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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Contando o custo ou renunciando?

No último estudo feito aqui sobre o Evangelho de Lucas, não me aprofundei muito sobre a parábola da torre inacabada e a outra metáfora utilizada por Jesus acerca do rei que soube contar o número de seus soldados antes de ir à guerra contra o adversário e buscar um acordo de paz. Torno então a comentar o texto bíblico já analisado, citando novamente do verso 28 em diante:

"Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz. Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo." (Evangelho de Lucas, capítulo 14, versículos 28 a 33; versão ARA)

Por muito tempo eu li esse ensino de Jesus acima citado sem compreender o seu sentido espiritual. Não meditava muito em sua conclusão e devo ter ouvido poucas pregações a respeito da passagem bíblica em análise.

À primeira vista, parece que Jesus estaria dando conselhos de auto-ajuda financeira nos quais o construtor da torre ou o rei comandante de um exército tornam-se exemplos de prudência. Mas o nosso Mestre jamais poderia ser comparado dessa maneira. Menos ainda com um general belicista a exemplo de Sun Tzu, autor da clássica obra A arte da guerra. Então, sem atentar para a mensagem sobre renúncia, eu logo pensava com meus botões: "Um homem precisa refletir antes de agir. Não posso tentar a realização de algo sem antes verificar se tenho condições." Mas essa não deixa de ser um reflexo da lógica mundana que é incompatível com a proposta do Evangelho.

Vejo que Jesus não poderia ter escolhido melhores exemplos do que a construção de uma torre e a numeração de soldados para uma batalha! Ele pode ter se inspirado na memória de seu povo porque as Escrituras hebraicas falam de dois episódios negativos envolvendo, respectivamente, a edificação de uma torre em Babel (Gn 11:1-9) e um censo militar de Davi (2Sm 24:1-9; 1Cr 21:1-6).

Verdade é que ambos os acontecimentos bíblicos foram resultantes da ambição humana, da falta de fé/relacionamento com Deus e do materialismo. Embora a Bíblia não proíba a construção de torres ou a realização de censos militares (Moisés contou os israelitas), eis que, nas duas situações, as pessoas estiveram motivadas por um ânimo errado. Tanto é que, no livro de Crônicas, o autor sagrado chega a dizer que foi Satanás quem teria instigado o rei a querer numerar seu povo afim de saber com quantos soldados poderia declarar novas guerras. Justo Davi que, antes de governar, tinha enfrentado confiantemente o gigante Golias, matado inúmeros filisteus e escapado das astutas emboscadas de Saul contando com a ajuda divina.

Igualmente passamos por situações análogas em nossa caminhada espiritual. Quando a luta é grande e as adversidades estão acima das nossas forças, desenvolvemos uma extraordinária fé. Porém, quando tudo parece calmo, queremos ter o controle da situação para nos sentirmos seguros com os recursos materiais dados pelo Criador, perdendo a consciência da Fonte. Esquecemos facilmente dos projetos divinos para as nossas vidas e começamos a estabelecer metas sem um critério espiritual, raciocinando equivocadamente.

Realmente o ensino de Jesus não exclui o meditar sobre os nossos planos, mas compreendo que ele nos diz para renunciarmos as exigências do ego, deixarmos de lado tudo aquilo que pode ocupar o lugar de Deus nas nossas vidas. Aí, nestas horas, precisamos ser até um pouco radicais e negarmos as coisas desejadas pelo interesse carnal porque é impossível seguir a Cristo buscando uma satisfação egoísta. Não dá para o homem servir a Deus e às riquezas!

Ter bens, diplomas, uma casa, um carro ou um fundo de aposentadoria jamais foi pecado em si mesmo. Porém, como ensinou o apóstolo Paulo, os crentes devem utilizar das coisas desse mundo "como se dele não usassem" (1Co 7:31). Ou seja, não devemos nutrir qualquer tipo de apego à matéria, mas, sim, abraçarmos de coração o projeto celestial para a humanidade que é a causa do Reino de Deus. Aliás, esta é uma das mais preciosas lições do capítulo 12 de Lucas e que se encontra também no Sermão da Montanha de Mateus:

"Buscai, antes de tudo, o seu reino, e estas coisas vos serão acrescentadas." (12:31)

Finalizo esta postagem lembrando que a cada dia precisamos transformar a nossa mentalidade dando prosseguimento ao processo sempre aberto da metanoia. A conversão do homem é algo que exige uma contínua disposição para aprender, reciclar a vida, procurar o aperfeiçoamento ético e cultivar dentro de si a santidade. Trata-se de uma escolha existencial do homem por Deus com as devidas renúncias, incluindo o arrependimento, as retratações para com o próximo e sempre requerendo uma dose de humildade para pegarmos a curva do retorno quando dermos conta de que entramos numa vereda errada. Só assim seremos de fato discípulos do Senhor Jesus.

2 comentários:

  1. Gostei muito. E pretendo pesquisar mais sobre o senhor.

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    1. Olá, José Luiz.

      Obrigado ´por sua leitura e comentários.

      Participe sempre que desejar.

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