“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”. (Platão)
Mais difícil do que alguém dizer quais são os seus temores é tentar responder (ou entender) por que sente medo. Contudo, pode-se propor também a seguinte indagação:
Será que o nosso medo é algo real ou se trata de mais uma desculpa para permanecermos na situação na qual nos encontramos?
A frase do filósofo grego Platão (séculos V e IV a.E.C.), citada acima, fala sobre o “medo da luz”. E, quanto a isto, no Evangelho de João, há uma interessante passagem que diz o seguinte:
“O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.” (Jo 3.19-21; ARA)
Creio que este é o inevitável julgamento que a vida nos impõe: admitirmos para nós mesmos qual a exata natureza de nossas ações, deixando de lado o auto-engano (aproximar-se da “luz”). E, inegavelmente que tal clareamento vai produzir em nós uma transformação em essência. Isto porque o confronto com quem realmente somos mostra onde se encontram as fragilidade de cada um, aquelas feridas ainda não cicatrizadas e que estão bem lá no banco de dados da memória, mas que nós ainda recusamos a tratar.
Pode-se dizer que, neste sentido, a palavra transformação (trans-formação) significa ir além de uma forma (ou de uma fôrma). E para tanto é preciso estar disposto a não ser mais o mesmo sujeito travado, preso no seu comportamento vicioso e que não se importa com os maus hábitos e as compulsões.
“A isto respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” (João 3.3; ARA)
Comparar a transformação da essência de nossas vidas com um “novo nascimento” traduz-se para mim como uma metáfora formidável quanto ao processo de mudança, o qual poderá ser tão impactante quanto um parto na vida de um bebê, capaz de provocar-lhe o choro característico em decorrência da entrada do ar nos seus pulmões. Porém, é uma condição necessária para vermos o “Reino de Deus” na nossa vida e assim desfrutarmos, aqui mesmo na Terra, uma experiência autêntica lidando melhor com o nosso eu.
Outrossim, o processo de transformação requer tempo através de um contínuo esforço pessoal afim de superarmos os nossos maus hábitos, os sentimentos doentios e os relacionamentos disfuncionais. Assim, se alguém sofre de compulsão alimentar, por exemplo, não vai ser de uma hora para outra que a pessoa tomará consciência de que o seu vício pode decorrer de uma tentativa errada de suprir carências emocionais e mais ainda sobre como ela vai aprender a lidar com as suas necessidades afetivas causadoras da sua compulsão.
Cabe aí um parênteses. Devemos compreender que cada um tem o seu próprio momento para o despertamento da consciência. Logo, é impossível a estipulação de um prazo para A, B ou C, bem como um indivíduo conseguir mudar o outro, fato que deve servir de impedimento para julgarmos o nosso semelhante conforme as experiências do próprio aprendizado.
Entretanto, é muito melhor quando podemos encarar o nosso drama com o apoio das outras pessoas sem gerar uma co-dependência patológica. E daí a importância de se procurar um grupo ou até mesmo um profissional durante a nossa caminhada. Então, fazer parte de uma comunidade realmente interessada em desenvolver a espiritualidade, sem alimentar ilusões ou fugas emocionais, pode contribuir em muito através de um ambiente amoroso e de compreensão mútua onde se torne possível compartilhar com segurança as nossas fraquezas recebendo do irmão o devido encorajamento.
Deve-se ressaltar que um grupo de apoio não se confunde com as falidas instituições religiosas. O espaço de uma igreja pode até servir para que pessoas comecem a se encontrar com um propósito verdadeiro de espiritualidade assim como o local das nossas casas e as reuniões do AA. E o ambiente necessário para que cada um possa falar de si mesmo em nada tem a ver com os “cultos” e “missas” que são celebrados por aí.
Finalmente, algo que não pode deixar de ser trabalhado em nossos corações é a confiança em Deus. Junto com o esforço pessoal, torna-se fundamental colocar a fé em ação, pedindo força ao Poder Superior pela via da oração sincera. Pois é o Eterno quem nos capacita a vencer todos os desafios que surgem pela frente.
“O SENHOR é quem vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará; não temas e nem te atemorizes.” (Deuteronômio 31.8; ARA)
Portanto, não tenha medo. Descubra as reais motivações do seu temor e enfrente-as decisivamente!
OBS: A ilustração acima refere-se à obra de Maria Yakunchikova, "Fear" ("Medo"), feita entre os anos de 1893-1895.
Warum haben wir die derzeitige gefährliche Situation erreicht?
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Leonardo Boff Es ist eine Binsenweisheit, dass
wir uns im Zentrum einer großen Zivilisationskrise befinden. Sie ist nicht
region...
Há 16 horas
Paz irmão!
ResponderExcluirVenho contribuir com outra perspectiva no que tange ao MEDO.
Creio que o medo é uma porta aberta para o diabo atuar na vida tanto do cristão quanto do incrédulo.
Mas se estivermos firmados na Palavra que é o próprio Senhor Jesus, estaremos alicerçados no Perfeito Amor.
"No amor não existe medo; antes o perfeito amor lança fora todo medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor."
I João 4. 18
Gostaria de receber a sua visita no meu blog, se gostar faça parte da árvore!
Ósculo Santo!
***Shalom***
Oi Rodrigo, caso sério esse tema!
ResponderExcluirNossos medos na grande maioria das vezes, são válvulas de escape contra o enfrentamento de realidades latentes e pulsantes na alma.
Enfrentá-los requer desistir de si mesmo, como produção de auto-justificação seja em que nível e formato for.
Entendo que possa ser um processo vencê-los, a medida que vou abrindo mão de me proteger para deliberadamente vulnerabilizar-me frente a verdade que dói mas liberta.
Como bem citou nossou irmão acima:"No amor não existe medo; antes o perfeito amor lança fora todo medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor 1ª João 4:18".
Amor é a base: amor a verdade e consequentemente a si mesmo e a todas as interações e interagentes da vida.
Um ABRAÇÃO e uma boa semana!
"o medo é uma porta aberta para o diabo atuar na vida tanto do cristão quanto do incrédulo."
ResponderExcluirOlá, Lucy.
Inicialmente, obrigado por sua visita em meu blogue.
Com outras palavras, eu concordaria que aquilo que é diabólico (o que desagrega, desconcentra, desune, separa e afasta o homem sem direção) encontra um campo fértil nos medos.
E aí, sem dúvida, que a Palavra de Deus, que é a Verdade com v maiúsculo (aquilo que Deus diz acerca do homem) pode nos libertar de todo e qualquer medo. Inclusive porque a Verdade une realidades, aproxima, congrega e converge os homens em direção a Deus num único feixe.
Certamente que o perfeito amor de Deus leva-nos a sentir em paz diante da Suprema Realidade, sem nenhum temer diante Dele, exceto no sentido de ter a devida reverência pelo nosso Criador, o qual é bendito eternamente.
Obrigado pelo convite sobre seu site.
Abraços e fique na paz.
Olá, Franklin!
ResponderExcluirConcordo com você de que realmente os medos são estas "válvulas de escape" e que o abandono da auto-justificação nos permite partir para um enfrentamento vitorioso.
Em termos práticos, o que posso compreender é que, se não me preocupo mais em me proteger atrás de uma reputação moral, ou ser merecido por aquilo que faço, torna-se mais fácil admitir os erros e, debaixo da graça, tentar corrigi-los.
Sem dúvida que, por ser um processo, lutamos a cada dia debaixo dessa graça tratando-nos com a Verdade. Pois, sabendo que somos amados por Deus pelo que somos, não pelo que temos ou fazemos, já não nos sentimos desvalorizados, ameaçados. Então, viver passa a ser um contínuo aprendizado.
O versículo bíblico que os irmãos citaram foi ótimo e tem sua aplicação tanto na nossa relação com Deus como no que diz respeito a nós mesmos, nesta luta que travamos entre o querer fazer o bem contra o mal.
Grande abraço e uma excelente semana pra você também.
Em todos os medos a uma essência básica que aponta a nossa dependência do outro, evidenciando que não somos autosuficientes e onipotentes.
ResponderExcluirEnquanto houver o desconhecido ou o não familiar, o medo será sempre uma peça do nosso arsenal para enfrentar o mundo.
Pois é, Levi. Você "exorcisou" o medo (rsrs), mostrando o quanto é uma expressão natural do ser humano. E aí, ao invés de demonizá-lo, talvez seja melhor aprendermos a lidar com este sentimento, invesigando-o e o transformando numa leitura de nós mesmos, fazendo esta indagação: "Por que estou sentindo este medo?"
ResponderExcluirBoas reflexões.
Abraços.