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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Um processo exclusivo de independência

Por anos, quando ainda estavam na oposição, o PT e seus ideólogos criticaram o processo de independência brasileira. Muitos diziam que o Brasil havia conquistado apenas uma independência formal e que tínhamos deixado de ser colônia de Portugal para dependermos política e economicamente da Inglaterra e depois dos Estados Unidos. Agora, porém, dizem eles que a nação estaria agindo com soberania, gozando de uma economia forte, com a dívida externa paga e emprestando até recursos ao FMI, Cuba, Haiti e outros países pobres.

De fato, a emancipação política de um país é mesmo um processo e que deve incluir também a nossa população já que uma nação não é apenas o seu território, a instituição Estado ou o número de seu produto interno bruto. A sociedade precisa estar totalmente inclusa de maneira ativa dentro desse crescimento ou do contrário não podemos falar em desenvolvimento. Isto porque o que temos é uma nova forma de exploração interna dos poderosos oprimindo os mais fracos.

Hoje olho para a sociedade brasileira e não vejo uma gente verdadeiramente livre, mas sim um povo escravo desse modelo de economia perversa que empobrece a cada dia o cidadão, cultivando ilusões. Cada vez mais as famílias brasileiras estão endividadas, nossos aposentados não conseguem mais suportar o elevado custo de vida e por isso acabam tendo que tomar empréstimos consignados com os bancos e as financeiras que têm por aí. Ainda mais considerando que o PT passou todos esses anos reajustando as aposentadorias numa proporção menor do que o aumento de salário.

Se por um lado o governo Lula comemora o aumento do emprego e os números positivos da nossa economia, eu percebo o lado perverso da elevação do custo de vida que nem sempre permite que o cidadão acompanhe o desenvolvimento. Há situações em que a inadimplência é tanta que o trabalhador não consegue pagar em dia todos os compromissos acaba vendo seu nome indo parar nos cadastros de restrição ao crédito.

Curioso que tem gente achando que agora o pobre vive melhor porque consegue andar de avião. Mas hoje, por causa da expansão da aviação civil e do aumento do crédito, as pessoas que fazem longas viagens, quando querem visitar seus parentes, não têm outra alternativa melhor do que enfrentarem os nossos caóticos aeroportos já que a passagem de ônibus e os gastos com alimentação no trajeto podem custa mais caro em longas distâncias.

E o que dizer das nossas escolas e dos nossos hospitais?

Hoje as crianças estão sendo aprovadas sem nem ao menos aprenderem o básico e tenho visto o surgimento de uma nova geração com menos formação política do que a minha. E, se em 1992, meus colegas de escola foram mobilizados no "oba-oba" quando saíram às ruas para pedir o impeachment de Fernando Collor, ainda menos posso esperar dessa garotada que está passando de ano com sérias deficiências de aprendizado.

Já os hospitais brasileiros estão uma vergonha com péssimas condições de trabalho para os profissionais de saúde, falta de médicos, atendimento inadequado e desumano, falta de espaço, má administração e obstáculos propositalmente criados para dificultar o acesso do usuário do SUS. Os mais jovens e a classe média talvez nem tenham consciência disso, mas, se nos colocarmos no lugar de um idoso aposentado, chegaremos à conclusão de que não há sistema de saúde neste país. E, com um benefício previdenciário que jamais daria para pagar a cara mensalidade de um plano de saúde, milhões de brasileiros estão vivendo uma velhice sem dignidade.

E o que dizer da violência que só aumenta nas cidades brasileiras e hoje está se espalhando para o interior cada vez mais?

Nossa Amazônia, nossas florestas e os nossos recursos naturais estão sendo destruídos. Nesta década, o Brasil pretende extrair mais petróleo através da exploração do pré-sal, mas até hoje vejo os recursos provenientes dessa finita atividade não estão sendo adequadamente revertidos para a população. Os políticos preferem fazer obras faraônicas e menos necessárias, não corrigem os problemas habitacionais de suas cidades (o Estado do Rio de Janeiro parece que tem cada vez mais favelas), desviam verbas, criam projetos com finalidade meramente eleitoral e prestam péssimos serviços.

Além do mais, o Brasil está contribuindo para o aumento dos desastres ecológicos aqui e em todo o planeta, de modo que já sofremos com maior intensidade as enchentes e as secas prolongadas, fatores que influenciam na nossa agricultura e também no cotidiano das famílias que moram nas áreas urbanas. Todo ano assistimos inúmeras tragédias na TV com a destruição de cidades ou de bairros que não resistem às chuvas, mas o dinheiro do governo não está sendo suficiente para prevenir a ocorrência dessas situações.

Outro efeito negativo dessa exploração petrolífera é que podemos perder a nossa capacidade produtiva por causa da sobrevalorização cambial e da acomodação da sociedade de maneira que no futuro poderemos ficar mais dependentes do capital especulativo. Em 188 anos após o grito do Ipiranga, vejo que a nossa juventude universitária e as pessoas da minha geração a procura de trabalho preferem prestar um concurso público para definirem suas vidas profissionais do que encarar a iniciativa privada como se o Estado tivesse que ser o provedor de empregos para toda a população. O sonho de um estudante de Direito já não é mais advogar montando o seu escritório e sim prestar concurso. Filhos e netos de empresários vão seguindo os mesmos passos em suas carreiras porque o mercado já não é tão atrativo, sendo a carga tributária um grande desestímulo.

Mas o que será do nosso amanhã quando não pudermos explorar mais petróleo? Onde estará o aparelho produtivo do país? Continuaremos sangrando as empresas com pesados impostos para sustentar o funcionalismo? Que compensação terá obtido a sociedade brasileira pela extração de seus recursos naturais num futuro de escassez?

Nesse dia 7 de setembro não tenho muito o que comemorar. Olho para o povo e vejo uma multidão inerte que não consegue compreender o que de fato está acontecendo com o seu país. Daqui do meu apartamento escuto a cada instante um carro de som de candidatos oportunistas e fisiológicos com aquelas musiquinhas despidas de um conteúdo político. Nem ao menos são capazes de parar por um breve instante para prestigiarem o desfile militar e não respeitam o sossego público durante este precioso feriado de descanso para o trabalhador.

Enfim, iremos comemorar o que? Não temos motivos reais para festejarmos a independência do Brasil.

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