Conforme a imprensa já noticiou amplamente desde ontem à noite, tivemos umas das mais surpreendentes eleições neste último domingo (07/10) e que impactou profundamente o quadro político brasileiro.
Na corrida presidencial, com as urnas apuradas, Bolsonaro (PSL) teve quase 50 milhões de votos enquanto Haddad (PT) superou os 30 milhões. Ambos irão disputar o segundo turno no dia 28/10 e teremos uma rivalidade pela Presidência do país qual nunca houve desde 1930.
Por sua vez, a nova legislatura na Câmara Federal será composta por 513 deputados federais de 30 partidos diferentes, sendo que tanto o PT quanto o PSL elegeram o maior número de representantes, com os números de 56 e 52 parlamentares respectivamente. Ou seja, serão os dois partidos com mais federais eleitos, seguidos pelo PP (37), MDB (34) e PSD (34), enquanto o meu partido, o PSDB (a 3ª maior bancada eleita em 2014), caiu para a 9º colocação.
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Fato é que a voz das urnas, desta vez, mesmo sinalizando uma mudança que possa ser para pior (no caso da eleição para presidente), serve de séria advertência para a necessidade de que todos os nossos representantes possam compreender a nova política que tanto precisamos.
Podemos dizer que as eleições agora se regem por uma certa imprevisibilidade em que o político, sem ter o voto consolidado, isto é, sem haver conquistado o eleitor, como Lula e Bolsonaro quanto ao pleito presidencial, acaba caindo numa volatilidade. E aí falo do Lula porque para muitos brasileiros o governo do ex-presidente foi considerado bom, o que explica o rápido crescimento de Haddad a partir da segunda quinzena de setembro.
Realmente o episódio da facada, ocorrido em 06/09, mudou tudo. Pois dificultou os adversários de Bolsonaro a prosseguirem nos trabalhos de desconstrução do candidato. Explicando, a comoção causada no público impediu que os ataques contra ele nas propagandas eleitorais continuassem no mesmo ritmo agressivo. E a este respeito cito aqui os comentários feitos hoje pelo blogueiro Lauro Santos, editor do portal Notícias de Itacuruçá:
"Analisando todos os resultados no país, observa-se que, há quarenta e cinco dias, grande parte dos candidatos citados acima praticamente não tinham chances de vencer, até que sobreveio o episódio da facada no candidato Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora. O efeito desse atentado não só o empurrou para o primeiro lugar nas intenções de votos, mesmo preso a um leito hospitalar até há poucos dias. Todos os que o apoiavam também passaram a receber os reflexos da simpatia indignada do eleitorado com aquele atentado."
Todavia, se não fosse pelo crescimento do PT, penso que jamais teriam ocorrido os esvaziamentos das candidaturas de Alckmin (PSDB) e de Marina (Rede), em que os eleitores destes acabaram migrando para Haddad e Bolsonaro, sendo que somente o Ciro Gomes (PDT) se manteve estável. E ainda houve os indecisos se definindo na última semana pelo candidato do PSL.
É certo que houve uma espécie de "efeito de Bolsonaro" em quatro regiões do país (e também um "efeito PT" nos estados nordestinos) sobre outros candidatos a governador e às casas legislativas. Tanto é que, como já dito, os dois partidos formaram as maiores bancadas do Congresso nacional, mas que ficou mais fragmentado ainda.
Por sua vez, a ida para o segundo turno do ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC) na disputa para governador daqui do Rio de Janeiro se deu também pela identificação e pelo apoio manifestado por ele a Bolsonaro. Pois, muito embora o Índio da Costa (PSD) e o André Monteiro (PRTB) também fossem apoiadores de mesmo presidenciável, nenhum desses se encaixou nos anseios do eleitor. Talvez um por ser já conhecido e não ter credibilidade para executar as mudanças desejadas enquanto que o outro foi preterido mais pelo fato de quase ninguém saber quem ele é.
Outro detalhe interessante é que, com a internet, já não há mais tanto valor no tempo de TV a exemplo de campanhas anteriores. Pois o smartphone tornou-se hoje o substituto do velho radinho de pilha do ouvinte do século XX e o que pode ser visto num telejornal agora é encontrado instantaneamente nos inúmeros portais de notícias. E sem esquecermos de que não há mais tanta necessidade de se fazer campanhas caras.
Com os resultados de ontem, acho pouco provável o PT conseguir virar o jogo assim como o Democratas no Rio de Janeiro. Afinal, mesmo com o segundo turno, a diferença entre Haddad e Bolsonaro chega a quase 20 milhões de votos. E, aqui no estado, Wilson Witzel teve ontem mais do que o dobro dos votos válidos em relação ao ex-prefeito da capital, Eduardo Paes (DEM).
É certo que nem o PT e nem DEM fluminense estão mortos. Porém, nota-se hoje uma tendência consolidada do eleitor em querer dizer não para a velha política.
De qualquer modo, creio que a governabilidade do novo presidente deverá ser muito difícil visto que agora são 30 partidos representados na Câmara federal e 20 no Senado. Logo, qualquer um que vencer dia 28/10 precisará do "centrão" ao seu lado, o que, sob certo aspecto, não deverá ser tão ruim para poder então temperar a política brasileira hoje radicalizada.
Embora as eleições presidenciais influenciem muito pouco as suplementares de algumas pequenas cidades que escolherão novos prefeitos dia 28 (a exemplo da minha Mangaratiba), eis que a disputa do segundo turno para governador poderá causar algum efeito, caso haja um aliançamento extra-oficial dos candidatos, como já vinha ocorrendo antes. E, em nosso caso específico, durante a campanha de primeiro turno das eleições gerais, no âmbito nacional e estadual, tanto os partidos que compõem a coligação "MANGARATIBA PRECISA MUDAR" quanto os da coligação "SOMOS MUDANÇA" fecharam com Eduardo Paes. Agora, porém, ninguém deverá querer o ex-prefeito da cidade do Rio em seu palanque, mas, sim, o apoio do ex-juiz, o qual obteve aqui dentro no Município mais de 12.500 votos contra menos de 4.000 do adversário.
Vamos acompanhar como as coisas deverão se definir nesta semana, sendo certo que o segundo turno é, na verdade, uma outra eleição.
Ótimo final de segunda-feira a todos!
OBS: Créditos autorais da imagem acima atribuídos a Tânia Regô e Marcelo Camargo da Agência Brasil, conforme consta em http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-10/bolsonaro-e-haddad-tem-agendas-distintas-hoje
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