da situação e nunca pré-julgar usando inapropriadamente dos nossos limitados conceitos doutrinários que nem sempre serão adequados ao caso específico. Aliás, no capítulo 9 do Evangelho de João, no episódio da cura do cego de nascença, aprendemos que um problema de saúde pode também não ter nada a ver com a conduta do indivíduo (ou de seus pais) e cabe ao discípulo de Jesus simplesmente amar sem querer encontrar explicações numa lógica julgadora.

Mas será que o apoio aos enfermos só pode ser prestado por quem é espiritualmente qualificado? Penso que não. E, se nos falta preparo, devemos amar na medida das nossas possibilidades ou condições. Às vezes, somente um abraço afetuoso ou uns instantes de nossa presença será algo bem significativo e mais penetrante do que muitas palavras repetidas. Aliás, esse deve ser o papel da comunidade eclesiástica que não pode deixar de se importar com a dor do outro, considerando-o como membro da própria família visto sermos todos partes do Corpo de Cristo, iguais aos líderes e obreiros atuantes de uma congregação.

Por outro lado, a pessoa que sofre precisa estar aberta para receber ajuda. Ela não pode fechar em si mesma e não será nada bom ficar alimentando a derrota na sua mente. O enfermo deve procurar ajuda, tornar-se humilde e receptivo para coisas boas. Manter uma atitude de arrogância e de orgulho só contribui para piorar o quadro clínico. Temos que querer ser ajudados!

Finalmente, digo que é fundamental ter fé, aceitar a vontade divina e não criarmos expectativas erradas. É certo que, enquanto estamos vivos, temos que lutar por nossa cura e recuperação. Ninguém que respira tem que se conformar com a sua morte! Porém, a parte do texto bíblico citado que diz "o Senhor o levantará" (verso 15) pode ocorrer tanto nesta vida quanto na outra. Aí, se a pessoa partir, cabe aos familiares crerem que a alma do ente querido encontra-se nos braços sempre acolhedores do Pai Eterno.

Nos dias de hoje, em que muitas das vezes esse tipo de assistência espiritual ministrada aos enfermos acaba sendo mais um trabalho proselitista (ou de marketing) de inúmeras organizações religiosas, não podemos ficar terceirizando aquilo que se encontra ao nosso alcance. Se soubermos de alguém próximo que esteja doente, por que não orarmos e/ou fazermos uma visita surpresa a esta pessoa? Às vezes, um breve telefonema ou um bilhete enviado pelos Correios já servirão de grande ajuda. Nunca esqueça que você pode ser a resposta de Deus que o outro tanto aguarda.

Tenha um excelente dia!


OBS: A ilustração usada neste artigo refere-se ao quadro Os sete sacramentos do pintor gótico flamengo Rogier van der Weyden, ou Rogier de Bruxelles, cujo nome verdadeiro era Rogier de la Pasture (1400-1464). A imagem foi extraída do acervo da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Extreme_Unction_Rogier_Van_der_Weyden.jpg

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