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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Reprodução responsável



"Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra" (Gênesis 1:27-28; ARA)

A Bíblia começa com um dos textos mais bonitos falando sobre as origens do mundo e da humanidade. Deus fez de nós seres à sua imagem e semelhança, outorgando-nos o mandato cultural de governarmos a terra e exercermos o domínio sobre a natureza que deve ser uma relação harmoniosa. Concedeu-nos o dom da reprodução para que, através dos dois sexos, o masculino e o feminino, continuemos a sua obra criadora.

É fundamental o papel construtivo do homem e da mulher. Não só por razões biológicas como também da cultura. Ambos devem cooperar através do matrimônio para a formação da família, sendo necessário que gerem filhos. Ou então, caso não possam ser pais, que contribuam de outras maneiras para o bem da humanidade. Tanto auxiliando na formação de crianças (adotando, apadrinhando ou dando aula) ou não.

Não se sabe exatamente qual a população global na época em que a Bíblia começou a ser escrita. Podemos supor que, há uns três milênios atrás, existissem sobre a superfície terrestre dezenas de milhares de seres humanos já espalhados pelos cinco continentes, concentrando-se mais nas civilizações que se desenvolveram nos vales férteis, nas cidades portuárias e capitais dos reinos. A mortalidade infantil era alta e havia dizimações em massa através de secas, pragas agrícolas, epidemias, guerras e cataclismos. Nações inteiras chegaram a desaparecer e daí a necessidade de que um povo fosse fecundo mantendo-se numeroso com profundas raízes culturais.

A Bíblia, como uma primeira constituição escrita dos antigos israelitas, cuidou para que as doze tribos fossem fortes e unidas pela observância dos mandamentos divinos dados a Moisés. Se o povo seguisse aqueles preceitos, seria vitorioso em todos os sentidos (Dt 7:12-16). Para tanto não bastariam os pais gerarem filhos. Precisariam instruí-los na Torá, a Lei divina:

"Estas palavras que, hoje, e ordeno estarão no eu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te". (Dt 6:6-7; ARA)

Vivemos hoje num tempo em que a boa educação das crianças e dos adolescentes determinará a sobrevivência da espécie e de nações no futuro. Devido às melhores condições sanitárias e de saúde proporcionadas pela ciência, a humanidade multiplicou-se de uma tal maneira que a Terra já se encontra cheia de homens e de mulheres. Somos agora uma aldeia global de mais de 7 bilhões de habitantes!

Pois bem. Para que o homem sobreviva daqui por diante, será preciso compartilhar racionalmente o espaço geográfico e usar dos seus recursos com sustentabilidade. Se tivermos muitos filhos, como nos tempos antigos, o planeta será exaurido, conforme já está acontecendo em várias regiões do globo a ponto da ditadura chinesa ter estabelecido um controle de natalidade a partir de décadas atrás. Só que, ainda assim, continua sendo necessário nos reproduzirmos. Novas gerações virão e cada casal precisa ter pelo menos um filho, com a valorização igual de ambos os sexos, para uma cultura se preservar equilibradamente.

Mais do que nunca necessitamos criar no nosso mundo a ética de uma reprodução planejada e responsável em que os pais devem se comprometer em gerar no máximo uns dois filhos, em via de regra, empenhando-se mais com a educação das crianças. Devem ser os protagonistas dessa tarefa pedagógica que será complementada com a escola e com o grupo religioso familiar, cabendo a este transmitir princípios espirituais de respeito à vida relacionados à convivência pacífica entre as pessoas e à preservação do meio ambiente.

Nesse processo construtivo, em nada contribuem os discursos que fogem da responsabilidade do homem quanto à mordomia dos bens terrestres cuja propriedade entendo ser divina. A maneira como muitas igrejas pregam sobre o "fim do mundo" tem levado milhões de pessoas à alienação consciencial, perpetuando os comportamentos destrutivos e inadequados das gerações passadas por acreditarem na irreversibilidade dos processos destrutivos. E, sendo assim, pra que tais religiosos fundamentalistas precisam se envolver na luta contra o aquecimento global e defenderem a conservação dos ecossistemas nativos, não é mesmo? Deste modo, tendo em vista que a reprodução não se resume apenas ao ato de procriar, devo admitir que a Igreja muitas das vezes tem falhado na sua missão.

Não podemos compactuar com condutas predatórias! Uma delas seria a proibição injustificável dos métodos contraceptivos até hoje defendida pelo catolicismo romano e por denominações evangélicas mais radicais. Padres ainda têm insistido numa orientação que, dentro do atual contexto, chega  a ser até um pecado porque promove o aumento populacional irresponsável e ainda prejudica o bom relacionamento entre o casal produzindo pobreza familiar. E o pior é que tudo isso se dá em nome de uma má interpretação de Gênesis 1:28.

Portanto, um casal não só pode como deve fazer uso dos contraceptivos hoje em dia, desde que não sejam abortivos. Tanto a pílula quanto o a camisinha e o DIU são alternativas saudáveis para que o homem e sua esposa planejem o momento certo de procriarem afim de que a futura criança receba devidamente educação, afeto e toda a atenção dispensada pelos pais conforme as melhores condições possíveis.


OBS: Imagem extraída do acervo virtual da Wikipédia com origem atribuída ao site http://www.pdimages.com/web9.htm

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