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sábado, 25 de setembro de 2010

Quando o Messias bate à nossa porta

“Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os seus anjos, assentar-se-á em seu trono na glória celestial. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. “Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: 'Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram'. “Então os justos lhe responderão: 'Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?' “O Rei responderá: 'Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram'. “Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: 'Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram'. “Eles também responderão: 'Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não te ajudamos?' “Ele responderá: 'Digo-lhes a verdade: O que vocês deixaram de fazer a algum destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo'. “E estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna”. (Evangelho segundo Mateus 25.31-46; Nova Versão Internacional - NVI)


Ao proferir este ensinamento, provavelmente os ouvintes de Jesus já deveriam conhecer o trecho que fala dos pastores e das ovelhas do capítulo 34 do Livro de Ezequiel, onde o profeta diz que Deus julgará “entre uma ovelha e outra, e entre carneiros e bodes”(verso 17), numa evidente referência às pessoas da alta sociedade de Jerusalém que oprimiam os mais pobres. Assim, ambas as passagens bíblicas falam de um julgamento em relação ao rebanho, isto é, referem-se ao povo. E o Rei, descrito no Evangelho, é o Messias, o descendente de Davi que apascentará as ovelhas:

“Porei sobre elas um pastor, o meu servo Davi, e ele cuidará delas; cuidará delas e será o seu pastor. Eu, o SENHOR, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será o líder no meio delas. Eu, o SENHOR, falei.” (Ezequiel 34.23-24; NVI)

No entanto, um ponto que muito me chama a atenção na parábola de Jesus é que, durante o julgamento, o próprio Rei Ungido identifica-se com o sofrimento do seu povo, quando ele diz “o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram”. Ou seja, o Messias torna-se o nosso próximo.

Muitos, ao lerem este trecho do Evangelho, criam em suas mentes uma imagem de como será o julgamento final, enquanto outros põem em dúvida a doutrina da salvação pela graça. Só que o foco da mensagem é a prática do amor ao próximo manifestado no cuidado que precisamos ter quanto aos diversos tipos de necessitados. Isto porque a missão do Messias consiste na preparação do ser humano para que este compreenda e pratique o maior dos mandamentos – o amor.

Horas atrás, ao acessar um site judaico, encontrei a transcrição desse interessante conto que me pareceu bem adequado para fins de reflexão, sendo que destaquei em negrito o trecho que considero mais pertinente:



Uma escola espiritual ia muito bem até que, um dia, seus membros começaram a tentar mostrar uns aos outros que o jeito pessoal de cada um deles era o jeito mais correto de se louvar a D-us.
Isso obviamente começou a causar desavenças e as pessoas que frequentavam a escola começaram a sair. A escola começou a ficar vazia. 
Foi quando eles receberam a visita de um tzadik e perguntaram-lhe como fazer para que a escola voltasse a prosperar.
O sábio ficou lá uma semana e, antes de ir embora, lhes disse: "Eu não sei qual é o problema da escola de vocês. Só sei que um de vocês é o Mashiach."
Eles ficaram perplexos com tal afirmação e começaram a especular, cada um por si, sobre qual deles seria o tal Mashiach escondido. Assim sendo, começaram a pensar coisas do tipo: "Fulano poderia ser o Mashiach, pois veja como ele ora com fervor e paixão", ou "Siclano poderia ser o Mashiach, pois ele tem o coração mais puro de todos".
Desta maneira, eles começaram a se olhar apenas com Amor e, assim, tiraram a casca de seus corações que impedia que eles se conectassem pelos corações. Essa conexão é a que permite que entendamos que o outro está muito certo no caminho dele e que, nós não temos o direito de julgar se tal caminho é mais ou menos verdadeiro do que o nosso.
Assim, com essa aura de amor voltando a reinar ali, a Shechinah voltou a pairar sobre eles e as pessoas voltaram a frequentar a escola.
(publicado em http://yedacabala.blogspot.com/2010/06/pureza-do-coracao.html)



Muito bem! Tal como ocorreria numa sinagoga judaica, maiores perplexidades no meio dos cristãos podem ocorrer se algum pastor anunciasse em púlpito que o Messias estivesse no meio da congregação. Talvez alguns de nós suspeitaríamos da idoneidade do pregador supondo ser ele um falso profeta seguidor do anticristo, pois entendemos que qualquer um que for pregado como Messias será um usurpador.

Todavia, se prestarmos a atenção na essência do referido conto, entenderemos que o sábio da história não tinha por objetivo afirmar que um dos integrantes da escola fosse de fato o Messias tão esperado por Israel. O que ele disse serviu para despertar a consciência dos discípulos afim de que, tentando reconhecer o outro como o Messias, eles se reconectassem ao amor.

Sempre que acolhemos um irmão necessitado, estamos fazendo isto ao próprio Cristo. Ora, como poderemos amar a Deus, a quem não vemos, se deixamos de amar o próximo? Na primeira epístola de João, o amor que um homem diz ter por Deus é sabiamente confrontado pela prática de amor ao próximo já que podemos ver e tocar o nosso irmão:

Se alguém afirmar: "Eu amo a Deus", mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também seu irmão. (1Jo 4.20-21; NVI)

Por acaso temos condições de cuidar de Deus ou de Jesus? Lógico que não! Pois, ao ressuscitar e ascender aos céus, Jesus assentou-se à destra do Pai, recuperando toda a majestade que tinha antes da criação. Logo, só poderemos mostrar o nosso amor pelo Messias cuidando sem nenhum interesse próprio das necessidades dos irmãos.

Mas o que poderemos dizer acerca do julgamento contido na parábola de Jesus? Então aqueles que não demonstrarem amor estarão condenados ao fogo do inferno?

Bem, não podemos cometer o erro de achar que as Escrituras foram feitas para nos meter medo e pavor de Deus. Contudo, é preciso examinar a cada dia os nossos corações se realmente estamos dispostos a agradar a Deus.

Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade; e tranquilizaremos o nosso coração diante dele quando o nosso coração nos condenar. Porque Deus é maior do que o nosso coração e sabe todas as coisas. (1Jo 3.18-20; NVI)

Que sejamos atentos às situações em que a vida nos coloca, pedindo força e coragem a Deus coragem para não deixarmos de amar! Pois é pelo amor que seremos reconhecidos como ovelhas de Cristo e não como "bodes", sabendo que o Messias pode estar a qualquer momento batendo à nossa porta.

2 comentários:

  1. Rodrigo

    Muito significativo esse conto do rabino (sábio)

    Devemos sempre olhar o lado "bom" de cada um, e deixar de apontar os defeitos, que apesar de ser inerentes a todo ser humano, não contribui em nada, quando são evidenciados publicamente.

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  2. Certamente, Levi.

    Mas o que muito me tocou neste conto foi a transcendência quanto ao messianismo alienante que muitois judeus cultivavam (e ainda cultivam), não muito diferentes dos cristãos, quando mistificam de maneira cega a pessoa do Mashiach (Messias).

    Muitos no judaísmo crêem que, antes do final dos tempos, Deus enviará o Mashiach para preparar o mundo para este momento. O Messias judeu é um homem de carne e osso, um descendente do rei Davi, além de grande estudioso e profundo conhecedor de Torá. Acreditam que a missão será aproximar todos os judeus para o estudo de Torá e cumprimento de mitsvot, sendo que construirá o Terceiro Templo sagrado em Jerusalém, trazendo a paz e reunindo todo o povo na Terra Santa.

    Mesmo no século XXI (ou século LVIII do calendário judaico), muitos judeus ainda interpretam quase que literalmente certas predições milagrosas do Talmude acerca do Messias. Porém, eu prefiro tentar compreender o espiritual de uma maneira bem natural, tão humana quanto a Messias que, conforme creio, já veio, mas os homens não O notaram.

    Assim, vejo no conto do rabino acima uma grande identificação com a obra de Jesus. Pra mim, Jesus representou um anti-messianismo, uma negação da visão lendária e fossilizada que o povo fazia do Messias esperando uma mera libertação política do poder do império romano, sendo que, na verdade, Jesus veio nos ensinar muito mais. Sem ter deixado nenhum escrito, ele viveu de maneira plena a Torá e nos ensinou a olhar para nós mesmos, para o humano, para o Deus que vem de dentro, não de fora.

    Assim, vejo fortes pontos de identificação com a passagem de Mateus 25.31-46, a qual nos ensina a reconhecer o Messias no outro que está necessitado, ao invés de um serviço hipócrita e alienante ao Messias que, na verdade, mascara um egoísmo humano e jamais será louvado pelo Rei em sua glória.

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