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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O cristão deve votar livre de qualquer manipulação de seus líderes!

Conforme se repete a cada eleição, há sempre pastores evangélicos sem escrúpulos que tentam manipular os membros de suas igrejas para votarem em seus candidatos como se fossem homens escolhidos por Deus para governarem o país.

Mas qual(is) o(s) motivo(s) desses lamentáveis acontecimentos que ocorrem nas igrejas? Encontrei no site Monte Sião uma excelente crítica a respeito disto:

"Conseguir benefícios para a igreja, como a doação de terrenos para templos; ter linhas especiais de crédito bancário; obter concessões de rádios e TVs; ter tratamento especial perante a lei... Esses são apenas alguns tipos de barganha, "acertos", acordos e composições de interesse que costumam ocorrer nos bastidores em épocas de campanhas eleitorais, envolvendo também políticos e candidatos evangélicos." (fonte www.montesiao.pro.br/estudos/politica/decalogo_voto.html)

Um grande engano que muitos evangélicos alimentam é que crente só deve votar em crente, pensamento equivocado que muitos ainda têm, inclusive no Estado do Rio de Janeiro. Só na cidade onde moro no interior fluminense, já me deparei com inúmeros cartazes em que o conhecido pastor Silas Malafaia declara o seu apoio a dois candidatos a deputado, o que acaba sendo motivo para que pessoas definam seus votos para as eleições proporcionais só porque ficaram sabendo da manifestação de uma influente personalidade do mundo evangélico.

Não estou aqui criticando o direito de um pastor dizer abertamente em quem ele vai votar nas eleições pois isto seria um cerceamento da liberdade do cidadão. Contudo, quero focar basicamente em duas questões: a manipulação dos evangélicos por seus pastores e a ideia equivocada que muitos cristãos ainda alimentam no sentido de votar nos candidatos indicados pelos seus líderes.

O pastor Renato Vargens, em seu texto "Pastor, em quem Deus disse que devemos votar?", publicado em 02/09/2010 no blogue "Púlpito Cristão", expõe o seguinte posicionamento a respeito desta preocupante questão:

"Não creio na manipulação religiosa em nome de Deus, não acredito num messianismo onde a utopia de um mundo perfeito se constrói a partir do momento em que crentes são eleitos, nem tampouco comercializo o rebanho de Cristo, vendendo-o por interesses escusos a políticos inescrupulosos."

Por estas e outras, torna-se oportuno divulgarmos o "Decálogo do Voto Ético", composto nos anos 90 por vários evangélicos e que foi defendido na Conferência da AEvB (Aliança Evangélica Brasileira):


I. O voto é intransferível e inegociável. Com ele o cristão expressa sua consciência como cidadão. Por isso, o voto precisa refletir a compreensão que o cristão tem de seu País, Estado e Município;

II. O cristão não deve violar a sua consciência política. Ele não deve negar sua maneira de ver a realidade social, mesmo que um líder da igreja tente conduzir o voto da comunidade noutra direção;

III. Os pastores e líderes têm obrigação de orientar os fiéis sobre como votar com ética e com discernimento. No entanto, a bem de sua credibilidade, o pastor evitará transformar o processo de elucidação política num projeto de manipulação e indução político-partidário;

IV. Os líderes evangélicos devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do que indicar em quem a comunidade deve votar é organizar debates multipartidários, nos quais, simultânea ou alternadamente, representantes das correntes partidárias possam ser ouvidos sem preconceitos;

V. A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja evangélica no Brasil impõe que não sejam conduzidos processos de apoio a candidatos ou partidos dentro da igreja, sob pena de constranger os eleitores (o que é criminoso) e de dividir a comunidade;

VI. Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos devem discernir se os candidatos ditos cristãos são pessoas lúcidas e comprometidos com as causas de justiça e da verdade. E mais: é fundamental que o candidato evangélico queira se eleger para propósitos maiores do que apenas defender os interesses imediatos de um grupo religioso ou de uma denominação evangélica. É óbvio que a igreja tem interesses que passam também pela dimensão político-institucional. Todavia, é mesquinho e pequeno demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às causas temporais da igreja. Um político de fé evangélica tem que ser, sobretudo, um evangélico na política e não apenas um "despachante" de igrejas. Ao defender os direitos universais do homem, a democracia, o estado leigo, entre outras conquistas, o cristão estará defendendo a Igreja.

VII. Os fins não justificam os meios. Portanto, o eleitor cristão não deve jamais aceitar a desculpa de que um evangélico político votou de determinada maneira porque obteve a promessa de que, em assim fazendo, conseguiria alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV, terrenos para templos, linhas de crédito bancário, propriedades, tratamento especial perante a lei ou outros "trocos", ainda que menores. Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e composições de interesse, não se pode, entretanto, admitir que tais "acertos" impliquem na prostituição da consciência cristã, mesmo que a "recompensa" seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa evangélica. Jesus Cristo não aceitou ganhar os "reinos deste mundo" por quaisquer meios, Ele preferiu o caminho da cruz.

VIII. Os votos para Presidente da República e para cargos majoritários devem, sobretudo, basear-se em programas de governo, e no conjunto das forças partidárias por detrás de tais candidaturas que, no Brasil, são, em extremo, determinantes; não em função de "boatos" do tipo: "O candidato tal é ateu"; ou: "O fulano vai fechar as igrejas"; ou: "O sicrano não vai dar nada para os evangélicos"; ou ainda: "O beltrano é bom porque dará muito para os evangélicos". É bom saber que a Constituição do país não dá a quem quer que seja o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo. Além disso, é válido observar que aqueles que espalham tais boatos, quase sempre, têm a intenção de induzir os votos dos eleitores assustados e impressionados, na direção de um candidato com o qual estejam comprometidos.

IX. Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: "o candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto", é compreensível que dê um "voto de confiança" a esse irmão na fé, desde que ele tenha as qualificações para o cargo. Entretanto, é de bom alvitre considerar que ninguém atua sozinho, por melhor que seja o irmão, em questão, ele dificilmente transcenderá a agremiação política de que é membro, ou as forças políticas que o apoiem.

X. Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em tudo aquilo que ensina sobre a Palavra de Deus, de acordo com ela. No entanto, no âmbito político-partidário, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina.



Que nessas eleições os cristãos brasileiros possam votar conscientemente!

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