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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Será esta a história que os nossos bisnetos contarão?

O ano era 2080 e os alunos estavam reunidos para mais uma aula de História. Sentados em meio círculo em volta de um telão interativo, todos aguardavam a professora terminar a chamada.

- Bom dia, alunos. Vocês estudaram a lição sobre o fim da era do petróleo?

Naquele mesmo instante, ao comando da voz da professora, apareceu no telão um mapa do político do mundo do começo do século XXI. Foi quando Marcelo levantou a mão para perguntar.

- Que país é aquele ali na América do Sul?

- Qual deles, Marcelo?

- Um que ocupa a maior parte do continente e aparece na cor verde.

- Bem. Este aqui era o Brasil. Ainda não ensinei a vocês sobre a história desse país, mas o programa prevê duas aulas sobre a América Latina.

Luísa interrompeu:

- Brasil! Terra do samba e do futebol?

- Não só de samba e futebol. - comentou a professora - O Brasil também era uma terra de muito verde, com belas praias, uma grande diversidade de animais e de ecossistemas tropicais.

- Era lá que ficava a floresta Amazônica? - perguntou José.

- Sim. A maior parte da antiga floresta, mas que também abrangia partes da Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela e Guianas, compreendendo a bacia hidrográfica daquele que era o maior rio do mundo.

- E o que aconteceu com esta floresta? - indagou novamente José.

- Foi praticamente aniquilada pela ganância humana. Os governos brasileiros deixaram que as matas fossem cortadas e queimadas. No lugar das árvores plantaram soja e capim para a criação de gado. Depois de algumas décadas, várias partes do continente se transformaram em desertos, restando uma tórrida savana e trechos de mata acompanhando o rio principal. Muitas nascentes secaram e o Amazonas perdeu um percentual do seu volume de água.

- E ninguém fez nada? Deixaram que os brasileiros destruíssem esse patrimônio natural da humanidade? - questionou Débora.

- Infelizmente, não. Algumas ONGs e ativistas protestaram, mas os presidentes e deputados do Brasil pareciam não se importar. Os órgãos ambientais fingiam que fiscalizavam e nem sempre tinham condições de agir. Havia muita corrupção naquela época e os políticos estavam só afim de roubar.

- Foi assim que o Brasil se acabou. - disse Luíza.

A professora pensou por um breve instante e comentou:

- Não, Luíza. Foi assim que o Brasil começou. Desde o século XVI, os colonizadores do Brasil só queriam saber de roubar. Proclamaram a independência e os políticos continuaram roubando. Depois veio a república e nada mudou até que, em 1989, surgiu um candidato a presidente prometendo que iria prender os corruptos. Seu slogan era "caçador de marajás".

Interpretando literalmente a voz da professora, o sistema do telão exibiu figuras desenhadas que lembravam os marajás da antiga civilização indiana.

- Já sei! A senhora vai falar do Lula, não? - interveio Pedro.

- Ainda não. Estou me referindo ao Collor. O Lula até disputou as eleições com ele, foi para o segundo turno, mas perdeu naquele ano.

Uma imagem dos presidenciáveis de 1989 apareceu no telão da sala.

- Mas deve ter sido uma decepção e tanto, professora. Imagine um cara dizer que iria acabar com os corruptos e depois resolver exterminar os marajás. Imaginem quanta gente não deve ter morrido quando o Brasil resolveu declarar guerra à Índia. - interveio Michele.

A professora ficou emudecida com as palavras da menina enquanto Rafael, um aluno repetente, caiu na gargalhada e aproveitou para descontar na colega a sua frustração:

- Sua burra! Em 1980 nem existiam mais marajás na Índia e o Brasil nunca declarou guerra a um país asiático.

Repreendendo a atitude do aluno, a professora explicou quem eram os tais marajás:

- Michele, marajá era um apelido que Collor e a imprensa da época deram às pessoas que acumulavam altos salários e aposentadorias do governo através dos favores da política, bem como os corruptos. Collor dizia que iria combater os marajás, mas se tornou mais um deles até que, em 1992, resolveram fazer seu impeachment.

- Já sei! Foram os caras-pintadas! - exclamou Luíza.

- Também. - prosseguiu a professora - Mas foi graças à mídia e aos que também estavam interessados no poder. Depois da saída do Collor, os que pediram sua cabeça também se acharam envolvidos com corrupção. Primeiro foram Ibsen Pinheiro e os "Anões do Orçamento" e, no final, a própria quadrilha do PT.

- E o Collor depois não apoiou o Lula? - perguntou Pedro.

- Exatamente! Depois do período em que foi penalizado sem poder exercer seus direitos políticos, Collor conseguiu ser eleito senador. Em 2010, quando Lula lançou Dilma Rousseff para presidente, Collor estava com ela apoiando sua candidatura no Alagoas.

- Foi por causa dela que o Brasil acabou? - quis saber Rita.

- Não só por causa da Dilma, mas sim porque o Partido dos Trabalhadores e grande parte da nação cometeram o maior erra da história - explicou com tristeza a professora.

O telão exibiu o símbolo do PT e a professora fez uma pausa.

- O Brasil não soube valorizar o que havia de mais precioso. - continuou - Por causa da ganância o governo explorou petróleo irresponsavelmente nas camadas mais profundas do Oceano Atlântico, aquecendo mais a atmosfera e matando muitas espécies marinhas. O país tornou-se um dos principais poluidores do planeta.

- Professora, essa atividade econômica não gerou riquezas para a população brasileira? - perguntou Pedro.

- Sim. Gerou riquezas, mas que não foram distribuídas, as quais ficaram nas mãos de poucos, isto é, dos políticos e das empresas que se beneficiavam com o Estado brasileiro. As verbas destinadas para o bem estar social eram desviadas, as crianças passavam de ano sem aprender direito e as pessoas morriam aguardando atendimento nos hospitais públicos.

- Então qual foi o fim do Brasil? - indagou Taís enquanto abria seu lanche de algas comestíveis cultivada artificialmente.

- Por causa do PT o país ficou com uma elevada dívida pública. A moeda estava sobrevalorizada e os importados custavam menos do que os produtos da indústria brasileira. A iniciativa privada estava sem fôlego e quase todo mundo queria ser funcionário público. Quando o mundo parou de usar petróleo, a moeda se desestabilizou e a inflação voltou. Então, com a economia quebrada e a natureza destruída, o governo precisou pedir empréstimos ao FMI. Porém, o mundo não tinha mais dinheiro e o planeta estava passando por um interminável caos devido aos problemas climáticos com ondas de 100 metros, furacões, ondas de calor intenso e enchentes. Além do mais, a sociedade internacional estava bastante insatisfeita com o Brasil. - finalizou a professora desligando o telão.

O sino tocou e todos os alunos foram para o intervalo descansar. José e Débora foram juntos para a câmara de bronzeamento.

- Eu não sabia que o mundo de nossos avós tinha se acabado por causa do Brasil. - compartilhou Débora.

- Nem eu! - disse José - Pois sempre pensava que os grandes vilões da História fossem apenas os Estados Unidos e a China. Hoje vi que o Brasil foi um dos responsáveis por estarmos vivendo confinados nesta mega-espaçonave vagando pela imensidão celeste enquanto a natureza do planeta Terra se recompõe sem a interferência do homem.

- Pode ser que daqui uns 100 anos o clima fique mais estável na Terra e aí nossos bisnetos poderão voltar a morar lá em segurança.

- Como pretendo fazer engenharia ambiental pode ser que eu tenha a oportunidade de conhecer o planeta de origem da nossa espécie viajando numa dessas missões ecológicas de reintrodução de espécies animais previstas para começar daqui uns vinte anos.

- Não quero que você vá, José. Tenho medo de te perder. Prometemos que iríamos nos casar. Além do mais, a Terra ainda está contaminada com radioatividade por causa das bombas atômicas que o Irã explodiu no Oriente Médio.

- E parece que o Brasil foi cúmplice do programa nuclear iraniano.

- Vamos tirar essa dúvida com a professora, mas parece que sim.

- Bem que poderia existir uma máquina do passado, não é mesmo?

- Mas por que, amor?

- Porque, se fosse possível voltar no tempo, eu diria para todos os brasileiros não votarem no PT nas eleições de 2010.

- E eles votariam em quem?

- Na Marina Silva do Partido Verde. Uma lista do jornal britânico "The Guardian" colocou-a como uma das 50 pessoas que podiam ajudar a salvar o planeta...

- Vamos voltar pra aula! O sino vai tocar daqui a pouco e hoje temos o teste de física daquele professor maluco.

- Não acho ele maluco. Foi o professor Heitor quem convenceu o conselho dos povos da espaçonave que não compensava viajarmos para outras constelações a procura de novos planetas habitáveis. Ele provou com a sua tese de que poderíamos viajar pelo espaço numa velocidade super rápida capaz de abreviar o tempo para os habitantes da nave, projetando-nos para o futuro.

- E estamos vagando pelo espaço do mesmo jeito!

- Tá! Mas pelo menos não iremos repetir os mesmos erros sujando os planetas dos outros.

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