Páginas

domingo, 8 de maio de 2011

Seguir a Cristo mesmo na adversidade

Pode-se dizer que ainda é recente a decepcionante atuação da Igreja europeia durante o contexto do nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial. Tratou-se de uma época em que as instituições religiosas (católicas e também protestantes) silenciaram-se diante das brutalidades praticadas por Hitler.

O filme Amém (2002), dirigido por Costa-Gavras, retrata muito bem a omissão dos cristãos alemães quanto às pretensões e atrocidades do Regime Nazista em que o Papa Pio XII decidiu por não manifestar-se abertamente contra o genocídio dos judeus. Porém, contrariando a inoperância das instituições do cristianismo, houve indivíduos que não negaram sua fé e tentaram atos heroicos isolados como fez, por exemplo, um padre jesuíta italiano, personagem do filme que, desiludido com a omissão do Vaticano, optou pelo martírio no campo de concentração.

Refletindo sobre esta triste página da história eclesiástica, ocorrida há menos de um século, percebo o quanto é desafiador seguir a Cristo contrariando o jogo sujo do poder político e preservarmos a fé através de atitudes ousadas. Pois vejo que, nestas horas, o nosso discurso é provado.

Atualmente, em Nova Friburgo, vejo que a Igreja local enfrenta o seu momento de prova em face do jogo das autoridades municipais e regionais. Meses após a maior tragédia climática da história da cidade, pessoas ainda estão vivendo dentro de abrigos, a construção de casas populares continua sendo promessa só dos governantes, os donativos para as vítimas não são distribuídos como deveriam e políticos de má-fé ainda tentam tirar proveitos eleitorais com esta situação de necessidade.


Diante de uma situação destas, como deve agir a Igreja? Calar-se como tem feito na maioria das vezes? Ou tomar o caminho da Cruz protestando publicamente mesmo que a posição assumida lhe custe a perda de certos benefícios ou privilégios de seus líderes?

Embora hoje não haja mais uma polícia secreta a exemplo do que ocorreu no Regime Nazista, sabemos que existem outros mecanismos de controle e repressão manipulados pelas autoridades na tentativa de silenciar a voz profética.

Numa cidade pequena como Nova Friburgo, quantos pastores não trabalham para uma Prefeitura ou têm parentes que dependem de um cargo no governo municipal?

Quantos líderes religiosos não têm interesses relativos às próximas eleições?

Quantas igrejas não buscam conseguir espaços na mídia para suas programações religiosas através do relacionamento com políticos?

Quantos líderes não dependem da preservação de sua boa imagem perante a opinião pública?

Ora, será que a Igreja de hoje está realmente disposta a passar por críticas, calúnias, difamações, injúrias, sofrer vergonha e falta de assistência oficial por amor a Cristo?

Talvez muitos pensem que suportam tudo pela fé que confessam em Deus e nos fundamentos do cristianismo. Porém, Jesus disse que quando praticamos algo em benefício dos "pequeninos" é a ele que estamos fazendo. E, quando negamos nossa assistência às pessoas necessitadas, estamos deixando de assistir o próprio Cristo.

Sinceramente, ando triste com a atuação da Igreja friburguense pois me parece que mais uma vez na história estamos deixando passar a oportunidade de nos conformar com os sofrimentos de Cristo.

Quatro meses depois da tragédia de 12 de janeiro, vejo as instituições retornando às suas atividades rotineiras como se nada tivesse acontecido. Lamentavelmente observo líderes mais uma vez promovendo a alienação do povo e, frequentemente, ainda ouço pessoas ignorantes querendo atribuir a causa da catástrofe a atos individuais isolados como se Deus tivesse resolvido castigar a cidade por causa do desejo sexual das pessoas, por estas terem optado por um modo de vida mais secularizado, ou pela ausência delas nos cultos eclesiásticos dentre outros argumentos proselitistas que não enfrentam o real problema.

Sinceramente, não desprezo o recado que a tragédia nos mandou visto que para mim cada acontecimento é rico em significado, mesmo os mais tristes. E, sem dúvida que, por trás dos desabamentos, existe não só o fato natural como também o nosso lado ético em relação à natureza e ao direito social do nosso próximo considerando que o Poder Público até hoje nega o direito das pessoas habitarem as áreas mais propícias para moradia do espaço geográfico em razão da especulação imobiliária. Isto sem nos esquecermos da falta de consciência do eleitor e de sua trágica omissão.

Minha oração é que, neste momento, a Igreja em Nova Friburgo desperte, não entre no jogo sujo da política e se lembre da sua missão profética, não deixando de denunciar as irregularidades na nossa cidade.

6 comentários:

  1. É isso mesmo, meu caro Rodrigo


    Parece que a maioria do povo brasileiro, perdeu a capacidade de reagir. Talvez desiludidos com a impunidade reinante principalmente com os de cima que administram a coisa pública visando seus próprios interesses.

    O mais vergonhoso e recente exemplo veio da "bancada evangélica".

    Imagine, o que seria de nós, se a "igreja" atual estivesse regendo politicamente o destino da nação. (rsrs)

    ResponderExcluir
  2. Meu caro Levi,

    Bom dia!

    Amigo, não quero nem imaginar os absurdos que seriam cometidos se a maioria do Congresso Nacional fosse composta pela tal da bancada evangélica. Imagine os absurdos de leis repressoras que seriam elaboradas?! Porém, acho que, se algum dia isto vier a ocorrer, os próprios deputados evangélicos se dividiriam e teríamos uma "esquerda" no meio deles, mas ainda assim seria minoria entre os tais.

    Verdade é que este fundamentalismo religioso atrelado à política preocupa porque emburrece a sociedade, aliena e desvia a atenção das pessoas para certas questões como aborto ou casamento entre homossexuais ao invés da sociedade focar nos seus principais problemas.

    Aqui na Regiãop Serrana do RJ, bem como em grande parte do país, tem-se a questão climática como um grande desafio para o presente e que promete exigir de nós muito mais no futuro. Com o aquecimento global, as chuvas, os vendavais, as secas e as subidas das marés tendem a ficar cada vez mais intensos. E aí temos que nos preocupar com a localização das moradias (já se tem falado de moradores que retornaram para as áreas de risco por aqui), sistemas de alerta, melhor monitoramento do tempo para que as catástrofes tornem-se previsíveis, um planejamento agrícola que considere estas variáveis, obras de contenção, mudança nos trajetos das rodovias, reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, opção por um consumo mais ecológico e descoberta de novas tecnologias limpas de desenvolvimento, etc. Precisamos agora ser como os autralianos que enfrentaram neste ano enchentes piores do que as do Brasil e tiveram um número bem menor de vítimas e lidaram com a situação com muito mais preparo.

    Mas onde estão as igrejas neste momento!? O que seus pastores têm dito ao povo quando estas tragédias naturais e humanas ocorrem? Ficam dizendo que tudo é por causa de algum pecado e muitos desses líderes alienantes não perdem a chance de culpar a veneração dos católicos à padroeira ou atribuir as desgraças ao misticismo das religiões afro. Já outros contentam-se em dizer que estamos nos últimos tempos em que o fim do mundo está próximo e cabe ao homem "aceitar a Jesus" (o que pra eles seria virar membro de igreja evangélica) e esperar viver num mundo melhor quando chegarmos na outra vida porque na lógica deste discurso o planeta será governado pelo anticristo e depois consumido pelo fogo, como se não tivesse mais jeito e o homem pudesse viver livre de sua responsabilidade para com a natureza.

    Ora, enquanto isto o que mais encontramos é gente sem consciência ecológica dentro das igrejas. Raramente se vê uma igreja no Brasil onde as pessoas são educadas em relação ao lixo ou ao uso dos banheiros. Já me congreguei num lugar onde constantemente os cultos eram interrompidos porque algum irmão tinha estacionado seu carro em lugar errado e obstruindo a saída da garagem de um morador. Mas felizmente o pastor de lá tomou a sábia decisão de fazer um convênio com um estacionamento junto ao shopping e disponibilizar a kombi da igreja para transportar as pessoas até o culto. Sò que ainda assim pessoas continuaram estacionando em locais errados e não duvido que até hoje o guincho dos agentes de trânsito não seja acionado para rebocar automóveis de evangélicos sem consciência.

    Não é fácil, meu caro Levi. Mas ainda assim não deixo de acreditar na Igreja com I maiúsculo. E, melhor do que nós, penso que Jesus superou sua crise em relação aos homens quando foi para a cruz, crendo que sua Palavra não volta vazia.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  3. rodrigo, você está certo.

    a igreja, como instituição que pudesse ter voz ativa e ouvida na sociedade é nula, um zero à esquerda. está preocupada em fazer campanhas e campanhas e ser iludidas pelo carisma manipulador dos pastores midiáticos.o discurso da ética na política deveria ser da igreja como instituição mas esses assuntos "mundanos" não lhe dizem respeito, mesmo por que, ética não é uma característica dela própria. e quando muitos dos seus membros entram na polítca é para fazer politicagem e não política com se fazia na polis grega.

    um exemplo disso é a manifestação que o malafaia está programando para fazer em brasília contra a aprovação da união estável entre casais homossexuais. suas manifestações são apenas morais e nunca éticas. acreditam que possuem a moral de deus e querem que todos sigam a sua moral, que é, na cabeça doida deles, a moral divina.

    ResponderExcluir
  4. Olá, Eduardo!

    O que o Silas Malafaia tem feito em sua trajetória é pura demagogia e mostra o seu descompromisso com o Evangelho de Cristo.

    Como cidadão ele tem direito de manifestar-se contra o reconhecimento estatal da união estável entre casais homossexuais, mas não acho que ele encontre autoridade bíblica para tanto. Pois, embora o homossexualismo seja biblicamente condenado, isto não significa que o Estado deva deixar de regular uma situação fática. E, se o Estado simplesmente ignora a existência de sociedades união estável formadas entre pessoas do mesmo sexo, logo o Estado torna-se desumano ao deixar de tratar de uma demanda socialmente expressiva.

    Se o Estado brasileiro estivesse obrigando o Silas a celebrar um casamento gay, aí sim eu acho que a manifestação seria justificável à luz do Evangelho e também de princípios constitucionais. Pois, neste caso, o Estado não pode me obrigar a pensar desta ou daquela forma, muito menos celebrar casamentos religiosos entre pessoas cuja união posso não concordar. Seja entre homossexuais ou mesmo entre heterossexuais. Por exemplo, um líder religioso tem o pleno direito de não casar pessoas que não são de sua religião ou cuja união contrariaria algum preceito tipo uma filha não ter a autorização dos pais, os cônjuges serem divorciados ou o que o grupo entender como ofensivo aos seus costumes.

    Porém, acho muito perigoso quando instituições religiosas querem impor ao Estado sua vontade e usa de diversas manipulações para isto. Por muitos anos criticou-se a Igreja Católica no Brasil por fazer este tipo de coisa (a questão do divórcio foi uma luta árdua dos setores progressistas com a CNBB), mas hoje tenho visto evangélicos seguindo a mesma linha de atuação e com muito mais poder de mídia e de manipulação do que o catolicismo.

    Mas afinal, qual o objetivo desta demagogia do Silas?

    Penso eu que ele pretende mais uma vez mostrar cacife e também conquistar popularidade entre os evangéliucos e a sociedade brasileira de um modo geral trabalhando com a ignorância da população. E, como existe um forte sentimento de homofobia no país, Silas deve conseguir muitos aplausos de pessoas mal informadas a seu respeito ou cujas consciências ainda não estão despertas.

    Felizmente a Igreja não se resume ao "pastor" Silas Malafaia!

    Felizmente vejo pessoas que seguem a Cristo de coração e com sinceridae!

    Felizmente existe uma Igreja dentro (e fora) das instituições religiosas!

    Abraços.

    ResponderExcluir
  5. o silas está brigando no front errado. também acho que ele deve ser contra a imposição pelo estado de um pastor ser obrigado de fazer um casamento gay, se isto vier a ocorrer. agora, querer impor a sua moral cristã aos milhares de homossexuais que convivem com seus parceiros é de uma obtusidade sem igual.

    ResponderExcluir
  6. Sem dúvida isto é algo "de uma obtusidade sem igual" como bem colocou. Mas o Silas não faria um discurso destes se o público que ele encontra no Brasil não agisse com tamanha obtudidade. Eu não subestimo a inteligência desta cobra peçonhenta.

    ResponderExcluir