“Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.” (Atos dos Apóstolos 17.11; ARA) - destacou-se
Na noite deste último dia 29/07/2011, participei de uma acalorada reunião na Igreja Batista da Serra, aqui em Nova Friburgo, onde foram tratados vários temas internos da congregação, dentre os quais o horário do culto dominical. Ao final, o pastor presidente, o irmão Robson Rodrigues, propôs que refletíssemos seriamente sobre que tipo de igreja queremos afim de que o debate tivesse a sua continuidade no próximo encontro, no culto de domingo pela manhã.
Como tem ocorrido comigo ultimamente, venho sentindo a necessidade urgente de que as pessoas dentro das suas igrejas tornem-se capazes de praticar o exercício do discernimento de uma maneira prática e aberta, aplicando-o em todas as esferas de suas vidas, bem como no ambiente coletivo.
Desde julho do ano passado, tenho experimentado o prazer de me relacionar com um grupo e irmãos cujo trabalho é fruto de uma interessante desconstrução doutrinária. Há cinco anos, Robson e sua esposa Rosane iniciaram uma proposta de igreja bem inovadora aqui na cidade, propondo repensar a ideia de culto a Deus, questionando a submissão à autoridade pastoral (todos somos ministros da obra divina), revendo práticas como o “apelo à conversão”, além do tradicionalismo religioso. E muitas destas iniciativas foram inspiradas nos excelentes estudos de Frank Viola, autor do brilhante livro “Reconsiderando o Odre”.
Confesso que, juntamente com as ideias do Frank Viola, tenho observado as propostas de diversos outros autores e blogueiros igualmente envolvidos com a desconstrução do conceito de Igreja. E, graças a essas oportunidades, pude romper com muitas prisões do fundamentalismo religioso, sendo que ainda continuo lutando em relação a determinados posicionamentos integrantes da minha formação cristã anteriormente elaborada desde a adolescência.
Atualmente, uma das coisas que eu busco é provar o conteúdo da mensagem bíblica em razão de minha consciência, procurando entender e dialogar com o texto ao invés de sair aplicando irrefletidamente o preceito. Só que este meu comportamento chega a surpreender até as pessoas que se envolveram com o tal processo de desconstrução dos conceitos religiosos. Principalmente para aqueles que buscam absolutizar a sua própria concepção da verdade e tropeçam sempre naquela velha falácia do argumento circular ou petição de princípio, ao utilizarem a mesma conclusão como premissa (algo como afirmar que isto ou aquilo seria errado simplesmente porque a Bíblia diz que é).
Ainda neste mês, estive participando num interessante debate sobre a alteridade no blogue “Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola” em que o assunto acabou sendo direcionado para um detalhamento do tema principal. Falamos então sobre a aceitação da homossexualidade nas igrejas (tema sobre o qual ainda não tenho posições totalmente definidas).
Reiteradamente tentei explicar os meus motivos baseados na Bíblia segundo o qual ponderava ser pecado duas pessoas do mesmo sexo viverem numa condição análoga à conjugalidade, ainda que me posicionando favorável ao reconhecimento estatal da união estável homossexual. Então, um dos participantes, que também é o autor do artigo, compartilhou algumas palavras que me fizeram refletir ainda melhor sobre a maneira como tenho buscado me firmar na autoridade bíblica, baseando-se numa fantástica leitura das palavras de Jesus no célebre “Sermão da Montanha” (Mateus capítulos 5, 6 e 7):
“Agora, respondam-me com sinceridade: A igreja está preparada para aceitar um homossexual em seu meio, sem OPRIMÍ- LO? Como vocês definem o exercício da alteridade entre o HOMO e o HÈTERO, sem citar o bordão: “ A Bíblia diz...”, quando se sabe que a ALTERDADE diz: “ Eu porém vos digo...” ???”
(réplica do autor Levi Bronzeado aos comentários que fiz em seu artigo “Breves Considerações Sobre ALTERIDADE”, extraído de http://cpfg.blogspot.com/2011/07/breves-consideracoes-sobre-alteridade.html)
Esta colocação do instigante debatedor realmente me conduz a um caminho que considero mais apertado e estreito do que a larga estrada da bibliolatria onde a reflexão humana torna-se totalmente dependente das letras de um texto que se considera sagrado. Isto porque, ao renunciar à auto-pesquisa e à reflexão, o homem acaba cometendo um terrível suicídio intelectual e não encontra outro meio de respostas senão terceirizar as suas escolhas pessoais, permitindo que líderes eclesiásticos pensem por ele sobre o que vem a ser o certo e o errado, segundo a Bíblia.
Tenho pra mim que, se o Criador nos dotou da capacidade de pensar e refletir é porque o homem não deve se furtar ao estabelecimento de conexões lógicas entre as premissas e a conclusão do seu argumento, procurando aplicar uma leitura mais raciona às suas percepções, abandonando os dogmas religiosos que foram construídos por muitos séculos na história do cristianismo. Logo, o leitor consciente deve discernir cada texto bíblico e verificar se as coisas são, “de fato, assim”, tal como os crentes na cidade de Bereia.
Certamente que manejar a arte da dúvida em relação á Bíblia e buscar com avidez a essência do ensinamento da Palavra de Deus a ponto de romper com a rigidez daquilo que está escrito, não é tarefa fácil. Ainda mais quando recebemos uma formação que nos dificulta a olhar para dentro de nós mesmos, sem medo, nem máscaras, infantilidades, fantasias ou fugas, visto que, lamentavelmente, muitos de nós (inclusive eu) ainda estamos mais apoiados naquilo que muitos denominam de “crença na crença” ao invés de dependermos unicamente da mesma inspiração divina que um dia conduziu os profetas e demais autores das Escrituras.
Graças às contradições dos fatos da vida, os quais colocam em dúvida as dogmatizadas concepções religiosas, parece que Deus nos impulsiona a não tornarmos a razão dependente da literalidade bíblica, da tradição eclesiástica ou da autoridade teológica dos “doutores da lei”. Assim, ao invés de nos apegarmos às concepções absolutizadas da inalcançável Verdade, precisamos encarar o nosso neo-fobismo e mergulharmos fundo na auto-pesquisa. Devemos deixar de lado as decisões motivadas pela emoção e agirmos com mais racionalidade, dando lugar à inteligência evolutiva auto-consciente de seus erros, livre de culpas e com disposição a reparar o mal praticado semelhante à atitude de Zaqueu. Sempre com responsabilidade e maturidade ética que não esteja mais condicionada ao aprisionador sistema de recompensas e punições das religiões.
Que Deus possa acompanhe a Igreja em sua caminhada e ilumine os nossos olhos pela sua inspiradora instrução manifestada em cada consciência!
Warum haben wir die derzeitige gefährliche Situation erreicht?
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Leonardo Boff Es ist eine Binsenweisheit, dass
wir uns im Zentrum einer großen Zivilisationskrise befinden. Sie ist nicht
region...
Há 12 horas
Rodrigo, linda e necessária a experiência de vcs.
ResponderExcluirInfelizmente a "DITADURA INTELECTUAL" gerou passivos do pensamento que se contentam em ser "vaquinhas de presépio".
O Levi tem uma mente brilhante e a capacidade instigadora de uma "santa provocação".
Espero sinceramente que não, mas definitivamente a Igreja não está preparada para lidar com as questões que requerem uma "desabsolutização" do que pretensamente se propõe como sacro-irredutível.
A literalidade sempre foi suplantada pela GRAÇA nos movimentos de Jesus, ou seja, a vida sempre está além das dogmatizações embrutecidas.
Creio que vc está entrando para a lista da fogueira santa dos hereges, assim como eu e o Edu rsrsrs.
Foi um grande prazer fazer uma leitura como essa, de um texto que nos desafia a repensarmos nossas absolutas, porém frágeis certezas.
Um grande abraço AMIGÃO!
rodrigo, repito o que o franklim disse: "uma experiência necessária".
ResponderExcluirinfelizmente, atitudes como esta são a minoria da minoria da minoria nos que são capazes de se aventurarem nesse "perigoso" terreno da desconstrução e construção da fé e das crenças.
a bem da verdade, a igreja cristã brasileira(só para ficar no exemplo de nossa terra), principalmente em seu ramo pentecostal, sempre teve os dois pés e os dois braços atrás com relação a uma discussão mais acadêmica ou a uma discussão onde os pontos nevrálgicos da fé fossem tocados.
por outro lado, o meio reformado, mais aberto ao questionamento acadêmico, também sempre deixou intocado suas vacas sagradas doutrinais. ali podia-se pensar, desde que não se ultrapassasse as cercanias da ortodoxia reformada.
pouca coisa mudou. em alguns casos piorou. atualmente, o chamado neopentecostalismo passa longe de toda reflexão, pois estão muito ocupados em conseguir "mover as mãos de deus" em seu favor com relação a serem "vencedores" e "prósperos".
o meio mais intelectualizado que corresponde ao meio reformado, continuam com suas vacas sagradas. os presbiterianos ainda consideram calvino o supra-sumo da teologia. (não querendo desmerecer, é claro, a capacidade teológica de calvino, mas apenas para mostrar a dificuldade de pensarem além de suas cercas teológicas).
eu não vejo nenhum futuro próximo para esse tipo de abordagem que você(e eu, levi, e outros) temos em relação à cultura religiosa que tanto nos influenciou.
os que possuem algum senso crítico, já são capazes de ver os problemas na instituição igreja, no poder do clero, e nessa teologia rala da prosperidade, mas não são capazes ainda de ir além disso. mas já é um começo.
você conhece um pouco do meu pensamento teológico e confesso que ele é completamente incompatível com o formato doutrinário cristão atual, pois vai de encontro exatamente às vacas sagradas, especialmente o exclusivismo, a divindade de jesus, os conceitos sobre deus...
reconheço que fui longe em minhas desconstruções, mas só assim eu tive alguma paz de espírito para fazer o que o boff diz e que eu postei lá no caminhos da teologia:
a montanha é montanha, a montanha não é montanha, a montanha é montanha...
creio que esse esquema é o que todo cristão que busca pensar a fé e crença precisa perceber. mas terão muitos que jamais irão querer admitir que a sua montanha de fato não seja A Montanha, apesar de ser montanha.
esses continuarão com seus preconceitos, seus exclusivismos, seus cultos bem arrumadinhos, suas leituras superficiais da bíblia.
é uma pena que muitos da confraria que fizeram essa desconstrução, descambaram de vez para o ateísmo; e alguns para o ateísmo militante.
eles não conseguiram fazer essa síntese (mesmo por que ela é muito difícil e por ser radical, a possibilidade que o resultado seja o ateismo é grande).
convide pessoas que tenham essa mesma percepção que agente para escrever para a confraria; mesmo que não queiram ser membros permanentes, mas que pudessem vez ou outra colaborar com a discussão. creio que seria bom para os muitos evangélicos que leem o blog.
e vamos prá frente...rs
gostaria de vez mais gente como nós e o levi lá na confraria, discutindo esses assuntos.
Prezados FRANKLIN e EDUARDO,
ResponderExcluirPrimeiramente agradeço pelos comentários de vocês e penso que estamos de acordo em muitos propósitos.
Compartilhei ontem à noite este texto pelo grupo da igreja no Facebook e a receptividade das pessoas que o leram e comentaram comigo no culto pela manhã deste domingo foi muito boa. Porém, sei que a reação dentro de uma igreja fundamentalista poderia ser bem diferente, provavelmente neo-fóbica e emocional, não racional.
Esta "ditadura intelectual" da qual o Franklin colocou tem sua origem em Agostinho de Hipona. Um homem que matou a sua busca pela Verdade e cometeu um suicídio intelectual a partir do momento em que resolveu submeter a investigação filosófica e científica à crença religiosa, obscurecendo todo aquele brilhantismo da cultura grega em que o saber filosófico tornou-se meramente uma roupagem manejada para justificar as crenças e dogmas do catolicismo romano. E o resultado disto agente assiste até hoje quanto á resistência histórica do cristianismo em relação aos avanços científicos. É o que escreve o ex-padre Marcelo da Luz em sua ferrenha crítica à religião cristã:
"A longeva influência da autoridade de Agostinho levou a Cristandade a submeter o material ao espiritual, a razão humana à ficção divina, a sexualidade à virgindade consagrada, o poder político ao poder religioso. Sua conversão e insistência na primazia da revelação sobre a razão acabou condicionando os pósteros a simplesmente renunciar ao exercício da dúvida para contentarem-se com a resposta pronta da fé. Se o resultado final dos esforços filosóficos do maior dos Padres da Igreja foi tornar a razão dependente da revelação, por que os outros fiéis dar-se-iam ao trabalho de buscar algo diferente? Domesticar o pensamento racional grego - berço da Ciência e da Filosofia - e seguir a trilha da obediência reservada ao rebanho foi a escolha dos cristãos para os séculos vindoutos".
Embora o esforço dos reformadores, como Lutero e Calvino, tenha sido bem significativo (mais ainda os teólogos alemãs a partir do século XIX), devemos reconhecer que até hoje a Igreja só foi capaz de fazer uma reforma, o que torna os evangélicos, inclusive os pentecostais, meros católicos apostólicos protestantes, incapazes de questionar até o próprio cânon adotado após Constantino.
Continuando...
ResponderExcluir"os que possuem algum senso crítico, já são capazes de ver os problemas na instituição igreja, no poder do clero, e nessa teologia rala da prosperidade, mas não são capazes ainda de ir além disso. mas já é um começo." (Eduardo)
Sobre isto, concordo plenamente. Mas eu vejo que o processo de desconstrução tende a se acelerar. Uns acabam retrocedendo e se apegam a uma doutrina anti-pentecostalismo, tornando-se ferrenhos críticos da teologia da prosperidade, mas passam a demonizar os teólogos liberais em suas posições apologéticas. E aí um pensador mais ousado corre o risco de ir para a fogueira como um herege.
Mas o que é que ainda impede muitos de pensarem livremente, mantendo o indivíduo apegado à doutrina?
Penso que, ao lado do medo (do inferno ou de estar pecando), tem-se o sentimento de inadequação ao grupo na igreja, o autoritarismo das instituições, a conveniência dentro do meio cristão, o apego à reputação, o despreparo pessoal para lidar com esta situação, a nossa repressão educacional praticada desde a época escolar, etc.
"é uma pena que muitos da confraria que fizeram essa desconstrução, descambaram de vez para o ateísmo; e alguns para o ateísmo militante. eles não conseguiram fazer essa síntese (mesmo por que ela é muito difícil e por ser radical, a possibilidade que o resultado seja o ateísmo é grande)." (Eduardo)
Eu acredito, mano, que o fato de livres pensadores estarem descambando para o ateísmo, chegando a ser dogmáticos e arrogantes, deve-se
à reação que tais pessoas têm quanto à mordaça imposta pela religião. Então, neste desejo ansioso de refutar as superstições religiosas, em desconstruir as imagens e representações antropomórficas de Deus, parece que os ateus consideram inadmissível a transcendência metafísica. E esta obstinação faz com que muitos deles tornem-se ignorantes quanto à divindade, conduzindo-os de volta a um positivismo.
Mas gostei da participação de vocês dois e acho que devemos aprofundar o assunto dentro das nossas igrejas. Se desejarem, sintam-se à vontade para compartilhar o texto com outros.
Abração.
Rodrigo, Edu e Franklin
ResponderExcluirVocês tenham muito cuidado no terreno onde estão pisando (rsrs), pois o Ricardo Gondim, que é um que pensa “fora da Caixa”, já está sendo apelidado de relativista (um neologismo criado pelo “establishment religioso vigente” para confundir e não explicar nada).
Ora, se exercermos um pouco de reflexão iremos entender que: Os fariseus por ter considerar os dogmas como algo imutável, não os usavam para defender o homem mas unicamente para cumprir um preceito da Instituição religiosa. Quando eles diziam a “Bíblia diz...” para justificar a imutabilidade do dogma, Cristo respondia: “Eu porém vos digo...”. Ora essa resposta de Cristo poderia muito bem ser assim traduzida: “Isso que vocês dizem é relativo”.
Nesse sentido Jesus foi um relativista. Ele relativizou a lei em favor da misericórdia no caso da mulher apanhada em adultério, quando a rigidez do absolutismo da lei não permitia exceções.
Então, os fariseus do tempo de Cristo faziam do texto sagrado um “império” de jargões conceituais e técnicos. Os seus discursos institucionais não lhe traziam conflitos, muito pelo contrário, traziam só certezas. Todo o discurso religioso trazia, latente em seu bojo, a interdição do pensar silenciando a subjetividade do indivíduo. Foi por isso que a elite religiosa judaica viu Jesus como um ateu, isto é, aquele que se afirma como alguém que não obedece a tradição de Javé.
O caminho para essa compreensão é espinhoso, mas o cristão, quem sabe, poderá um dia se desviar da luta renhida pela massificação do pensamento, para se abrir à “ética da diferença” que impede que o texto sagrado venha a se fechar.
Entendo que o intérprete não pode apenas ficar se remontando a um tempo passado, mas deve participar ativamente da transmissão, produzindo múltiplos e novos sentidos para a letra do TEXTO. Em cada época, em cada geração, o leitor interpreta subjetivamente aquilo que lhe é transmitido, ressignificando a sua linguagem plena de sentidos.
Segundo Yousef H. Yerushalmi, “a
alteridade dita pelo Texto é a garantia do êxodo das letras, que se repete a cada geração e em cada sujeito”.
Abraços,
Mano Rodrigo, Paz seja conosco!
ResponderExcluirCara antes de "reconsiderar" ou "repensar" qual igreja nós queremos, temos que por algum método de discernimento realmente saber se queremos estar na igreja, pois vejo "nessa longa estrada da vida" que tudo que se vê (e pensamos que é) de novo em se falar de igreja é uma cópia barata e inexata do que já se foi, e não vejo nada de revolucionário nos manos citados em seu texto de construir um ambiente de amor em um espaço chamado "igreja batista da serra", mas como a corrupção e o desafeto tomaram conta de nossas realidades em cada canal gospel que olhamos, aquilo que deveria ser comum se tornou estranho,isso poderíamos refletir sim e tentar chegar em um denominador comum e através desta reflexão pensar se o que queremos é a IGREJA ou aquilo que é manifesto nos que amam a DEUS, para isso não é preciso igreja, batismo,credo,ou "boa vontade", é preciso ter Deus, e o Amor e Graça manifestos pelo Filho, fico triste em ver que o que deveria ser comum se tornou extraordinário nos dias de hoje, amor,honestidade,afeto,família... tudo isso é raridade e torna pessoas comuns em heróis,acho que esse "SISTEMA" ECLESIÁSTICO morre na Ásia com as igrejas mencionadas no apocalipse, e vejo que daqui para cá,muita coisa ruim se fez em nome de Deus e da Santa Igreja, mas vejo um papel importantíssimo nessa questão, o papel do indivíduo com personagem central para o desenvolvimento do seu próprio caráter e ponte para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do caráter do próximo com a Graça de Deus sobre nós!
Naquele é o início e o fim de todas as coisas!
Mano Jhonny!
Prezados Levi, Jonny, Edu, Franklin e demais visitantes que estão acompanhando o debate.
ResponderExcluirConfesso que já estou me acostumando ao novo rótulo de “relativista” que a Gospelândia tem me dado.
De uns tempos pra cá, bastou eu admitir coisas do tipo dar a Santa Ceia para casais homossexuais, concordar que gays e lésbicas participem ministerialmente, ou apoiar os movimentos destas minorias discriminadas em questões humanistas (contra a homofobia e reconhecimento pelo Estado da união estável ou casamento civil entre pessoas do mesmo sexo) para que pessoas do meio evangélico de vários lugares do país começassem a querer me queimar como um herege. E olha que nem me posicionei dizendo ser a favor que homossexuais vivam conjugalmente... Algo que ainda estou em conflitos com a literalidade da Bíblia para poder me posicionar.
Concordo com o Levi que, em certo sentido, Yeshua (Jesus) tenha mesmo tenha mesmo relativizado o texto bíblico, indo de encontro ao que ao fogo invisível da Torá não escrita. E aí o exemplo dado pelo irmão sobre a mulher apanhada em adultério ficou muito bem colocado. Aliás, na verdade, pode-se dizer que Jesus tornou a Torá flexível e aplicou a lei do amor que é a essência dos 40 dias em que Moisés permaneceu no Sinai.
Interessante a observação do Levi quando ele diz que “a elite religiosa judaica viu Jesus como um ateu”. Pois, embora eu não pense que fosse exatamente isto (sei que o Levi falou metaforicamente), parece-me que o seu discurso tenha desagradado muitos saduceus, doutores da lei e fariseus daquela época, parecendo algo blasfematório. E, da mesma maneira, penso que muitas posições hoje defendidas pelos teólogos liberais, pelos tais dos “relativistas”, acabam parecendo mesmo como se estes estivessem negando a fé, praticando apostasia.
Continuando...
ResponderExcluirSem dúvida que o objetivo de hoje (e de todas as épocas) deve ser a re-significação do texto antigo que integra a tradição da sociedade destinatária do discurso da transformação, o que se faz mesmo pela interpretação subjetiva com base em princípios elevados como o amor. E aí eu agradeço pela citação do Yosef H. Yerushalmi, feita pelo Levi, bem como as do Nilton Bonder lá no debate ocorrido na Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola:
“ A Tradição judaica diz que cabe a nós a tarefa de possibilitar pensamentos e condutas que rompem com a “moral” estabelecida. A alma é considerada “transgressora” porque a evolução humana depende de atos que são percebidos pela ótica dos costumes e tradições,comumente rotulados como “imorais”.
“A literalidade da lei não pode ser imposta. Esta é a razão de o Talmude ser escrito sob a forma de discordâncias. No texto, as discordâncias não são apenas registradas e perpetuadas, mas também se declaram a crença de que talvez mão estejam erradas para sempre.
“O leitor judeu erudito dos Livros Sagrados, não os decodifica nem tampouco prende-se às explicações disponíveis. Ele produz em suas idas e vindas à Escritura, ele cria, reescreve e renova, trocando com o OUTRO e com o mundo sem com isso apropriar-se do OUTRO para MUDÁ-LO. Ou seja, ele não permite a fixidez das letras do tecido escritural, fazendo incindir sobre as páginas do texto bíblico uma leitura aberta ao infinito. A leitura da Torah contradiz a ideologia racista, AO ASSEGURAR A SUBJETIVIDADE DE CADA UM!” — (David Banon – estudioso de Literatura Hebraica)
Dando continuidade, comentando o que o nosso mano Jonny colocou, faço uma breve síntese de suas colocações:
ResponderExcluir“(...) antes de "reconsiderar" ou "repensar" qual igreja nós queremos, temos que por algum método de discernimento realmente saber se queremos estar na igreja (...) poderíamos refletir sim e tentar chegar em um denominador comum e através desta reflexão pensar se o que queremos é a IGREJA ou aquilo que é manifesto nos que amam a DEUS (...) acho que esse "SISTEMA" ECLESIÁSTICO morre na Ásia com as igrejas mencionadas no apocalipse (...) mas vejo um papel importantíssimo nessa questão, o papel do indivíduo com personagem central para o desenvolvimento do seu próprio caráter e ponte para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do caráter do próximo (...)”
Ótimo questionamento este!
Mas eu não acho que a essência da proposta que deu origem às igrejas de Cristo morreu na Ásia.
Continuando...
ResponderExcluirEu acredito que a existência de grupos através da elaboração e execução de um projeto coletivo, sendo que este torna-se importante e talvez necessário para a transformação da nossa sociedade, trazendo para dentro dela os valores do Reino. E aí penso que sozinho a minha força é menor. Porém, em grupo, a energia de cada indivíduo não é apenas somada, mas se multiplica através de uma interatividade sadia baseada numa troca sincera de experiências e opiniões. Vejam, por exemplo, este pequeno debate (ou aquele que rolou quanto ao texto do Levi no blogue da Confraria), onde o somatório de ideias gerou um produto, uma síntese.
O termo igreja, que os escritores do 1º Evangelho tomaram de empréstimo do grego ao tentarem expressar a suposta proposta de Jesus (Mt 16.18-19) tem a ver com a cultura do mundo helenizado da Ásia Menor onde a população nas cidades se mobilizou por meio de suas assembleias populares – as ekklesias. E a criação desses organismos de participação, agora sob a orientação das Boas Novas (Evangelho), tornar-se-iam um novo mecanismo de poder para construir o Reino e os seus valores.
Assim, é evidente que o termo igreja foi usado circunstancialmente e a essência da ideia que a originou não envelhece junto com o desuso de certos vocabulários. Logo, eu concordaria que as igrejas cristãs como forma teriam mais a ver com o momento passado (primeiros séculos da era comum), mas em essência a ideia permanece viva. E aí cabe a nós encararmos o árduo desafio de trabalhar em grupo, lembrando novamente as sábias palavras do Levi a respeito de “que o intérprete não pode apenas ficar se remontando a um tempo passado, mas deve participar ativamente da transmissão, produzindo múltiplos e novos sentidos para a letra do TEXTO”.
Na minha experiência com o pessoal da Igreja Batista da Serra (IBS), penso que este grupo experimenta hoje uma proposta que em certos momentos chega a ser bem interessante aqui em Nova Friburgo e na comunidade do bairro Cascatinha, ainda que o autor de Eclesiastes venha a dizer que “não há nada de novo debaixo do sol”.
No meu entender, é preciso que os irmãos desta e de outras congregações continuem sempre dispostos a avançar e não retrocedam neste processo de permanente desconstrução a ponto de amanhã se amoldarem às outras “igrejas” (in)vangélicas que têm por aí, evitando os erros históricos cometidos pela Convenção Batista. E aí vale lembrar que nosso passado local de Nova Friburgo, a Igreja Evangélica Maranata (IEM), onde já me congreguei, também representou um significativo avanço em seus anos iniciais há algumas décadas atrás quando as pessoas de lá começaram a se reunir numa simples sala de aula do colégio Cêfel tal como fizera Paulo após ter sido expulso da sinagoga de Éfeso (Atos 19.9).
Continuando...
ResponderExcluirDurante o tempo em que passei a conviver com o pessoal que se reúne na IBS, aprendi bastante coisa com os irmãos de lá, assim como também aprendi coisas nos anos de congregação na IEM, mesmo não concordando com as práticas e visões neo-pentecostais deste outro grupo.
Sobre o mano Robson Rodrigues e sua esposa Rosane, igualmente tenho muito que lhes agradecer pelos contatos que venho tendo até hoje, mesmo sabendo que ambos, assim como eu, não são pessoas perfeitas e estão sujeitos a falhas. Posso dizer que, com o Robson, pude conhecer as ideias do Frank Viola e iniciativas de colocá-las em prática aqui em Nova Friburgo. Através de minhas conversas com ele (enquanto ainda estava na IEM), aprofundei bastante minhas reconsiderações sobre os conceitos que tinha sobre igreja e que também foram impactados pela leitura do livro “Por que Você Não quer Mais ir à Igreja?” de Wayne Jacobsen e Dave Coleman, publicado no Brasil pela editora Sextante.
Interessante compartilhar que, após ter lido este livro, senti-me um estranho no ninho dentro da Maranata e a aplicação dos novos conceitos com os quais fui desconstruindo e construindo, percebi que já não dava mais para caminhar com eles ministerialmente. Foi aí que, uns sete meses depois da leitura do livro, tomei a decisão de não continuar mais lá e decidi caminhar com o Robson na IBS.
Sem dúvida que, nesta ocasião, eu estava desejoso de aprender algo inovador e impactante para a minha vida e atuação ministerial. Porém, com o tempo, logo percebi que a proposta de igreja comunitária, extraída dos escritos do Frank Viola, não dava para ser vivenciada por quem não está constantemente envolvido com a respectiva comunidade. E, consequentemente, fui novamente me sentindo um outro estranho no ninho, uma espécie de membro-visitante que apenas contempla a nova ideia sem vivenciá-la na sua prática cotidiana dentro do bairro ou localidade onde realmente mora, trabalha e tem seus momentos de entretenimento. Ir para os cultos dominicais e participar de uma refeição comunitária sem minha esposa poder me acompanhar não daria para se tornar uma experiência contínua pra mim.
Seguindo então o meu processo de desconstrução e adequação ministerial, eis que estou aqui vivendo agora a angustiante missão de buscar uma nova experiência, tentando comunicar minha proposta com pessoas de meu relacionamento, no lugar onde moro, precisando incluir minha esposa nesses meus projetos de vida ao invés de deixá-la sozinha enquanto me dedico à igreja. E aí, este período de desigrejamento, em que fico despido da formalidade eclesial, não é nada fácil. Ainda mais se não estou construindo outra igreja nos moldes das tradicionais e das instituições que conheço, mas sim trocando o templo por algo como a sala de aula de um colégio ou pelo ambiente doméstico.
ResponderExcluirComo responder agora aos crentes e outras pessoas acostumadas com o institucionalismo quando elas perguntam “onde você se congrega?” ou “qual a sua religião?”. Como não escapar do pré-conceito da crentolândia de estar “desviado” porque não mais estou indo nesta ou naquela igreja institucionalizada?
Com isto, sofro a dor do abandono de pessoas que, igualmente, fogem deste mesmo isolamento refugiando-se nos “locais sagrados” e que não ousam somar comigo afim de vivenciarem uma nova experiência de igreja (ou um inovador projeto em grupo). E mesmo assim não desanimo porque prefiro muito mais acreditar numa proposta real de construção coletiva do Reino do que voltar atrás alimentando a dependência psicológica das “igrejas”, dos seus líderes, das suas doutrinas e dos seus rituais.
Abração.