Recordo-me que, no final da década de 80 e início dos anos 90, quando eu ainda estava entrando na adolescência, vários Estados do Pacto de Varsóvia, na Europa do Leste, começaram a se libertar das cortinas de ferro do comunismo. Além da União Soviética, uma onda democrática atingiu Polônia, Hungria, Bulgária, Romênia, a antiga Tchecoslováquia e a Alemanha Oriental, de modo que a própria população desses países foi às ruas para depor seus ditadores.
Cerca de duas décadas depois, fico me perguntando se estamos a assistir algo semelhante no Oriente Médio?
Tomara que sim! E confesso que estou muito satisfeito com a queda de Hosni Mubarak ocorrida em 11 de fevereiro deste ano, mas não há como negar que os movimentos políticos que vêm ocorrendo nos países árabes ainda se mostram um tanto indefinidos por causa da falta de tradição democrática de suas populações.
Contudo, minha intuição diz que a juventude nessa vasta região do planeta, que constitui a maior parte da população (a taxa de fecundidade lá é bem maior do que no Ocidente), parece que está ansiando por mudanças bem profundas. E daí a democracia vem se mostrando capaz de satisfazer as novas aspirações sociais.
Apesar de Mahmoud Ahmadinejad ter comemorado a queda de Mubarak, visto que o ditador egípcio era um forte aliado dos Estados Unidos em favor de Israel, tenho o palpite de que o regime dos aiatolás também esteja com os dias contados. Pois, se lembrarmos dos protestos ocorridos por ocasião das eleições iranianas de 2009, provavelmente fraudadas, pode não demorar muito para que uma outra onda de protestos tornem a ocorrer na antiga Pérsia.
Durante as manifestações no Egito, indaguei qual deveria ser a posição do governo brasileiro diante daqueles fatos. Então cheguei à conclusão que nossa diplomacia precisava ser cautelosa, mas sempre apoiando a democracia e os direitos humanos. E, neste sentido, até que o Itamaraty posicionou-se bem:
"(...) O Brasil acompanha com grande interesse a evolução da situação política no país amigo, que, além de parceiro relevante, desempenha papel importante para a estabilidade do Oriente Médio. Ao solidarizar-se com a população egípcia na busca da realização de suas aspirações, o Brasil reafirma sua confiança de que as lideranças políticas da sociedade egípcia saberão fazer face a este momento de novas oportunidades e desafios, em ambiente de entendimento e de diálogo democrático (...)"Depois dessa incrível e valente vitória popular, desejo que todo o processo de transição democrática no país dos faraós se faça com respeito aos direitos civis e políticos, com "paz e tranquilidade", conforme espera a diplomacia brasileira. Torço para que, como a Turquia, o Egito torne-se um bom exemplo de democracia no Oriente Médio, onde passe a existir ali liberdade de religião e de credo, bem como no que se refere aos direitos femininos.
OBS 1: Um exemplo para nós brasileiros"Essa é a mistura do Brasil com o Egito.
Tem que ter charme pra dançar bonito."Mistura?
Verdade é que, ao contrário daquela música tocada pelo
Tchan nos anos 90, ainda não temos muito a ver com os jovens egípcios que, dia após dia, foram às ruas até o ditador renunciar.
Espero que possamos deixar de lado a nossa passividade ridícula diante dos políticos corruptos que governam nossa nação e protestarmos contra a pouca vergonha administrativa que se vê nas três esferas de poder: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Será que, enquanto os povos muçulmanos e europeus vão às ruas brigar por seus direitos, nós continuaremos sendo coniventes com a nossa doentia plutocracia brasileira?
OBS 2: A imagem e a citação acima foram tiradas do site do Itamaraty na internet -
http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/situacao-politica-no-egitoOBS 3: Já a primeira foto encontra-se no site da embaixada egípcia - http://www.opengate.com.br/embegito/
OBS 4: Até que eu tenho alguma ligação com o Egito. Meu avô materno, Georges Phanardzis, nasceu lá. Porém, foi registrado como grego, conforme a origem de sua família.
Rodrigo
ResponderExcluirEstou sentindo um vento de pessimismo, em todo esse imbróglio na terra do seu avô materno.
Vejam que ironia: Saiu Mubarak, e entrou o seu vice - Suleiman - aquele que participou da tortura de Habib em 2001.
Segundo reportagem da Revista Veja que saiu hoje nas bancas, Suleiman é campeão em métodos de torturas: já usou de afogamentos, choques elétricos e espancamentos contra prisioneiros indefesos.
Eu fico a me perguntar: será que agora, o Egito está mesmo livre?
Parece-me que desde Moisés até hoje, a liberdade e a democracia teimam em passar longe das terras dos Faraós. (rsrsrs)
Abraços
Pois é, Levi. Hoje li no Yahoo que o governo provisório já está proibindo greves. Mas o que me anima é que a nova geração no Oriente Médio, cujos países têm uma expressiva população jovem com até seus 30 anos, realmente aspira pela democracia e por grandes mudanças. Neste sentido, penso que, como dizia o slogan do PT nos seus tempos de oposição, "a luta continua".
ResponderExcluirrodrigo, de fato a geopolítica do oriente não é simples. o que pode acontecer é que sai mubarak e e entre algum radical islãmico.
ResponderExcluiros ventos democráticos no mundo mulçumano iniciado pela juventude tem um caminho árduo pela frente. mas já é um começo.
abraços
Olá, Eduardo!
ResponderExcluirSegundo o cientista político Dr. César Maia, ex-prefeito carioca, o que houve no Egito teria sido um golpe de Estado pelos militares. Ele diz que:
"A Constituição estabelece que, no caso de renúncia do Presidente da República, ele será substituído pelo “speaker” (presidente) da Casa dos Representantes (deputados) e as eleições serão realizadas em 60 dias. Assim sendo, o Conselho Supremo das Forças Armadas, chefiado pelo Marechal-de-Campo Mohammed Hussein Tantawi, não estaria governando de acordo com a Constituição ou qualquer outra Lei. Teria agora de definir o formato de assunção ao poder. Talvez, por isso, seu comunicado, lido na televisão, foi tão breve. Realmente. No dia seguinte, as duas casas do parlamento foram fechadas e a constituição suspensa. Tal golpe é semelhante ao ocorrido em 23 de julho de 1952, quando um grupo de oficiais militares, intitulando-se Movimento dos Oficiais Livres, liderado pelo futuro segundo presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, derrubou a monarquia e estabeleceu o Conselho do Comando Revolucionário, composto por cerca de doze membros. Na época, verificou-se uma disputa entre o General Muhammad Naguib, primeiro presidente do Egito, e Nasser, que assumiu o poder num golpe. Nem os EUA sabem ainda o significado da transferência de poder de Mubarak para os militares. Não ficou claro ainda se a autoridade militar emergente poderá sofrer alguma forma de decomposição ou de disputa, tal como no movimento de 1952. A tomada do poder pelos militares significa estarem em risco as carreiras políticas e os interesses econômicos da elite civil, que emergiram no governo de Mubarak, numa associação com alguns militares. Tal cenário criaria outros problemas, pois tenderia a provocar o colapso da regra civil estabelecida pelo Partido Nacional Democrático (PND). Ao contrário do golpe de 1952, este foi dado em meio a exigências populares em prol de um governo democrático. Os militares terão agora de enfrentar o grande e complexo desafio de forjar um sistema que, acalmando as massas, lhes permita manter o controle do poder. Até quando?"
Mesmo conhecendo menos detalhes sobre a situação egípcia, eu te confesso que vejo essa onda de movimentos no Oriente Médio com uma certa dose de otimismo e crendo até numa intervenção divina na história, supondo que iremos ver novos campos missionários na região.
Há pouco mais de 22 anos atrás, talvez nenhum analista político esperasse a queda do comunismo na Europa em tão pouco tempo. Porém, no começo da década de 90, lá estavam Estados Unidos e Rússia lutando juntos na Guerra do Golfo contra Saddam Hussein...
Em tempo!
ResponderExcluirApesar da existência do radicalismo islâmico, penso que um temor deste tipo é maior do que a realidade de hoje no Oriente Médio. É que existem grandes interesses em jogo naquela região patrocinados pelos Estados Unidos e daí o motivo de estarem incutindo este medo na opinião pública internacional.
Os argelinos, contando com o apoio e a simpatia dos franceses, estão melhores organizados do que os egípcios pela Coordenação Nacional para o Câmbio e a Democracia (CNCD), a qual reúne conjunto de partidos políticos oposicionistas, os representantes da sociedade civil e os sindicatos não-oficiais.
Várias manifestações têm ocorrido na capital e em outras cidades importantes do país.
O que está me parecendo é que esses movimentos são essencialmente democráticos e que talvez não haja espaços para o radicalismo islâmico. Aliás, foram os movimentos extremistas que acabaram dando sustentação a diversos ditadores no Oriente Médio.
Abraços.
Sinceramente: Não acredito em Democracia em países muçulmanos. Afinal, antes de "Democráticos" são "teocráticos", ou seja, os princípios de sua divindade (Alá ou Iavé, na mitologia judaica-cristã) suplantam o povo. Os muçulmanos seguem uma lei do alcorão conhecida como Shara'a. De acordo com essa lei, a vontade divina (expressa no Alcorão) deve ser respeitada e qualquer tipo de hostilidade é herética e deve ser punida. A Shara'a está no âmago dos muçulmanos: Além de prevê a submissão do povo a religião e seus sacerdotes, prevê Jihad (Guerras Santas) em nome da conquista territorial e ampliação da fé no mundo. Mais do que isso, ela privilegia os muçulmanos dos não- muçulmanos, dos homens sobre as mulheres e os homens livres sobre escravos. É importante ressaltarmos que o Alcorão (escrito por Maomé no século II foi baseado no velho testamento (livro que narra com fatos e lendas, a história do povo hebreu). Segundo o velho testamento a mulher deve ser submissa ao homem; os escravos devem respeitar os seus senhores; a guerra santa (pela conversão ou pelo "cumprimento da palavra de Iavé" são permitidas e até incitadas, como em Números 31-7.
ResponderExcluirOlá, João Felipe. Obrigado por participar.
ResponderExcluirNão sou um profundo conhecedor da religião muçulmana, apesar e já ter lido algumas suras e versos do Alcorão, além de textos sobre a religião deles. Porém, a meu ver, a aplicação da "Shara'a" a ponto de justificar guerras santas, parece estar mais relacionada a um fundamentalismo religioso.
Historicamente, nem sempre os povos muçulmanos foram mais radicais do que os cristãos ou judeus. Em outras épocas, havia mais liberdade científica no mundo islâmico do que na Europa. Tanto é que professores do Oriente chegavam a ensinar nas universidades europeias durante a Idade Média e começo da Idade Moderna.
Por sua vez, o judaísmo, que se baseia no Antigo Testamento da Biblia cristã, além do Talmude, prega a paz. A Torah incentivou o povo israelita a tomar posse da terra de Canaã mas em momento algum incentivou que os hebreus dominassem o planeta inteiro. Inclusive, é incentivada uma convivência pacífica entre os israelitas e os demais povos, sobretudo as nações irmãs e os próprios egípcios por estes terem sido anfitriões dos hebreus.
Curiosamente, houve épocas da história m que judeus e muçulmanos se deram muito bem, sendo que a perseguição anti-semita chegou a ser bem mais forte na Europa do que no antigo Império Turco e em outras regiões do mundo islâmico.
Para concluir, deve-se considerar que, no Novo Testamento, o apóstolo Paulo fala sobre a submissão da mulher ao marido e do escravo ao senhor, o que, obviamente não é mais intepretado ao pé da letra por teólogos e líderes liberais. Exceto pelos cristãos fundamentalistas.
Enfim, é o fundamentalismo religioso que atenta contra a democracia, o que pode acontecer com qualquer povo, inclusive com os brasileiros caso tenhamos amanhã um governo teocrático de evangélicos e católicos com visão extremista. Nos USA, o Bush foi um presidente que tendeu ao fundamentalismo e assistimos uma repudiável guerra contra o Iraque.
Hello there, cerebral dudes!
ResponderExcluirUnfortunatelly, the governments only reflects their people wishes, values and costumes.
What you see governments doing is what the medium countryman citizen would do if was in their position. It's hard do accept, but it's true.
It's very easy to criticize, but who wants to do the changes?? You?! Who else? Think about it.
Best wishes from L.A. Ca/USA,
John, The Revelator!
Well, I think most governments reflect the wishes of the ruling classes than the desires of their people.
ResponderExcluirHowever, it is for people to claim political power and transform reality.
Thank you for participating, John.
Welcome to my blog!
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Bem, eu penso que os governos refletem mais os desejos das classes dominantes do que os desejos de seus povos.
Entretanto, cabe aos povos reivindicar o poder político e transformarem a realidade.
Obrigado pela participação, John.
Seja bem vindo ao meu blogue!