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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Por que falta autoridade às igrejas nos dias de hoje?


“Ao anjo da igreja em Filadélfia escreva: 'Estas são as palavras daquele que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi. O que ele abre ninguém pode fechar, e o que ele fecha ninguém pode abrir. Conheço as suas obras. Eis que coloquei diante de você uma porta aberta que ninguém pode fechar. Sei que você tem pouca força, mas guardou minha palavra e não negou meu nome'” (Apocalipse 3.7-8; Nova Versão Internacional – NVI) - destacou-se


Nas cartas às sete igrejas do livro do Apocalipse, Jesus manda João escrever ao anjo da igreja na cidade de Filadélfia (situada na antiga Ásia Romana) que tinha diante de si “uma porta aberta”, a qual ninguém poderia fechar. E em tal passagem, o Senhor identifica-se como “aquele que tem a chave de Davi”.

Neste texto, gostaria de meditar a respeito desses os vocábulos portas e chaves, os quais nos dão pistas para o que vem acontecendo com muitas igrejas nos dias atuais. E, antes de chegar às minhas considerações, pretendo fazer o estudo de algumas passagens bíblicas, de modo que peço atenção dos leitores acertos detalhes.

A expressão “chave de Davi” aparece pela primeira vez em Isaías 22.22, na profecia contra Sebna, mordomo do rei Ezequias, o qual iria ser deposto do cargo que, por sua vez, seria entregue a Eliaquim filho de Hilquias. É dirigindo-se ao futuro intendente do palácio que o profeta anuncia que Deus lhe dará as chaves da casa real da dinastia davídica:


“Naquele dia convocarei o meu servo Eliaquim, filho de Hilquias. Eu o vestirei com o manto que pertence a você [Sebna], com o meu cinto o revestirei de força e a ele entregarei a autoridade que você exercia Ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para os moradores de Judá. Porei sobre os ombros dele a chave do reino de Davi; o que ele abrir ninguém conseguirá fechar, e o que ele fechar ninguém conseguirá abrir. Eu o fincarei como uma estaca em terreno firme; ele será para o reino de seu pai um trono de glória [ou assento de honra]” (Is 22.20-23; NVI) - os destaques e as palavras dentro dos colchetes são inserções minhas


O cargo de intendente do palácio real no Israel antigo tinha sua importância para aquela remota época na qual viveu o profeta Isaías, pois se tratava da função de chefiar a casa do rei que, numa linguagem mais simbólica, é descrita pelas atividades de “abrir” e de “fechar” as portas. Em outras palavras, o texto nos diz que Eliaquim iria tornar-se uma espécie de ministro da Casa Civil de Ezequias, um cargo de extrema confiança, equivalente também ao vizir egípcio.

Entretanto, é preciso observar que as chaves da casa real não pertenciam ao administrador e sim ao rei. Pois é o monarca ungido de Israel quem podia nomear e exonerar os seus funcionários, ato que seria praticado a qualquer tempo, conforme os interesses do reino. Logo, é bom frisar que o portador das chaves (o mordomo) só exercia alguma autoridade em nome do rei, encontrando-se numa condição de total subordinação e não podendo deixar de cumprir as direções que lhe foram dadas para agir como bem entendesse.

É neste mesmo sentido que podemos compreender a passagem bíblica de Mateus quando Jesus entrega a Pedro “as chaves do Reino dos Céus”:


“E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la. Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus”. (Mt 16.18-19; NVI) - negritei


Como se pode observar, podemos pensar na figura de duas portas: a do inferno e a do Reino dos Céus. Uma é a porta do império da morte física e espiritual. Já a porta do Reino dos Céus é o acesso para a vida e se relaciona com o apostolado de Pedro e da Igreja para levar os homens à graciosa Palavra do Evangelho que é suficiente para conduzir os homens à salvação completa, estabelecendo nos corações das pessoas o governo de Deus.

Cumpre dizer que contra esta obra da Igreja, os poderes do mal não podem prevalecer, pois se trata do domínio do Rei Messias, a quem foi dada toda a autoridade na terra e nos céus.

Ora, basta lembrarmos das obras feitas por Jesus para confirmarmos como de fato foi exercida a sua autoridade durante o curto ministério desenvolvido pelo Senhor na Galileia. Os demônios não resistiam a Jesus e eram expulsos. Os enfermos ficavam curados. E os mortos ressuscitavam mostrando o poder do Messias sobre a morte, conforme ocorreu na ressurreição do terceiro dia. Também a tempestade acalmava-se ao ouvir a ordem dada por Jesus, o qual humildemente sempre agiu em submissão total ao Pai e dirigido pelo Espírito Santo.

Olhando para a Igreja em Filadélfia, no Apocalipse, podemos ver nela uma diferença para outras igrejas que receberam mensagens de advertência e de juízo. Enquanto algumas igrejas andavam desobedientemente, vivendo uma verdadeira hipocrisia religiosa, Filadélfia perseverou em guardar a Palavra (Ap. 3.10). Assim, o Rei Messias colocou diante dela uma porta aberta qye ninguém jamais iria poder fechar.

Nos tempos de hoje, muitos questionam a ausência de milagres e de prodígios nas igrejas. Eu, em parte, considero esta crítica, mas sem compreender o milagre como um fim em si mesmo, ou muito menos como uma prova da existência do poder de Deus para as pessoas crerem na pregação feita pela Igreja (se alguém vê algo acontecendo não precisa mais de fé). Contudo, mesmo nas igrejas onde seus líderes afirmam haver milagres, o que se vê é muitas das vezes a mais pura farsa, meras encenações que têm por objetivo arrecadar dinheiro das pessoas ingênuas.

Penso que não é tempo de buscarmos as bençãos, mas sim o abençoador!

É tempo da Igreja submeter-se à autoridade absoluta de Jesus e se dispor a cumprir sua vontade!

É tempo para que os cristãos arrependam-se e se convertam com lágrimas e cinzas!

É tempo de retornarmos ao primeiros amor, torarmos o pecado do nosso meio, não tolerarmos as doutrinas perversas e vigiarmos aguardando o retorno do Senhor!

Precisamos reconhecer as nossas miserabilidade, pobreza, cegueira e nudez afim de nos aproximarmos novamente do Evangelho simples de Jesus, de quem podemos adquerir ouro puro, vestes brancas e colírio para os olhos.

Meus irmãos, este é o tempo que Deus tem dado à sua Igreja. E aqueles que ouvirem o seu recado e obedecerem à voz de seu Espírito certamente farão diferença no meio desta geração perversa, preparando o mundo para a volta do Rei Messias. Pois, só assim teremos diante de nós uma porta aberta como tiveram nossos antepassados de Filadélfia, os quais reconheciam o senhorio de Jesus sobre as obras da comunidade

Maranata! Vem Senhor Jesus!


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OBS: A imagem acima, extraída do Flickr do Yahoo, é das ruínas da antiga Igreja de São José da Boa Morte, localidade situada no 3º distrito do município de Cachoeiras de Macacu (RJ). Sua construção é da primeira metade do século XIX, embora, anteriormente, já existisse uma capela no local desde 1734. O autor da foto, André Confort Rodrigues, cedeu-a para ilustrar este site. Para ver a imagem originalmente postada, favor acessar este link: http://www.flickr.com/photos/aconfort/3713438243/

7 comentários:

  1. Belo texto Rodrigo,

    Agora esperamos você na Confraria para presentearmos com mais um de suas jóias literárias.

    Abraços

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  2. Olá, Hubner!

    Obrigado pela visita, pelo incentivo e pelo comentário.

    Acabei de publicar meu primeiro texto no site da Confraria:

    http://cpfg.blogspot.com/2011/01/regra-de-ouro-em-meio-ao-caos-ambiental.html

    Um forte abraço e participe sempre que desejar!

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  3. rodrigo, seu texto, a partir dos pressupostos cristãos clássicos, está impecável. mas eu pergunto: é possível voltar ao cristianismo primitivo? não era também o cristianismo primitivo bem variado? a interpretação dessa passagem do apocalipse precisa ser entendida como igrejas literais?

    abraços

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  4. Olá, Eduardo!

    Sinto-me muito feliz com sua visita por aqui.

    Vou às suas perguntas, procurando, humildemente, abordá-las mesmo sabendo que não tenho condições de respondê-las satisfatoriamente:

    Eduardo: "é possível voltar ao cristianismo primitivo?"

    Resposta: Pensando dialeticamente, não se pode tomar banho duas vezes nbo mesmo rio, mas penso ser possível aplicarmos princípios que eram praticados nas igrejas do século I. Principalmente no que diz respeito à solidariedade que havia entre eles, mas sabendo que a organização das cidades no Ocidente e o nosso estilo de vida individualista dificultam bastante a proximidade entre as pessoas. Talvez em outras culturas, como no Oriente e em tribos africanas, haja melhores oportunidades de se criar uma atmosfera parecida com a Igreja primitiva.


    Eduardo: "não era também o cristianismo primitivo bem variado?"

    Resposta: Concordo plenamente, exceto cm a expressão "cristianismo primitivo". E não havia naquele movimento nenhuma perfeição. Cometia-se graves erros, criava-se doutrinas e havia ainda grandes preconceitos. Por outro lado, temos uma ideia daques tempos pelo ponto de vista grego e não judaico uma vez que a comunidade judaico messiânica de Jerusalém parece ter se extinguido com a destruição da cidade pelas tropas do imperador Adriano, na segunda guerra judaica (primeira metade do século II), o qual expulsou os judeus de lá e com eles os membros da comunidade de judeus seguidores de Yeshua ben Yosef (a quem chamamos de Jesus). Depois, a Igreja que já era predominantemente grega tratou de martirizar os sobreviventes do judaísmo messiânico que a história diz terem sido os ebionitas que, supostamente, não aceitavam a doutrina eclesiástica sobre a divindade do Messias.


    Eduardo: "a interpretação dessa passagem do apocalipse precisa ser entendida como igrejas literais?"

    Resposta: Eu acredito que o autor do Apocalipse (não sei se ele era de fato o apóstolo João ou se fez uso de um pseudônimo) estava mesmo dirigindo-se a igrejas existentes naquela época (fim do século I ou primeira metade do II). Mas é a interpretação de uma época posterior que busca aplicar o sentido das mensagens a pessoas e comunidades cristãs de hoje. Por outro lado, não se pode esquecer que a Bíblia contém mensagens destinadas a uma coletividade, existindo noções de pecado coletivo e de uma responsabilidade coletiva, coisas que a nossa cultura ocidental, extremamente individualista, não compreende. Daí muitas passagens serem mais aplicadas às pessoas do que ao comportamento das comunidades.

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  5. Em tempo! Falo da aplicaçao feita pelos pregadores de hoje que, muitas das vezes, não dirigem as mensagens bíblicas para o coletivo e sim para indivíduos.

    Abraços.

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  6. rodrigo, gostei muito das suas respostas.

    quando eu falei se seria possível voltarmos ao cristianismo primitivo eu pensava exatamente nessa dinâmica social que muda com o tempo e leva a reboque mudanças morais, comportamentais e até espirituais.

    os cristãos primitivos pelo que vemos em atos vivam na iminência da parusia por isso era-lhes mais fácil dividir tudo, ter tudo em comum, visto que tudo se relativizava diante da volta de jesus para enfim, estabelecer o reino de deus.

    como sabemos, jesus não voltou (e eu, particularmente não acredito na doutrina do segundo advento, aliás, doutrina muito enfocada pelos adventistas).

    realmente o cristianismo que sobreviveu foi o grego tanto para o bem quanto para o mal. os ebionitas por você citado, judeus, foi um grupo bem interessante como pesquisa histórica exatamente por não acreditarem que jesus era deus.

    mas a teologia baseada na filosofia grega enfim, transformou jesus num tipo de "semi-deus", ou deus encarnado(tema tão comum na mitologia grega); eu não creio que os discipulos originais de jesus cressem que ele era deus encarnado.

    bem, estou fugindo do assunto...rssss

    mas para fechar meu comentário, concordo com você: se tem uma prática da igreja primitiva que seria bem-vinda hoje, seria a verdadeira koinonia.

    abraços.

    ps. só para constar: eu sempre escrevo meus comentários em minúsculas por pura preguiça e para ser mais rápido, ok? rsss

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  7. Olá, Eduardo!

    Será que foi mesmo só a expectativa da parusia que motivava os membros da Igreja primitiva a dividir com os outros o que tinham? Conheço esta explicação teológica defendida por crentes e descrentes, mas não descarto a possibilidade de que eles tenham encontrado um novo sentido para viver. Pois, se a conduta não fosse fruto de uma sincera conversão, será que eles não teriam escolhido o apego até à morte dos bens que lhes permitissem gozar os prazeres da vida?

    A doutrina da divindade do Messias parece ter sido algo posterior à era apostólica e influenciou bastante algumas redações do quarto evangelho ao longo do século II, não havendo nenhuma exigência na Bíblia de que se reconheça a encarnação de Deus como uma condição para salvação.

    Por sua vez, o próprio nascimento virginal de Jesus encontra paralelos na mitologia grega, sendo que o termo hebraico ´almah da profecia de Isaías não se refere à virgem (bethulah) como consta em nossas traduções e na Septuaginta que foi a fonte de consulta dos autores do NT. O idioma original de Is 7.14, isto é, o termo hebraico ´almah, deve ser traduzido como mulher jovem em idade de casamento. Logo, não vejo como relevante o Messias ter que necessariamente nascer de uma virgem e não vejo como algo absoluto a doutrina de que apenas pela concepção virginal o Cristo entraria no mundo sem a semente do pecado. Porém, quem desacredita no nascimento virginal de Jesus, certamente estará em conflito com as tradições de Mateus e de Lucas, relato que não aparece em Marcos.

    Já a idéia de ser o Messias considerado Filho de Deus, parece ter sido uma antítese em relação ao que se dizia sobre o imperador Otávio Augusto, algo que já havia sido utilizado anteriormente por um líder da seita de Qumran, o qual havia se auto-proclamado messias. Aliás, os essênios podem ter sido os primeiros a levantar a bola do messianismo catastrófico e associado o servo sofredor de Isaías 53 ao Messias.

    Enfim, devido à ausência de fontes semitas acerca de Jesus, pouco sabemos quem foi o judeu Yeshua ben Yosef que viveu nas três primeiras décadas do século I, de modo que todos os Evangelhos canônicos e também escritos apócrifos nos dão uma relativa noção histórica a seu respeito e acho que todo seguidor deste Messias não pode deixar de questionar o próprio texto bíblico.

    Concordo com a importância da koinonia que relaciono com a ideia de sermos todos uma só família. Hoje eu vejo na adoção de filhos e de pais algo que caminha neste sentido. É a cocnepção de uma nova família.

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