“Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.” (Atos dos Apóstolos 17.11; ARA) - destacou-se
Na noite deste último dia 29/07/2011, participei de uma acalorada reunião na Igreja Batista da Serra, aqui em Nova Friburgo, onde foram tratados vários temas internos da congregação, dentre os quais o horário do culto dominical. Ao final, o pastor presidente, o irmão Robson Rodrigues, propôs que refletíssemos seriamente sobre que tipo de igreja queremos afim de que o debate tivesse a sua continuidade no próximo encontro, no culto de domingo pela manhã.
Como tem ocorrido comigo ultimamente, venho sentindo a necessidade urgente de que as pessoas dentro das suas igrejas tornem-se capazes de praticar o exercício do discernimento de uma maneira prática e aberta, aplicando-o em todas as esferas de suas vidas, bem como no ambiente coletivo.
Desde julho do ano passado, tenho experimentado o prazer de me relacionar com um grupo e irmãos cujo trabalho é fruto de uma interessante desconstrução doutrinária. Há cinco anos, Robson e sua esposa Rosane iniciaram uma proposta de igreja bem inovadora aqui na cidade, propondo repensar a ideia de culto a Deus, questionando a submissão à autoridade pastoral (todos somos ministros da obra divina), revendo práticas como o “apelo à conversão”, além do tradicionalismo religioso. E muitas destas iniciativas foram inspiradas nos excelentes estudos de Frank Viola, autor do brilhante livro “Reconsiderando o Odre”.
Confesso que, juntamente com as ideias do Frank Viola, tenho observado as propostas de diversos outros autores e blogueiros igualmente envolvidos com a desconstrução do conceito de Igreja. E, graças a essas oportunidades, pude romper com muitas prisões do fundamentalismo religioso, sendo que ainda continuo lutando em relação a determinados posicionamentos integrantes da minha formação cristã anteriormente elaborada desde a adolescência.
Atualmente, uma das coisas que eu busco é provar o conteúdo da mensagem bíblica em razão de minha consciência, procurando entender e dialogar com o texto ao invés de sair aplicando irrefletidamente o preceito. Só que este meu comportamento chega a surpreender até as pessoas que se envolveram com o tal processo de desconstrução dos conceitos religiosos. Principalmente para aqueles que buscam absolutizar a sua própria concepção da verdade e tropeçam sempre naquela velha falácia do argumento circular ou petição de princípio, ao utilizarem a mesma conclusão como premissa (algo como afirmar que isto ou aquilo seria errado simplesmente porque a Bíblia diz que é).
Ainda neste mês, estive participando num interessante debate sobre a alteridade no blogue “Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola” em que o assunto acabou sendo direcionado para um detalhamento do tema principal. Falamos então sobre a aceitação da homossexualidade nas igrejas (tema sobre o qual ainda não tenho posições totalmente definidas).
Reiteradamente tentei explicar os meus motivos baseados na Bíblia segundo o qual ponderava ser pecado duas pessoas do mesmo sexo viverem numa condição análoga à conjugalidade, ainda que me posicionando favorável ao reconhecimento estatal da união estável homossexual. Então, um dos participantes, que também é o autor do artigo, compartilhou algumas palavras que me fizeram refletir ainda melhor sobre a maneira como tenho buscado me firmar na autoridade bíblica, baseando-se numa fantástica leitura das palavras de Jesus no célebre “Sermão da Montanha” (Mateus capítulos 5, 6 e 7):
“Agora, respondam-me com sinceridade: A igreja está preparada para aceitar um homossexual em seu meio, sem OPRIMÍ- LO? Como vocês definem o exercício da alteridade entre o HOMO e o HÈTERO, sem citar o bordão: “ A Bíblia diz...”, quando se sabe que a ALTERDADE diz: “ Eu porém vos digo...” ???”
(réplica do autor Levi Bronzeado aos comentários que fiz em seu artigo “Breves Considerações Sobre ALTERIDADE”, extraído de http://cpfg.blogspot.com/2011/07/breves-consideracoes-sobre-alteridade.html)
Esta colocação do instigante debatedor realmente me conduz a um caminho que considero mais apertado e estreito do que a larga estrada da bibliolatria onde a reflexão humana torna-se totalmente dependente das letras de um texto que se considera sagrado. Isto porque, ao renunciar à auto-pesquisa e à reflexão, o homem acaba cometendo um terrível suicídio intelectual e não encontra outro meio de respostas senão terceirizar as suas escolhas pessoais, permitindo que líderes eclesiásticos pensem por ele sobre o que vem a ser o certo e o errado, segundo a Bíblia.
Tenho pra mim que, se o Criador nos dotou da capacidade de pensar e refletir é porque o homem não deve se furtar ao estabelecimento de conexões lógicas entre as premissas e a conclusão do seu argumento, procurando aplicar uma leitura mais raciona às suas percepções, abandonando os dogmas religiosos que foram construídos por muitos séculos na história do cristianismo. Logo, o leitor consciente deve discernir cada texto bíblico e verificar se as coisas são, “de fato, assim”, tal como os crentes na cidade de Bereia.
Certamente que manejar a arte da dúvida em relação á Bíblia e buscar com avidez a essência do ensinamento da Palavra de Deus a ponto de romper com a rigidez daquilo que está escrito, não é tarefa fácil. Ainda mais quando recebemos uma formação que nos dificulta a olhar para dentro de nós mesmos, sem medo, nem máscaras, infantilidades, fantasias ou fugas, visto que, lamentavelmente, muitos de nós (inclusive eu) ainda estamos mais apoiados naquilo que muitos denominam de “crença na crença” ao invés de dependermos unicamente da mesma inspiração divina que um dia conduziu os profetas e demais autores das Escrituras.
Graças às contradições dos fatos da vida, os quais colocam em dúvida as dogmatizadas concepções religiosas, parece que Deus nos impulsiona a não tornarmos a razão dependente da literalidade bíblica, da tradição eclesiástica ou da autoridade teológica dos “doutores da lei”. Assim, ao invés de nos apegarmos às concepções absolutizadas da inalcançável Verdade, precisamos encarar o nosso neo-fobismo e mergulharmos fundo na auto-pesquisa. Devemos deixar de lado as decisões motivadas pela emoção e agirmos com mais racionalidade, dando lugar à inteligência evolutiva auto-consciente de seus erros, livre de culpas e com disposição a reparar o mal praticado semelhante à atitude de Zaqueu. Sempre com responsabilidade e maturidade ética que não esteja mais condicionada ao aprisionador sistema de recompensas e punições das religiões.
Que Deus possa acompanhe a Igreja em sua caminhada e ilumine os nossos olhos pela sua inspiradora instrução manifestada em cada consciência!
Die Entdeckung der Erde
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