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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

As tribulações e o Reino de Deus

Dias atrás estava eu lendo um trecho do livro de Atos dos Apóstolos e meditei um pouco nesta passagem a seguir destacada, em que o apóstolo Paulo encorajou os novos convertidos da Ásia Menor a suportarem tribulações:

Eles pregaram as boas novas naquela cidade e fizeram muitos discípulos. Então voltaram para Listra, Icônio e Antioquia, fortalecendo os discípulos e encorajando-os a permanecer na fé, dizendo: "É necessário que passemos por tribulações para entrarmos no Reino de Deus". (Atos 14.21-22; Nova Versão Internacional - NVI)

Sem dúvida que essa passagem não é de fácil compreensão pois, se adotarmos uma interpretação literal, poderemos concluir equivocadamente que o enfrentamento de tribulações seria uma condição para a salvação, o que não é correto. Ainda mais quando lemos nas epístolas de Paulo que somos salvos pela graça de Deus, mediante a fé:

Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. (Efésios 2.8-9; NVI)

Teria o apóstolo Paulo entrado em contradição com ele mesmo?

Embora eu acredite que na Bíblia encontramos várias visões teológicas distintas e que nem por isso seus livros deixam de ser divinamente inspirados, consigo hoje entender com tranquilidade o que Paulo estava querendo dizer aos seus novos discípulos da Ásia Menor, os quais viram-no passar por terríveis tribulações nas cidades de Listra, Icônio e Antioquia da Psídia, conforme relatado nos capítulos 13 e 14 do livro de Atos.

Em primeiro lugar, devemos observar que Paulo utilizou a expressão "Reino de Deus", a qual também foi muitas vezes empregada por Jesus nas suas parábolas registradas nos Evangelhos:

Novamente ele disse: "Com que compararemos o Reino de Deus? Que parábola usaremos para descrevê-lo? É como um grão de mostarda, que é a menor semente que se planta na terra. No entanto, uma vez plantado, cresce e se torna uma das maiores plantas, com ramos tão grandes que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra". (Marcos 4.30-32)

A palavra reino é também sinônimo de governo e domínio. Assim, numa explicação direta, simples e ao mesmo tempo satisfatória, pode-se dizer que o Reino de Deus é o governo de Deus nas nossas vidas quando nos submetemos ao senhorio (domínio) de Cristo.

O Reino de Deus não é algo que vivemos apenas depois da morte, mas se trata de uma realidade que começa aqui nesta vida. E para que outros também entrem nesse Reino, ele deve ser pregado mesmo que seja preciso enfrentar uma oposição através das tribulações que Paulo mencionou em Atos.

Mas por que existem essas tribulações?

Bem, se nem todos estão sob o domínio de Deus em suas vidas, estão sobre o domínio de um adversário que a teologia judaico-cristã identifica como sendo o diabo, Satanás. Logo, é de se esperar que existe uma batalha espiritual pelas vidas humanas em que o tal adversário, não tendo nenhuma autoridade nem na terra e nem no céu, opõe-se no mundo físico através de pessoas que, conscientemente ou não, fazem a sua vontade.

Entretando, voltando à passagem bíblica inicialmente citada neste texto (à exortação do apóstolo Paulo), vejo ali um outro aspecto da mensagem que é a possibilidade de experimentarmos o Reino de Deus em nossas vidas mesmo em meio às lutas e provações.

Quando Paulo estava confortando seus novos discípulos, ele estava concluindo a primeira viagem missionária, tendo precisado fugir de cidade em cidade desde que começou a pregar numa sinagoga em Antioquia da Psídia. Em Listra, ele chegou a ser apedrejado e dado como morto (At 14.19). Porém, ainda assim, o apóstolo ainda tinha ânimo e força para falar sobre o Reino de Deus.

Muito curiosa essa conduta de Paulo, não? Vivendo nós hoje numa época em que pessoas ficam sofrendo de depressão sem nem ao menos terem um forte motivo, Paulo enfrentava perseguições, açoites, apedrejamentos, prisões e naufrágios para anunciar as Boas Novas de Cristo e ainda assim conseguia experimentar o Reino de Deus em seu cotidiano.

Em sociedades democráticas e pluralistas como se vê no Brasil e nos Estados Unidos, nós cristãos brasileiros dificilmente passamos pelas mesmas tribulações sofridas pelo apóstolo Paulo ou pelos demais cristãos do século I. Frequentemente nos sentimos fracos e às vezes apegados às coisas materiais desse mundo. Porém, não podemos nos esquecer que, em outras partes do planeta, existem irmãos que estão sendo perseguidos por causa do Evangelho, os quais estão vislumbrando diariamente a glória do Reino de Deus nas suas vidas.

Na época das cortinas de ferro do comunismo, os cristãos que viviam na Europa do Leste e na ex-URSS não se prendiam tanto às denominações religiosas. Era uma Igreja que costumava orar mais e vivia mais unida em pelo Evangelho sem tantas divisões ou interesses pelo poder. Em outras épocas, na China de Mao Tsé-Tung, mesmo com poucas Bíblias que chegavam até lá contrabandeadas, os irmãos tinham muito mais sede da Palavra de Deus a ponto de partilharem entre si folhas soltas dos livros para que todos pudessem ter acesso às Escrituras.

E nós cristãos brasileiros? Lemos a Bíblia com que frequência?

Enfim, posso dizer que, quando experimentamos as tribulações, podemos estar bem mais próximos de compreender o governo de Deus nas nossas vidas.

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