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quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Como se posicionar neste segundo turno?



Para quem é um social-democrata como eu me identifico, confesso estar sendo muito difícil escolher em qual o abismo menos fundo iremos nos enfiar depois dos resultados do primeiro turno das eleições presidenciais, ocorrido no dia 07/10. Após 100% das urnas apuradas, foram contados 49.276.990 votos para o candidato Jair Bolsonaro (PSL) contra 31.342.005 de Fernando Haddad (PT), representando uma diferença de quase 18 milhões de sufrágios entre os dois concorrentes que irão para uma nova disputa apenas entre si no último domingo do mês (28/10). 

Se bem refletirmos acerca disso, eis que temos hoje um pleito presidencial polarizado entre esquerda e direita, cujos vices poderiam ser considerados ainda mais radicais: o general Hamilton Mourão (PRTB) e Manuela d'Ávila (PCdoB). Esta por integrar o partido comunista e aquele por haver já cogitado a hipótese de uma intervenção militar durante um pronunciamento público feito na Loja Maçônica Grande Oriente, em setembro de 2017, no Distrito Federal. Na ocasião, o colega de chapa de Bolsonaro afirmou que, se o Judiciário não fosse capaz de sanar a política existente no país, isso seria imposto pelo Exército.

Posso dizer que ambas as candidaturas não me representam e temo que qualquer um possa agravar ainda mais a nossa situação. Pois, infelizmente, creio que não saberão dialogar com toda sociedade, buscando soluções para os problemas enfrentados, os quais envolvem uma grave crise de representação, corrupção, recessão econômica, violência, bem como a má prestação dos serviços públicos. E também me parece que, dificilmente, conseguirão fazer uma reforma política. Pois, devido ao fato de estarem bem distantes do centro e quase nos extremos ideológicos, como formularão propostas capazes de agradar a sociedade de maneira ampla?

Outra coisa é que, ao mesmo tempo em que caminhamos para o segundo turno, surgem casos de violência por todo o país gerados pela intolerância política, a exemplo do assassinato do capoeirista Moa do Katendê por um seguidor do Bolsonaro em Salvador. Tivemos também a ocorrência da jovem marcada com canivete por usar adesivo com "Ele Não" na sua mochila com a bandeira LGBT em Porto Alegre, além de um professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) preso após tentar atropelar um homem que vendia camisas do candidato do PSL, e da médica que rasgou a receita da paciente idosa após ela ter dito que votou em Haddad. 

Ora, tudo isso mostra o quanto a sociedade brasileira encontra-se hoje dividida, embrutecendo-se cada vez mais e decaindo dos seus valores éticos básicos. E como se já não bastassem as fakenews rolando direto pelo esgoto da internet que é o aplicativo WhatsApp, ainda houve alguns eleitores do candidato Bolsonaro que alegram supostas irregularidades envolvendo a confiança na votação eletrônica do dia 07/10.

Na minha postagem do dia 29/09 (clique AQUI para ler), eu havia levantado a hipótese sobre a possibilidade de sofrermos um golpe de Estado, caso Bolsonaro venha a perder as eleições para o PT. E, embora alguns amigos meus achem que eu esteja "viajando na maionese", não descarto essa hipótese, ainda que outros desfechos menos infelizes venham a ocorrer.

Penso que para tomarmos uma decisão racionalmente refletida diante de uma situação onde o voto responsável não pode ser omisso, o caminho seria imaginarmos como seriam os possível acontecimentos após a votação do dia 28/10 com Haddad ou Bolsonaro ganhando as eleições.

I - CENÁRIO COM HADDAD PRESIDENTE


No caso do PT vencer,  o que seria muito difícil diante da diferença de quase 18 milhões de votos, o primeiro problema seria acalmar a militância truculenta e organizada de Bolsonaro, a qual dificilmente aceitaria o resultado por achar que teria ocorrido uma fraude. O país poderia passar por protestos, greves como a dos caminhoneiros e até confrontos armados. Os militares poderiam não querer impedir uma eventual deposição do presidente Michel Temer e aí haveria um golpe civil-militar como em 1930.

Porém, pode ser que as matérias divulgadas na mídia, juntamente com a atuação influente de várias lideranças políticas, consigam conformar essa militância de direita em que o próprio candidato derrotado aceitaria o resultado das urnas. Porém, em tal hipótese, Haddad cederia ainda mais quanto às suas propostas desagradando a esquerda que o tem apoiado. Inclusive a grupos do próprio partido. Então, caso a economia cresça, a grande maioria da população ficaria satisfeita e o seu governo se consolidaria.

Já um desfecho que ninguém deseja seria Haddad chegar ao governo e depois começar a praticar uma política anti-liberal e de sustentação da ditadura venezuelana, convocando uma constituinte. Com isso, ele criaria um problema ainda maior, não conseguiria governabilidade através do Legislativo e, no mínimo, perderíamos mais quatro anos sem crescimento da economia. Isto sem descartarmos a possibilidade de que, neste caso, poderia ocorrer uma cassação da chapa por motivo de uma eventual investigação eleitoral, ele e a vice serem denunciados perante o STF (pois não seria estratégico o caminho do impeachment,) ou aquela intervenção militar prometida pelo general Mourão.

II - CENÁRIO COM BOLSONARO PRESIDENTE


Mas vejamos como pode ser o Brasil com o Bolsonaro eleito presidente dia 28/10...

A melhor das hipóteses aí seria o presidente abandonar o seu jeito truculento, fazer um governo que seja o mais próximo possível do técnico, não inventar mudanças polêmicas na Constituição (e menos ainda substituir a atual carta de 1988), nem cometer a insanidade de facilitar o acesso do cidadão às armas de fogo. Teríamos uma política econômica conservadora, com um liberalismo moderado, sem tantos escândalos de corrupção, mais investimentos na segurança pública, sem grandes retrocessos na área social e tendo uma oportunidade conjuntural de crescimento como foi na década passada com Lula.

Claro que, quando se tem dinheiro e distribuição da riquezas, temos satisfação dentro de uma sociedade. Porém, se o futuro governo não for capaz de resolver o problema do desemprego e da falta de oportunidades (ou se tivermos um crescimento sem distribuição de renda), Bolsonaro precisará arrumar meios de anestesiar os efeitos da crise. Então, neste caso, poderemos assistir o mais triste quadro no Brasil com perseguições políticas, um patrulhamento ideológico dentro das escolas, na mídia e no serviço público, mais divisões na sociedade, supressão de direitos do trabalhador, repressão estatal através da Polícia, espetaculização das ações de segurança e de investigação, incitação velada à homofobia, intolerância religiosa, criminalização do comunismo, aumento das desigualdades raciais, etc.

Da mesma maneira que o PT pode ambicionar a promulgação de uma nova Constituição, não descarto que Bolsonaro ou o seu vice pretendam isso. Aliás, no mês passado, o próprio general Mourão já andou defendendo por aí a propositura de uma nova Carta, sem haver uma Assembleia Constituinte (clique AQUI para ler a matéria no jornal A Folha de São Paulo). E, sendo assim, não sabemos como seria o novo Estado brasileiro, ainda que restasse ao povo aceitar ou negar a novidade em sede de plebiscito.

CONCLUSÃO


Quero agora dizer que o mais importante pra mim não é quem irá governar o Brasil, mas, sim, se conseguiremos preservar a nossa democracia com o máximo de direitos sociais possíveis, resistindo a essa onda de direita do momento. E aí recordo de uma matéria da Época , intitulada Na cadeia, Lula admite possível derrota e diz que deixou seu legado para o Brasil, a qual li justo no dia das eleições (antes do resultado da votação) mostrando as opiniões de Lula e do José Dirceu:

"Neste sábado (6), a menos de 24 horas das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assistia a um filme na televisão de sua cela, localizada no quarto andar da sede da Polícia Federal, em Curitiba. O vídeo foi levado por advogados que tem a permissão judicial para entregar pen drives com músicas, séries e outras atrações ao preso. De calça e blusa de moletom, o petista passou o dia sozinho, já que não pode receber visitas aos finais de semana. A chuva e a temperatura em torno de 10 graus também não permitiram que ele desfrutasse das duas horas diárias de banho de sol. O mau tempo também afugentou os militantes que fazem plantão no acampamento do PT em frente à PF pedindo sua liberdade. Apenas seis militantes resistiam ao frio na véspera do primeiro turno.

A exceção no sábado de Lula foi a breve conversa que teve com os agentes da PF que levam suas refeições e fazem a segurança da porta de sua cela. No bate-papo, Lula não mudou seu comportamento: fez piadas e mostrou otimismo. No entanto, começou a admitir um assunto que até então evitava: uma possível derrota de Fernando Haddad, candidato do PT que o substituiu na disputa pelo Palácio do Planalto, para o Jair Bolsonaro, do PSL.

Segundo pessoas que conversaram com o presidente, nos últimos dias ele tem dito que sabe que deixou seu legado para o Brasil e que entrará para a história do país. Afirma ainda que esse não será o caminho de seus algozes. Lula defende que sua permanência na prisão será um grande problema num eventual governo Bolsonaro. Acredita que a visão de que ele é um preso político está consolidada no exterior e que a pressão de países estrangeiros e da ONU pela sua liberdade será crescente."

E sobre o Dirceu, assim expôs a revista:

"A cúpula do partido também passou a admitir a possibilidade de vitória de Bolsonaro. Se antes as pesquisas internas do PT mostravam que Haddad lideraria a votação ainda no primeiro turno, o mesmo não foi comprovado na véspera da eleição. Os números da própria sigla, geralmente mais otimistas do que pesquisas como Ibope e Datafolha, mostravam que o candidato do PSL chegará a um provável segundo turno na frente do ex-prefeito de São Paulo. Os dados são a pior notícia que o PT poderia receber. Sempre que chegou ao segundo turno, com Lula e depois com Dilma Rousseff, a sigla já estava na liderança.

O ex-ministro José Dirceu, que já foi condenado na Lava Jato, tem comparado o segundo turno entre Haddad e Bolsonaro à sangrenta Batalha de Stalingrado — com três meses de duração, ela foi um marco da Segunda Guerra Mundial, em 1942, quando soviéticos derrotaram as tropas alemãs de Adolf Hitler. No entanto, o petista tem defendido que a derrota pode ser o caminho de sobrevivência.  Em rodas restritas, ele afirma que se for para Haddad ser eleito e não conseguir governar, como aconteceu com Dilma Rousseff, que sofreu o impeachment em 2016, é melhor que o partido perca as eleições. Parte da sigla concorda com Dirceu e defende que o PT deixe o país sangrar com Bolsonaro voltar em um ambiente com menos rejeição e se viabilizar como opção dos eleitores."

Confesso que fiquei bem intrigado com o que li, mas depois refleti que a cúpula petista talvez prefira permanecer por mais quatro anos na oposição do que ganhar dia 28 e não assumir em 01/01. Ou então, preferem deixar de vencer  do que depois não governarem como desejam.

Desse modo, eu que antes havia até ingressado com uma notícia de inelegibilidade contra Bolsonaro em agosto, refleti que não valeria a pena fazer uma campanha pedindo votos para Haddad já que o próprio PT não está interessado numa vitória agora. E então, como sou filiado ao PSDB de Mangaratiba, preferi antes esperar pela decisão da Executiva Nacional do meu partido para me posicionar sobre o segundo turno das eleições. 

Tendo o PSDB decidido pela neutralidade, liberando os diretórios e os filiados para apoiarem quem eles desejarem, resolvi prestar a atenção em duas lideranças que muito estimo: FHC e Marina Silva 

Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, respondeu ao blogue de Bernardo Mello Franco, do jornal O GLOBO, que "nenhum dos candidatos agrada, mas Bolsonaro está excluído. Não tem sentido". E ainda acrescentou que o candidato do PSL "não tem jeito", pois é "uma folha seca que vai com o vento", alertando o ex-presidente estar "forte" a ventania. 

Outra liderança que também teve um posicionamento semelhante foi a candidata da Rede Sustentabilidade, Marina Silva. Seu partido recomendou "nenhum voto" em Bolsonaro. E, numa nota divulgada após reunião da Comissão Executiva Nacional, a Rede criticou o "projeto de poder" e a "corrupção sistemática" do PT, dizendo que não apoiará a candidatura Haddad e que será oposição ao futuro governo, seja qual for o vencedor da eleição.

Como livre pensador que sou, estou de acordo com FHC e com Marina Silva. Não porque eu precise das opiniões deles, mas, sim, pelo fato de que me identifiquei com as suas respectivas análises, considerando-as coerentes e sábias. E acrescento que todo o esforço deve ser feito para preservar a democracia brasileira como bem expôs a nota da Executiva Nacional da Rede que incluiu aí a preocupação com o meio ambiente:

"Nestas eleições, a Rede Sustentabilidade apresentou à sociedade brasileira um projeto alternativo à polarização. Frente ao ódio e à mentira, oferecemos a face da verdade e da união em prol de um Brasil mais próspero, justo e sustentável. Infelizmente, os dois postulantes no segundo turno representam projetos de poder prejudiciais ao país, atrasados do ponto de vista da concepção de desenvolvimento, autoritários em relação ao papel das instituições de Estado, retrógrados quanto à visão do sistema político e questionáveis do ponto de vista ético.

A Rede não se alinha e não apoia nenhum deles. A corrupção sistemática revelada pela Operação Lava Jato foi uma marca dos governos petistas, assim como de boa parcela dos parlamentares que agora estão com o Bolsonaro. Os dirigentes petistas construíram um projeto de poder pelo poder pouco afeito à alternância democrática.

Por outro lado, é impossível ignorar que o projeto de Bolsonaro, conforme tem sido reiteradamente afirmado, representa um retrocesso brutal e inadmissível em três pontos muito caros aos princípios e propósitos da Rede. Primeiro, promete desmontar inteiramente a estrutura de proteção ambiental existente no país, conquistada ao longo de décadas, por gerações de ambientalistas. Chega ao absurdo de anunciar a incorporação do Ministério do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura. Com isso, atenta contra o interesse da sociedade brasileira e destrói pilares fundamentais para o futuro do país. Além disso, ataca os direitos das comunidades indígenas e quilombolas, anunciando que não será demarcado mais um centímetro de suas terras. Segundo, é um projeto que despreza direitos humanos e a diversidade existente na sociedade, promovendo a incitação sistemática ao ódio, à violência e à discriminação. Por fim, é um projeto que ameaça a democracia e põe em cheque as conquistas históricas desde a Constituinte de 1988.

Dessa forma, a Rede Sustentabilidade declara publicamente que:

1. Será oposição democrática ao governo de qualquer dos candidatos que saia vencedor do embate a que se reduziu essa eleição.

2. Não tem ilusões quanto às práticas condenáveis do PT, dentro e fora do governo. No entanto, frente às ameaças imediatas e urgentes à democracia, aos grupos vulneráveis, aos direitos humanos e ao meio ambiente, a Rede Sustentabilidade recomenda que seus filiados e simpatizantes não destinem nenhum voto ao candidato Jair Bolsonaro e, isso posto, escolham de acordo com sua consciência votar da forma que considerem melhor para o país."

Finalmente, faço apenas o comentário de que a oposição a qualquer dos novos presidentes precisará ser sempre inteligente e construtiva, sem jamais lesarmos os interesses do país. Menos ainda ser uma conduta interesseira para amanhã um partido obter um ministério ou cargos para seus afiliados. Logo, essa é a linha que pretendo seguir, sem fazer campanha a nenhum dos candidatos, mas atuando como observador das eleições, sempre denunciando as coisas erradas, a intolerância e as ideias contrárias aos interesses coletivos.

Ótima noite de quinta-feira a todos e tenham um excelente feriadão!

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