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E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos" (Gálatas 6.9; NVI)
Assim que eu e Núbia nos mudamos para o condomínio onde moramos, em agosto de 2006, uma família de moradores demonstrou o gentil gesto de trazer as nossas correspondências.
O nosso prédio é uma pequena comunidade de apenas sete apartamentos. Não tem porteiro, funcionários e nem elevador. Eu e minha esposa moramos numa simples cobertura, no quinto andar, havendo ao lado um terraço que é uma área comum do edifício. Do segundo ao quarto andar são duas unidades habitacionais por cada pavimento e a entrada, no térreo, resume-se a um apertado corredor onde não é possível instalar nenhuma caixa coletora de correspondências sem comprometer a abertura total do portão nos dias de mudança. Então, quando os funcionários dos Correios passam, eles simplesmente jogam as cartas no chão do edifício.
Por várias vezes, ao sair de casa, surpreendi-me ao encontrar as minhas correspondências nas escadas entre o quarto e o quinto andar, colocadas pelo morador do apartamento de baixo. Só que, no começo, quando eu chegava da rua e me deparava com as cartas dos moradores despejadas na entrada do prédio, limitava-se apenas a pegar as que fossem destinadas a mim e a minha esposa no meio das outras que permaneciam perto do portão, com risco de serem pisadas ou extraviadas. Porém, com o passar do tempo, fui me sentido constrangido a retribuir a gentileza do vizinho e fui tomando também a iniciativa de subir as escadas distribuindo as correspondências pelos respectivos apartamentos.
Tal coisa me faz pensar sobre os efeitos das boas e más ações praticadas no planeta. Tanto as grandes como as pequenas. E ainda sobre como que o mal pode ser combatido com o bem.
Num mundo onde a batalha entre o bem e o mal é travada no nível das consciências das pessoas, o uso violento da força não tem nenhum efeito positivo para criar um futuro melhor. Contudo, as palavras e ações tornam-se as armas verdadeiramente capazes de incentivar o próximo a caminhar conosco numa direção construtiva (assim como nós podemos ser influenciados pelo que o outro faz).
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Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder. Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo." (Efésios 6.10-13; NVI)
Esta citação bíblica acima, atribuída a uma das epístolas do apóstolo Paulo, reflete a cosmovisão mística dos primeiros séculos da era comum fortemente influenciada pela astrologia. Na época, acreditava-se que o universo e os astros fossem governados por forças espirituais, as quais influenciavam a vida na Terra. E a maneira como os homens poderiam ser controlados por esses espíritos malignos das "regiões celestiais" seria através da prática do mal.
Ao falar poeticamente das armas do bem, dando continuidade ao tema do "combate espiritual", o autor do texto bíblico exorta os seus destinatários a terem "
os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz" (verso 15).
Ora, evangelizar significa antes de mais nada anunciar boas notícias que se traduz também por transmitir
mensagens positivas (não é apenas pela boca ou com a escrita que nos comunicamos). É algo que não se confunde com doutrinações teológicas e nem com o saber histórico a respeito da biografia de um personagem, mas tem a ver com uma esperançosa promessa pacificadora do futuro e a transformação interior de cada ser humano. Logo, a vida de Jesus, quando contada para demonstrar o amor, torna-se o maior símbolo da evangelização e a sua razão.
Acredito que o maior desafio do momento é transformar o nosso viver em uma autêntica e transcendente narrativa evangelística, a qual é incapaz de ser contida pelos livros. Ao abraçarmos a prática do amor, adotando-a no cotidiano e nas nossas relações pessoais, estamos semeando coisas boas nos corações dos homens e que, a seu tempo, vão gerar frutos. E estes, por sua vez, poderão retornar para nós ou para abençoar a vida do próximo numa surpreendente quantidade capaz de compensar as sementes caídas sobre a terra seca e infértil, ou as que se dispersaram pelo caminho e foram comidas pelas aves, como diz a célebre parábola dos Evangelhos*.
Mesmo que a dialética da história às vezes nos confunda, tenho fé de que algum dia este planeta se encherá de amor. Se receberei retribuição nesta vida, pouco importa. Mas só a opção pelo bem já vale a pena e dá um valoroso significa à minha existência.
OBS: A
Parábola do Semeador pode ser lida em Mateus 13.3-9, Marcos 4.3-9, Lucas 8.5-8 e também em Tomé 9. É umas das poucas metáforas dos Evangelhos que são acompanhadas da explicação. Esta encontra-se em: Mateus 13.18-23, Marcos 4.13-20 e Lucas 8.11-15. Baseando-se no dia a dia dos pequenos lavradores da Palestina, Jesus ensina valores espirituais falando sobre quatro situações ocorridas com o semeador. Cada porção cai em um tipo de solo: à beira do caminho, em solo pedregoso, entre os espinhos ou na terra fértil. E, apenas as sementes cultivadas em terra boa dão fruto. Pode-se dizer que a "semente" seriam as boas novas comunicadas pelos seguidores de Jesus enquanto que o solo semeado o coração do ouvinte, ou a sua reação à Palavra.
Rodrigo meu querido, parece que entramos numa sintonia cósmica engendrada pelo Espírito rs.
ResponderExcluirAcabei de escrever duas linhas insignificantes, onde abordo a necessidade de promovermos o Reino de Deus na vida das pessoas com atitudes simples.
Na parte abaixo da imagem que é uma mão estendida oferecendo uma muda de árvore escrevi: Chamados por Deus para anunciar e fazer boas novas.
A maioria dos religiosos querem fazer "missão" achando que precisam desenvolver ou se envolver em grades projetos e se esquecem de acolher e salvar o próximo que grita ao lado com gestos simples como o que vc descreveu.
As pessoas participarão do Reino de Deus conosco, quando nos desprendermos de querer fazer para aparecer para então poderem nos perceber como discípulos do Cristo que prega com um sorriso, um abraço, um bom dia um "ajuntar e entregar de cartas" sem as motivações do proselitismo.
Agora, essa imagem da Bíblia de Jerusalém com as sementes foi uma produção Rodrigo Phanardzis photoshop.com e eu tenho certeza que foi tirada na sala do seu apartamento, ou estou equivocado rsrsrs?!
AMIGÃO, um ABRAÇÃO, e continue escrevendo textos sóbrios como os que tem nos abençoado.
Acertou, Franklin!
ResponderExcluirAs duas fotos, inclusive, são produções da Rodrigo & Núbia LTDA mesmo (rsrs).
Concordo com suas colocações, mano! Às vezes pensamos em ser "missionários para as nações", mas nos esquecemos de fazer missão pertinho da nossa casa.
Há um interessante provérbio chinês que diz mais ou menos assim: "Antes de querer mudar o mundo, dê três voltas em torno de sua casa".
Tal frase é um dito popular que, embora seja inibidor por um lado (quando manejado pelos conservadores), também nos mostra uma surpreendente dose de realidade.
Que possamos construir o Reino no nosso cotidiano de maneira simples.
Grande abraço!